sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Recordando: O golo de Artur Jorge pelo FC Porto no Campeonato Nacional


Artur Jorge, descoberto por Pedroto para o FC Porto e nos juniores azuis e brancos treinado pelo próprio José Maria Pedroto (junto com Soares dos Reis III, Valdemar Pacheco, Luís Pinto, José Rolando, Vieira Nunes, e outros), chegou a ter rótulo de esperança nas camadas jovens do FC Porto, depositando-se nele alguma expetativa para a ascensão aos seniores. Tendo sido internacional júnior.

= Equipa do F.C. Porto com Artur Jorge, que venceu o Campeonato Nacional de Juniores, época 1963/64 (pagela da época)

E o certo é que depois de ter sido campeão nacional de juniores no FC Porto, subiu aos seniores e logo fez parte da equipa principal portista que foi a Espanha triunfar pela segunda vez no Trofeu Luis Otero. 


Tendo de seguida iniciado o Campeonato Nacional como suplente de Valdir, depressa passou a entrar como titular, à 3ª jornada da prova, e depois disso andou durante algum tempo a alternar com Valdir e Daniel. Até Naftal ter passado a ser avançado-centro do clube nesse tempo. Jogou então Artur Jorge em 4 jogos do Campeonato da 1ª Divisão Nacional e em dois jogos da Taça de Portugal, tendo em ambas as competições marcado um golo. Foi assim o golo que marcou no Campeonato o único de sua autoria pelo FC Porto na prova maior do futebol português e último com a camisola do FC Porto em jogos oficiais; enquanto o outro marcado na Taça também com a camisola do FC Porto tenha sido até o primeiro dessa época, aberta então em Setembro de 1964 no início das eliminatórias da segunda maior competição.  

= Plantel do F.C. Porto com Artur Jorge, da época 1964/65 (recorte de jornal)

Ora, o golo que Artur Jorge marcou no Campeonato e único de que foi autor no Campeonato Nacional pelo FC Porto, aconteceu a 3 de janeiro de 1965, na penúltima jornada da 1ª volta do Campeonato da época de 1964/65. Havendo na temporada seguinte rumado à Académica, em tempo romântico das capas negras de Coimbra, e depois apenas regressou ao FC Porto após haver terminado a carreira de jogador, vindo já como treinador  autenticamente como herdeiro de Pedroto (do qual antes fora adjunto em Guimarães), indicado pelo Mestre para lhe suceder.

Assim sendo, durante a carreira de futebolista Artur Jorge não passou no FC Porto duma promessa, acabando por se afirmar depois na Académica e ainda passou de seguida por Benfica e Belenenses. Com faixas de Campeão Nacional júnior pelo FC Porto e sénior pelo Benfica, além de duas vezes melhor marcador do campeonato e internacional A. Havendo seguidamente sido dirigente que assumiu o comando do sindicato de jogadores, em tempo marcante da luta contra a Lei da Opção. E foi ainda treinador importante, com três Campeonatos Nacionais e uma Taça dos Campeões Europeus no palmarés pelo FC Porto. Cujo êxito maior, esse de 1987, lhe abriu caminho para ter ido até França, onde foi Rei Artur no Matra Racing de Paris, e, após nova estada em regresso ao FC Porto, teve seguinte passagem inglória no Benfica, sem qualquer glória assinalável no banco benfiquista. Tendo rumado depois à Suíça, Espanha e de novo esteve em França com o PSG, até ter passado ainda por alguns outros clubes estrangeiros. Além de também ter sido responsável da Seleção Nacional, contudo de modo pouco vistoso.

Artur Jorge Braga de Melo Teixeira, nascido no Porto a 13 de fevereiro de 1946, começara a jogar futebol oficialmente nos Juvenis dio FC Porto, passou pelos Juniores e chegou aos Seniores, onde apenas jogou uma época, contudo com algo histórico, como aqui e agora se recorda.

Natural do Porto, Artur Jorge jogava nas categorias populares jovens quando nele reparou José Maria Pedroto, que o levou para o campo da Constituição quando era treinador dos juniores do FC Porto. 

Na pertinência da efeméride de seu golo histórico no Campeonato com a camisola do FC Porto, recorde-se seus primeiros tempos, à imagem de texto que tem andado em diversas publicações:

Então, «o jovem Artur passou a vestir de azul e branco e até foi campeão nacional de juniores, já Pedroto partira para se ocupar da equipa principal da Académica. Os dois voltariam a encontrar-se, mas só quando Artur Jorge decidiu pendurar as chuteiras e abraçar a profissão de treinador. Quem chamou o miúdo à equipa principal foi, dessa forma, o brasileiro Otto Glória, que resolveu levá-lo numa digressão estival ao Brasil e ainda a um torneio de Espanha, em 1964. Artur Jorge até se destacou e ganhou um lugar no onze, mas uma lesão tirou-lhe a possibilidade de começar o campeonato depois de até ter feito o único golo portista no primeiro jogo da época: um empate a uma bola frente ao Peniche, na Taça de Portugal, a 13 de Setembro de 1964. Aliás, os primeiros jogos de Artur Jorge pelo FC Porto acabaram todos com este resultado: esteve no 1-1 com o Benfica, também para a Taça, a 4 de Outubro, e depois fez a estreia no campeonato a 25 de Outubro, empatando a uma bola com o Sporting, em Alvalade – e até assistiu Nóbrega para o golo do empate, no último minuto. O primeiro golo no campeonato fê-lo a 3 de Janeiro de 1965, em Setúbal, ao guarda-redes Mourinho, valendo a vitória portista por 1-0.


A época, contudo, não correu extraordinariamente e, no Verão seguinte, quando Artur Jorge pediu para sair para a Académica, de forma a concluir a licenciatura em Germânicas, e do outro lado veio a possibilidade de o trocar por Manuel António, que marcara 19 golos pela Académica no campeonato, ninguém do FC Porto torceu o nariz. A verdade é que, em Coimbra, Artur Jorge começou a revelar-se um avançado temível, um protótipo do ponta-de-lança perfeito, porque não só sabia jogar de costas para a baliza e segurar a bola, como se revelava rápido das desmarcações e exemplar nas finalizações, tanto de cabeça como fazendo uso de um remate seco e forte. Artur Jorge chegou mesmo a desenvolver um movimento próprio, um pontapé acrobático como o corpo paralelo à relva a que os jornalistas da época chamaram “pontapé-moinho”. Na Académica, Artur Jorge marcou ao segundo jogo (uma vitória em Braga por 3-2) completando a primeira temporada com 13 golos, entre eles um ao FC Porto, nas Antas (em jogo que o FC Porto venceu por 4-3, com Rui a substituir o então lesionado Américo). A equipa academista de Mário Wilson, com Artur Jorge na dianteira, porém, quedou-se pelo sexto lugar na tabela. Mas algo de revolucionário estava ali a preparar-se, como se percebeu logo em 1966/67. Muito à custa dos 25 golos de Artur Jorge, que lhe valeram o segundo posto na lista dos goleadores, apenas atrás de Eusébio – que fez 32, mas com 13 penaltis, o que levou os adeptos de Coimbra a entregarem a Artur Jorge um troféu simbólico de “melhor marcador de bola corrida” – a Académica acabou o campeonato em segundo lugar, fazendo sofrer o super-Benfica até à penúltima jornada. Os jogadores da Académica recusavam o papel de candidatos ao título, afirmando sempre que o que verdadeiramente lhes interessava eram os estudos, mas nada lhes roubou o estatuto de equipa-sensação. Artur Jorge, que conseguiu hat-tricks contra o V. Setúbal e a Sanjoanense e um póquer ao Belenenses, fez ainda mais 12 golos na Taça de Portugal, da qual os estudantes eliminaram o Benfica antes de baquearem na final mais longa da história, decidida ao segundo prolongamento a favor do V. Setúbal. Uma excelente época que valeu a Artur Jorge a chegada à seleção nacional logo no segundo jogo após o Mundial de Inglaterra…»


Dali para a frente foi toda a sua interessante carreira, embora distante do FC Porto, até ter regressado como treinador principal às Antas para a parte mais importante de sua vida futebolística e por fim, aoós passagens por clubes de diferentes dimensões, se ter despedido do futebol como treinador.

Passada tanta água pelos rios das cidades principais de seu percurso, quer pelo Douro, como pelos Mondego, Tejo e Sena, apraz então recordar esse golo, com que o FC Porto em 1965 bateu o Setúbal na cidade do Sado. Sendo importante e decisivo na vitória com que o FC Porto teve também boa entrada naquele novo ano, recém entrado, ao tempo.

Armando Pinto
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