Em período de acalmia de jogos e outras cenas do panorama
desportivo, apesar de haver diversos mais temas de interesse e focos de
atenção, como os da atualidade, proporcionam sempre estes interlúdios que haja
um espaço para curiosidades, entre motivos que despertem atração evocativa.
Em tal apelo, da ideia dum espaço deste género, lembramo-nos
de focar a antiga existência do Lar do Jogador do F C Porto, em virtude do que
representou no desenvolvimento organizativo tendente à afirmação do futebol do
clube. Surgido que foi, inicialmente pelos anos quarenta e depois teve
continuidade a meio da década de cinquenta, do século XX, ou seja aquando da
passagem para o semi-profissionalismo, dos tempos de Pinga e outros que
envergavam a camisola das duas listas azuis do F C Porto, bem como
posteriormente na definitiva profissionalização dos futebolistas, no tempo do
comando de Yustrich, num dos sinais da evolução que começava a notar-se e tudo
o mais que se foi expandindo.
Naturalmente que no presente existe uma outra casa a servir
de Lar do F C Porto, a agora chamada Casa do Dragão, apenas que havendo a
diferença de esta comportar jovens, destinada que é aos rapazes das categorias
de formação; enquanto que a antiga mansão era para os seniores, juntando os que não
tinham residência em zonas do Porto e especialmente os solteiros, servindo aos
fins de semana para juntar também os casados e por vezes ainda para
estágios da totalidade do plantel, embora mais usualmente os convocados para
jogos, etc
O assunto dava pano para mangas, de tanto que merece
apreciação e considerações, mas precisamente por uma grande abundância
descritiva em que se alongaria, cingimos o tema a umas quantas rememorações e
privilegiando a ilustração, através de fotografias coevas. Na linha de que o que se vê, pela figuração,
dispensa muita explicação, tal qual a máxima que uma imagem vale por mil
palavras.
Ora, o Lar do Jogador inicial teve lugar na chamada Quinta
da Fonte da Vinha, no tempo em que estava à frente dos destinos do clube o industrial
Sebastião Ferreira Mendes.Num paradisíaco local, propriedade daquele então
presidente da Direção, junto ao rio Douro, no concelho de Gaia, para os lados
de Oliveira do Douro. Um frondoso espaço ribeirinho que já antes servia para
realização de eventos ligados a momentos altos da vivência do F C Porto – como se
demonstra por imagem de um postal de 1932, referente a “Passeio
fluvial organizado pelo F.C.Porto à Quinta Fonte da Vinha, em homenagem ao seu
1º Grupo de Futebol, Campeão Nacional. Aspecto do desembarque. 14 de Agosto de
1932.”
Pois essa quinta, tendo ficado depois como sítio e casa de
passagem de tempo dos futebolistas do F C Porto, passou a ser conhecida por
Quinta dos Jogadores, servindo então como local de concentração em determinados
períodos e de estágios antecedentes aos jogos, sendo ali que se passou, por exemplo,
o célebre episódio ocorrido com uma macaca talismã do Sporting, que resultou a
pontos do F C Porto ter vencido de forma concludente o resultado do embate com os leões, que se seguiu (mas
que aqui e agora não podemos estar a relembrar, para não nos desviarmos do tema).
Não é verdade, portanto, o que tem sido afirmado, quanto ao
Lar haver sido criado por Yustrich, pois já existira antes. Com a vinda daquele
treinador brasileiro, que impôs sua chancela de marca, houve sim uma reativação
da ideia e reformulação do conceito, passando a ser alargado como residência permanente dos jogadores solteiros que até aí viviam fora do Porto, além de ter ficado em
instalações dentro da cidade do Porto, no Bonfim, em casa relativamente próxima ao
estádio. Cuja inauguração aconteceu a 21 de Setembro de 1955, na semana
seguinte ao início do Campeonato de 1955/56 – acto a que se reporta a imagem
cimeira (com legendas manuscritas por José Bacelar, um dos homens de proa
dentro do clube nesse tempo), numa cerimónia presidida pelo Dr. Cesário Bonito,
no momento em que usava da palavra Afonso Silva. E um dos primeiros
utilizadores foi logo Jaburu, o “Flecha negra”, vindo do Brasil e que ganhou
grande cartel pela Invicta, sendo a casa aberta curiosamente na véspera do jogo
de estreia desse avançado detentor dum grande corpanzil e famoso pelo seu poder
de goleador. Como relata um trecho do livro “Glória e Vida”, narrado em
trabalho interessante do António Simões d´A Bola:
Dum desses fins de semana de concentração será uma pose, que
se mostra de seguida, duma sugestiva descontração de alguns elementos principais
do plantel – vendo-se, a partir da esquerda, Gastão, Eleutério, José Maria,
depois outro Zé Maria, o Pedroto (de pé), mais Sá Pereira e Hernâni.
Como corolário das estadias anuais, no período das
temporadas desportivas, havia no fim de cada época um convívio, antes das férias, metendo jogos
de solteiros e casados, entre os que passaram pelo Lar durante o ano. Sendo
duma dessas ocasiões a gravura que se junta, com pose da equipa dos solteiros
desse tempo, incluindo diferentes gerações, notando que ainda estavam solteiros
homens mais velhos como Hernâni, Arcanjo; Pedroto, Virgílio, José Maria, tal qual
mais novos como Morais, Sarmento, Correia, Américo, etc.
Passados anos o Lar conheceu outros poisos, entre os quais passou
pela Praça das Flores e também pela rua de Costa Cabral, durando até eras
adiantadas dos anos sessentas, enquanto os futebolistas foram tendo outras
ocupações paralelas. Até que com o profissionalismo integral os estágios
passaram a coexistir em pensões e hotéis.
Dessas diversas fases ilustramos um andamento cronológico através de algumas fotos intercaladas ao logo do texto, desde uma roda de amigos à porta da casa comum, ao tempo de Humaitá (e restantes indicados na legenda); seguindo-se um instantâneo de Miguel Arcanjo numa sala de estar do “Lar do Porto”, com seus discos junto a um móvel-aparelho de gira-discos da época, no regresso de uma digressão da equipa;
..vendo-se, depois, também junto à frontaria do edifício o defesa Almeida, acompanhado de Barrigana (não o guarda-redes, mas um defesa que em meados da década de 60 fez parte do plantel, havendo integrado a equipa principal em torneios e jogos particulares, e oficialmente alinhou pelas reservas); até findar este circuito pelo tempo com Atraca num descanso de guerreiro, passando os olhos por uma publicação, no leito retemperador.
Armando Pinto
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