Forte e resistente, como os carvalhos de porte nobre e de
folhagem sempre revigorada, é rija a fibra também de dois Carvalhos que em
sucessivas gerações correram e correm de bicicleta em provas de ciclismo de
alta competição, passando o testemunho de avô ao neto – tal o caso de Alberto
Carvalho e António Carvalho. Dois valorosos ciclistas que, com décadas de anos
de diferença se ligam pelo mesmo desporto e pelo mesmo clube. Tendo o avô,
Alberto Carvalho, vestido a camisola do F C Porto a partir de 1966, enquanto o
neto, António, está agora a partir de 2016 a representar também o F C Porto.
Com cinquenta anos de permeio, dando assim continuidade, qual linha familiar, a
essa autêntica linhagem ciclista e portista como é esta dos Carvalhos, desde o
avô ao neto.
Assim, neste ano em que o ciclismo ganha nova atração com o
regresso do F C Porto à prática dessa modalidade veloz e atraente, vence o
apreço que o ciclismo detém na família portista, com direito a se fazer ligação
do passado ao presente através da pujança patente nesta sucessão. Servindo de
mote para apresentação de um dos ciclistas portistas da atualidade, a
propósito, na roda da recordação do patriarca de tal linha hereditária.
No tempo do Alberto Carvalho os nomes dos ciclistas eram
conhecidos do grande público, e mesmo as caras nos eram familiares, pelo que
víamos nos jornais. De cujo acervo guardamos muitas imagens recortadas de
páginas que nos ligavam a esses ídolos das estradas, e só não chegamos a juntar
mais porque muitas foram usadas nas caricas, ou seja, coladas a capsulas de
garrafas de cerveja ou bebidas de sumos, que serviam para uso em corridas da
pequenada… servindo essas tampas metálicas de imaginárias bicicletas, com que lançávamos
os nossos, a toque de arremesso com os dedos, para ganharem aos dos outros…
Depois, com o desaparecimento do F C Porto das corridas de bicicletas, mais
tarde seguido pelos outros rivais clubes grandes, os ciclistas eram referidos
na comunicação mas passavam quase despercebidos de nossas atenções. Até que
agora nos volta a despertar interesse e passamos a conhecer os nossos ciclistas,
com o F C Porto de novo a dar ao pedal. Em cuja equipa, além de todos os
outros, nos chama a atenção o facto de haver um ciclista que é neto dum antigo
ciclista do F C Porto. O António Carvalho, neto de Alberto Carvalho, filho de
uma filha de Alberto Carvalho.
A tradição ciclista da família Carvalho, que vem de gerações
sucessivas, havia começado nos anos quarenta, do século XX, obviamente, com Joaquim
Carvalho, ciclista que corria pelo Académico do Porto. Tendo depois seu filho,
também Joaquim, lhe seguido as andanças. Até que seu irmão Alberto, o mais novo
irmão deste Joaquim, igualmente seguiu na roda familiar e passou a correr com a
camisola branca da coletividade academista da portuense rua de Costa Cabral. E então Alberto, depois de ter iniciado sua carreira ainda nos anos
cinquentas, atingiu lugares cimeiros das mais importantes provas, passando a
ser o mais conhecido nessa era de tal
família de ciclistas. A pontos de ter
sido nos anos sessentas um dos candidatos a vencer a Volta a Portugal. Bem
como, volvidos tempos, correu no estrangeiro ao serviço da Flandria, em virtude
de ter despertado a cobiça daquela equipa belga pelo seu desempenho na Volta a
Portugal em que a mesma formação também competiu. Para, finalmente, ter por fim regressado a
Portugal com acrescido reconhecimento de ter passado a representar as cores do
F.C. do Porto.
Após isso continuou a sucessão familiar com Fernando
Carvalho, filho de Alberto e sobrinho de Joaquim, que, como o F C Porto não
tinha ciclismo, representou equipas de firmas e tão boa conta deu que venceu
uma Volta a Portugal, ao serviço de equipa existente ao tempo, denominada
Ruquita/Feirense. Com prestígio que levou depois à criação duma escola de
ciclismo para jovens praticantes, em cuja linha veio a surgir um novo rebento
da mesma tradição famíliar, através do jovem António Carvalho, sobrinho de
Fernando e neto de Alberto. O mais jovem Carvalho que veio a ser o vencedor da
Volta do Futuro em 2013 e vencedor do Prémio da Montanha na Volta a Portugal de
2014 e do Grande Prémio JN em 2015. Até que em 2016 passa a vestir a camisola do F C Porto, tal como
aconteceu com seu avô.
Eis assim essa história familiar, de tão vincada tradição, e, com honra e glória, perante o caso do avô Alberto e o neto António
terem conseguido vestir a camisola de seu e nosso clube, o traje de ciclismo do
F C Porto.
Alberto Fernando Gomes de Carvalho, conforme é o nome
completo do patriarca da família dos Carvalhos do F C Porto, nasceu em 7 de Outubro de 1939 (segundo está escrito no verso da imagem dum cromo, de onde retiramos o retrato que aqui juntamos, em corpo inteiro; mas noutras publicações aparece como sendo 5 de
Outubro de 1940), na freguesia de Nogueira da Regedoura, concelho de Santa Maria
da Feira. Representou, entre 1957 (ano em que foi inscrito na Federação Portuguesa de Ciclismo) até 1964 o Académico F C; em 1965
a Flandria-Romeo, da Bélgica; e de 1966 a 1968 o F.C. Porto.
Alberto Carvalho, foi vencedor de várias provas como amador
e como profissional, bem como campeão nacional e portador da camisola amarela
em diversas etapas, no decurso de duas edições da Volta a Portugal. Distinguindo-se
precisamente por se ter conseguido impor na história dessa importante
competição, onde normalmente era considerado favorito nos idos anos da década de sessenta,
apesar de não ter ganho qualquer dessas Voltas, nalguns casos por azar
manifesto. Ganhou contudo 4 etapas, no decurso de sua participação nas Voltas em que
entrou, tendo obtido um 3º
lugar final (na Volta de 1961, em que foi portador da camisola amarela durante 3
etapas), um 4º lugar (na Volta de 1964, na qual envergou a camisola amarela em
11 etapas), e um 7º lugar (na Volta de 1963), enquanto representou o Académico.
Já com a camisola do F C Porto obteve depois o 5º lugar (na Volta de 1966, em
que venceu 1 etapa e foi o melhor classificado da equipa portista).
Foi também Alberto Carvalho, como ciclista do F C Porto, campeão nacional de pista em anos
consecutivos. Após isso, treinou equipas amadoras de ciclismo (Oleiros e
Feirense, por exemplo) e foi ainda vice-presidente e fundador da Escola de Ciclismo
Fernando Carvalho.
= Alberto Carvalho, na volta de honra da equipa do F C Porto da Volta de 1966, com ramo alusivo de melhor classificado da equipa, na respetiva edição. =
António Carvalho, o neto ciclista, representa o presente da
família e está na atualidade do F C Porto, como um valor reconhecido da equipa
que encarna a valorização do ecletismo portista, agora que o F C Porto volta a
ter ciclismo de alto nível.
De nome completo António Ferreira Carvalho, nasceu a 25 de
Outubro de 1989, em São Paio de Oleiros, concelho de Santa Maria da Feira. Uma
simpática localidade onde é figura pública também um antigo nome consagrado do futebol portista do passado, o Américo, guarda-redes dos
melhores de sempre do futebol português. E curiosamente, por extensão, Américo Lopes, o “Baliza de prata”, que tem em Oleiros uma clínica médica chamada Boa Hora, tem outra ligação simbólica ao percurso do jovem ciclista portista, por ser natural de Santa Maria de Lamas, terra onde António Carvalho estudou entretanto. Acrescendo, na ligação do jovem Oleirense, que António Carvalho, fora
da época de treinos e corridas, colabora com a construção e manutenção do chamado Presépio Cavalinho, o maior do mundo dessa monumentalidade tão apreciável, com quase tudo a mover, existente em São Paio de Oleiros. Presépio grandiosíssimo que detém o recorde do Guiness do “Maior Presépio do Mundo em movimento”, graças ao entusiasmo do dono da empresa de marroquinaria do mesmo nome, Manuel Jacinto, personagem que leva muita gente àquela terra como autor desse mega-presépio...
...Numa grande representação da Lapa de Natal a que, além das imagens próprias e tudo o que é naturalmente sagrado e relacionado com o nascimento e vida de Jesus Cristo, também tem muitas cenas características, a que não podia faltar uma corrida de bicicletas, com pelotão de ciclistas a andarem por ali.
...Numa grande representação da Lapa de Natal a que, além das imagens próprias e tudo o que é naturalmente sagrado e relacionado com o nascimento e vida de Jesus Cristo, também tem muitas cenas características, a que não podia faltar uma corrida de bicicletas, com pelotão de ciclistas a andarem por ali.
Ora, quanto ao ciclismo propriamente, António Carvalho seguiu as pisadas do avô, bem como da
mãe e tios. Sim, porque também sua mãe chegou a competir em ciclismo e tinha
jeito e pujança, mas cedo deixou de correr nas bicicletas. Assim sendo, como se
diz, quase não havia como não seguir o que de trás vinha. O avô, Alberto, a
mãe, Maria, e os tios, Fernando e Alberto, todos de apelido Carvalho, foram
ciclistas. E António Carvalho deu continuidade, honrando a tradição. Tendo nos
anos mais recentes sido um valoroso corredor que se empenhou na defesa da liderança
do companheiro de equipa Gustavo Veloso, vencedor da principal Volta a Portugal
nos anos de ainda mais fresca memória, e atual chefe de fila da equipa do F C Porto..
Depois de obter bons resultados na categoria de juniores, ao
longo dos anos de 2006 até 2008, e depois de ter começado, desde 2009, a conquistar
vitórias em etapas de Grandes Prémios, mais corridas no estrangeiro, em Espanha,
e na portuguesa Volta ao Futuro, inclusive, António Carvalho veio a ser vencedor dessa
importante prova dos escalões jovens, vencendo a Volta a Portugal do Futuro em
2013. A partir daí, ascendendo ao escalão superior, tem sido sempre a subir. Num
percurso que levou o jovem amador a ter passado, primeiro em 2008 pela equipa portuguesa
LA-Sistemas SS-Trevomar, depois em 2009 pela equipa espanhola Artesania
de Galicia (da Cidade de Lugo), em 2010 de novo por uma equipa portuguesa,
Mortágua-Basi, formação em que continuou em 2011 e 2012, seguindo-se em 2013
e 2014 a também portuguesa formação de LA Aluminios-Antarte. Nesta equipa, após
a anterior caminhada como Sub-23 e no segundo ano como elite, em ano de estreia
como profissional, corria Setembro de 2013, António Carvalho inscreveu o seu
nome no “livro de honra” dos vencedores da “Volta a Portugal do Futuro em
bicicleta”, confirmando potencial demonstrado com tal triunfo naquela que era
a grande rampa de lançamento dos ciclistas mais novos em Portugal. De permeio
com boas quatro participações na Volta, duas pela Seleção e outras tantas pelo
LA-Antarte. E em 2014 venceu o Prémio da Montanha na Volta a Portugal (a somar
ao 15º lugar da classificação geral), que lhe “proporcionou chegar à melhor
equipa portuguesa” da época, passando em 2015 a integrar a W52-Quinta da Lixa.
Tendo sido então, com a camisola da equipa sediada em Sobrado (Valongo) que venceu
o Grande Prémio JN, uma das mais prestigiadas provas do calendário do ciclismo
nacional. Ao passo que rubricou excelente andamento na Volta, na
consagração do colega de equipa, Gustavo Veloso, para a qual lutou
abnegadamente, a pontos que na etapa da Torre, subindo à serra da Estrela, António
Carvalho deu tudo o que tinha em prol da equipa e da camisola amarela, mas
também na procura do melhor lugar possível, havendo chegado à meta em tal dose
de esforço que teve mesmo de ser assistido pela equipa médica. Acabando depois
por ter ficado bem posicionado no chamado “top ten” da Volta, classificado
em 6º lugar da classificação geral.
= António Carvalho no momento da assinatura do contrato para entrar na equipa do F C Porto, sob feliz testemunho do diretor portista Nuno Ribeiro =
Agora, chegada a oportunidade do ressurgimento do ciclismo
do F C Porto, em 2016, este bom ciclista trepador, António Carvalho, «ficou
“arrepiado” e acabou por cumprir um desejo de criança: “Quando era miúdo
cheguei a jogar futebol e claro que tinha o sonho de representar o clube de que
gosto, o FC Porto. Costumava apoiar sempre a equipa de futebol nas Antas e no
Dragão. Neste momento, devido ao nosso presidente, conseguimos ter o ciclismo
na estrada e viver este momento”», disse ele. Sendo o F C Porto o clube que o avô Alberto
Carvalho representou oficialmente durante três anos e do qual ele mesmo, o
neto, é sócio com lugar anual no estádio do Dragão.
Posto isto, aí está António Carvalho para as curvas e para
as subidas e descidas das estradas onde corram os ciclistas com as camisolas
lindas do F C Porto.
Os objetivos da equipa são, como é regra nos azuis e
brancos, vencer todas as provas, especialmente a Volta a Portugal. António
Carvalho já sonha com esse triunfo da equipa portista e depois com uma receção “ainda melhor” no
Estádio do Dragão. “Vamos lutar ao máximo e tentar dar vitórias aos nossos
adeptos”, desejou – conforme adiantou à imprensa. Para já, apontando baterias à nova temporada, com as cores da
W52-F.C. Porto-Porto Canal. Sem esquecer que ainda o clube Dragão detém o maior
número de vitórias na Volta a Portugal, à frente dos rivais e de todas as equipas que participaram na
maior prova ciclista portuguesa, e há que dar seguimento a isso.
De particular realce, também, é de anotar o facto da região natal
de António Carvalho ser uma zona de grande paixão pelo ciclismo e Santa Maria
da Feira continuar a ser o concelho com maior número de vencedores da Volta a
Portugal. Dos quais três o foram ao correrem com a camisola azul e branca, como sucedeu com Mário
Silva, Sousa Cardoso e Joaquim Sousa Santos, que tiveram a respetiva coroa de
louros pelo F C Porto (além de conterrâneos Joaquim Andrade, Fernando Mendes, e
Fernando Carvalho, que ao serviço de outras equipas também conquistaram a grandíssima
Volta a Portugal. Dos quais, mais tarde, os próprios Andrade e Mendes ainda
vestiram a camisola alvi-anil das Antas, e Fernando Carvalho foi o vencedor
desejado e como tal muito vitoriado pelos adeptos portistas, em tempo que o F C
Porto interrompera a atividade no ciclismo).
Nos dias que correm volta o entusiasmo clubista a pedir
meças, ombreando a evolução da carreira da equipa de futebol do F C Porto com o
que se anseia também venha a ser o percurso da equipa do ciclismo portista. Em cuja
pedalada tem vista este incentivo, de se começar a puxar pelas canelas dos ciclistas
em que passamos a ter os olhos. Mais o apoio que venha a haver nas estradas, e
até através das redes sociais. Como que pedindo e incentivando que todos trabalhem
muito para conseguir vitórias, sempre com o coletivo acima do individual, sem
esquecer o quão importante é ser um dos nossos, com a camisola do F C Porto, a
chegar primeiro a cada meta possível.
Os ciclistas do F C Porto, da atualidade, sabem já o que é
ser Porto e ser do F C Porto. Como puderam ver quando a equipa W52-FC
Porto-Porto Canal foi apresentada aos adeptos em dia de jogo de futebol no
estádio do Dragão (antes do apito inicial do jogo frente ao Marítimo, relativo
à 19.ª jornada da Liga). Na ocasião os 12 ciclistas e o diretor desportivo
Nuno Ribeiro foram chamados ao relvado e tiraram depois uma foto de grupo,
enquadrada pela bicicleta da equipa. «Os aplausos foram fortes e Nuno Ribeiro
reconheceu que se trata de mais uma motivação. Foi importante e um sinal de
que estão com a equipa e para nós é um orgulho bastante grande representar o FC
Porto. Como portista, tinha o sonho de o fazer enquanto atleta e agora, como
diretor desportivo, é mais um objetivo concretizado”, declarou o diretor
desportivo.»
Armando Pinto
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© Imagens com marca d’água,
de arquivo do autor.