quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Rui Guedes: O Sócio-Adepto Portista que influenciou a reposição da verdadeira data da fundação do FC Porto


Rui Guedes era um simpático jovem, de barba muito bem aparada e por norma sorridente, de palavra fácil e olhar contagiante, que em finais dos anos setentas começamos a ver na televisão, através de sua participação num concurso daqueles que nesses tempos preenchiam serões televisivos, à falta de melhor, quando havia apenas a televisão estatal. Passados tempos, num ápice, passou a entrar pelas casas dentro, via imagens do ecrã da tv, como companheiro e apresentador dum programa que, apesar de ter um rato (animado em boneco tipo infantil) como figura principal, cativou miúdos e graúdos. Enquanto, como pianista de méritos firmados, acompanhava o seu personagem ao piano. Sendo a figura de cartaz esse tal rato, o famoso Topo Gigio, mas curiosamente com Rui Guedes a converter-se no herói de que todos gostavam.

Rui Guedes que, como também bom desenhador que era, pintou um auto-retrato mais tarde publicado em revistas de tiragem nacional e aqui e agora encima a preceito este artigo, ilustrando isto que fazemos em sua homenagem memorial.


= Rui Guedes (pianista) apresentava um programa de entretenimento na RTP. Foi neste programa que surgiu, pela primeira vez em Portugal, o rato Topo Gigio (Cartoon, da autoria de Miguel Salazar, publicado no livro "Das Turmêntas hà Boua Isperansa", do grupo musical Trabalhadores do Comércio).=

Por esses tempos ficamos a saber que Rui Guedes era Portista. Por meio de uma entrevista que ele deu a um jornal desportivo, a Gazeta dos Desportos, que na época tinha uma secção semanal na última página sobre figuras da cultura e dos espetáculos. Depois disso ele foi-se revelando um multifacetado investigador e publicista, tendo publicado alguns livros de compilação de documentação que fora juntando, e conseguindo, através de fotografias, descobrir e inventariar factos, editando então Fotobiografias dos três principais clubes desportivos de Portugal e até doutros temas, como foi o caso duma poetisa, Florbela Espanca, dum político, tal era Sá Carneiro, e um artista como Almada Negreiros. E, para nós, será sempre o herói da reposição histórica do verdadeiro ano da fundação do F C Porto.

Assim sendo, justo é que o apresentemos formalmente, diante duma sua biografia alargada:

Nascido no Porto a 11 de Janeiro de 1946, Rui Guedes descendia de família de grandes portistas. Seu pai era sócio antigo do FC Porto e inclusive tinha no estádio das Antas um camarote, o camarote nº 3 das Antas. Tendo inscrito o filho como sócio, de modo que o jovem Rui Guedes aos 25 anos recebeu a correspondente Roseta de Prata (e ainda viveu até ter direito à Roseta de Ouro, havendo falecido depois com 55 anos). Havendo ele, entretanto, por sua vez inscrito também seu filho como sócio do FC Porto.

No início da década de 1970 Rui Guedes participou com um carro Porsche em rallis, de corridas automóveis. Havendo ficado na lembrança dos meios automobilísticos o seu Porsche 907 psicadélico que o levaria ao 3º lugar do Grande Turismo e Desporto. O carro era assistido na "Vecar" do Porto e a pintura era o último grito da moda, aparentemente inspirada nos Porsche de fábrica, à época. Não chegou a ir muito além porque, poucas semanas depois de ter feito uma grande corrida no Rally de Monsanto, Guedes despistar-se-ia com alguma violência no segundo dia de treinos em Vila Real, danificando seriamente o 907 e terminando por aí a sua carreira desportiva. Perdia-se um piloto mas ganhava-se um futuro apresentador de televisão e "pai" da versão portuguesa do "Topo Giggio". (Já o Porsche 907 seria reconstruído na Garagem Aurora e voltaria às pistas em 1972, pelas mãos do felgueirense Carlos Santos). Mas, bem vivendo sua vida, Rui Guedes era ainda um normal jovem sociável. Em 1977 tornou-se então conhecido do grande público quando participou, em conjunto com Concha, no concurso televisivo A Visita da Cornélia.

Foi então o autor de música inédita que gravou com Eunice Muñoz na leitura de alguns dos melhores sonetos de Florbela Espanca. Reeditado mais tarde em CD pela Movieplay (1997). E para Florência musicou "Amar, Amar".

Destacou-se como pianista (chegou a tocar no bar do hotel Sheraton em Lisboa) e em 1979 começou a apresentar o programa de Topo Gigio na RTP. Era o autor das canções do programa conjuntamente com José Cid. Também apresentou o programa "Ao piano com Rui Guedes".

Com António Semedo (a voz portuguesa de Topo Gigio) produziu a peça Processo de Jesus. A banda sonora era da sua autoria e de Mike Sergeant.


O Gigio trouxe-lhe a maior fama, por quanto tocou nos corações de grandes e pequenos. A figura do Topo Gigio era indiscutivelmente um dos ratos mais famosos do mundo. Entrava nas casas de todos a determinadas horas, do conhecimento geral por essas eras, fazendo-se acompanhar ao piano por Rui Guedes e encantava crianças e graúdos com a sua boa disposição. Topo Gigio foi um boneco originalmente criado na Itália, tendo Rui Guedes adquirido os respetivos direitos, havendo-lhe de permeio mudado a camisola para riscas azuis e brancas, embora horizontais (a dar toque mais infantil), com o qual, na feliz ideia apresentada na televisão portuguesa, despertava um sentimento de ternura para com ele, sempre bem disposto e sincero.

Entretanto Rui Guedes dedicara-se à parte editorial, onde se destacam os estudos sobre a obra de Florbela Espanca. Rui Guedes comprou o espólio a um descendente do segundo marido de Florbela. Lança uma biografia e vários livros, tais como "Cartas (1906-1922)" e "Cartas (1923-1930)", com recolha, leitura e notas da sua autoria, lançados em 1986.

Participou também na edição de Fotobiografias com a história dos maiores clubes do futebol português lançadas em 1987 e 1988. Tendo começado por fazer uma grande pesquisa sobre a História do F C Porto, derivando extensivamente haver reparado e ampliado seus estudos com o material que lhe foi surgindo sobre os outros clubes. Cuja documentação mais tarde cedeu para arquivo na Torre do Tombo.

Publicou fotobiografias de Sá Carneiro e de Florbela Espanca, cujas obras completas recolheu e anotou, a edição atualizada do dicionário Cândido de Figueiredo, várias obras de carácter didático e um livro de ensaios, "Gente de Valor".

Foi vice-presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores desde 1995.

Com Ana Maria Guedes colaborou na dobragem de filmes da Walt Disney e na tradução dos versos das canções. A editora Everest lançou em livro as suas adaptações de clássicos da Disney como Pinóquio, 101 Dálmatas ou outros como Ai Que Frio! ou Cozinhar Com a Margarida.

A partir que enveredou pela vida artística e posteriormente passou a desenvolver trabalhos de autor ficou a viver em Lisboa, mas sempre com as raízes no Porto. 

Faleceu no dia 15 de Setembro de 2001.


De seu currículo vitae ficaram a constar como obras de sua autoria os livros:

- Acerca de Florbela - publicado em 1984 - pela editora Dom Quixote;
- Fotobiografia: Florbela Espanca - 1985 - Dom Quixote;
- Cartas 1906-1922 de Florbela Espanca - 1986 - com Luiz Fagundes Duarte;
- Futebol Clube do Porto - Fotobiografia - 1987 - Dom Quixote;
- Sport Lisboa e Benfica - Fotobiografia - 1987 - Dom Quixote;
- Sporting Clube de Portugal - Fotobiografia - 1988 - Dom Quixote;
- Poesia 1903 - 1917 de Florbela Espanca – 1992;
- Almada Negreiros - Obra Plástica - 1993 Bertrand Editora;
- Dicionário Prático de Conjugação dos Verbos de Língua Portuguesa - 1994 - Bertrand Editora - com Ana Maria Guedes;
- Francisco Sá Carneiro - 1994 - Bertrand Editora;
- Companhia das Índias - Porcelanas - 1995 Bertrand Editora - com Martim de Albuquerque;
- Interiores - 1995 - Bertrand Editora - com Homem Cardoso;
- Reais Mesas Do Norte De Portugal: Homenagem a Ju Távora - 1997 - com Ju Távora;
- Fotobiografia de Florbela Espanca - 1999 - Dom Quixote;

E Discos:
- DE JOELHOS — Arnaldo Trindade, Orfeu, Eunice Munhoz e Rui Guedes;
- ESCRAVA — Arnaldo Trindade, Orfeu, LP, Eunice Munhoz e Rui Guedes;
- ESPERA — ETS Cinema, Vira;
- FLORBELA ESPANCA POR EUNICE MUÑOZ, LP, Orfeu;
- Toca Música dos Anos 20, Orfeu,
- Processo de Jesus - com Mike Sergeant, Orfeu, 1982;
- Suíte nº 1, edição promocional Orfeu, sem data, com segunda composição Fur Concha (em que Rui Guedes editou neste single um tema original e dedicado à companheira, a cantora Concha).

Há outros livros de autoria do filho, com o mesmo nome, também Rui Guedes, por tal motivo por vezes incluídos na bibliografia do pai. Entre os quais se contam: "Ourém" - de 2004 - com Ana Saraiva e Patrícia Guedes; e "Joalharia Portuguesa" - 2006 - Bertrand Editora - com Nuno Vassallo e Silva. Sendo que o filho escreveu diversas obras histórico-literárias para Câmaras Municipais, historiando respetivas histórias desses diversos concelhos, entre diversificada temática.

= Rui Guedes, pai e filho. Foto de grande valor estimativo para o filho e histórica para o conhecimento público. 

O filho, também sócio do FC Porto, além do avô do lado paterno, teve da parte materna outro avô também grande portista e que chegou a ser um dos sócios mais antigos do FC Porto, em seu tempo. Além de outras curiosidades, como do facto de ter sido colega de estudos do filho de Pinto da Costa, então ainda chefe do departamernto de futebol do FCP. Tendo depois ajudado o pai na elaboração de alguns livros, havendo tido também participação na Fotobiografia do FC Porto, como colaborador que ajudou a ordenar e passar tanto material para computador e seguintes passos de paginação. Atualmente com um restaurante na avenida da Boavista, na cidade do Porto, o filho naturalmente sente orgulho sempre que ouve e lê referências ao pai, quer como figura pública da televisão e artista de diversos ofícios, quer como figura portista que teve influência na reposição histórica do verdadeiro ano da fundação do FC Porto.

Como recordação da aura do Rui Guedes, pelos idos anos de setenta e oitenta, do século XX, atente-se numa apreciação pública que lhe fez uma escritora e jornalista que com ele privou: “ Lembram-se de quando o Rui Guedes lançou uma moda que nos fez passarmos o tempo a dizer uns aos outros «eu ponho-te um processo em cima!»? Que saudades desses dias de inocência. É que acreditávamos sinceramente que estávamos só a brincar.” (Clara Pinto Correia, em A Deriva dos Continentes).

Ah… desse tempo (era o meu filho uma criança de 3 anos, ainda, antes de ter a companhia da irmã) em boa parte as crianças e os pais vão lembrar-se sempre de como na televisão o Gigio meigamente lhes dizia que estava na hora da deita… com o Boa-noite Topo Gigio” (de 1981): «Todos os meninos que são teus amigos, / estudaram as lições. / Já estão lavadinhos deitados na cama, / rezaram as orações”… (composição de Rui Guedes e José Cid, voz de António Semedo).

Pois Rui Guedes foi tudo isso e foi quem despoletou a questão da verdadeira fundação do F C Porto através do que publicou e provocou na sua Fotobiografia do F C Porto. Vincando que, afinal, a verdade era sabida mas incompreensivelmente não era assumida. Fez mesmo ver que a data referida da eventualidade de 1906 era inventada, não correspondendo sequer ao dia do calendário aludido por cronistas e copistas. Mas, melhor que quaisquer outras explicações, demos aqui de novo a palavra a Rui Guedes, o herói desta história – mostrando-se algumas páginas iniciais da Fotobiografia do F C Porto:





Como acrescento, em virtude da referência acima expressa, juntam-se mais as primeiras páginas da Tábua Biográfica correspondente e inserta no final da mesma célebre Fotobiografia:

Posto isto, resta acrescentar que Rui Guedes teve um papel fundamental em todo o desenvolvimento que resultou em, passados meses, ter sido oficializada a data da fundação do F C Porto, na Assembleia Geral de Fevereiro de 1988.


A disponibilização de tal realidade levou então que, pouco depois, logo na primeira publicação oficial que se seguiu, no caso a 2ª edição da brochura do Conselho Cultural do F C Porto – Porto / Clube / Cidade” – para distribuição promocional nos encontros no estrangeiro, houvesse de imediato passado a constar a nova e verdadeira versão.


Como tal, depois que já aludimos rememorações de homenagem a António Rodrigues Teles, o pioneiro historiador do F C Porto, do modo que possibilitou ter havido preservação de muitas imagens e recordações de eras remotas, do qual também referimos ter tido conhecimento da verdade, embora sem que tivesse havido uma reabilitação necessária; homenageamos desta vez o concretizador da ideia da reposição histórica, tendo sido Rui Guedes quem teve a iniciativa de provocar o que veio a resultar em autenticidade. E possibilitou que estejamos agora, desde 28 de Setembro de 2018, a celebrar este ano os 125 de Vida do F C Porto.

O mesmo também é anotado na obra Glória e Vida de Três Gigantes, d’ A Bola, onde o jornal afeto aos clubes lisboetas acaba por reconhecer o mérito de quem repôs a verdade e, por conseguinte, a própria veracidade.

É pois Rui Guedes o Herói Portista da reposição histórico-cronológica do F C Porto.

Assim sendo, lembramos que, tal como pensamos para Rodrigues Teles, será de inteira justiça que venha ainda a ser atribuído a Rui Guedes o estatuto de Portista de Honra, com sua colocação a Sócio Honorário do F C Porto!

Armando Pinto

((( Clicar sobre as imagens e páginas digitalizadas, para ampliar )))

== Atualização com acrescidos dados de complemento a anterior artigo sobre o mesmo tema, publicado em setembro de 2013 ==

7 comentários:

  1. Acompanhei ao longo dos anos a vida e obra de Rui Guedes através das participações que teve na tv e pelas referências que lhe iam sendo feitas nos jornais do Porto. Recordo-me de ter visto exposto junto ao bar da bancada do estádio das Antas um livro da sua autoria sobre o FC do Porto. Foi com muito gosto e também com nostalgia que li toda a sua rica biografia da qual emana a dedicação e amor que nutria pelo seu Futebol Clube do Porto. Parabéns pela magnífica represtinação de uma figura tão marcante da vida do nosso grandioso Clube.

    DRAGÃO, SEMPRE!

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  2. Parabéns ao Futebol Clube do Porto por ter tido pessoas que souberam corrigir erros antigos e colocaram a verdade sobre a sua fundação. Já lamento que no meu Braga não aceitem a também verdade dos factos e ainda não tenha havido coragem de repor a fundação no ano exato, apesar de haver grupos de sócios que muito reclamam pela verdade.

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  3. Aos filhos do Rui Guedes: Em tempos tive contactos com o filho do Rui Guedes, com o qual cheguei a ter amizade virtual do facebook (daí ter conseguido as fotos correspondentes) e antes, cheguei também a ser contactado por uma filha do mesmo Rui Guedes, a propósito dum artigo que saiu algures copiado pelo meu texto. A qual ficou de me contactar entretanto. Caso tomem conhecimento deste comentário agradeço informações, para tirar unas dúvidas.

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  4. A Rui Guedes devemos, como Dragões, a investigação da data da fundação do Futebol Clube do Porto.
    Só por aí já teria sido uma vida cheia de alguém que cedo, na idade, faleceu.
    Viveu acelerado em tudo.

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  5. Clara Pinto Correia está a lidar com uma falsa memória. A frase processo em cima foi popularizada pela personagem Tony Silva, incarnada por Herman José.

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  6. Quanto a essa frase, na época o Herman estava precisamente a imitar a frase do Rui Guedes, e lembro-me que por isso chegou a ser criticado.

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  7. O Herman ao longo dos anos tem demonstrado admiração e respeito pelo FCPorto e ultimamente tem demonstrado ainda mais aproximação ao Clube.

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