quarta-feira, 26 de junho de 2019

Na baila da vinda de Saravia: Acordes do Tango Argentino no FC Porto


O Presidente Pinto da Costa reafirmou na revista Dragões publicada agora, durante o defeso: "No caso particular do futebol, está a ser constituído um plantel que estará seguramente à altura dos pergaminhos do clube…”

Ora o primeiro reforço entretanto anunciado oficial e publicamente é o argentino Saravia. Apresentado até na mesma edição ainda fresca da Dragões. Sendo a aquisição de Renzo Saravia um possível bom reforço do FC Porto para as próximas quatro temporadas, como comprovará o facto de ser defesa titular da seleção principal da Argentina.

Com a vinda para o FC Porto deste jovem defensor do país das pampas, aumenta pois o número de futebolistas oriundos desse país das planícies da América do sul que aportaram na Invicta capital do norte de Portugal. Referindo-se o caso dos futebolistas porque também já houve hoquistas a vestirem a camisola do FC Porto, entre diversos casos do ecletismo portista.


Ora, sendo pois o futebol a mola mais evidente das movimentações e atenções clubísticas, é sobre o futebol que recaem também as considerações mais vastas. Tal, no que vem ao caso, o lote histórico dos argentinos no FC Porto.

Se entre a legião de estrangeiros que têm vindo para o FC Porto o contingente brasileiro é o mais numeroso, à primeira vista, distribuindo-se depois em partes por outros padrões de diversos países, o filão argentino tem sido algo considerável.  

A integração de valores do futebol argentino no seio do FC Porto vem já de inícios da década dos anos cinquentas, no século XX, mas foi sobretudo já no século XXI que essa feição se tornou mais consistente e apreciada com Lucho e Lisandro, os dois mais admirados futebolistas argentinos que, além da camisola listada de azul e branco de seu país, vestiram a de listas de azul mais forte, em Portugal, representando o FC Porto.


Lucho Gonzalez, El Comandante das Antas, é eternamente lembrado pela sua pala, do gesto com que fazia a saudação vitoriosa após a marcação de golos. Ficando na memória dos apoiantes portistas como um jogador de altíssima craveira mundial que o mundo do sentimento dragoniano teve a sorte e prazer de ver jogar ao serviço do FC Porto. Tendo sido emblemático distribuidor de jogo e um dos melhores do campeonato português em seu tempo. Em suma, um dos melhores centrocampistas que já jogaram pelo nosso clube. E, contemporâneo dele, Lisandro Lopez formou com Lucho Gonzalez uma dupla de respeito, quão proporcionou belos momentos de “tango” argentino no Dragão. Retendo-se de Lisandro a sua luta pelo golo, tal a recordação de ter sido avançado com codícia de remate e veia goleadora, deveras rápido e mexido.


Antes e depois no meio dos dragões evoluíram outros futebolistas originários do país da cantada Perón. Através de talentos aguerridos, de personalidade forte, à imagem de um Porto conquistador. Enquanto no topo estiveram Lucho e “Licha” (como popularmente era conhecido Lisandro) alguns mais tiveram boas prestações com a camisola azul e branca do FC Porto, tais os casos de Otamendi, Mariano González, Belluschi e Ernesto Farías. A esses juntaram-se mais nomes, como Mareque, Benitez, Bolatti, Prediger. Tendo a lista se alongado ainda por mais uns quantos, desde Diego Váleri, passando por Andrés Madrid, Tomás Costa, Juan Esnáider, Hugo Ibarra e Iturbe. Mais Osvaldo (nascido na Argentina e depois naturalizado italiano). Dos que fizeram parte do plantel principal ao longo dos anos (porque também se contam alguns que evoluíram na equipa B, entre os quais Fede Varela). Isto assim anotado sem qualquer ordem cronológica, entre os que ainda estão na memória algo recente. Tanto que, como em boa moral evengélica se diz que os últimos são os primeiros, por fim se recordam os mais antigos. Como foram Herédia (argentino, depois com dupla nacionalidade também espanhola), que em 1972/73 esteve nas Antas por empréstimo do Barcelona; bem como anos antes esteve com o emblema do Porto ao peito Julio Pereyra (um antigo jogador que mais tarde como treinador, entre outros clubes, esteve também no Salgueiros, Feirense, Avintes, etc.), mais Montaño, vindo para o FC Porto em 1959; mais José Valle e António Jorge Porcel, estes chegados ao FC Porto em 1952; e, antes disso,  Fandiño que em 1948 se estreou no FC Porto – e logo com um golo que deu empate no confronto com o Benfica em Lisboa, tendo feito parte do plantel do FC Porto até 1949; bem como, antecedente, houve Sárrea, vindo para o FC Porto em 1939 e que, também, marcou na estreia e logo o golo da vitória em jogo diante da Académica, contribuindo para ter sido campeão na mesma época de 1939/40, tendo permanecido depois alguns anos no FC Porto, até 1945.  


Antes ainda, recuando no tempo, nos anos trinta veio Reboredo, o mais antigo de todos.


Francisco Reboredo Mosquera, natural de Buenos Aires, também, chegou a Portugal nos inícios de 1937 para ingressar no Futebol Clube do Porto, tendo-se estreado com a camisola dos Dragões a 7 de Março de 1937 no Campo do Ameal onde os portistas venceram o Benfica por 2-1, em jogo do Campeonato da I Liga de 1936/37. Ainda a tempo de nessa temporada ter ajudado a conquistar o Campeonato de Portugal ao vencer na final o Sporting por 3-2, um jogo disputado em Coimbra. E de seguida esteve na conquista do primeiro Campeonato Nacional da 1ª Divisão, em 1938/39. Além de durante três épocas em que vestiu a camisola dos Dragões ainda ter vencido pelo FC Porto três Campeonatos do Porto. Depois seguiu para Espanha e mais tarde já como treinador voltou ao FC Porto como responsável pelos Juvenis, bem como episodicamente e por diversas vezes foi chamado ao comando da equipa sénior portista. Continuando depois por outros clubes, como o Leixões, Setúbal e Sporting. 

= Reboredo (à esquerda), junto com Pinga, aquando da conquista do Campeonato de Portugal em 1937 

Em 1948/49 veio para o FC Porto Julio Pereyra. Tendo jogado alguns jogos particulares pelo FC Porto, num dos quais teve uma lesão grave, que impediu que chegasse a ser inscrito oficialmente pelo FC Porto. 


Jogador de nome completo Julio Oscar Pereyra, que contudo não chegou a ser titular da equipa principal e depois rumou a outras paragens, tendo jogado em diversos clubes, até ter passado a treinador radicado em Portugal.

Esses e estes foram os argentinos, do que temos conhecimento (podendo eventualmente ter havido mais, mas sem contar obviamente alguns que andaram à experiência, sem terem feito jogos oficiais), entre os que engrandeceram o rol de futebolistas da cultura das tradicionais infusões de mate.


Ora, como usualmente esses mais antigos não costumam ser muito lembrados, dentre eles, e como ilustração e complemento, junta-se aqui as respetivas biografias. Quanto a Valle e Porcel por meio de páginas do livro sobre o FC Porto da “Colecção Figuras do Futebol Nacional”, publicado em 1952/53: 



...E de Fandiño uma reportagem na revista Stadium, de Outubro de 1948 (sendo assim, em ambos os casos, do ano das respetivas chegadas ao FC Porto).


Posto isso, eis... Reboredo em foto histórica:


= Reboredo festeja o golo da vitória, beijando a bola, na final do Campeonato  de 1937, no campo do Arnado em Coimbra, diante do Sporting. Em imagem sugestiva da magia do golo e do entusiasmo gerador do futebol. Como se nota, em até um agente da Guada Republicana ali assistente não ter resistido e,  instantaneamente impelido, haver festejado exuberantemente.

Saravia, o futebolista argentino da atualidade, chega ao FC Porto proveniente do Racing Club, campeão da Argentina, depois de ter feito a sua formação no Belgrano. Vindo reforçar o esquadrão azul e branco do clube dragão e prestigiar a legião de jogadores do país da bandeira azul celeste que, com maior ou menor ênfase, ficaram e estão na história do FC Porto. Desde Reboredo... passando por Porcel e Cª, a Saravia.


Armando Pinto
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2 comentários:

  1. Senhor Armando Pinto,

    Eu não estava cá, mas a propósito do tango, o argentino Francisco Reboredo foi Campeão como Futebolista do FC Porto, posteriormente foi Treinador do FC Porto, aliás, era o Treinador do FC Porto naquela Final da Taça de Portugal perdida nas Antas para o Leixões em 1961!

    1 abraço,

    PT

    P.S. O meu Pai falava muito do Porcel, e a propósito do seu post, fui rever, entrou em Portugal pela porta Sp da Covilhã, posteriormente chega ao FC Porto (numa década de 50 muito boa para o FC Porto, mas Porcel não foi Campeão), para depois se despedir de Portugal no Porto, mas no Sport Comércio e Salgueiros!

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  2. Exatamente. Agradeço a referência. E quanto ao Porcel nas páginas referentes ao livro da coleção Figuras do Futebol está precisamente referido isso. Abraço.

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