Reconstituição Histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Reconstituição histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Criar é fazer existir, dar vida. Recriar é reconstituir. Como a criação e existência deste blogue tende a que tenha vida perene tudo o que eleva a alma portista. E ao recriar-se memórias procuramos fazer algo para que se não esqueça a história, procurando que seja reavivado o facto de terem existido valores memorávais dignos de registo; tal como se cumpra a finalidade de obtenção glorificadora, que levou a haver pessoas vencedoras, campeões conquistadores de justas vitórias, quais acontecimentos merecedores de evocação histórica.

A. P.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Subsídios históricos dos princípios do Hóquei em Patins do FC Porto


Estando-se em período comemorativo de histórico feito do hóquei em patins do FC Porto, sendo que neste mês de novembro se perfazem 50 anos da conquista do Campeonato Metropolitano alcançado no outono de 1969, vem a calhar uma memorização comemorativa pelos inícios da modalidade no FC Porto, até ter sido alcançada essa proeza. Sabendo-se que até então o hóquei havia estado mais desenvolvido no sul do país, melhor dizendo em Lisboa e arredores, até que com o FC Porto a alcandorar-se aos lugares cimeiros o hóquei patinado se começou a impor também na parte nortenha da nação.


= Equipa dos Campeões Metropolitanos de 1969 =

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Ora.. O Hóquei em Patins entrou no FC Porto na década de quarenta, tendo sido em 1944 que o clube «tomou parte em provas oficiais, inscrevendo-se em todos os torneios regionais…». Constituíam a “equipa da fundação” os hoquistas António Castro Lacerda, Álvaro Almeida, António Joaquim Costa, António Brandão, Gualdino Leite, José Arches Carvalho, Delmiro Silva e Alberto Lima Ruella».

Viria então, em 1944/45 a pioneira equipa portista a classificar-se em último lugar do Campeonato Regional, também disputado por poucas equipas, «o que “não foi de estranhar” dada a falta de recinto para treinar e de orientador capaz», como se pode ler na revista “Vida do Grande Clube Nortenho (2)”, segunda brochura da coleção Seleções Desportivas (editada em 1978).

Como testemunho dessa antiga realidade, juntamos um exemplo de notícia coeva, dada à estampa na revista Stadium em seu número de 29 de Maio de 1946, aludindo a anterior experiência, quanto à participação duma equipa do FC Porto na época anterior (1944/45).


Contudo, a sua existência sofreu, de permeio, uma interrupção nas atividades, após um curto período de competição entre 1944/45 até 1946. 

O hóquei estava a desenvolver-se com maior força no Sul do país, enquanto a Norte poucos eram os clubes que ainda se dedicavam a esta modalidade jogada sobre patins, sendo mais na área do Porto que se encontravam equipas de hóquei patinado, entre clubes que praticavam modalidades de rinque, normalmente ao ar livre. Então, o FC Porto aparecera com uma equipa sénior, mas por pouco tempo, à falta de recinto próprio, pois que mesmo as outras modalidades no clube, como o basquetebol, por exemplo, andavam por diversos rinques, enquanto o campo da Constituição era usado pelo futebol e andebol de onze.

Assim sendo, só mais tarde, e com a construção de um rinque de cimento na Constituição, o hóquei em patins reapareceu no FC Porto. Tendo a secção sido depois reativada já a meio da década de cinquenta, mais concretamente em 1955, por exigência dos sócios, «a pedido do público e até dos clubes adversários», devido ao fascínio que sua prática despertava no país a nível da seleção nacional e por reconhecimento de necessidade «da presença duma equipa portista nas competições, com vista a poder ser desenvolvida a modalidade…»

Após isso o reenício, ou mais propriamente o início definitivo,  depois de tempos de atempada preparação, foi já na primavera de 1956, aquando da disputa do Mundial de seleções no Porto, dando-se de seguida a entrada oficial do FC Porto em competição.


A equipa de hóquei em patins do Futebol Clube do Porto estreou-se em competições oficiais na 2ª Divisão Regional da Associação de Patinagem do Porto a 02/07/1956, no rinque das Cavadas (cedido pelo Estrela e Vigorosa), num jogo diante do CDUP, com vitória portista por 9-1. Sendo de acrescentar que os restantes jogos do FC Porto para o campeonato foram disputados no rinque do Lima (cedido pelo Académico), de modo a albergar o grande número de espectadores interessados.


Então, só na década de cinquenta foram obtidos os primeiros títulos, tendo em 1955/56 sido conquistado o Metropolitano da 2ª Divisão, fase Norte, mais conhecido ao tempo por Campeonato Regional (mas que dava título de Campeão do Norte), ascendendo por isso o FC Porto à 1ª Divisão. Era chefe de secção o então dirigente Melo Cruz e treinador o Dr. Mário Aragão, no regresso do FC Porto à modalidade.


= Equipa do F C Porto aquando do 1º jogo e depois já com o clube campeão da 2 ª Divisão Regional do norte em 1955/1956. No retorno à competição (sendo este o primeiro ano de competição após curto período entre 1944/45 até 1946). 


Desses tempos foi superiormente registado o início da atividade hoquista no anual Relatório e Contas do clube, constando em tal documento publicado da Gerência de 1956 um relato descritivo com a história inicial da modalidade no seio do FC Porto.


Ganho assim um lugar importante no ambiente portista e mesmo algum prestígio no panorama do hóquei nacional, a equipa do FC Porto passou a deter respeito, a pontos de merecer pedidos de comparência em acontecimentos relevantes, como foi o caso de em Novembro do mesmo ano de 1956 ter ido solenizar a inauguração de um recinto desportivo na Beira Litoral.

Ficou então registado no jornal O Porto esse facto, também digna de nota;



Passada a fase embrionária, depressa o hóquei portista ganhou ainda maior visibilidade com a inclusão de um nome mais sonante. Havendo então sido incluído um hoquista-futebolista, Acúrcio Carrelo, o qual acumulava a prática hoquista com o futebol (sendo então Acúrcio guarda-redes de futebol da equipa principal do FC Porto), mais um aderente hoquista-basquetebolista, Ruben Lopez (este por sinal até jogador-treinador do basquetebol portista, nesse tempo). 

Com efeito, constituíam a equipa da época, entre outros, Campos, Luís Sousa Mota, Acúrcio Carrelo, Ruben Lopez, Morais e Abílio Moreira. 


Isso porque, entretanto, quando se davam esses iniciais momentos, e perante a estada de Acúrcio no futebol do F C Porto, vindo de Moçambique em 1955, e como ele praticara hóquei sobre patins enquanto vivera naquela então província ultramarina portuguesa, foi seduzido a também ajudar ao fortalecimento da existência do hóquei no Porto. Tendo sido assim que em Maio de 1957 se integrou na equipa de hóquei do F C Porto. Tanto ajudando a um maior impacto que a sua integração hoquista ficou registada na imprensa, motivando que se ficasse a saber à posteridade ter sido a 8 de maio de 1957, quando centenas de pessoas acorreram à apresentação de Acúrsio como avançado da equipa de hóquei em patins do FC Porto. E a verdade é que o excelente guarda-redes de futebol, que foi internacional pela seleção nacional de futebol, era igualmente bom no hóquei, pois também chegou a internacional na modalidade jogada a correr em patins de rodas.


Acúrcio Carrelo foi, depois, o 1º internacional do clube nesta modalidade, tendo em 1957 feito parte da seleção portuguesa presente no Torneio de Montreux, marcando inclusive 6 golos; e depois no Europeu, nesse mesmo ano em Barcelona, onde fez 2 golos; sendo por fim selecionado para a Equipa da Europa que defrontou a Espanha, em cujo prélio contribuiu com 3 dos cinco golos dessa turma do chamado “Resto da Europa”.

= Seleção Portuguesa, em 1957, Taça das Nações de Montreux - com Acúrcio ao centro, em primeiro plano (na fila de baixo) =

A carreira desse avançado Carrelo do hóquei não foi mais além, porém, por entretanto ter acabado essa dupla função com a chegada do profissionalismo ao futebol, enveredando Acúrcio apenas pela sua prestação como guarda-redes do futebol portista, entre outras situações, como aconteceu à mesma com Morais, que também jogava hóquei (e ainda Pinho, igualmente “nosso” guardião de futebol, que ao tempo também acumulara na defesa da baliza do Andebol azul e branco).

Evoluiu a modalidade no clube com reforço da equipa já nos inícios da década de sessenta, havendo em 1960 sido atingido ponto de realce na conquista do Campeonato Regional da 1ª Divisão, de permeio com o ingresso de Joaquim Leite, oriundo do hóquei em campo do clube e durante algum tempo também atleta que acumulou as duas modalidades, mais Alexandre Magalhães, histórico "capitão" da equipa durante anos, e outros.

= Equipa do F C Porto, Campeão do Norte de Portugal em 1960

O rinque da Constituição enchia-se então já de entusiastas adeptos do hóquei, como mais uma modalidade engrandecedora do ecletismo do FC Porto.

A par com a equipa senior, passou o hóquei do FC Porto a ter também formação através de correspondente equipa junior. Com resultados desde logo interessantes, tendo mesmo em 1959 os juniores do FC Porto sudo Campeões Regiionais.

O plantel dessa conquista  era composto pelo conjunto de jovens que constam da foto histórica respetiva (da qual, se pode idebtificar a sua composição, por legenda que ficou aposta no verso da foto originaL)

( .. F C Porto Campeão Regional do Porto, na categoria de Juniores: No 1º plano, da esquerda para a direita - Edmundo, Carlos Duarte, Ruela e Serafim. No 2º plano (de pé), da esquerda para a direita - Mota, Albano, Nora e Camilo)

Passaram depois a haver continuidade de resultados da formação de jovens que se tornaram revelações, com o aparecimento de novos valores, quando começou a despontar a geração de Cristiano:
  

Com essas fornadas mais jovens a engrossarem a massa que já aparecera e entrara na equipa principal, com saliência para Moreira, Magalhães, Leite , Moura, Vitorino, etc, a evolução foi mais consentânea com a posição do clube.


De patins bem assentes nos rinques, o hóquei portista foi crescendo cada vez mais e a meio da mesma década de sessenta se ampliou tal valorização com a implantação na equipa principal de jovens valores como Hernâni e Cristiano, que mais completaram a equipa capitaneada por Magalhães, cuja experiência dava amplitude ao conjunto que tinha Branco na baliza e Joaquim Leite a desenvolver as jogadas e ainda Valentim. Aos quais se juntaram alguns reforços, quando vieram os madeirenses Ricardo e Castro, mais o regressado João Brito (que fizera parte da equipa da transição dos anos cinquenta até ao título de 1960 e, depois de alguns anos fora do clube, regressava então).


Começara a afirmar-se o hóquei portista no panorama nacional, sobremaneira ao atingir alto patamar com a conquista do “Metropolitano” da 1ª Divisão em 1969, sendo diretor da secção Jorge Nuno Pinto da Costa e treinador Laurentino Soares.

= Campeões Metropolitanos - 1969 (falta na foto António Júlio, dos que jogaram na fase final; enquanto estão Joel e Rui Catano, não utilizados na fase decisiva, mas como suplentes em jogos de apuramento =


Eram então tempos em que a categoria de Cristiano dava expressão ao conjunto de valores que se foi juntando no grupo azul e branco. Havendo de permeio o hóquei do FC Porto sido honrado em 1968 com a escolha de dois jovens hoquistas para a seleção portuguesa de juniores, Cristiano e Castro, tornados então os primeiros internacionais desse escalão da modalidade do clube. Glória acrescida de em 1969 os mesmos, junto com os colegas de equipa António Júlio e Fernando Barbot, se terem sagrado campeões europeus de juniores com a seleção portuguesa, em Vigo (e, volvido um ano, Cristiano de novo repetiu a proeza, juntando em 1970 a função de capitão da equipa que levantou o trofeu europeu).


É dessa fornada a formação perpetuada na imagem que se junta, de 1970, quando pela segunda vez consecutiva a equipa do FC Porto alcançava o lugar de vice-campeão nacional (em cujo verso da mesma foto ficaram impressos os respetivos autógrafos). Equipa que posou à posteridade aquando da disputa do Metropolitano, vendo-se no 1º plano, a contar da esquerda: J. Leite, João de Brito, Cristiano, Castro e Ricardo. Em pé, a partir da esquerda: Hernâni, Zé Fernandes e António Júlio.


Entretanto, em 1969/70, mas já com a primavera de 1970 a florir, o FC Porto entrou nas competições europeias de hóquei, em estreia internacional, como representante oficial português na então Taça dos Campeões Europeus. Havendo iniciado a participação eliminando o campeão alemão (de cujo encontro se anexa foto de conjunto das duas equipas) e por fim discutiu as meias-finais taco a taco com os espanhois do Reus.


Na continuidade da prática hoquística no FC Porto, Cristiano foi chamado à seleção nacional de seniores, acrescendo em 1971 ter feito parte da seleção vencedora do Europeu, para cujo alcance contribuiu com golos decisivos, para gaudio de seus admiradores e enriquecimento dos pergaminhos da secção de hóquei em patins do FC Porto.


E daí em diante Cristiano Pereira passou a ser presença assídua nas seleções representativas de Portugal, sendo durante muitos anos o único do FC Porto a ser escolhido para essas equipas de seniores, com exceção de um ano em que Brito foi também incluído na seleção para os jogos mundiais e noutro Castro foi ao Europeu, conquistando o título correspondente com a camisola das quinas

= Cristiano recebendo uma prenda do clube, das mãos do Presidente Afonso Pinto de Magalhães, pela sua participação na seleção portuguesa que venceu o Europeu de 1971 =

 A partir daí o hóquei foi crescendo dentro do clube, sempre na disputa dos primeiros lugares. Tempos em que as camadas jovens alcançaram primeiros títulos nacionais, com a obtenção do título nacional de juvenis em 1971 e o de Juniores em 1973/74. Contando no plano diretivo também com grandes dedicações, como aconteceu com Fernando Barbot (pai de tres hoquistas que fizeram história no clube), Sampaio Mota, César e Dinis Brites, etc. Enquanto como treinadores tiveram trabalho de marca Alexandre Magalhães, António Henriques, João Brito e outros. Ficando na memória diversas lavas de hoquistas, desde uns Joel, Prezas, Nora, Beleza, Campos, Augusto, Orêncio, Jorge Câmara, Luís Caetano, Soares Pereira, irmãos Reis, Chalupa, Fanan, Vale, etc, etc. Sem esquecer o carisma da arte e engenho do "mecânico" sr. Óscar Amaral.

= Campeões Nacionais de 1982/83

Enquanto isso a história da modalidade no seio do clube dragão era então resumidamente registada com algumas dessas conquistas e ocorrências, como ficou impresso na edição especial d´ "A Vida do Grande Clube Nortenho":


Seguiram-se tempos de grande fulgor do hóquei portista, com a entrada em rinque de uns Domingos Guimarães e Carvalho, Vitores Hugo e Bruno, António Alves, Franklim Pais, Pedro e Paulo Alves, Carlos Realista, Tó Neves, Filipe Santos, Reinaldo Ventura, Helder Nunes, etc. etc., com muitos títulos em grandes períodos de hegemonia nacional, até à promissora era atual de Gonçalo Alves, Reinaldo Garcia, Poca, Rafa, Cocco, Carlos Di Benedeto, Xavi Malián, Sergi Miras, Tiago Rodrigues, Hugo Santos e Cª.

Com estes subsídios históricos, ao jeito de contribuições para a história, fica um enquadramnento do percurso que ficou deveras assinalado, até então e na fase crucual da solidificação, com a obtenção do Campeonato Metropolitano, que era ao tempo o Campeonato Nacional da Metropole portuguesa (cujo campeão do continente de Portugal disputava depois uma fase final com as equipas campeãs das então províncias ultramarinas de Angola e Moçambique).

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Agora, em tempo de castanhas e vinho novo, como há cinquenta anos, refrescam-se as ideias na memorozação da efeméride jubilar que ocorre no final deste mês. Sendo então de toda a justiça um artigo à parte, na ocasião, a rememorar a ditosa conquista do “Metropolitano” da 1ª Divisão em 1969. Com o contributo efetivo de Cristiano, goleador da prova, mais José Ricardo, João de Brito, Alexandre Magalhães, Joaquim Leite, Hernâni Martins, José Castro e António Júlio. Sob orientação do treinador Laurentino Soares, mais comparticipção diretiva de Jorge Nuno Pinto da Costa e do Professor Aires Miranda, à frente de uma equipa onde estavam também Sampaio Mota, os irmãos Brites e outros mais.
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Armando Pinto
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1 comentário:

  1. Fantastico. De pequenas historias se escreve a grande HISTORIA. Sou portista em todas as modalidades, embora no hoquei em patins as reticencias impoem-se, em virtude de nesta modalidade Valongo e Porto sempre foram inimigos "figadais", o que se compreende pelas constantes "sangrias" de jogadores que nos fizeram durante anos a fio. No entanto e depois da A.D.Valongo portista ate morrer. Abraco e parabens por esta resenha. Joao Pauperio.

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