terça-feira, 17 de março de 2020

Chalupa: Hoquista com nome de guerra na História do hóquei nacional e portista


Carlos Chalupa, de nome completo Carlos Manuel Sousa Joyce Chalupa, cidadão português nascido a 27 de Julho de 1946 na antiga província ultramarina de Angola, em Sá da Bandeira, Moçâmedes. Assim pode ou não dizer muito, ou pouco, a boa gente de gerações mais recentes e até a pessoas algo atentas à história do desporto português. Mas foi mesmo um grande hoquista que evoluiu em Angola, sendo um dos históricos angolanos do tempo em que o hóquei em patins era modalidade de relevo naquelas quentes terras de Namibe. Após os acontecimentos da descolonização veio para Portugal e tornou-se conhecido com a camisola do Futebol Clube do Porto nesse desporto jogado sobre patins. Tendo sido um dos melhores valores do hóquei nacional por esses tempos.


Chalupa é pois um nome marcante do mundo do hóquei patinado.

= Na equipa do FC Porto junto com Cristiano, David Reis, Júlio, Vale,  Rui Costa,  César Oliveira e Beleza  (na ordem de cima para baixo, a partir da esquerda e com Chalupa à direita em primeiro plano). 

Começou a patinar ainda com pouca idade, tendo aprendido a andar de patins com cerca de seis anos. E, volvidos outros tantos, começou a jogar oficialmente hóquei em patins aos 12 anos, então no Benfica de Moçâmedes, em 1958. Depois em 1961 passou para o Atlético de Moçâmedes, como júnior, em cuja categoria foi Campeão de Angola de Juniores em 1962, 1964, até 1965, tendo de seguida subido a sénior, continuando no Atlético, e em sua equipa principal foi um dos expoentes em mais conquistas, tendo com ele o Atlético de Moçâmedes sido também Campeão de Angola em seniores nas épocas de 1967 e 1969. Havendo entretanto, entre outras prestações de prestígio, jogado pela Seleção de Moçâmedes, como representante de Portugal nos Jogos Luso-Brasileiros com o Brasil, em 1967. Passou ainda pelo Sporting de Moçâmedes. E em 1970 ingressou no BCA, equipa representativa do Banco Comercial de Angola, instituição onde simultaneamente jogava e trabalhava como empregado bancário. Num percurso desportivo em que ao longo do trajeto por essas equipas de sua região natal foi seis vezes Campeão de Angola, no total. Enquanto nas fases finais do Nacional, competindo as equipas de Angola e Moçambique com os representantes da Metrópole (normalmente os Campeões e Vice-campeões Metropolitanos), com o BCA obteve o 2º lugar em 1972.

Por essa altura, tendo a equipa do BCA, na sua estada momentânea no continente de Portugal, tido como prémio um passeio pelo Norte do país, então Chalupa foi convidado pelo FC Porto, convite que não aceitou por ter sua família e toda a sua vida instalada em Angola, onde nascera e sempre vivera até aí e se sentia bem.



Durante esse período representou a seleção de Angola e até em 1970, integrando uma seleção nacional só com residentes em Angola, ganhou o Torneio Cidade de Luanda. Como repetiu mais vezes quando estava no BCA (inclusive foi colega de seleção do guarda-redes Castro, quando em 1972 o madeirense do FC Porto esteve no FC Luanda durante sua comissão de serviço militar em África). E por duas vezes Carlos Chalupa esteve escalado para a Seleção Nacional principal, em 1970 e 1974, mas não chegou a poder vestir a camisola das quinas a esse nível por motivos estranhos à parte desportiva. Tendo em 1970, para o Mundial desse ano na Argentina, havido desencontro de comunicação, referente às datas dos treinos em Lisboa, visto nesse tempo isso ser através de telegrama, coisa que depois lhe disseram que quem o recebeu, um irmão do presidente da Federação Portuguesa, se esqueceu de o avisar… a tempo e horas. Passados quatro anos, estava selecionado para o Mundial a realizar em Luanda, mas como se deu o 25 de Abril e a prova foi transferida para Lisboa acabou por ficar de fora, tendo sido afastado para no seu lugar entrar um atleta do Sporting, equipa lisboeta treinada pelo então selecionador Torcato Ferreira. 

(Factos mais tarde narrados pelo próprio em entrevista ao jornal O Porto, numa frontalidade de que eventualmente pode ter resultado posteriores esquecimentos oficiais para a Seleção, segundo foi voz corrente.)

Em 1975 viu cerceada essa bonita carreira com os acontecimentos político-sociais derivados da descolonização. Chegado a Lisboa e após algumas peripécias resultantes desses tempos de incertezas, tendo estado quase com um patim na equipa do Banco Pinto e Sotto Mayor (onde estava o Livramento) e outro na Académica da Amadora, acabou por rumar ao FC Porto, graças a um seu cunhado portista que encetou contactos com pessoas do FC Porto, vingando finalmente essa ideia e veio para o Porto.

Entrado no FC Porto, encontrou a equipa em fase de transição, visto todos estarem habituados a haver ali um fora de série, Cristiano, que ia resolvendo os problemas (como sintetizou Chalupa em entrevista ao jornal O Porto em Abril de 1976) e com a saída de Cristiano nesse ano, para o estrangeiro, houve que adaptar sistemas de jogo e habituações. Porém, no ano seguinte, regressado Cristiano, já Chalupa pôde formar com o histórico avançado das Antas uma dupla que esteve quase a dar frutos para o título nacional que fugiu quase por entre os dedos das luvas de agarrar os setiques…  

= Equipa do FC Porto de Hóquei em Patins em 1977 - Vencedores da Taça Manuel Maria Lopes Gonçalves, e do Torneio Inicio, da Associação de Patinagem do Porto. Em cima da esquerda para a direita - Vale, Cristiano, Prezas e Chalupa; em baixo pela mesma ordem - Fernando, Zé Fernandes e Castro.

No FC Porto esteve então de 1976 a 1981, tendo sido por diversas vezes o melhor marcador do Campeonato Nacional. Também diversas vezes foi lembrado para a Seleção Nacional A, acabando depois por não ser selecionado de modo incompreensível.

Contou três presenças no Torneio Oliveras de La Riba, em Espanha, tendo ganho uma edição. No final do reconhecido Torneio de Oviedo de 1977 recebeu das mãos do então príncipe Filipe das Astúrias, futuro rei de Espanha, o troféu de melhor goleador da prova. Também pelo FC Porto teve três presenças na Taça CERS. E apenas não conseguiu ajudar o FC Porto a ser Campeão Nacional, conquista fugida por pouca diferença, visto só em 1982/83 isso ter acontecido finalmente para as hostes portistas.


Havia então passado em 1982 a representar o Valongo, mantendo-se ainda na área em volta do Porto e região nortenha. De seguida recebeu convite de Itália e foi integrar o Atlético de Forte dei Marmi, ao serviço de cujo esquadrão foi o segundo melhor marcador do campeonato italiano com 47 golos nessa única época no estrangeiro. Depois disso voltou a Portugal e, já com 37 anos de idade, ainda cumpriu duas épocas no Belenenses, acabando por se fixar em Lisboa, por fim.

Chalupa, em suma, tendo tido seu destino ligado à guerra de antes e depois do 25 de Abril, bem como na disputa dum lugar que bem merecia no mundo do hóquei, ficou na história como um hoquista com nome de guerra na história do hóquei nacional e portista. Quão sobretudo foi um atleta muito admirado no universo portista, ficando na memória de quem conhece a história do hóquei patinado azul e branco.

Armando Pinto

Nota: Na elaboração e pesquisa que levou a este trabalho, ao que era do conhecimento do autor, segundo o que foi sendo lido e ouvido enquanto o hoquista em apreço esteve no FC Porto, houve natural complemento através de documentação publicada. Tendo servido de base principal uma entrevista dada por Chalupa ao jornal O Porto aquando da sua vinda para o FC Porto, entrevista essa publicada no número de 8 de Abril de 1976 desse então órgão oficial do clube – do qual, como exemplo, se recorta uma pequena amostra, cujo excerto se reproduz (pois obviamente se fez apenas um resumo no texto, de modo a não alongar demasiado a crónica biográfica e aqui agora com a reprodução se pode dar melhor noção da narrativa).


Tendo ajudado também ao caso a anotação da entrada que consta (sem foto) na “Enciclopédia do Desporto”, volume 3, da editora “Quidnovi, edição e conteúdos”, de 2003.

A foto individual a preto e branco (repetida com corte e ampliação) é da respetiva entrevista n’ O Porto, bem como a colorida é de um cromo da época, enquanto as restantes com marca deste blogue e autor são gravuras de arquivo pessoal colecionado pelo autor ao longo dos anos.

A. P. 
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4 comentários:

  1. Armando Pinto :

    Rigor e excelência ...
    Parabéns !

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  2. Nascido casualmente em Sá da Bandeira (Lubango)... sendo de Moçâmedes! Cumprimentos!

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  3. Este extraordinário jogador ficou na minha memória por ter assistido ao vivo a um torneio de hóquei em patins realizado em Lourenço Marques no início dos anos 70 com a presença do campeão e do vice-campeão de Moçambique, do campeão da Metrópole e do campeão de Angola da altura, o BCA.
    O Chalupa para mim foi de longe o melhor jogador do torneio e também o melhor marcador, daí esta referência a este enorme jogador.
    De referir que estiveram grandes jogadores em presença, como por exemplo a maior figura do hóquei patinado em final de carreira, o Fernando Adrião.

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  4. Lembro-me muito bem de ver jogar o Chalupa em Luanda pelo BCA no anos 70 .Eu jogava como juvenil no CFA e o Chalupa era o nosso ídolo. Era muito rápido e habilidoso, fazia golos de toda a maneira e feitio. Um espectáculo.

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