sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Histórias da nossa “Volta”: José Azevedo (o “Zé Azevedo do Porto”) – um ciclista de quem gostamos…


Aí está a “Volta”, a grandíssima Volta a Portugal em bicicleta, a percorrer estradas do país e a andar nas atenções dos adeptos do desporto nacional. Já com os ciclistas a correr a maior prova do ciclismo português, a  corrida que passa a muitas terras e perto das casas ou até mesmo à porta de tanta gente.


Chegando o tempo da Volta, retomam-se também recordações. Não há como fugir, por mais fugas que haja no pelotão, com a Volta na estrada logo vêm à ideia antigas lembranças, de quando até brincávamos com as populares sameiras (tampas de garrafas de cerveja ou sumos) a fazer de corredores, colando dentro as caras de nossos ídolos, que recortávamos dos jornais. Quer com amigos, ao ar livre, riscando no chão de sítios de brincadeiras uns arremedos de pistas de ciclismo; ou então, no caso mais pessoal, em casa fazendo das tábuas do soalho estradas imaginárias formadas dentro das nesgas de junção das tábuas… Correndo eu sempre com os ciclistas do Porto, deixando para o meu irmão mais novo (falecido ainda recentemente) outros dos que eu queria que perdessem sempre, a brincar ou a sério. Ou melhor dizendo, tendo sempre na cabeça como queria que fossem os do FC Porto a vencer, Mário Silva, Sousa Cardoso, Carlos Carvalho, Joaquim Leão, Ernesto Coelho, Azevedo Maia, Zé Azevedo, Cosme de Oliveira, Zé Luis Pacheco, etc. etc. Conforme os anos em que, acompanhando o crescimento, continuava a paixão pelo ciclismo em que o Porto ganhava mais que os outros, e segundo os corredores que ao tempo andassem com a camisola do FC Porto.


Entusiasmo que se foi mantendo, mesmo depois de passada a infância e já pela juventude (bons tempos…) fazia com que acompanhasse a Volta a Portugal com outros olhos e sentidos. Obviamente que sempre, sempre, com olhos e afetos para os corredores do Porto. Não só por clubismo mas por bom gosto, por ser a camisola mais bonita aquela azul e branca que se salientava no meio dos outros. Tanto a tradicional das duas listas azuis como a azul com uma faixa horizontal branca, à maneira das equipas internacionais, que durante algum tempo foi também usada. Sem se poder dissociar, nem ninguém poder levar a mal, pois era quase como com as namoradas, a nossa parecia sempre mais bonita.

Tantas histórias ficaram então nas lembranças desses tempos românticos…


Entre muitas lembranças (algumas das quais já entretanto afloradas noutras crónicas anotadas neste blogue), vem à cabeça a vez em que o José Azevedo vestiu a camisola amarela, na Volta. Ao tempo havia as excursões (de camionetas, para passeios que desse modo possibilitavam viagens a outras terras a muita gente sem carro) e (expondo na primeira pessoa, pois a lembrança é minha), estando eu  de férias, do ensino liceal,  tinha ido precisamente numa excursão da antigamente chamada Volta ao Minho, dum itinerário por vilas e cidades minhotas. Em cujo percurso, durante a viagem, se metiam conversas de prognósticos e apreciações sobre a Volta. Não faltando palpites e desejos. Pois então, numa ocasião dessas, em momento de pausa, enquanto comíamos o farnel, estando alguém de rádio transístor a deixar ouvir o relato da chegada, da etapa desse dia, eis que é ouvido algo que alvoroçou os ouvintes. E com que alegria ouvimos ser um ciclista do Porto, no caso José Azevedo, a conquistar a camisola amarela. De modo algo inesperado, sendo como eram os mais favoritos uns Joaquim Agostinho, Mário Silva, Fernando Mendes, Leonel Miranda e ainda havia pelo meio uns quantos mais, como Cosme Oliveira, Hubert Niel, etc. etc. Advindo até que se dera o mesmo caso de quando, uns anos antes, o mesmo Zé Azevedo conquistou o título de campeão nacional, enquanto os olhos da opinião pública estavam noutros.


Pois nessa Volta, em 1969, José Azevedo esteve mesmo na frente da classificação e das atenções gerais. Depois naturalmente outros conseguiram chegar a essa posição, e dentro da equipa portista, além de Mário Silva, a fazer jus à tradição de chefe de fila, aparecera a correr de forma destacável José Luís Pacheco, também, como ficou demonstrado na subida para a Estrela, sobretudo.  

Para as gerações mais novas, convém explicar que esse antigo José Azevedo, que se salientou inicialmente na equipa Cedemi de Viana do Castelo e depois teve apogeu no FC Porto, não é o José Azevedo que correu por equipas estrangeiras; o mais novo e de carreira ainda recente. Aquele que foi e é bem conhecido no ciclismo internacional, estando atualmente como diretor de equipa no estrangeiro, esse é filho de Gabriel Azevedo, outro ciclista histórico do FC Porto. Contudo (o filho) sem nunca ter chegado a representar o FC Porto, embora sendo portista. Enquanto este, o José Azevedo aqui em apreço, o mais velho, foi camisola amarela da Volta a Portugal de 1969 e Campeão Nacional de Estrada em 1966.


José Azevedo, o “Zé Azevedo do Porto”, foi sem dúvida um dos nomes incontornáveis duma época de ouro do ciclismo do FC Porto, sendo o 1.º Campeão Nacional de ciclismo de estrada para profissionais em 1966. Fez dez voltas a Portugal, é recordista dos nacionais de rampa (8 títulos), campeão nacional de fundo e ciclocrosse. Tem os melhores registos do FC Porto na Volta à Suíça e Cantábria e representou o clube e o país em dois Campeonatos do Mundo, etc. etc. Tendo inclusive preenchido páginas de jornais da época, onde é relatado todo esse percurso. Como ainda conseguimos ter guardados alguns recortes, com gravuras alusivas.

Pois bem. José Azevedo, um ciclista de quem gostamos muito mesmo, nesses tempos de romantismo, merece esta recordação, na roda das lembranças que sempre que a Volta avança nos vêm à memória. Tanto que, como ilustração, recordamos por algumas imagens dessa tal Volta, alguns flashes de quando ele foi camisola amarela na Volta a Portugal.


Entretanto, deixa-se já ideia de voltar ainda ao mesmo, reservando espaço na memória para em breve aqui se fazer um artigo sobre seu currículo, com mais material documental.

Armando Pinto
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