Perdigão, glória da equipa portista da geração dourada dos
anos cinquentas, tendo sido um dos que se sagraram campeões nacionais em 1956 e
em 1959, é um dos nomes quase lendários da história do FC Porto. Quer como
futebolista, campeão nacional e internacional, mas também como nome do atletismo,
havendo sido recordista e campeão nacional em pista igualmente com a camisola do FC
Porto.
Nos inícios de sua carreira desportiva Perdigão dividiu a prática
atlética entre o futebol e o atletismo, efetivamente, tendo depois de estar no Porto alinhado
pela formação de atletismo portista. E ainda júnior, foi recordista de saltos
em altura e campeão nacional já na categoria de sénior. Tendo, inclusive,
estado no primeiro título de campeão nacional de equipas conquistado pelo FC Porto em atletismo..
Com efeito, em 1952 o FC Porto foi Campeão Nacional de Pista
ao ar livre de Atletismo em Seniores Masculinos por equipas, com 159 pontos e
14 vitórias em diferentes disciplinas, conseguidas por 10 atletas, todos eles
Campeões individuais nas respetivas disciplinas, entre os quais estava como
Campeão de Salto em Altura o Fernando Perdigão (tal como também o igualmente
futebolista Carlos Vieira, que integrou a formação Campeã de estafeta de 4 x 100 metros).
Um título em atletismo, esse, que foi algo especial, em virtude dessa modalidade estar
mais implantada em Lisboa, a pontos dos melhores atletas do Norte do país serem
atraídos a representar equipas lisboetas, tendo o título nacional masculino do
FC Porto de 1952 só voltado a repetir-se em 2001, até ser extinta a respetiva
secção no Porto.
De referir que então Fernando Perdigão no dia 3 de agosto de
1952 também bateu o recorde nacional do salto em altura, numa competição de
atletismo no Estádio do Lima. Então não era invulgar acumular-se mais do que um
desporto (como foram diversos os exemplos, em várias modalidades, até finais
dos anos cinquentas, antes do profissionalismo no futebol, em especial) e
Perdigão notabilizou-se no salto em altura. Até que em 1953 optou
definitivamente pelo futebol, tendo tido uma carreira de sucesso, como um
refinado futebolista do FC Porto nos anos 50 e parte dos 60 do século passado.
Vestiu a camisola dos Dragões durante doze temporadas
tendo-se sagrado campeão nacional em 1955/56 e 1958/59. Conquistou também por
duas vezes a Taça de Portugal nas épocas de 1955/56 e 1957/58. Tal como
conquistou ainda a Taça Associação de Futebol do Porto por sete vezes (1956/57,
1957/58, 1959/60, 1960/61, 1961/62, 1962/63 e 1963/64).
Havendo assim sido no futebol elemento da equipa principal, com
realce para as épocas em que as equipas do Futebol Clube do Porto foram
orientadas, respetivamente, pelos treinadores Yustrich e Bela Guttman,
comandando lotes de jogadores que, segundo opinião abalizada de conhecedores da
história desportiva nacional, tais equipas do FC Porto terão sido do melhor que
houve no futebol profissional português entre 1955 a 1960, sensivelmente.
De nome completo Fernando Júlio Perdigão, nasceu no dia 11 de Novembro de 1932
em Lourenço Marques, Moçambique. E faleceu a 16 de Fevereiro de 2007, em
Aveiro.
Começou a sua carreira desportiva no clube da sua terra, o
Clube Desportivo de Lourenço Marques, tendo sido contratado mais tarde para
jogar no Futebol Clube do Porto nos anos 50 do século XX.
= Campeões Nacionais de 1955/56 =
Lembro-me de ver imagem duma equipa do FC Porto em que
Perdigão alinhava em posição de ponta esquerda, em papel colado de forro de
parede, que surgia diante dos olhos em lugar de honra de estabelecimentos
públicos (como numa loja de mercearia e numa de vinhos e petiscos, onde se
comprava de tudo um pouco), ao jeito de fotogravura ilustrada, como eram
antigamente as fotografias pintadas. E esse Perdigão, como era nome de guerra
no mundo da bola e afinal era também nome de sua família, entrou na retina de
minhas memórias, com simpatia por sua figura.
Houvera luz do dia para o autor destas linhas em meados da
década de cinquenta, a meio do século XX. Ano em que a equipa de futebol
principal do Futebol Clube do Porto integrava, com maior utilização, o guarda-redes
Frederico Barrigana, famoso “mãos de ferro”, o defesa Virgílio Mendes, o Leão
de Génova e durante muitos anos recordista português de internacionalizações na
Seleção A (em tempo de escassos jogos disputados, a nível de Seleções), mais
Miguel Arcanjo, Vale, Carvalho, Porcel, Albasini, Eleutério, Henrique Monteiro
da Costa, José Maria, António Teixeira, o famoso Hernâni Silva, Carlos Duarte,
Fernando Perdigão e José Pedroto; como também Osvaldo Cambalacho, Dell Pinto,
Sarmento, Vieira e Romeu. Estava então como Presidente do F. C. Porto o Dr.
José Carvalho Moreira de Sousa, em 1954. Ano que, tomando o exemplo do vinho do
Porto da colheita desse período, foi “vintage”. Depois o FC Porto foi campeão Nacional na época 1955/1956
após 14 anos sem ganhar o título. Bem como em 27 de Maio de 1956, ao
ganhar a Taça de Portugal no estádio do Jamor, derrotando o Torreense por 2-0, o
Futebol Clube do Porto pela primeira vez na sua história ganhava a sua primeira
“dobradinha”. E Fernando Perdigão estava lá.
= Campeões Nacionais de 1958/59 =
Após isso ajudou a vencer novamente o título do Campeonato Nacional da 1ª
divisão na época 1958/1959..
De permeio Perdigão representou Portugal na seleção nacional, primeiro na seleção B, a 18 de Dezembro de 1955; e depois, também por uma outra
vez a seleção A, em 16 de Janeiro de 1957. Não tendo tido mais
internacionalizações, como é fácil de saber, pelos motivos do sistema então
vigente, das presidências federativas do esquema BSB, preferindo então sempre os
dos três clubes de Lisboa, enquanto os do Porto para irem às seleções não podiam só ser
melhores que os outros, teriam de ser muitíssimo melhores…
= Perdigão na equipa do FC Porto em 1960. No último ano de José Pedroto ainda como jogador e início da
carreira de Américo como titular. ( A partir da esquerda, em cima - Pedroto, Américo, Daucik, Miguel Arcanjo,
Paula e Monteiro da Costa; em baixo - Rico, Montãno, António Teixeira, Perdigão
e Humaitá. =
A meio da década dos anos sessenta, Fernando Perdigão regressou ao
clube que o viu nascer em Moçambique, onde ainda jogou alguns anos, terminando
a sua carreira desportiva como jogador-treinador do Clube Desportivo
Indo-Português, da mesma cidade. Tendo, entre outros títulos, ali obtido o
cetro de Campeão Distrital em 1964 e 1965. Posteriormente, em 1967 Fernando
Perdigão ingressou no banco BCCI, um dos bancos emergentes e dos mais dinâmicos
em Moçambique antes da Independência.
Depois do 25 de Abril de 1974, Perdigão veio para Portugal,
tendo fixado residência na cidade de Aveiro, a terra dos ovos moles onde veio a
acabar seus dias em 2007, com 77 anos.
Como homenagem a este virtuoso futebolista do FC Porto,
evocando sua memória, recortamos para aqui a sua ficha da galeria dos
Internacionais do FC Porto (conforme trabalho de Rodrigues Teles).
Armando Pinto
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