quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Homens da bandeira, emblema e outros referenciais by Museu F C Porto…


Já temos de novo museu! - É o que mais sobressai em nossos pensamentos Portistas. E não um museu qualquer, de simples exposição, mas um espaço memorial, onde nos revemos todos nós adeptos e associados, novos e veteranos, qual mundo de historias e memórias, de glórias Portistas e Portismo sentido, num ambiente cronológico desportivo e social. Obra grandiosa, depois dos sucessos desportivos, da frutuosa gerência de Pinto da Costa, ao 31º ano de seu exercício presidencial.

Sendo esse um local de valor real e estimativo, apraz sobre o mesmo, desde já, manifestar uma apreciação que o possa tornar ainda mais estimado e sobretudo valorizado. Para que, enquanto é tempo, possa ficar mais completo e corretamente digno da mensagem histórica que lhe está subjacente. Isto porque, apesar do autor ainda não ter tido oportunidade de ali entrar, por ora, nos chegou entretanto ao conhecimento algumas situações que urge corrigir e completar, do que se sabe através de grupos restritos de amigos confrades da paixão clubista, entre outros casos. E como não se sabe outro modo de direta transmissão, aqui vai e fica uma tentativa de achega construtiva, apenas como tal.

= Figuração imaginária de estatuária representando o fundador António Nicolau de Almeida, a escrever a histórica carta que deu notícia da criação do clube, em repto ao congénere grupo lisboeta para um jogo amigável... =

Ora bem, o nosso museu é mesmo o nosso grande Memorial do F C Porto, mas um espaço memorável onde se prende as atenções, não apenas pelos objetos expostos e imagens fixadas à posteridade, mas também e especialmente pela mensagem que acompanha tudo, o que diz muito à compreensão do que ali se pode ver e sentir. Daí que, quem vir com olhos de ver, notará algumas “coisas” que ainda poderão ser melhoradas, no atual estado em fase de apreciação. Dizem-nos que estão representados no museu, em estátuas bem concebidas, alguns figurantes da história do clube, tais como, num corredor de acesso ao museu propriamente, uns André Villas-Boas, Mourinho, Bobby Robson, Vitor Hugo, Dover, Cubillas, Guttman, Pavão, Yustrich, Valdemar Mota, Barrigana, Pinga, Norman Hall e José Monteiro da Costa; e, depois já dentro, além do Onze eleito, onde estão Baía, João Pinto, Gomes e restantes escolhidos publicamente, temos mais e só, em estátuas representativas, o Pedroto, e o Madjer. Quer dizer, repara-se logo numa falha grave, atendendo ao valor da História, que é não estar o Hernâni... também - sabendo-se de como ele, Hernâni Ferreira da Silva - o Senhor Hernâni, como lhe chamava o Eusébio, em sentido de respeito - era considerado o General do F C Porto!


= Hernâni - vitoriado e levado em ombros, no emotivo final do jogo do campeonato de 1958/59, depois da celebérrima espera pela paragem do relógio do benfiquista Calabote...! =

É preciso que a memória conte para alguma coisa, que não se deixem diluir as realidades de sempre, que sejam valorizadas as recordações de outrora, em vez de prevalecer só os conhecimentos de memórias de agora.


= Cristiano – único representante de hóquei em patins do F C Porto na seleção nacional durante muitos anos. Numa classe que mereceu lugar na coleção “Ídolos” dos Desportos. Envergando uma camisola, á época,  como a que ofereceu ao autor destas linhas, por quem a mesma foi cedida também para o museu do F C Porto; tal como o stick que ele usou num campeonato do mundo em Espanha... =

Mas há mais, à consideração de quem de direito. Assim, temos ideia, que a estar lá representado na estatuária memorial o Vitor Hugo, antigo jogador de hóquei patinado, devia estar também o Cristiano, que foi o principal hoquista do Clube, e aliás durante muitos anos único do F C Porto com lugar na seleção nacional senior. Tal qual do futebol merecia figurar nessa galeria, por exemplo, Virgílio - também por ter chegado a ser durante algum tempo o mais internacional de Portugal, cujo emblema na sua camisola deve ser revisto (do exemplar exposto); antes do qual enfileirou com grande fulgor nas hostes azul-brancas também o Siska, de quem se dizia maravilhas; e até um António Araújo e um José Rolando, nomes que serviram de bandeira do clube em épocas distantes e distintas. Bem como do ciclismo, por exemplo, um Fernando Moreira, que foi expoente dessa modalidade que mais adeptos conquistou nos anos 50, 60 e 70, especialmente quando o futebol estava em baixo... e um Mário Silva, ídolo maior da família portista nos idos de 60, pelo menos... além de alguns mais, como Sousa Cardoso, entre outros. Mesmo de outras modalidades, naturalmente, não podendo ser esquecido o Fabião, andebolista de renome, num exemplo mais. Bem sabemos que não podem estar todos, mas convém que pelo menos não estejam poucos… para a dimensão do nosso património humano.


Por falar nisto, vem também à mente outros personagens que muito representaram importância na imagem do clube, no acompanhamento da vida clubista. Assim, não sabemos se lá estará representado, mas se não estiver deveria estar, o famoso Homem da bandeira gigante do F C Porto. Um senhor que, residindo no sul do país, era um Portista conhecido, embora quase no anonimato: o sr. Pina, que salvo erro vivia na Cova da Piedade, ou por essas bandas. Um simpático portador duma grande bandeira do F C Porto, com a qual assistia aos jogos do clube sempre que podia. Ficou célebre a sua presença no peão do estádio do Jamor em plena final da Taça de Portugal ganha ao Benfica com um golo do Hernâni, em 1958, pelas imagens que correram o país e chegaram a nossos dias – como aqui damos nota, através duma foto do blogue Memória Azul (com a devida vénia ao amigo Helder Russo). 


Personagem esse, o célebre Homem da bandeira, Manuel Pina, a que contamos proximamente dedicar um artigo, neste nosso espaço de Memória Portista. Sendo figura pública que mereceu ser entrevistado no famoso programa televisivo Zip Zip do Raúl Solnado, em 1969, no palco do Vilaret (Vilaré) de Lisboa, onde contou peripécias engraçadas e profundas. A pontos que, volvidos meses, numa vinda desse programa à cidade do Porto, em homenagem popular ao clubismo local, o Solnado apresentou uma rábula extensiva, criando a figura dum homem do emblema… dando vivas ao Rolando, por ser a figura máxima do clube por esses tempos.

= Rolando =

Vem a propósito, precisamente, recordar o Rolando, José Rolando Gonçalves, que também merecia figurar no museu, como referimos, tal qual Araújo. Porque, curiosamente como proclamava a arenga teatral do Solnado, houve um longo período, pelos anos sessentas, em que poucos eram os representantes do F C Porto nos meios mais salientes do desporto nacional. E no desporto-rei, depois que Américo teve de abandonar o futebol, ficou praticamente só o Rolando a ir à seleção e a ter lugar nas capas das cadernetas de cromos e a emparceirar nos ídolos das revistas, em nome do F C Porto. Tal qual umas décadas antes, pelos anos quarentas especialmente, houve o António Araújo, do qual basta dizer que em seu tempo a seleção nacional era considerada Sport Lisboa e Araújo e o no clube se dizia Futebol Clube Araújo do Porto. Assim como Américo Lopes, em meados da década de sessenta, foi o grande embaixador da mística Portista pelos campos onde esvoaçavam bandeiras do F C Porto, em tempos de dificuldade e escassez  da glorificação azul e branca...

= Américo - o "Baliza de Prata" do F C Porto e do futebol português - na imagem com o monumental Trofeu Somelos-Helanca de melhor futebolista português de 1967/68 =


Obviamente que aquilo tudo, o que é o Museu F C Porto by BMG se revela grandioso. Mas se ainda for possível representar melhor toda uma Nação Portista seria mais excelente.


Daí algumas das fotos aqui colocadas, de nosso espólio umas, outras de partilhas informáticas, como quem entra para mostrar uma visão do que se poderá ver ainda… na comunicação emanada pelos séculos já vividos, na existência institucional do F C Porto.

Como ilustração a esta visão duma mais ampla viagem histórica, recordamos a rábula de Solnado – Homem do Emblema - a falar do símbolo que era o Rolando naqueles idos de finais dos anos sessentas, como exemplo de que até com boa disposição se faz história!

Armando Pinto

= Raúl Solnado figurando a sua charla do "Homem do Emblema".=


~»»» Clicar na seta central, para aceder ao vídeo «««~

= Na eventualidade de ausência temporária de permissão, pode buscar-se no local próprio o acesso directo, clicando (no link ) 
em


A. P.

5 comentários:

  1. Nas minha opinião o F.C. Porto fez mal em ter posto um onze à escolha dos adeptos, principalmente quando nessa escolha faltam jogadores que foram importantes na história do clube. Era preferível, por exemplo, fazer um "wall of fame" onde estivessem os nomes de todos os jogadores que já representaram o clube, nem que tivessem jogado apenas uma partida.
    Acho que era mais justo dessa forma. Mas isso não tira nenhum brilho ao museu.

    Abraço

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  2. Henrique Dias Faria

    Nasceu a 30 de Março de 1914, no Porto, na freguesia da Vitória,:
    Faleceu a 16 de Agosto de 2011 aos 97 anos de idade e 79 de filiação

    Já tinha 25 anos quando acompanhou pela primeira vez o FC Porto a Lisboa, numa visita ao Campo das Amoreiras, para defrontar o Benfica. Jurou que nunca mais o faria:

    “Chamaram-me nomes, cuspiram-me e tive de fugir de uma chuva de pedras. Ainda por cima, o Benfica ganhou. Imagine se tivesse perdido... Saí de lá muito zangado e jurei que nunca mais ia ver um jogo a Lisboa.”

    Estávamos em 1938 e, no ano seguinte, o FC Porto vingou a hostilidade (venceu pela primeira vez um campeonato no terreno do Benfica), algo que só voltou a acontecer na época passada:

    “Foi uma festa enorme. Na altura, era um grande feito ganhar aos lisboetas. Hoje em dia já é habitual”, diz Henrique.

    Foram os irmãos mais velhos que o arrastaram para o Campo da Constituição, “numa altura em que os jogadores ainda andavam com a baliza às costas”. António, o mais velho, nascera no mesmo ano do clube. De Mário, solteiro e o mais fervoroso dos Dias de Faria, diziam ter casado com o FC Porto:

    “O Mário nem conseguia ver os jogos inteiros. Tinha de sair do estádio para desanuviar.”

    Em 1952, a família e um grupo de amigos próximos investiu umas dezenas de contos pelo camarote 31 do novíssimo Estádio das Antas. Foi lá que seguiu o FC Porto até aos 89 anos, quando o clube se mudou para o Dragão.

    “Perdemos na inauguração contra o Benfica”, conta Henrique Manuel, o filho do sócio mais antigo dos campeões nacionais, então com 10 anos. “Mas acho que foi porque os jogadores estavam demasiado animados. Devem ter tido um almoço bem regado.”

    Uns anos depois, Henrique de Faria interessou-se por outra actividade: disparar. Aos domingos, tinha de optar entre a caça e o futebol e, normalmente, preferia as armas. Tinha pontaria no tiro aos pratos e no tiro aos pombos e ainda criava perdigueiros:

    “Tive um que ganhou um concurso de beleza.”

    Como alfaiate e comerciante de tecidos na Baixa portuense, conheceu muitas das figuras principais do clube nos anos 30 e 40: o extremo Valdemar Mota fornecia-lhe a mercearia, o guarda-redes Soares dos Reis fornecia-lhe a papelaria e era amigo de casa:

    “Dizia-me que muitos jogadores não apareciam nos treinos porque se alimentavam mal e tinham de guardar energias para os jogos oficiais.” Do seu tempo, destaca dois fenómenos: Mihaly Siska, guarda-redes e, mais tarde, o tal treinador que ganhou o primeiro campeonato no campo do Benfica (“os lisboetas chamavam ao FC Porto FC Siska”), e Pinga, um médio que diz ter inventado os cantos directos.

    “O Pinga era melhor do que o Cristiano Ronaldo. Aliás, se o Eusébio era o Rei, o Pinga era o Rei dos Reis.”

    Talvez a ultima entrevista
    Abril de 2011
    Depois da vitória na Luz onde fomos Campeões.

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  3. (Nem sempre consigo ler, no hora, os posts dos blogs meus preferidos. Deixo-os para os momentos em que lhes possa dar a atenção que merecem)

    Quase todos os nomes aqui evocados fizeram parte do meu quotidiano interesse pela actividade do Futebol Clube do Porto. Faz-me bem ler este magnífico repositório da contribuição daqueles que deram a sua arte, mas especialmente a sua devoção, para o imenso prestígio de que o nosso glorioso Clube hoje lhe é reconhecido.
    Hernâni, que tive o grato prazer de conhecer pessoalmente numa boda aqui realizada, foi um dos mais talentosos atletas que vi actuar e, entre as recordações que mais me apraz reviver, foi o golo marcado na final da Taça de Portugal, no Jamor, contra do Benfica, ao qual tive a fortuna de assistir. Fiquei louco de alegria e nos dias seguintes, os meus camaradas da tropa em Caxias, alfacinhas principalmente, não tiveram outro remédio senão serem gozados até ao tutano!

    Não penso esperar muito para ir conhecer o Museu do FCP by BMG, e levar comigo todos os que puder da minha família.

    Um forte abraço e votos de muita saúde.

    Remígio Costa.

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  4. Eu fui um dos privilegiados que pude estar na inauguração do museu. Permita-me que diga de minha justiça sem necessidade de me identificar, porque aqui o interessante é colocar sugestões e reparos, construtivamente como diz.
    Fiquei maravilhado com o museu, que é mais que qualquer museu e muitíssimo superior a todos os que conheço. Mas um aspeto me chamou a atenção e me deixou triste: Não foram para o museu quadro nenhum das fotos emolduradas que estavam na antiga sede, na Praça do Município, hoje Pr. H. Delgado, alguns dos quais mais tarde estiveram a decorar gabinetes dos baixos do estádio das Antas e ginásios, p. ex. Havia quadros de pugilistas, ciclistas, atletas de ténis de mesa, natação, campeões mais celebrados das modalidades amadoras, atletas olímpicos, etc. etc. e diretores antigos em diversas situações e cerimónias da vida do clube. Que é feito disso? Seria bonito todo esse antigo espólio ter lugar no novo e tão encantador museu do Porto. Disse.

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  5. Parabéns pela iniciativa de tentar chegar a quem de direito através deste post no blogue. E obrigado pela partilha do áudio do Solnado. Nunca tinha ouvido, e adorei.

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