Tal qual o semblante do tempo por estes dias, nem fazendo sol nem vindo chuva, também na indefinição do panorama desportivo paira alguma incerteza perante a duração do período das transferências, no aperto gerado pela extensão do mercado futebolístico. Enquanto isso, nesta época em que nem se pode sequer fazer ideia dumas coisas nem doutras, das possibilidades naturais, cingimo-nos a umas quantas rememorações, para atalhar ao constante labor a que aqui nos propomos, em prol desta causa azul, focando o que vai ou está na alma perene Portista.
Nisto, porque nem só o que é (ou está) conta atualmente, vamos atrás a anteriores situações, ante as alterações verificadas. Como nos primórdios da civilização, aproximada à era de Cristo, tudo que reluzia não era ainda ouro, na medida em que não havia medalhas para heróis e o feito de Fidípides, em 490 a.C. estava longe de se imaginar que originasse a prova mais clássica das Olimpíadas - quando correu de Maratona a Atenas para anunciar aos Atenienses a vitória do seu exército sobre os Persas; e a arfar, pelo cansaço, desfaleceu… Também em tempos mais de agora, embora noutras eras dos nossos tempos, se estaria longe de supor a evolução do futebol português, de forma que chegasse Agosto ao fim com tudo ainda a cambalear…
Então, para não se andar às voltas com o que possa ou não ser à medida de nossos anseios na atualidade, do ambiente do futebol azul e branco, entretanto (que é o que nos interessa), ficamos por uma vista de olhos por alguns jogos do F. C. Porto de outros tempos. Em cuja oportunidade, diante da proximidade do F. C. Porto-Vitória de Guimarães a ter lugar no Estádio do Dragão, neste último sábado de Agosto, lembramos temas relacionados.
Nesse sentido, damos uma olhadela por um jogo disputado no Porto pelos mesmos contendores, muitos anos antes. Retrocedendo a 1946, para recordarmos um emocionante desafio realizado já no Inverno desse ano, em Dezembro, entre o F. C. Porto e o Guimarães, para o campeonato de 1946/47 e concluído num resultado tangencial de 3-2. Sendo os golos Portistas apontados por Araújo (2) e Correia Dias. De cujo desenrolar vemos algumas imagens publicadas na revista Stadium, em sua edição de 1 de Janeiro de 1947.
Posto isso, para variar e ir mais além, fazemos uma ronda por outros tempos, mais, numa rapsódia de jogos de diferentes anos. Sendo a partir daqui da frente para trás, ou então de modo baralhado, para melhor diversificação. E, para não incidir atenções só em adversários atuais, vamos deter apontamentos sobre jogos com equipas de menor nomeada, mas que costumavam e fazem sempre a vida difícil aos maiores; tal como, também, outras que já não militam hoje no escalão superior do futebol português, nalguns casos até fazendo recordar clubes cuja passagem pelas divisões superiores até é muito longínqua no tempo. Bem como outras de escalões inferiores, mas que na Taça de Portugal já defrontaram o F. C. Porto.
Para não recuar muito de rajada, para já, começamos esta sequência por certo jogo com um clube dos que tanto têm estado junto dos grandes como intervalam em presenças na divisão secundária imediata. Lembrando, por isso, um desafio com o Belenenses, corria o Outono da época de 1979/80 - terminado com uma concludente vitória da equipa do F. C. Porto, que (por o adversário equipar de azul), nesse jogo jogou com a então camisola alternativa das Antas, branca como foi tradicional durante longos anos. Mostrando-se aqui fotos dos golos, três, em cima o primeiro (correspondente à imagem do cabeçalho deste artigo) e os outros seguintes, conforme dá para ver na fixação anexa, de gravuras d' O Porto, em seu número de 28 de Novembro de 1979, sob legendagem de seguimento documentado: «…em cima, Duda oportuno, abre o activo; (depois) Albertino atira e Costa encerra».
De seguida, recuando muito mais na cronologia, este percurso retrospetivo demanda remotas paragens do campo da Constituição, para reconstituir memória duma receção ao Atlético, o clube de Alcântara que nessa vinda à Invicta, em Outubro de 1950, levou que contar, derrotado sem apelo nem agravo também por 3-0, através de dois golos de Vital e um de Monteiro da Costa. Podendo vislumbrar-se algumas cenas dessa peça por meio de algumas imagens da revista Stadium, que, em seu número de 26 de Outubro seguinte, deu conta do embate à maneira duma publicação sulista, como se pode constatar…
Passando a uma outra oportunidade, continuamos esta viagem no tempo por uma eliminatória da segunda prova de maior importância de sempre no calendário luso, incidindo outra vista de olhos, agora por um prélio disputado para a Taça de Portugal, no campo do Almada, ainda antes de expirar a década de quarenta, desenrolado que foi em Abril de 1949. Numa tarde de futebol que levou grande moldura humana ao terreno da outra banda do Tejo, resultando numa vitória tangencial do F. C. Porto que, apesar de ter estado a perder, acabou por dar a volta ao marcador com golos de Carlos Vieira e Gastão. Ilustra-se essa saborosa vitória por 1-2 mediante gravuras que vieram publicadas na revista Stadium de 20 de Abril de 1949, vendo-se alguns jogadores desse tempo, como Diogenes, Fandiño, Sanfins, Carvalho e alguns outros.
Mais para trás ainda, também do ano de 1949 mas em Fevereiro, pelas páginas que conseguimos ter da mesma referida revista Stadium, visualizamos alguns lances de um Porto-Covilhã, em jogo para o Campeonato que findou com um dilatado 4-1 no marcador a favor das hostes azuis e brancas. Numa tarde de bola que, além de um golo de Gastão a ajudar à festa, ficou marcada por três golaços de Vital (o marcador do primeiro golo do F. C. Porto no estádio das Antas, recorde-se, e pai do igualmente atacante que, anos mais tarde, na década de oitenta, também representou o F. C. Porto).
Na pertinência, e a propósito também da indicação explicativa quanto à hereditariedade referente aos dois Vitais, pai e filho, pode-se acrescentar ainda que o Gastão referido, que então marcou um golo e atuava no F. C. Porto nesses idos de finais dos anos quarentas, não era o mesmo Gastão, brasileiro, que alinhou com a camisola azul e branca depois na década de cinquenta e foi campeão pelo F. C. Porto inclusivamente. Do primeiro Gastão, luso-africano, por sinal, apareceu na mesma publicação da Stadium, na respetiva edição de 16 de Fevereiro de 1949, uma caixa a louvar a sua abnegada atitude, na ocasião…
Até que, nesta deambulação memorial, paramos mais nos confins da memória, recuando a 1948, para possibilitar uma visão dum outro prélio entre o F. C. Porto e o Guimarães, este para o campeonato de 1947/48. E para alternar geograficamente no tempo, recordamos, para o efeito, um confronto havido em Guimarães, quando o campo da Amorosa estava em pleno como casa dos vitorianos. Onde, dessa vez, o F. C. Porto venceu por três golos sem resposta, apontados por António Araújo (2) e Sanfins. Vencendo e convencendo, sem apelo nem agravo, tal o resultado. Ficou dele para a história as imagens existentes, insertas na Stadium de 14 de Janeiro de 1948, aí sem mais delongas nem parangonas.
Armando Pinto
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Como sempre, foi com muito agrado que fiz esta caminhada matinal pelos caminhos do passado, com o prazer de beneficiar da companhia do autor de mais um excelente trabalho.
ResponderEliminarCom um abraço, bom fim de semana.
Remígio Costa.
O Gastão que lembra era Angolano de nascimento mas português de nacionalidade, conforme todos aliás os ultramarinos. Gastão Nazaré Almeida, médio e ponta direito que antes jogou na CUF e fez pressão para vir jogar no FC Porto, porque era Portista. Só esteve no Porto desde 1947 a 1950 por cauda de lesões que não deixaram que jogasse mais tempo.
ResponderEliminarO outro Gastão mais novo era brasileiro, de nome Gastão Gonçalves, veio para o Porto em 1955 e foi campeão em 1955-56 e 1958-59.
Apesar de não ter por hábito intervir, sou um seguidor e admirador do trabalho que aqui tem feito, substituindo o clube quase se pode dizer. Continuarei grato e atenciosamente leitor.
Dois Porto-VGuimarães que me recordo particularmente:
ResponderEliminarUm, no tempo de Pedroto, quando estavamos lançados para o título e houve aqueles problemas que deitaram tudo a perder, nas Antas, era um jogo quase decisivo, estivemos a perder 1-0, mas viramos para 2-1 e foi uma grande alegria, pensavamos que era o último obstáculo - mal sabíamos o que nos esperava. O outro foi na época que fomos campeões europeus em Viena, para a Taça, 5-0, com o F.Gomes a perder dois dentes e um a ficar preso na testa do Miguel...
Para logo:
Fazer acontecer, não ficar À espera que aconteça.
É este o lema para hoje, dia em que o Bi-campeão faz a estreia oficial no Dragão. E para fazer acontecer, a exibição tem de ser bem melhor que na jornada anterior. A lentidão, exasperante, de passos para trás e para o lado, que se viu em Barcelos, à espera que aconteça, tem de dar lugar a ritmos altos, pressão, intensidade, capacidade de pensar e executar rápido, provocar o erro, fazer acontecer. Só assim, junto com profundidade, largura, sentido colectivo e atitude, como contraponto a um adversário fechado, a jogar com o relógio, no contra-ataque e à procura do pontinho, podemos conseguir o objectivo de conquistar os três pontos. Resumidamente, fazer o que não se viu frente ao Gil, com excepção dos últimos 15-20 minutos finais.
Abraço
É sempre um prazer ler estes trabalhos históricos e muito literários, facto que não tem muita preocupações na maioria dos sites, geralmente pouco cuidados e exclusivamente virados ao carácter editorial. E deste modo entusiasma estas viagens pela história do Porto.
ResponderEliminarGrande vitória. Apesar do penalti que nos foi escamoteado ainda na 1ª parte, o F. C. Porto partiu a loiça toda do Guimarães. Assim, sim!
ResponderEliminar@ Armando Pinto
ResponderEliminareu nunca me esquecerei do FCP vs. Vitória de 1995/96.
apesar da derrota, foi um dos melhores jogos a que pude assistir «ao vivo e a cores» no saudoso Estádio das Antas.
(Zahovic partiu a loiça toda e na época seguinte estava de dragão ao peito :D )
abr@ço
Miguel | Tomo II