sábado, 16 de junho de 2018

Bodas de Ouro da célebre Taça de 1968 - Inesquecível recordação, na efeméride: FC Porto 2-1 V. Setúbal (final no Jamor)


Viviam-se os tempos deveras famosos da década dos anos sessentas, com o desporto português à sombra do regime político e o coletivismo no limbo social do deixar andar, que outra coisa não havia. Tanto que a Federação Portuguesa de Futebol era uma coutada, circunscrita a presidências destinadas alternadamente a Benfica, Sporting e Belenenses, num estado como tal conhecido por sistema BSB. Enquanto o F C Porto só conseguia meter lá alguém na vice-presidência ou nos lugares de vogais, mas com esse representante até a ter de residir em Lisboa. Passando-se os anos sem o FC Porto conseguir vencer no futebol o campeonato principal, tal o que ia acontecendo na calada nacional – ao invés da superioridade manifesta em ciclismo, onde não havia árbitros, mas mesmo assim ainda por vezes aconteciam peripécias raras (como no ano em que uma etapa da Volta a Portugal em bicicleta começou à pressa antes que a equipa do FC Porto chegasse ao local de partida, devido a surto doentio por alergia alimentar que atacara a comitiva portista, não tendo depois os ciclistas azuis e brancos outro remédio senão irem atrás dos outros, em redobrado esforço de perseguição) … E foi assim, na peugada necessária, que finalmente o FC Porto logrou enfim vencer uma prova oficial do futebol nacional, a Taça de Portugal em 1968. 


Faz agora 50 anos, neste dia em que escrevemos ao sabor da lembrança desta evocação, que aconteceu finalmente essa vitória, durante anos tão desejada. A primeira de que me lembro (de memnória pessoal), a tal que ficou para sempre especial.


Chegara o FC Porto à final graças a uma campanha de grande nível no percurso da Taça de Portugal, então a duas mãos em todas as jornadas, tendo nas respetivas eliminatórias ultrapassado primeiro o Beira-Mar, com duas vitórias por 2-1 e 2-0, depois o Varzim com mais duplo triunfo por 4-0 e 5-1, também o Covilhã com 4-0 e 5-0, até que nos quartos de final venceu o Belenenses nas Antas por 3-1 e empatou no Restelo 0-0, para nas meias finais ter eliminado concludentemente o Benfica, havendo ido empatar 2-2 a casa dos encarnados e vencido no Porto por claros 3-0.


Encontrava então o FC Porto como opositor na final o Vitória de Setúbal, com o clube sadino a repetir pela quarta vez consecutiva a presença no jogo da atribuição da Taça, depois de duas finais ganhas e uma perdida, nesse período de grande permanência na festa de consagração no chamado estádio nacional, contando boas recordações das finais disputadas com o Benfica de Eusébio, Torres, Coluna, etc, e a Académica de Artur Jorge, Maló e Cª, contrastando na exceção tida com o Braga do guarda-redes Armando e Perrichon. E o FC Porto com uma grande equipa, mantida nos anos da presidência de Pinto de Magalhães, contando com Américo, o melhor guarda-redes português ao tempo e ainda na mesma temporada declarado vencedor do Prémio de melhor da época, mais o cabecinha de diamante Custódio Pinto, o famoso artilheiro Djalma, o carismático extremo esquerdo Nóbrega, os tão admirados Pavão e Rolando, mais o fogoso Atraca, o valente Valdemar, o Jaime ventoinha de velozes raides, mais o Bernardo da Velha que se soube impor na defesa e o Eduardo Gomes que só sabia jogar bem ao serviço da equipa.


Dessa célebre final, que fez ponte na transição da memória dos tempos coevos à ocorrência, além do material preservado intimamente, há algo mais que está guardado no Museu do FC Porto, como é o caso do livro de programa da final - um documento de grande valor estimativo e memorial. Onde ficaram impressos dados e curiosidades dessa jornada refastelada no frondoso Jamor característico do regime dessas épocas.


Era e foi, pois, uma jornada épica.



No texto da comunicação quotidiana do FC Porto, em Dragões Diário”, isso ficou bem resumido, assim:

« Aconteceu
Entre 1959, ano em que foi conquistada a ‘Liga Calabote’, e 1976, quando Jorge Nuno Pinto da Costa se tornou chefe do departamento de futebol e José Maria Pedroto regressou ao clube como treinador, o FC Porto conquistou apenas um título no futebol sénior. Foi a Taça de Portugal e foi há precisamente 50 anos. A 16 de junho de 1968, em Oeiras, os Dragões enfrentaram o Vitória de Setúbal e até entraram no jogo a perder, mas Valdemar e Nóbrega assinaram os golos da reviravolta. A Taça, entregue por Américo Thomaz ao capitão Custódio Pinto, viajou mesmo para o Porto de avião, juntamente com a equipa. Em Pedras Rubras, os ‘bravos do Jamor’, como ficaram conhecidos, foram alvo de uma receção apoteótica.»


De tudo isso, estando ainda na ideia e permanecendo pelos tempos na retina da memória tal proeza, de que resultou uma alegria que encheu o peito pelos tempos além, melhor que quaisquer mais frases descritivas à posteriori, falam as narrativas que por esses dias vieram na imprensa. De cujo acervo de arquivo do autor se dão aqui à estampa alguns recortes, quer da revista Flama, como do jornal O Porto e do Jornal de Notícias.



Passam diante dos olhos da recordação imagens e memórias da conquista dessa Taça inesquecível, numa enchente de vitalidade portista. Deixando-se, por isso, escorrer bagas do entusiasmo derivado, na lembrança transmitida por imagens documentais.



Naqueles dias causou estranheza o facto da RTP não se ter dignado transmitir o jogo, sabendo-se que a mesma televisão portuguesa, ao tempo de um só canal e de domínio estatal, tinha feito transmissões diretas das anteriores finais. Havendo então, no dia, apenas passado à noite umas imagens alusivas no programa Domingo Desportivo, com que se encerrava o cartaz diário dos serões televisivos nacionais. Daí uma das achegas (em tempo de censura oficial) com que houve forma de criticar o caso, através duma rubrica do jornal do clube, n' "O Porto a rir":


Do que resta, de imagens gravadas, pode ver-se um resumo da partida, conforme consta em filme
(clicando aqui de seguida)



Armando Pinto

((( Clicar sobre a seta do vídeo para acesso às imagens do filme; e sobre as gravuras e recortes digitalizados, para ampliar )))

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