quinta-feira, 15 de agosto de 2013

O meu tio fã do Fernando Moreira...?!!


(Em homenagem a esse admirador do Campeoníssimo Moreira, ao admirado grande ciclista Fernando Jorge Moreira e ainda a bons tempos de outrora...!)

Chegado o pino do Verão, quando os dias se tornam calorentos na pachorra estival, por norma é tempo de Volta a Portugal, passando o país a ser percorrido pela prova ciclista que se tornou conhecida e apreciada, saindo o povo até às portas das casas para ver passar os corredores, naquela correria que por estes dias tem espaço nos meios de comunicação social.

Nos tempos recentes com menos impacto, devido a ter diminuído a atração desde que os clubes portugueses de maior nomeada deixaram de ter equipas de ciclismo, o desporto das bicicletas de corrida ainda detém alguma atenção; muito menor, porém, que antigamente, quando a época veraneante tinha na Volta o corolário da temporada desportiva, enquanto o futebol estava de férias.


Estando-se então neste coincidente período, pese as distâncias entretanto verificadas, a memória pessoal recua a tempos de esplendor dessas corridas. Qual passarinho batendo asas e levando-nos a tempos de outrora, sem sairmos da frente do teclado em que damos largas a estas memorizações. E, porque num dia destes, estando a digitalizar algumas fotografias para enviar a uma prima amiga, me veio à ideia algumas destas recordações, vendo a cara de um tio que há muito já partiu deste mundo, mas enquanto por cá andou não foi só por ver os outros andarem. 

Ora esse meu tio era um apaixonado pelas corridas de ciclismo. Um tio materno com quem sempre mantive uma proximidade interessante, entre os tios que tive, dos quais já não resta nenhum vivo. Sendo ele muito próximo de sua irmã mais nova e minha mãe, vinha muito a nossa casa e, pelo menos, aos sábados era certa a sua presença para duas de conversa e o que mais houvesse, entretanto, para dar que fazer à boca. Numa boa disposição contagiante, como pessoa afável, risonho e muito dado às pessoas de que gostava. Acabando por sempre vir à baila o tema do ciclismo, comigo sobretudo, um dos sobrinhos mais novos, em conversas que andavam para trás e para a frente, sem muito saírem do mesmo, que era ele recordar o Fernando Moreira, o seu grande ídolo de todos os tempos, e puxar pelo que eu sabia, interessado por tudo o que fosse assunto desportivo… do F C Porto. Mesmo sem eu ser desse tempo, de antigamente, como ele dizia, mas por aqui quem recorda estas facetas gostar de andar a par de tudo, para não jurar nada falso.


Fernando Moreira, era o grande ciclista do F C Porto que em finais da década dos anos quarenta encantava o país, havendo em 1948 vencido a Volta a Portugal, com uma perna às costas, no dizer do meu tio. E só não ganhara mais Voltas por azares, nuns casos, e noutros por ausência, devido a ter corrido pelo estrangeiro, no Brasil e Marrocos, especialmente, por esses tempos. Mas vencera ainda algumas clássicas e outras provas do calendário do ciclismo português. E, esse meu tio, idolatrava o Fernando Moreira sem nunca o ter visto de perto e julgo que nem de muito longe, ao certo. Ele era um acérrimo admirador desse corredor que apaixonava multidões, nesses tempos de outrora e como tal era figura pública que gerava entusiasmo por todos os lados. Contando meu tio peripécias que ouvira sobre ele e pelo que andava em romances de cordel, duns panfletos que em tempos antigos se vendiam nas feiras. Nutrindo aquele meu tio uma grande simpatia por esse nome sagrado, como entusiasta de suas façanhas. À maneira do que hoje se considera no conceito de fã, aportuguesando o inglesismo fan, admirador do Fernando Moreira como era aquele meu tio.

Pois com ele, era sempre o Fernando Moreira isto e o Fernando Moreira mais aquilo, apesar dele ter deixado de correr há muito, já nesse tempo. Mas, mesmo assim, quando passavam corridas de bicicletas por aqui, à nossa porta ou perto, onde víssemos, ele, que não faltava nunca e postando-se à minha beira, incentivava os corredores gritando pelo Fernando Moreira… como se esse fosse um grito de guerra, seu talismã.


Era Portista, por mor do Fernando Moeira, mas não acompanhava nada de futebol e outros desportos, apenas gostando que o Porto ganhasse. Parecendo-me, talvez, por ter alguém de ganhar, para si, que fosse o Porto. Enquanto nas bicicletas já era outra conversa, andava sempre a perguntar-me quando passava alguma prova pela região, e, por isso, eu mal soubesse de alguma possibilidade e de algo interessante, que fosse, me apressava a dar-lhe quaisquer boas novas que pairassem no horizonte. Gostando muito que eu lhe falasse nas vitórias do Mário Silva, do que esperava do Joaquim Leão, das esperanças no Zé Azevedo (que andou de amarelo vestido numa Volta que passou por aqui, na Longra), em como confiava no Gabriel Azevedo, etc. e tal.  Até que, de permeio, começou a aparecer o Joaquim Agostinho, de quem se falava e ouvia muito, e ele passou a gostar também desse, apesar de ser lá de baixo, como dizia. Chegando a esquecer tudo o mais no período áureo do Agostinho. Embora mais tarde, quando aconteceu o primeiro caso de doping e lhe foi retirada consequentemente a vitória da Volta ele, o meu tio, esmoreceu nessa atração. E quando Agostinho perdeu uma segunda Volta, pelo mesmo motivo, anos depois, fiquei com ideia que isso já nem o arrefeceu sequer.

Antes porém, quando Agostinho andava ainda incólume na dianteira classificativa da Volta, o meu tio pôde concretizar o anseio de ver em carne e osso um dos seus ídolos, das corridas de bicicletas tão de sua paixão.

Pois então, numa bela manhã de finais de Julho, em pleno dia da festa paroquial da nossa freguesia, a Volta a Portugal passava na Longra. Depois de muito combinarmos, nas muitas vezes que falamos e repisamos sobre o assunto, acertamos nosso combinanço de vermos a Volta a nosso jeito. Ele, na sua estrutura ainda bem conservada, por volta aí dos seus sessentas e tais anos, ou mais, nem faço ideia já sequer (nesse tempo tudo parecia diferente, visto numa perspetiva juvenil), e eu nos meus 13 ou 14 anos, ou coisa parecida, postamo-nos em sítio onde pudéssemos ver tudo bem visto. Sem arrear pé, estivemos a ver o tempo passar. A missa da festa do S. Tiago, nesse dia, era lá em cima, a meio da encosta de Rande, mas era na Longra, a  baixa da zona, no vale da zona ribeirinha do rio Sousa, que se estava com fé, na ânsia de ver os nossos corredores. Só que nesse ano a etapa vinha no sentido da descida de Felgueiras para a Longra, e os corredores passavam ao baixo, a descer, conforme viemos a ter de dizer mal de nossos pecados.

Nesse ano o Agostinho já andava com a camisola amarela, na ocasião, tendo-lhe eu colocado isso como ponto de referência, a meu tio, visto que por minha conta os olhos iriam procurar outras cores. Passado tempo que pareceu infinito, assistimos enfim, todos lampeiros, à passagem dos carros da caravana, vimos homens da televisão e jornais também a passarem, e de imediato reconhecidos publicamente ( -olha este… ai aquele…), tal qual meios publicitários e outras curiosidades móveis… e por fim, após polícias de motos todos emproados, lá vinham os ciclistas… em fila os primeiros, mas de resto os mais juntos, todos juntos, por junto, num longo grupo compacto.

Em pelotão, assim, num ápice, tudo passou de repente, à nossa frente, diante dos olhos, com tudo a monte, então, nem dando tempo de escolher de que banda e para que lado havíamos de virar a cara.  Eu ainda reconheci o Mario Silva, lá no meio, entre os demais. Mas ele, do Agostinho nem sombras, nem sinais, não viu nada. Quer dizer, não foi bem assim… pois ele, meio admirado e incrédulo, posto isso, depois de ficar a olhar a estrada ainda desconsolado, virando-se para mim, de cara franzida, acabou por me interrogar: 

- mas então era só um Agostinho ou eram mais? Eu vi mais algumas camisolas amarelas assim de repente… (deixando-me de boca aberta, até logo perceber: Pois, pudera… nesse ano, na Volta, andava lá uma equipa, da Ambar, tal o nome da firma, por acaso, com camisolas que também eram amarelas)!

Contudo, como vinham alguns ciclistas atrasados, passando uns, depois outros, ali e assim bem lançados na tentativa de recuperação, logo o meu tio esqueceu tudo e tratou de os incentivar… gritando: ei, Fernando Moreira!!! E continuou a bater palmas, como quando, em jovem, o Fernando Moreira papava quilómetros e, como grande vencedor, era cantado por todo o país.


Foi essa cara, do meu tio, bem mais bem disposta, naturalmente, que recordei por estes dias, e aqui homenageio, relembrando sua fisionomia na foto que encima o artigo. Estando na imagem junto a meus pais, reportando-se a instantâneo do dia do casamento do autor destas linhas.

Era o tio Quim de Janarde - assim o conheci e tratávamos, acrescentando o lugar onde vivia – o meu tio Quim, grande fã do Fernando Moreira.


Em sua memória, recordamos, aqui e agora, o célebre Fernando Moreira, através de algumas fotografias correspondentes a alguns dos seus triunfos, cujos clichés distribuímos ao correr do texto; e, por um recorte coevo de imprensa, em especial, por fim, rememoramos a vitória do Moreira do Porto na Volta a Portugal – conforme registo da revista Stadium, em seu nº de 18 de Agosto de 1948.




Obs. : Na foto cimeira, o meu tio, em apreço, foi fotografado junto com meus pais em dia de festa especial de família. 

Armando Pinto

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6 comentários:

  1. - "Como se chama?!
    - Fernando Moreira.
    - "Ahhh! Não é o da Volta a Portugal, pois não?!!!"

    Era assim que, ainda nos anos 70, muita gente reagia ao divulgar o meu nome. Por isso e porque era portista e porque era ciclista, Fernando Moreira foi um ídolo deste seu homónimo. Ainda me arrepio quando ouço ou leio o seu nome...

    Abraço.
    Fernando Moreira (Dragão Azul Forte)

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    1. O Fernando Moreira, não foi apelidado numa Volta, como o papa etapas????...

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    2. Sim, o Fernando Moreira foi assim apelidado, pelos anos 40, além de Campeão do Norte e Moreira das multidões. Contudo também houve mais tarde outro assim apelidado, o Artur Coelho, já na década dos anos 50. Ou seja houve dois assim conhecidos, mas cada um em seu tempo, com anos de distância.

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  2. Se não se importa, caro Amigo:

    (Texto que faz parte de um post, sobre o ciclismo no FC Porto, publicao no blogue "Bibó Porto, carago!")
    Por ser homónimo…
    Quem gosta do FC Porto, quem o ama, exerce a paixão no estádio, na pista, no pavilhão, no ringue, na piscina, na estrada, à frente da televisão…
    O ciclismo foi, de facto, uma das modalidades que mais adeptos conquistou para o Clube desde o lendário Fernando Moreira. E a que mais adeptos arrastava para vitoriarem as camisolas azuis-e-brancas. Era uma loucura! Ainda me lembro das bermas das estradas pejadas de gente, em Trás-os-Montes, no fim da década de 50 e durante a de 60. Ainda me lembro das surtidas que, com o meu Pai, fazia ao Marão e à Torre para ver os ciclistas (os do Porto…). Ainda me lembro da competição nocturna na pista das Antas e das chegadas em etapa.
    Momento inesquecível é, aquando da minha primeira ida a Lisboa, a chegada ao Estádio de Alvalade na última etapa da Volta de 1962: José Pacheco entrou na pista com outro ciclista, isolados, e eis que eu, um garoto de 10 anos, desatei aos saltos, aos gritos, e mais gritei e saltei quando o ciclista do FC Porto cortou a meta em primeiro lugar! A alegria que José Pacheco me deu com a vitória naquela etapa, foi tão grande como a que me proporcionou por ter sido o vencedor da Volta a Portugal. Inesquecível! Naquela bancada do antigo Estádio de Alvalade, eu também fui… vedeta, tal a euforia que chamou a atenção de toda a gente. E nos olhos do meu saudoso Pai vi lágrimas de alegria e orgulho.
    Sobre o meu homónimo Fernando Moreira (o Campeão), para se fazer uma ideia do prestígio e da áurea que cobria o ídolo portista, basta dizer que, ainda nos anos 80, havia pessoas que ao saberem do meu nome perguntavam gracejando: “Não é o Fernando Moreira da Volta a Portugal, pois não?” Que vaidade sentia! Estava em causa um nome GRANDE do FC Porto!
    Fernando Moreira – V. Real

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  3. Olha o Fernando Moreira
    que é do Porto campeão,
    com o sorriso na boca
    à frente do pelotão.

    Era a canção da época.

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  4. O padrinho do meu pai - Fernando Martins da Silva de Sobrado-Valongo- a quem deu nome assim como ao meu irmão Fernando Jorge. O resto da história da sabe...vi que o seu post tem data de 3 anos e 1 dia depois do meu pai ter falecido...
    Cumprimentos
    Cristina Martins

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