Reconstituição Histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Reconstituição histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Criar é fazer existir, dar vida. Recriar é reconstituir. Como a criação e existência deste blogue tende a que tenha vida perene tudo o que eleva a alma portista. E ao recriar-se memórias procuramos fazer algo para que se não esqueça a história, procurando que seja reavivado o facto de terem existido valores memorávais dignos de registo; tal como se cumpra a finalidade de obtenção glorificadora, que levou a haver pessoas vencedoras, campeões conquistadores de justas vitórias, quais acontecimentos merecedores de evocação histórica.

A. P.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Ao perfazer 40 anos da morte de Pavão...



Por estes dias, perfaz-se a conta de quarenta anos desde que, a 16 de Dezembro de 1973, Pavão faleceu em pleno relvado do Estádio das Antas, com a sagrada camisola do F C Porto vestida.

A propósito, o “Mais futebol” publica hoje (por lapso de data, referindo o dia 13), dias antes da efeméride, um texto evocativo desse triste acontecimento, como enquadramento retrospetivo - cuja crónica, com a devida vénia, respigamos, na oportunidade:

« 40 anos da morte de Pavão: se fosse hoje, sobrevivia?

- Domingos Gomes dá respostas surpreendentes; Rodolfo Reis e Tibi recordam um dos dias mais negros na memória azul e branca (Por Pedro Jorge da Cunha)

(...) Dezembro de 1973. Uma tarde cinzenta, a anunciar a tormenta, sobrevoava o Estádio das Antas. As bancadas rebentavam pelas costuras, como de costume. Foliões de jornal no braço, bandeiras mil, azul e branco de cima a baixo. Nesse dia, um dominava as parangonas na imprensa: Teófilo Cubillas, craque peruano que os dragões apresentariam no dia seguinte como reforço. O FC Porto estava bem no campeonato e o entusiasmo era, por isso, mais do que justificado antes do que viria a ser um jogo negro.

Tudo preparado, cumprimento entre os capitães. De um lado, Fernando Pascoal das Neves, o inesquecível Pavão. Do outro, Carlos Cardoso, o homem da braçadeira no Vitória Setúbal. Sorrisos, abraços, nada a indiciar o que viria a suceder 13 minutos depois do apito inicial.

Diabólico, arrasador, sombria conjugação. Ao minuto 13, na jornada 13 e naquele dia... Pavão cairia desamparado no relvado. Para nunca mais se levantar. Por uma vez na vida, o 13 foi mesmo um número maldito.

(Pavão na equipa do F C Porto da final vitoriosa da Taça de Portugal de 1968!)

40 anos depois, o Maisfutebol recorda esta figura mítica na história do FC Porto e lança uma questão relevante: se o colapso tivesse sucedido nesta sexta-feira, 13 de dezembro de 2013, a medicina moderna teria dado mais hipóteses a Pavão para resistir e sobreviver?

«Levei um desfibrilhador para o FC Porto em 1977»

Domingos Gomes chefiou o departamento médico do FC Porto durante várias décadas. Naquele fatídico (dia...) de dezembro estava no camarote 14 das Antas. Em conversa com o Maisfutebol deixa, de imediato, uma informação surpreendente. E que ajuda a responder à nossa pergunta. «Se o nosso querido Pavão fosse acometido daquela paragem cardíaca em 1977, quatro anos depois, teria uma probabilidade maior de enganar a morte», diz o clínico. E conclui de imediato o raciocínio. «Nesse ano eu já tinha adquirido um desfibrilhador para o clube. Aliás, quem visitar o museu pode vê-lo. Era, e é, um objeto enorme, nada a ver com os atuais», explica Domingos Gomes. «Na tarde em que Pavão caiu, infelizmente, a assistência médica estava privada desse elemento fundamental».

O primeiro a socorrê-lo foi Rodolfo Reis. Era lateral e jogava atrás de Pavão. Nunca mais olvidará o que viu e sentiu. «Vi-o mandar avançar a equipa, a passar a bola ao Oliveira e a cair de bruços na relva. Quando cheguei ao pé dele, tinha os olhos a revirar, estava todo encolhido e percebi que era muito grave».

O guarda-redes Tibi era outro dos jogadores em campo. «O Pavão foi para o hospital e o jogo continuou. Ao intervalo mentiram-nos. Disseram que ele estava a melhorar. Só a dez minutos do fim é que soube que ele tinha morrido. Um miúdo apanha-bolas veio ter comigo e disse-me», recorda.

Pela instalação sonora do estádio, os adeptos ficaram a saber da morte de Pavão, no final do jogo. Sob um pesado silêncio sepulcral, insuportável, as Antas esvaziaram-se.

(Pavão no plantel do F C Porto em 1971)

Até hoje, eterniza-se a dúvida sobre a origem da vil paragem cardíaca…
 (Nota do autor deste blogue: Saltamos aqui uma parte, porque o articulista do Maisfutebol a dado passo refere opinião de más-línguas quanto a boatos surgidos, na ocasião, enquanto o relatório nada confirmou!)

Rodolfo Reis: «O Pavão era um homem diferente»

Pavão, Fernando Pascoal das Neves, nasceu em Chaves. A alcunha surgiu por correr sempre de braços abertos. Sob indicação de António Feliciano, velha glória do FC Porto, chegou aos juniores dos dragões em 1964. Dotado de impressionante visão de jogo, assumiu-se rapidamente líder do balneário dos azuis e brancos. Nos seniores esteve entre 1965 e 1973. Quando morreu, levava no braço a braçadeira de capitão. Rodolfo Reis, à época seu colega de equipa, considerava-o «um homem diferente». «Quando subi aos seniores, os meus colegas mais velhos obrigavam-me a tratá-los por você. Mesmo dentro do campo, era assim. Com o Pavão não. Era o único que me pedia que o tratasse por tu. Dava-me muitos conselhos, talvez por ser de longe o melhor da equipa e por não ter medo de perder o lugar», atira, bem disposto.»

Pavão faleceu com 26 anos. Foi sete vezes internacional na seleção A de Portugal, além de outras internacionalizações pelas equipas das seleções de Esperanças e Militar, tendo feito 179 jogos (16 golos) ao serviço do FC Porto na I Divisão. Não havendo somado maior número de internacionalizações, fora os motivos que nesses tempos levavam ao esquecimento de jogadores do F C Porto, porque chegou a estar olvidado propositadamente (pelas cúpulas federativas) de representar a seleção A, devido a num determinado dia não ter aceite entrar num jogo a escassos minutos do fim e noutra ocasião ter mostrado sua insatisfação por ter sido substituído quando estava a ser o melhor em campo, como a própria comunicação social reconheceu.


O seu corpo jaz no Mausoléu das Glórias do Futebol Clube do Porto, no cemitério de Agramonte. Enquanto no Museu F C Porto by BMG está preservado o equipamento azul e branco com que Pavão tombou na defesa do F C Porto. 

Porque qualquer dia é dia, na verdade, como se diz, recordamos um artigo que há já algum tempo publicamos, na glorificação referente… (clicando) em


AP

3 comentários:

  1. Eu assisti. Apesar de há 40 anos eu ter apenas 10 anos, recordo-me do ambiente pesaroso no estádio e das crónicas da rádio que eu, o meu pai e o meu tio ouvimos no regresso a casa. Passados alguns dias tornei-me sócio do clube.

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  2. Conhecêmo-nos no 1º treino que fiz no campo da Constituição, chegado de Aveiro (do Beira Mar) naquele final de Agosto de 1964. Ele chegara de Chaves era alto e franzino muito calmo e reservado. Criamos desde logo uma grande empatia que se transformou numa grande amizade ao longo daquela época (1964/65) até à sua morte. Com a inauguração do Lar do Jogador Júnior na rua do Lindo Vale, feita a distribuição pelos quartos do grupo de atletas residentes ficaram a partilhar o nosso quarto além de mim (Vítor) ele, o Fernando como eu o tratava, o Sousa (de S. João da Madeira) e mais tarde o Luís Pereira, miúdo humilde e talentoso vindo de Ponte de Lima e recém chegado aos juvenis. Fui eu e o Fernando que o ensinamos a lavar os dentes.O Fernando (Pavão) era de poucas falas, um transmontano que se foi abrindo em longas e confidentes conversas durante toda aquela época. Ele era o médio do meu lado (ala direita) e nos inúmeros recortes de jornais da época que possuo se referia sermos ambos mais o Lázaro os mais tecnicistas da equipa. Tínhamos muito prazer em jogar juntos, foi um ano marcante na minha vida. Chorámos ambos no Hotel do Luso a perda para o Sporting do título nacional de juniores naquele Junho de 1965.
    Iniciámos a pré-época nos seniores em Agosto e voltámos a ser colegas de quarto no lar do jogador sénior na Praça das Flores. No dia da folga íamos até à praia em Matosinhos e foi ali que ele, com uma autoconfiança enorme (uma forte atitude mental prenunciadora de um vencedor) e perfeita consciência do seu valor, me afirmou esperar ser titular da equipa principal até à décima jornada do campeonato, o que viria a acontecer algumas jornadas antes na vitória sobre o Benfica que marcou a sua estreia. Nunca mais, até à sua morte deixou a titularidade da equipa, vindo a tornar-se com Pedroto no capitão. Naquelas tardes na praia ia-me incentivando a ficar no plantel e a lutar por um lugar como titular, aguardando uma oportunidade (os titulares indiscutíveis de então nas alas eram o Jaime e o Nóbrega). Não eram esses no entanto os meus projectos de vida. Como o departamento de futebol, tinha então um contrato profissional (4 contos/mês) (o Fernando (Pavão) rubricara um com 7 contos/mês) não me permitia continuar os meus estudos de engenharia (na época nem havia ensino superior nocturno) pedi para ser dispensado (fui sucessivamente emprestado a clubes como o G.D.Riopele, RD Águeda, Naval 1º Maio, ASA de Luanda e Sporting de Luanda) e acabaria aí a possibilidade para mim de uma carreira na alta competição.
    Só retomaria os meus encontros com o "Pavão" regressado ao Porto em 1972 depois de como Alferes ter servido militarmente em Angola. O meu novo Clube, então o S. C. e Salgueiros, na 2ª Divisão, treinava amiúde nas Antas, motivo e pretexto para defrontar o meu grande amigo Pavão no estádio e conversar pós treino. Algumas semanas antes da sua morte tinha-me convidado a estar presente na inauguração do seu Pub no Porto e confidenciou-me estar quase tudo acertado com o Manchester United para a época seguinte, por força da intervenção do seu antigo treinador no FCP, Tommy Doc, agora manager do Manchester. Apesar da carreira que deixou no FCP, o seu talento nunca foi devidamente reconhecido em Portugal, muito por força do domínio mediático de Lisboa e do SLB nos mais diversos níveis. Justamente deveria figurar entre os 6 melhores futebolistas de sempre no Futebol Português, e é muitas vezes ignorado em publicações nacionais sobre os maiores do Futebol.
    Do meu grande amigo ficaram muitas memórias, alguns recortes de jornais, e várias fotos (que enviaria para o Blog se soubesse como fazê-lo)...e saudade. Sempre.
    Vítor Cruz

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  3. Viva amigo sr. Vítor Cruz. Que grande prazer me dá com este comentário, num testemunho que faz com que me sinta compensado pela trabalheira que dá este trabalho que faço em prol do FC Porto, sabendo que valorizando a memória se pode dar passos certos para o futurio. Trabalho este unicamente por amadorismo (de amor...)e totalmente gratuito. Lembro-me bem de ver o Vítor nas fotos das equipas de juniores que me encantavam e entusiasmavam, ao tempo em que os juniores ajudavam a passar sobre os resultados menos bons da equipa senior. Bem haja.
    Quanto aos recortes ficarei muito feliz em receber esse material. Para o efeito peço-lhe se me envia um outro comentário como este, comentário que não publicarei obviamente, com o seu e-mail (que eu não publico, repito) para eu lhe poder enviar o meu, de modo a podermos contactar.
    Grande abraço de agradecimento
    Armando Pinto

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