sexta-feira, 22 de março de 2019

Sexagenário do “Caso-Calabote”


Estava a Primavera a florir ainda em 1959, quando a 22 de Março se deu a célebre conquista pelo FC Porto do Título Nacional de futebol sobreposto ao “Caso-Calabote”. Conquistado ao suplantar autenticamente a "batotice" com que certos agentes do clube adversário direto tentaram alterar a verdade desportiva, já então... como ficou para a história.

Diz o Evangelho que antigamente era o Verbo… mas no caso do desporto português em tempo do Estado Novo era vivó velho... como era então, no fatalismo que parecia imposto pelos tempos fora. E o verbo, com letra minúscula, era repetitivo.

Ora, segundo o que descreveu São João Evangelista, o Verbo no Evangelho remetia à palavra divina, pois antes de qualquer outra coisa existir, Deus já existia. Mas, se o verbo antigo significava o bem, os tempos desse período de ditadura dos mais variados campos era já apologista do mal. Como eucalipto que seca tudo à volta, o sistema sócio-desportivo queria tudo à sua maneira e interesse. Tendo-se sucedido os casos de bradar aos céus, mas dentre muitos, entre tantos, um houve que conseguiu superar isso, ainda que com espera sofrida, porém vitoriosa mesmo à posteridade. Tanto que, apesar de tudo, ainda não está esquecida e tem sempre quem faça força para que não passe ao olvido…


Foi pois nesse ambiente que ao começo da Primavera de 1959 ocorreu o inesquecível "caso-Calabote", por ter tido repercussão. Dado ter acontecido com contornos de escândalo vistoso, no último jogo do campeonato dessa época; inclusive a meter longa espera pelo desfecho do jogo em que mais visível era a batota, por jogadas de bastidores. Uma ocasião em que o bem, no fim, pôde enfim vencer o mal.

= Durante o jogo, o banco do sofrimento... 

=  No fim - Hernâni a ser vitoriado no fim da longa espera... 

Inocêncio Calabote era um árbitro que sempre arbitrou mal em jogos do FC Porto, com tradição de sistematicamente prejudicar a equipa portista. Sendo um personagem funesto e medonho, apesar da sua pequena estatura. 


De cara de poucos amigos, era um género de “falso padre” do rol benfiquista daqueles tempos. Dessa vez escolhido, pelos manda-chuvas do sistema vigente, para arbitrar o jogo em que o Benfica tinha de marcar golos suficientes para ultrapassar a vantagem que o FC Porto detinha na diferença de golos, precisamente. Visto Porto e Benfica terem chegado à ultima jornada empatados em pontos, e assim resultar desempate na diferença de golos, pela soma deles, em que o FC Porto tinha vantagem. Enquanto isso, no jogo do FC Porto em Torres Vedras até foi colocado a orientar a equipa da casa o treinador adjunto do Benfica, além dos jogadores (segundo testemunhos que estão publicados) terem certas promessas, tendo feito anti-jogo a maior parte do tempo e abusado de rude dureza em todos os lances praticamente, ao que se juntou inclusive o árbitro desse encontro também não ter assinalado dois penaltis, que poderiam dar golos para o FC Porto.  


De modo que, enquanto em Lisboa o Benfica ia marcando golos a eito, com penaltis inventados e outras manobras, já os jogadores do FC Porto viam-se em sérias dificuldades para conseguirem marcar, chegando quase ao fim do jogo ainda só com um golo obtido. Talvez que isso até tenha sido o que salvou a situação, visto na altura apenas se ir sabendo do desenrolar dos jogos através dos relatos radiofónicos e telefonemas que fosse possível fazer, em tempo de Pbx e consequentes ligações para as meninas da central telefónica. Pois como o FC Porto alcançou os seus segundo e terceiro golos já muito para o fim do jogo e o terceiro e último mesmo ao expirar do próprio jogo, às tantas em Lisboa o árbitro Calabote houvesse pensado que os golos que o Benfica marcou já chegassem e por isso não prolongou ainda mais o jogo além dos doze minutos que fizera acrescer, além dos noventa. Levando a que, como o jogo de Lisboa começara mais tarde alguns minutos também, a espera foi demasiado longa para quem teve de se limitar a esperar o fim do jogo Benfica-Cuf…


Toda a gente ficou à espera, quer quem estava no campo das Covas em Torres Vedras, ou em casa a ouvir relato pela rádio. Pois quem permanecia no estádio da Luz estava a par de tudo. Aí o jogo custava a acabar, por o árbitro Calabote deixar o tempo alongar-se à espera de poder proporcionar ao seu Benfica um resultado que mais lhe interessava. O FC Porto acabara de vencer o Torreense por 3 - 0, mas na Luz o árbitro Inocêncio Calabote, que já marcara 3 penaltis a favor do Benfica, expulsara 3 jogadores da CUF, foi prolongando o jogo por mais 10 minutos, mas ao apitar para o fim, finalmente, o resultado com que o Benfica ganhava por 7-1 acabou por não chegar!


Foi a 22 MARÇO de 1959. Passa agora em 2019 sessenta anos que isso aconteceu.


Rezam as crónicas, com efeito, que nesse dia 22 de Março de 1959 o FC Porto acabou por conquistar o campeonato nacional numa jornada muito especial e contundente, tendo vencido em Torres Vedras no jogo derradeiro o Torreense por 3-0, mas… tendo toda a gente do FC Porto, desde jogadores a treinadores, diretores e adeptos, que esperar mais de dez minutos pelo final do encontro também disputado em Lisboa, nessa mesma tarde entre Benfica e CUF, arbitrado por Inocêncio Calabote – que tentou por todos os meios que a equipa encarnada marcasse os golos necessários para ultrapassar a conta que mantinha em disputa com o FC Porto, prolongando o tempo de jogo muito para lá da hora e de qualquer desconto aceitável, sem conseguir contudo… Pois então a equipa do SL Benfica venceu por 7-1, mas com menos um golo do que seria necessário para que o título não rumasse ao Porto.


Esse caso está narrado com clareza no livro “O CASO CALABOTE”, escrito por João Queiroz e publicado pela editora QUIDNOVI, em Novembro de 2009, ainda dentro de período da passagem de 50 anos desse facto. Apenas que, comparando com edições de outras obras da mesma editora, Quidnovi/QN-Edição e Conteúdos, S.A., esse livro apareceu com uma edição gráfica quase despretensiosa, para não dizer ligeiramente barata, como que a tentar passar despercebida, sem ilustrações e com formato reduzido. Livro que o autor destas linhas adquiriu à época e está devidamente guardado na biblioteca pessoal. Esperando que ainda venha a ser possível ter uma outra edição (em reedição) mais consentânea com a dimensão do caso, mesmo porque não faltam imagens, quer em jornais e revistas, como pela Internet e blogosfera, de fotos relacionadas com o tema. Algumas das quais, relativamente ao jogo de Torres Vedras, se juntam aqui e agora, para constar.

= Perdigão entre adeptos portistas eufóricos, após conclusão da vitória no campeonato...

Como legendagem memorial acrescente-se algumas notas entre margens, tipo à margem da reportagem, como ao tempo era escrito na imprensa:

Então, antes dos dois jogos: «O BENFICA RECEBE A CUF E SOBE AO RELVADO DOIS MINUTOS ANTES DO INÍCIO DO JOGO. A ESTRATÉGIA É RETARDAR A PARTIDA O MÁXIMO POSSIVEL, DE FORMA A SABER O QUE SE PASSA EM TORRES VEDRAS, NO TORREENSE -F.C.PORTO.»

Havia condição prévia e necessária, para o Benfica: Tinha de «MARCAR MAIS CINCO GOLOS DO QUE AQUELES QUE O F.C.PORTO MARCASSE… ERA O OBJECTIVO.»

«…QUANDO CALABOTE INICIA O JOGO, JÁ SE CONTAVAM OITO MINUTOS NO JOGO DO F.C.PORTO.»

«AO INTERVALO, 4-0 NA LUZ COM DOIS PENALTIS.»

«NA SEGUNDA PARTE ENTRE GOLOS DE RAJADA (7-1), PENALTIS, A SUBSTITUIÇÃO DO GUARDA-REDES GAMA A PEDIDO DOS COLEGAS, TRÊS JOGADORES DA CUF NA RUA E UM FINAL DE JOGO QUE NUNCA MAIS CHEGAVA… O F.C.PORTO CONSEGUE UM 3-0 QUE NEM O ADJUNTO DO BENFICA (VALDIVIESO), QUE ESTEVE NO BANCO DO TORREENSE, CONSEGUIU IMPEDIR...»


E no fim do jogo do Torreense-FC Porto todos ficaram a ouvir nos rádios, que por lá havia quem tivesse, a aguardar o fim do jogo que nunca mais terminava em Lisboa. Até os jogadores ficaram sentados no chão, cansados mas sem sentirem isso mais que o sofrimento de revolta e ansiedade... 


...Até que por fim se deu o momento de alegria, perante a certeza, finalmente, que o Porto era campeão. 

= O guarda-redes do FC Porto, Acúrcio, após se ter sabido que o FC Porto conseguiu ser mesmo Campeão Nacional...

Dessa vez houve justiça final, pois nem sempre o mal consegue levar a melhor, afinal… E assim o FC Porto foi campeão, contra a vontade de árbitros, dirigentes federativos, mais outros agentes, etc. Como, pelo tempo adiante, isso ultrapassou a vontade e discernimento também de certos jornalistas e outros publicistas mais, incluindo os benfiquistas fanáticos que só vêm vermelho diante dos sentidos.


Após tudo isso, porque o que se passou foi demasiado evidente... Calabote foi irradiado. Mesmo tendo mentido no seu relatório, mas tudo havia sido muito do conhecimento público...


Passam agora 60 anos que isso aconteceu. Algo que tem de ser sempre lembrado, pois as desonestidades e ações malvadas não podem ser branqueadas. Porque o crime perverso da batota não pode compensar, ou pelo menos não devia… embora em Portugal continue a haver saudosismos de velhos processos e atualmente a "toupeirice" passe incólume pela proteção ao clube do regime.

= "Campeões Nacionais" em 1959 
Armando Pinto
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3 comentários:

  1. TINHA 17 ANOS E ESTIVE COM AMIGOS EM TORRES VEDRAS. FOI INACREDITÁVEL O QUE SE PASSOU.PARABÉNS PELO EXCELENTE TRABALHO. GRANDE ABRAÇO.

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  2. Magnífica essa fotografia dos jogadores sentados no pelado muito concentrados no relato, à espera do que nem eles sabiam ainda. Fotografia que não aparece em mais lado nenhum. E hoje foram muitos os posts na Internet e artigos nos blogs, mais reportagens de jornais e televisões, mas neste site aprende-se a conhecer história como deve ser. O Porto deve orgulhar-se de ter adeptos compenetrados do que desejam fazer pelo F C do Porto, como o Armando Pinto. Parabéns pelo seu trabalho, em meu nome como portista.
    IERN

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  3. As vitórias com trafulhice cheiram mal uma eternidade.
    FCP sempre

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