Reconstituição Histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Reconstituição histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Criar é fazer existir, dar vida. Recriar é reconstituir. Como a criação e existência deste blogue tende a que tenha vida perene tudo o que eleva a alma portista. E ao recriar-se memórias procuramos fazer algo para que se não esqueça a história, procurando que seja reavivado o facto de terem existido valores memorávais dignos de registo; tal como se cumpra a finalidade de obtenção glorificadora, que levou a haver pessoas vencedoras, campeões conquistadores de justas vitórias, quais acontecimentos merecedores de evocação histórica.

A. P.

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Nóbrega: O Transmontano extremo esquerdo portista que trocava os olhos aos defesas…


Não fosse a História, por haver informações e conhecimentos historiográficos, e não se saberia ter havido grandes heróis do passado, fossem eles como fossem, quão de uma forma ou de outra deram ser à sua faina. Tanto que se valoriza a sua existência e preza-se a ação. Assim como se elogia ainda publicamente o que foram grandes desportistas, por exemplo, mesmo sem terem sido vistos atuar aos olhos do tempo presente, mas dos quais ficaram testemunhos de variados modos. Como se passa com os grandes valores do FC Porto, dos quais nada é demasiado para que sejam lembrados e reconhecidos.


Então, tal como se louva grandes personagens da memória da nação e do mundo, merecedores são de eternidade os grandes nomes do FC Porto, desde o fundador António Nicolau de Almeida e o refundador José Monteiro da Costa, o primeiro atleta olímpico do clube, Valdemar Mota, mais os grandes ídolos do futebol antepassado, como foram Pinga, Araújo, Hernâni, Virgílio, Barrigana, Américo, Pavão, Rolando, Cubillas, Gomes, Madjer, Baía, Jorge Costa, etc. Mas também outros, entre tantos dos que em cada geração foram expoentes da admiração clubista. Tal qual Nóbrega. Vindo à ideia, desta feita, na sua vez de rememoração neste espaço de memória portista, esse extremo esquerdo que foi Francisco Nóbrega, esquerdino saliente que ainda chegou a jogar algum tempo com Hernâni e outros dos anteriores grandes jogadores, e sobretudo foi já dos tempos de Azumir, Custódio Pinto, Festa, Américo, Djalma, Jaime, Pavão, Valdemar; Rolando, Rui, Armando Silva, Lemos e Cª.


Ora, como em tantos casos idênticos, Nóbrega naturalmente é mais lembrado entre adeptos de gerações de seu tempo, mas é de convir ser exemplo a avivar, por quanto tudo e todos os que merecem devem ser valorizados.


Nóbrega, chegado ao estrelato do panorama futebolístico nacional, tendo andado nas coleções de cromos das tão populares cadernetas que fizeram memória romântica do futebol de outros tempos, era um Transmontano de Vila Real um dia ido para o Porto. E que na Invicta fez carreira, ganhando raízes extensivas às de sua  naturalidade.


Pois o valoroso avançado Francisco Nóbrega, recorde-se, foi um futebolista iniciado no Vila Real mas que ainda menino rumou para o Porto, onde fez a formação futebolística nos juniores (única categoria de formação, nesse tempo) e de seguida passou aos seniores, tendo jogado no grande FC Porto durante 12 épocas, até ter ainda por fim representado oficialmente o Vila Real no fim de sua carreira de jogador. Havendo posteriormente sido treinador em diversas equipas. Ostentando no currículo de jogador a célebre vitória na Taça de Portugal de 1968, algo especial na época por ser uma intromissão no poderio federativo sulista e elitista do regime vigente.


Nóbrega, de nome completo Francisco Laje Pereira Nóbrega, nascido em Vila Real a 14 de Abril de 1942, foi um antigo jogador de futebol do FC Porto que chegou a representar também a seleção portuguesa. Jogava na posição de avançado, normalmente a extremo esquerdo. Representou o Sport Clube de Vila Real, o FC Porto, de permeio o Tirsense por empréstimo do FC Porto (envolvido na vinda de Alberto Festa para o FC Porto), de novo o FC Porto e por fim o Vila Real outra vez. Tendo conquistado uma Taça de Portugal pelo FC Porto, em 1968. Alcançou quatro internacionalizações pela Seleção Militar, uma pela Seleção B e mais quatro pela Seleção A. Nóbrega fez a sua estreia na principal equipa nacional a 15 de Novembro de 1964, no Porto, contra a Espanha, com vitória portuguesa por 2-1; e despediu-se a 12 de Novembro de 1967, no Porto, com a Noruega, também com vitória portuguesa por 2-1. Esteve selecionado para ir ao Mundial de 1966 no lote dos 22 Magriços, mas depois foi substituído por um futebolista que ao tempo havia ingressado num clube de Lisboa.

Pormenorizando: Nóbrega jogou nas camadas jovens do Futebol Clube do Porto e quando foi promovido a sénior, na temporada de 1961/62, foi emprestado ao F.C. Tirsense em acordo incluído na transferência de Alberto Festa, para depois ter regressado em definitivo aos Dragões na temporada seguinte.


Entrou na equipa principal do FC Porto como titular em Setembro de 1962 e a partir daí foi dos elementos mais assíduos a jogar com a camisola do FC Porto.

 = Vitória no Trofeu Luís Otero, em Espanha 

A sua primeira temporada de sénior azul e branco foi bastante promissora, já que Nóbrega, com apenas 21 anos, acabou o campeonato nacional com 10 golos apontados e com a conquista da Taça Associação de Futebol do Porto. Depois, na seguinte temporada com a camisola do FC Porto teve plena afirmação, sendo então que confirmou estatuto saliente como um dos titulares indiscutíveis. Enquanto isso, à falta de títulos nacionais que a equipa não conseguia vencer, foi protagonizando vitórias na Taça Associação de Futebol do Porto, em repetições sucessivas.

= Nóbrega na equipa da primeira vitória do FC Porto em competições europeias. 

De particular destaque o facto de Nóbrega, no dia 16 de Setembro de 1964, ter sido também um dos titulares da formação portista que venceu o Olimpique Lyonnais por 3-0 no Estádio das antas, em jogo a contar para a 1ª mão da 1ª eliminatória da Taça dos Vencedores das Taças e que marcou a primeira vitória dos portistas nas competições europeias.


Nesse percurso, entretanto, Nóbrega teve enfim oportunidade de vestir a camisola da seleção nacional. Inicialmente, como “tropa”, foi escalado para jogar pela Seleção Militar no Torneio Europeu de Seleções Militares ao tempo existente, tendo então alinhado ao lado dos colegas Rui, Pinto e Jaime, assim como de Eusébio e Simões do Benfica, José Carlos e Pedro Gomes do Sporting, Ribeiro do Belenenses, Jaime Graça do Setúbal, entre diversos outros mais. 


Mais tarde foi escolhido ainda para a Seleção B. E por fim em 1964 teve vez a chamada à Seleção A, tendo na estreia, diante da Espanha em jogo disputado no estádio das Antas, sido considerado o melhor em campo. A ponto que a sua exibição entusiasmou a assistência, de tal forma que no final foi levantado em triunfo, levado em ombros por admiradores.


Apesar disso, sofrendo os efeitos dos jogadores do FC Porto não terem quem os pudesse defender na Federação, Nóbrega poucas mais vezes pôde jogar na seleção principal representativa de Portugal, visto nas instâncias superiores então imperar o sistema BSB das presidências federativas destinadas apenas a representantes de Benfica, Sporting e Belenenses. E, como tal, serem futebolistas desses clubes normalmente os escolhidos. De modo tão escandaloso que aquando da campanha do Campeonato Mundial de 1966 então Nóbrega, apesar de ter sido incluído no lote destinado à ida a Inglaterra, foi deixado em terra (apesar de até ter tido o fato oficial pronto!), para entrada dum outro que na época tinha sido adquirido pelo Sporting… (Assim, tal e qual, na fase final na velha Albion, o melhor guarda-redes, Américo, ficou no banco para jogar o Carvalho do Sporting no primeiro jogo e por fim José Pereira do Belenenses, nos restantes jogos, mesmo até no último de atribuição do 3º lugar, mau grado ter tido grandes culpas no cartório da derrota na meia final; enquanto Pinto, apesar de considerado dos melhores portugueses, viu jogarem diversos outros de seu lugar porque eram do Benfica…)

= Nóbrega na equipa da Festa de Despedida do grande guarda-redes Américo. 

Após o Mundial de 1966 Nóbrega voltou ainda a ser selecionado, tendo vestido a camisola das quinas em mais três ocasiões, havendo-se despedido no dia 12 de Novembro de 1967 numa partida em que foi o extremo esquerdo da seleção que venceu a Noruega, em jogo disputado no estádio das Antas, com resultado favorável a Portugal por 2-1.


Na temporada de 1967/68 viveu o ponto alto da sua carreira ao conquistar a Taça de Portugal. Os portistas foram à Final do Jamor vencer o Vitória de Setúbal por 2-1, com Nóbrega a ser o autor do segundo e vitorioso golo do FC Porto.


Francisco Nóbrega esteve também presente noutros momentos importantes para o clube azul e branco. Em Janeiro de 1970 fez parte da comitiva que se deslocou ao Brasil a convite do São Paulo F.C. para a festa de inauguração do Estádio Cícero Pompeu de Toledo. E especialmente, no dia 31 de Janeiro de 1971 foi um dos titulares da equipa que derrotou o S.L. Benfica por 4-0, no célebre jogo em que Lemos marcou todos os golos.

= Equipa que alinhou de início no jogo dos 4-0 ao Benfica em Janeiro de 1971: Em pé e da esquerda para a direita: Rolando, Gualter, Pavão, Valdemar, Armando Manhiça e Rui. Em baixo, pela mesma ordem: Abel, Custódio Pinto, Bené, Lemos e Nóbrega.


No final da temporada de 1973/74 deixou finalmente de jogar no F.C. Porto. Depois de Dragão ao peito Nóbrega ter disputado 277 partidas oficiais e marcado 44 golos, nas 12 épocas em que representou o F.C. Porto. Ficando na memória de quem o viu jogar como o extremo esquerdo portista que trocava os olhos aos defesas… conforme entre admiradores e comentadores era publicamente dito sobre ele, nesse tempo. Tal era a sua finta estonteante, driblando pelo lado esquerdo, a trocar as voltas e os sentidos aos defensores adversários.

= Imagem do tempo de Cubillas e do último ano de Nóbrega no FC Porto: Equipa do futebol portista na época 1973/74. Em pé e da esquerda para a direita: Rolando, Rodolfo, Guedes, Tibi, Ronaldo e Cubillas. Em baixo, pela mesma ordem:  Abel, Oliveira, Celso, Bené e Nóbrega.

Sintomático do apreço com que Nóbrega ficou visto à luz da história é que foi incluído entre os melhores jogadores nacionais na coleção "Onze +", em 2008 publicada pela editora Quidnova, de parceria com o jornal O Jogo  através de livros dedicados a cada posição de futebolistas em campo, desde guarda-redes até aos extremos-esquerdos, integrando o lote dos melhores extremos esquerdos de sempre. Num grupo composto (em ordem alfabética) por Albano, do Seixal e depois do Sporting; Bentes, da Académica; Chalana, do Benfica, Bordeus (França), Belenenses e Amadora; Dinis, do Sporting e do FC Porto; Fernando Peres, do Belenenses, Académica, Sporting, FC Porto e Vasco da Gama (Brasil); Futre, do Sporting, FC Porto, Atlético de Madrid, Benfica, Marselha (França), Regiana e Milan (Itália), West Ham (Inglaterra) e Yokohama (Japão); João Cruz, do Sporting; José Alberto Costa, do Vila Real, Académica, FC Porto e Rochester Lancers (USA); Nóbrega, do FC Porto; Simão Sabrosa, do Sporting, Barcelona (Espanha), Benfica e Atlético de Madrid (Espanha); e (António) Simões, do Benfica, Tomar, Estoril, etc (diversas equipas dos Estados Unidos da América). Com indicação dos respetivos clubes de passagem durante a carreira, como seniores e fases relevantes.


Entretanto, ainda, na época de 1974/75 Nóbrega, em final de carreira, ingressou no clube da sua terra, o S C Vila Real. Então aí, em 1975/76 ajudou os vila-realenses a subirem para a 2ª Divisão Nacional. Na temporada seguinte passou ali a ser treinado pelo seu amigo e ex-colega do FC Porto Custódio Pinto, que assumira o comando da turma transmontana. Com o qual passou e estava a viver bons momentos, novamente, até que num jogo em Chaves aconteceu um desentendimento entre o treinador e o presidente, Taveira da Mota, cuja ocorrência ditou o afastamento de Custódio Pinto do comando técnico da equipa de Vila Real. Francisco Nóbrega em solidariedade com o seu amigo e por discordar do que acontecera, na sua retidão natural, abandonou também o clube e regressou à cidade do Porto.


Passou mais tarde a treinador, tendo orientado clubes como o CD Feirense (que então esteve quase a alcançar subida de divisão), FC Lixa, FC Felgueiras, Avanca, Atlético de Rio Tinto, entre outras equipas ao tempo participantes em divisões secundárias nacionais e algumas distritais.


Faleceu no dia 28 de Abril de 2012, no Porto, quando contava 70 anos.

Palmarés:

1 Taça de Portugal
4 Taças Associação de Futebol do Porto

Internacional 4 vezes pela Seleção Militar, 1 pela Seleção B e 4 pela Seleção A de Portugal.

ARMANDO PINTO

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