domingo, 6 de fevereiro de 2022

Falecimento de Rolando: o "loirinho do Porto"...

Mais uma notícia triste chega ao universo portista, com o desaparecimento físico de mais um antigo atleta histórico do FC Porto - o futebolista Rolando, o louro José Rolando, falecido agora com 77 anos, após algum tempo de doença degenerativa. 


Na tarde deste domingo chegaram notícias desencontradas, que só ao final da noite tiveram a confirmação da infeliz ocorrência. Chegando por um amigo a notícia: «Faleceu na passada sexta-feira JOSÉ ROLANDO ANDRADE GONÇALVES, com 77 anos (11/06/1944 - 04/02/2022). Como não houve confirmação oficial, quer sexta-feira e ontem, só hoje, domingo dia 6 de fevereiro, foi possível saber do seu falecimento através dos seus familiares.»

Derivado a isso, na página oficial do clube apareceu depois a confirmação, mas informando ter sido no domingo. Mais acrescentando: «… O antigo central, que tinha 77 anos de idade, representou os portistas em 314 ocasiões, chegou a envergar a braçadeira de capitão e foi internacional por Portugal. Natural de Cedofeita, José Rolando Andrade Gonçalves formou-se no FC Porto e representou os Dragões entre as épocas 1963/64 e 1975/76, tendo conquistado uma Taça de Portugal e alinhado na primeira vitória europeia dos portistas, frente ao Lyon (3-0), em 1964. Em 1968, aos 23 anos, estreou-se na seleção nacional, pela qual completou oito partidas, um marco importante já que, em que cinco desses encontros, foi o único representante do FC Porto na equipa das quinas. Rolando seguiu a carreira no Paços de Ferreira, tendo ainda passado por Penafiel, Freamunde e Avanca até pendurar as chuteiras. Mais tarde, já fora das quatro linhas, regressou ao FC Porto para treinar os escalões jovens do clube, tendo passado ainda pelo departamento de scouting portista.»

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O FC Porto é verdadeiramente um céu aberto de estima, num mundo que dá sentido à vida que deve ter algo sublime a dar valor ao que tem valor. Como sempre foi e será a máxima de um adepto portista que nesta ocasião aproveita para evocar esse antigo futebolista, ídolo de tempos iniciais duma vida que tem sido vivida, para levar a bola da escrita colada ao pensamento de modo a lhe prestar uma homenagem, como cumprimento de apreço por tudo o que significa na respetiva ligação ao universo portista.

Ora, faleceu então o “Rolando do Porto”, o louro futebolista que de camisola azul e branca colada ao dorso fazia espirais de incenso na imaginação de um portista que, ao ouvir os relatos dos jogos de futebol da equipa principal do FC Porto, ansiava que os seus jogadores fossem melhores que tudo e todos. Aquele José Rolando que guardei num livrinho da coleção Ídolos do Desporto, cujo título sintetizava o seu carisma, realmente, como “Menino de Ouro do FC Porto”… e mais tarde, depois de se ter afirmado como “Patrão-mor da defesa do FC Porto” (tal como foi intitulado num outro livro da mesma coleção, volvidos anos… e também bem guardado), passou no meio-campo a ser referência principal do futebol sénior portista. A pontos de durante anos ter sido o único representante do FC Porto que ia à seleção nacional, conseguindo pelo seu valor meter uma lança na áfrica do futebol lusitano dos tempos do sistema BSB, sabendo-se que os atletas do FC Porto então tinham que ser muito melhores que os outros para serem reconhecidos, como acontecia nos tempos em que Rolando foi grande nome do FC Porto.


José Rolando Andrade Gonçalves, de seu nome completo, nasceu na Rua de S. Brás, da cidade do Porto, ao dia 11 de Junho de 1944. No burgo portuense onde prosseguiu uma vida que só não foi totalmente normal por ter enveredado em boa hora pela carreira de futebolista, inicialmente evoluindo em clubes regionais, como eram o Nacional e o Fontinense em que deu os primeiros chutos na bola, tendo de seguida começado a sério no Futebol Clube do Porto, de permeio com uma passagem por empréstimo no Salgueiros, na subida a sénior em 1962/63, alcançando depois entrada no plantel principal do FC Porto em 1964/65 e nesse mundo azul permaneceu até à temporada de 1974/75.


Entre diversas particularidades, Rolando foi um dos titulares da equipa portista que no dia 16 de Setembro de 1964 venceram os franceses do Olimpique de Lyon por 3-0, no jogo que resultou na primeira vitória do F.C. Porto nas competições europeias oficiais, ao lado de outros grandes como eram Américo, Festa, Pinto, Nóbrega e demais. E para sempre ficará como um dos heróis que venceram a Taça de Portugal na época de 1967/1968, na final em que o F.C. Porto derrotou o V. Setúbal por 2-1 em pleno Estádio do Jamor, por então haver sido uma exceção ao que o regime desportivo nacional impingia ao tempo à nação futeboleira.


Apesar de sua grande valia, mas como sintoma do sistema desse tempo do regime da era de Salazar e Caetano, Rolando representou também a Seleção Nacional embora apenas por oito vezes na Seleção A (depois de 1 na B e 5 na Seleção Militar), mas com evidente dinâmica e amplitude – como ficou inclusive evidente na rábula do famoso cómico Raúl Solnado a gritar “Viva o Rolando” como grito de guerra do fervor clubista que retratava (como se relembra em artigo aqui vincado há tempos, cujo link indicamos no final desta crónica evocativa)…  

Entre finais dos anos 60 e princípios da década de 70, quando Rolando se afirmou como autêntico esteio da defesa do FC Porto, sendo considerado quase intransponível em jogo legal, foi célebre a sua forte presença diante do craque da época Eusébio. Tendo então Rolando sido considerado o defesa que melhor anulava o atacante "pantera negra" do Benfica. A pontos que num jogo nas Antas, em setembro de 1971, porque Rolando não dava hipóteses de golo ao Eusébio, o avançado benfiquista, em duelo no ar, deu uma valente cabeçada no opositor portista, provocando a sua saída do campo. Resultando que enquanto Rolando esteve em jogo o FC Porto vencia por 1-0, mas depois, após ter sido transportado de maca para fora do campo, sendo então substituído aos 34 minutos desse jogo, o Benfica acabou por dar a volta ao resultado... 


Depois de terminada a permanência no FC Porto, Rolando ainda ajudou o Paços de Ferreira na sua afirmação na alta roda do futebol, na subida do clube da zona do mobiliário de madeira; e depois teve alguns desempenhos no treinamento de outras equipas, até que regressou ao F.C. Porto para treinar as camadas jovens, onde foi campeão e, mais tarde, continuou ligado ao Departamento de Futebol. Sendo para sempre um dos referenciais do clube, um nome simbólico na mística portista.


Havendo felizmente vários ícones assim no imaginário do clube Dragão, José Rolando é um desses emblemáticos nomes cuja recordação nos remete a tempos idílicos do Portismo puro vivenciado, de jogadores da família portista, familiares não pelo sangue do corpo mas pelo coração que pulsa através da seiva azul que corre nas veias do sentimento.


Paz à sua alma, que descanse em paz. Enquanto por cá continuará sempre a ser permanente recordação, por quanto representa no apego portista: - Um icone de tempos de outrora. Finando-se mais um dos que ainda restavam como sobreviventes da Taça de Portugal de 1968 !

Armando Pinto

Link de Recordação (clicar em): 

A. P. 

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