quarta-feira, 29 de março de 2023

Efeméride da Festa de Homenagem a Pedroto, no dia da entrega das Faixas de Campeões aos vencedores do Campeonato Nacional de 1958/1959

 

A 29 de março de 1959, passados dias da conquista do Campeonato Nacional da 1ª Divisão do futebol português da época de 1958/1959, conquistado em Torres Vedras pelo FC Porto após a célebre superação do caso-Calabote, realizou-se no Porto, em pleno estádio das Antas, um festival comemorativo, englobando uma Festa de Homenagem a Pedroto, então quase em fim de carreira de jogador de futebol, na extensão da entrega das Faixas de Campeões aos elementos portistas que conseguiram esse feito (todos os jogadores, mais equipa técnica). Além de na ocasião também ter sido prestada homenagem a António Teixeira, futebolista que havia sido o melhor marcador do campeonato, com mais golos obtidos, mas a quem o jornal A Bola retirou esse título com artimanhas (visto ser por indicção dos responsáveis desse jornal a indicação dos autores dos golos e consequente entrega do troféu correspondente, a Bola de prata) para oferecer então o respetivo galardão a José Águas, do Benfica... Havendo no dia essa festa do título tido a compor o programa festivo um jogo em que o FC Porto venceu por 4-1 o Fûrth EV da República Federal da Alemanha.

Disso tudo (como de outras vezes anteriores se referiu todo o resto) assinala-se agora tão bela ocorrência através de registo de um álbum fotográfico de edição restrita, que com muita honra faz parte da biblioteca pessoal aqui do autor destas lembranças. Registando assim amplamente esse dia da Homenagem a José Maria de Carvalho Pedroto.

Armando Pinto

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segunda-feira, 27 de março de 2023

A propósito do Dia Mundial do Teatro: lembrança de antiga existência duma Secção da Arte de Talma no FC Porto

 

O Futebol Clube do Porto sempre foi um clube de ampla dimensão, extravasando o plano desportivo e alcançando horizontes sociais e culturais. Tanto que chegou a ter uma Secção de Teatro. Cujo ponto alto de tal secção relevava o facto que, na sua essência e vocação, o clube não se esgota no desporto, sendo que a cultura e a atividade social também têm tido vezes de estar no seu ADN.

Ora a Secção de Teatro do FC Porto foi criada em 1962. Como deu conta, ao tempo, o jornal O Porto em sua edição de 28 de novembro desse ano, explicando o seu surgimento e primeiros passos.


Entretanto foram sendo mantidos contactos atinentes ao desenvolvimento das relações dentro do panorama teatral, no mundo dos espetáculos em Portugal, com momentos como o que foi noticiado no jornal O Porto, em Janeiro de 1963:


Enquanto isso a atividade lá se ia ensaiando, como passados tempos voltou à carga o jornal O porto, em Abril seguinte:


Toda essa sua atividade teve depois apoteose em sua estreia, quando a secção de Teatro do FC Porto levava a cena no Rivoli a peça "Os Pássaros de Asas Cortadas", original de Luiz Francisco Rebello, encenada pelo também ator Júlio Couto.


Estreia então anunciada no jornal O Porto, em Junho, para subir a palco a 3 de Julho, com reposição no dia seguinte, desse início de julho de 1963. 


Como foi, com grande sucesso. Tal como ficou registado também no jornal O Porto, em sua edição seguinte de 13-7-1963. 

Assim sendo, na calha da comemoração do Dia Mundial do Teatro, que se celebra anualmente a 27 de março, nesta data, portanto da publicação deste artigo de rememoração, relembra-se o facto do FC Porto haver tido em tempos idos também um Grupo de Teatro, como Secção Cénica formada por associados portistas com veia de atores, em puro amadorismo mas com apetência de dedicação portista. Sendo o teatro uma arte de divulgação cultural usada como forma de expressão.

É verdade, efetivamente, o FC Porto, entre seu ecletismo e inúmeras atividades socioculturais, ao longo dos anos, de permeio com a destreza desportiva, teve também já esse grupo cénico, dedicado à representação teatral. Tendo então, durante dois anos, o FC Porto tido um grupo de teatro, enquanto representante da Arte de Talma dentro do clube. E além da estreia e seguinte reposição da peça inicial, a secção de Teatro do FC Porto subiu ao palco ainda mais algumas vezes, na sequência das tradicionais pancadas de Molière e atenção ao ponto de referência dessa secção que, embora de pouca duração, relevou o facto do FC Porto ser mais que um clube desportivo, com fases também afirmativas de cultura e diversificada atividade, sempre que possível.

Júlio Couto, falecido a 24 de abril de 2020, vítima do Covid, foi um Homem do Porto-cidade, também, como grande dinamizador e difusor cultural, além de homem do teatro e das letras, muito apegado à História Portuense, tema que o manteve ligado a outros historiadores da urbe portucalense, os seus amigos Hélder Pacheco e Germano Silva. Por sinal todos “Portistas aferroados”, à Porto. Um trio que o arqueólogo-historiador Joel Cleto considerava os "Três Mosqueteiros” da cidade do Porto.

= Hélder Pacheco (à frente) e Júlio Couto (atrás) no antigo Estádio das Antas (foto que circulou na Internet aquando do falecimento de Júlio Couto, em 2020).

Armando Pinto

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domingo, 26 de março de 2023

Lembrando… David Lopes Martins: Um Nome Histórico do FC Porto

Os grandes nomes do Futebol Clube do Porto, não apenas no futebol mas de todo o mundo do clube azul e branco, são merecedores de perpétua memória, entre figuras do colossal fenómeno sócio-desportivo que apaixona multidões há mais de um século, como se sabe, quão todos merecem apreço histórico e serem lembrados. Sendo qualquer altura do ano, alguma ocasião que seja, um tempo propício para não deixar esquecer quaisquer desses muitos que engrandeceram o FC Porto. Quanto mais ainda quando se passam temporadas de algo em que ficaram referenciados. Como no caso, desta vez a evocar.

Ora, decorrendo o mês de março que traz nova vida à natureza ambiental com o revigoramento primaveril, calha bem recordar o facto de há uns anos neste mesmo mês ter sido prestada uma homenagem a um senhor que fez parte integrante da vida do FC Porto, como foi o ato simbólico mas justo prestado em 1970 a um antigo atleta e dirigente do clube, David Lopes Martins.   

Oriundo duma família prestigiada na nação portista, David Lopes Martins era filho de Alexandre Lopes Martins, que foi um dirigente com funções de tesoureiro do Futebol Clube do Porto ainda nos primeiros anos de existência do clube azul e branco, tendo sido um dos homens ligados à concretização do antigo campo da Constituição; bem como, David, era irmão de João Lopes Martins, o mais eclético atleta da história do FC Porto (praticante à farta duns sete instrumentos desportivos, na versão das modalidades atléticas de futebol, basquetebol, andebol, râguebi, hóquei, natação e atletismo, além de ainda ter também chegado a jogar ténis, sempre com a camisola do F.C. Porto).

Ora, menos conhecido e como tal lembrado que seu irmão João, o David Lopes Martins foi atleta do futebol e do andebol do FC Porto, tendo depois desempenhado funções clubistas como membro da Comissão Pró-Sede e ainda dirigente como Chefe de Secção da Natação, a cuja secção ficou associado como um dos entusiastas impulsionadores da construção da piscina das Antas.

= Imagem inicialmente publicada no jornal O Porto e depois incluída no livro “ 6 ANOS DE PROGRESSO NA VIDA GLORIOSA DO FUTEBOL CLUBE DO PORTO ”, obra da autoria de Rodrigues Teles, de 1971, a historiar os anos da gerência de Afonso Pinto de Magalhães à frente do FC Porto. 

Pois em Março de 1970, na ocasião da inauguração do Pavilhão de Treinos das Antas, tendo a oportunidade sido alargada a outras celebrações, foi também ensejo de algumas homenagens, incluindo entrega de Rosetas de Sócios aos associados ao tempo com 25 anos de filiação clubística. Havendo entre as homenagens sido prestada uma bem significativa a David Lopes Martins. Como ficou registado no jornal O Porto, então órgão informativo e historiador do FC Porto, que todas as semanas prestava ao mundo portista bons serviços noticiosos, qual andorinha que levava a Primavera onde houvesse poiso portista. Como nesse caso também, em plena Primavera de inícios da década dos anos setenta. Dando assim para, passados tantos anos, haver conhecimento ainda impresso desse justo tributo de gratidão portista.  

Armando Pinto

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quinta-feira, 23 de março de 2023

Faleceu o “Relatador Amaro do Quadrante Norte"!

Faleceu Gomes Amaro, o “Relatador Amaro do Quadrante Norte”, como era mais conhecido. Célebre repórter radiofónico que levava na sua voz os jogos do FC Porto a quem não podia estar onde jogasse a equipa portista. Porque os seus relatos eram algo especial aos ouvidos e entusiasmavam em todos os sentidos quem sentia o FC Porto.

A notícia de sua morte foi conhecida na tarde desta quinta-feira, dia 23. Como logo foi difundida no Porto Canal, assim:

«Gomes Amaro, figura incontornável do relato radiofónico em Portugal, morreu, esta quinta-feira, aos 85 anos.

O corpo de Gomes Amaro estará em câmara ardente na capela mortuária da Igreja Matriz de Espinho, a partir das 15h desta sexta-feira. O funeral realiza-se no sábado, às 12 h 15.

Gomes Amaro, jornalista que durante anos acompanhou o FC Porto em Portugal e no estrangeiro, marcou uma era no relato radiofónico em Portugal.

O antigo jornalista da rádio “Quadrante Norte” nasceu em Portugal, mas antes de fazer 3 anos foi com os pais para o Brasil, onde viveu 30 anos.

Trabalhou como técnico de rádio e na TV Record desempenhou o cargo de responsável pelo videotape da estação.

Durante a década de 70, regressou a Portugal e foi viver para o Porto, período em que se notabilizou a relatar os jogos do FC Porto. Durante este período, Gomes Amaro era mesmo o único jornalista que fazia os relatos integrais dos jogos dos 'Dragões', sempre inseridos no programa “Quadrante Norte”, tendo presenciado alguns dos momentos mais nobres da história dos 'Azuis e brancos'.

Gomes Amaro esteve presente na noite de 27 de maio de 1987 em Viena, assistindo a “armada azul e branca” que venceu a antiga Taça dos Campeões Europeus, noite inolvidável para o universo portista.

Numa nota de condolências emitida pelo FC Porto, os 'azuis e brancos' endereçaram à família e aos amigos de Gomes Amaro as mais sentidas condolências.»

Ora, Desidério Gomes Amaro, como era seu nome completo, tornou-se famoso como a voz que marcou a rádio nacional durante longos anos. Nascido em 1937, a 21 de maio, em Forno Telheiro, Celorico da Beira, no distrito da Guarda, teve uma interessante história de vida, desde a sua ida para o Brasil, país que o acolheu em pequeno e em adulto trabalhava num grande grupo de comunicação social, ligado à TV Record, passando pelo seu regresso a Portugal e casamento com uma conterrânea, até ao sucesso no Quadrante Norte com os relatos de futebol, sobretudo de jogos da equipa principal do FC Porto. Enquanto adotou Espinho como sua terra desde 1964.

Desaparecido agora da vida terrestre, Gomes Amaro permanece como uma das mais reconhecidas vozes da rádio nacional, embora tenha faltado algum reconhecimento oficial por quanto ele representou.

Contou ele há uns anos ao jornal "Defesa de Espinho": 

«Eu e a minha mulher somos da mesma aldeia. A minha mulher e a minha cunhada eram professoras em Espinho. Numa das minhas vindas a Portugal, passar umas férias, conhecemo-nos, casámos e vim para cá. Nessa altura nem sequer pensava em rádio, embora trabalhasse num grande grupo de comunicação social, no Brasil, ligado à TV Record.

Tenho dupla nacionalidade, portuguesa e brasileira, por muito respeito que tenho pelo país que me recebeu. Emigramos para o Brasil. O meu pai tinha a terceira classe e a minha mãe a quarta classe. O meu pai era um trabalhador braçal e a minha mãe era uma costureira de mão-cheia. Lembro-me, que, em criança, acordava a altas horas da noite e via a minha mãe debruçada sobre a costura e o meu pai a entregar pão. Foi uma vida muito difícil. No entanto, o seu esforço foi compensado e, felizmente deram-me tudo.

Terminei o curso de eletrónica e entrei para um grupo de comunicação social que tinha três rádios e uma estação de televisão, Rede Record.

Como aparece a rádio na sua vida?

Confesso que nunca pensei em passar para o lado dos microfones! Sempre estive do outro lado, na parte técnica. Foi então que conheci um locutor de futebol que era de descendência luso-brasileira que tinha um tempo de antena na onda curta da antiga Emissora Nacional (atual RDP) e na Rádio América, em São Paulo, com um programa dedicado à comunidade portuguesa. Falava de resultados do campeonato português e de muitas curiosidades do nosso país.

Numa digressão que o Sporting foi fazer ao Brasil e a RTP estava no início, foi lá o Artur Agostinho. Naquela altura, a conversão de sistemas de vídeo tinha de ser feita e, por isso, a RTP pediu apoio à televisão onde eu trabalhava, pois tinham de enviar os trabalhos para Portugal pelo avião da TAP. Como eu era português, a Record quis que acompanhasse a RTP. Fui num carro de exteriores, com duas câmaras. Propuseram-me que viesse para Portugal trabalhar. Vim no ‘canto das sereias’ e, passados dois meses já não me conheciam. Foi nessa altura que fiquei em Portugal uns tempos, casei e voltei ao Brasil.

Nessa altura, esse locutor português no Brasil convenceu-me a participar nesse programa, dando os resultados do campeonato português e explicar onde ficavam as terras no nosso país. Acabou por me lançar o desafio de vir para Portugal e transmitir os jogos para o Brasil. Nunca tinha feito um relato de um jogo de futebol, pois limitava-me a dar informações. Pedi autorização ao meu chefe na Rede Record e ele não me quis deixar sair. Mesmo assim, decidi partir à aventura. Vim fazer o relato de um FC Porto-Sporting, ao antigo Estádio das Antas.

Nessa altura, os Parodiantes de Lisboa tentaram reunir os clubes e pagar-lhes para terem a exclusividade das transmissões desportivas. Nem a rádio pública pagava e não foram todos os clubes que concordaram e um desses foi o FC Porto. Por isso, transmiti esse jogo para o Brasil.

Na cabina ao meu lado estava o Quadrante Norte. Durante a primeira parte apareceu-me um senhor, com um microfone. Era o Ilídio Inácio. Eu lá disse umas coisas para o Quadrante Norte.

No final desse jogo, o Ilídio Inácio voltou à minha cabina, estivemos a conversar e, no fim, deu-me um cartão seu. Nesse dia regressei a Lisboa. Vivia no mesmo prédio do Eusébio.

Mais tarde, como o locutor do Brasil, que me contratara, se atrasava no pagamento, falei com a minha mulher e decidimos voltar para o Brasil. No entanto, quando estava a arrumar as coisas para partir, deparei com o cartão do Ilídio Inácio. Escrevi meia-dúzia de linhas e enviei-lhe. Estava já na minha aldeia, na Guarda e para minha surpresa ele respondeu-me. Ele dizia que se lembrava do caso mas que não se lembrava da pessoa. Disponibilizou-me bilhetes de comboio e entrada no jogo nas Antas. Vim para fazer cinco minutos, pois quem relatava o jogo era o Luís César, que veio a ser secretário técnico do FC Porto. Acabei por fazer o relato de todo o jogo! No final, o Ilídio Inácio perguntou quanto é que eu queria ganhar para lá ficar a trabalhar. Respondi com um número que, para mim, na altura, era muito bom. Para minha surpresa ele aceitou! Foi assim que começou a minha aventura. Vim morar para Espinho, pois a minha mulher dava aulas aqui e nunca mais saí de cá.

Um dos seus grandes períodos foi no Quadrante Norte. Fala-me dessa experiência.

Naquele tempo não havia rádios locais. O Quadrante Norte era o único que tinha microfones de longo alcance. Hoje todas as rádios utilizam efeitos nas transmissões e sinalizam tempos, etc.. O Quadrante Norte foi pioneiro. Na altura havia quem não gostasse dessas coisas, mas atualmente todos fazem. O Quadrante Norte foi um sucesso bem acima daquilo que eu próprio esperava. Um dia, num jogo nas Antas, tirei os auscultadores e continuava a ouvir a minha voz no estádio inteiro! Isto é algo fantástico! Todos levavam o rádio para o estádio, até para saberem os resultados dos restantes jogos. Foi uma experiência única na minha vida.

(…) Grande parte do tempo em que fez relatos ocupou-o com o FC Porto…

Todos os meios de comunicação social têm uma orientação e procuram a maior audiência possível. No Norte jogavam o Boavista, FC Porto, Salgueiros, o Leixões, etc.. Contudo, a maioria dos ouvintes do Quadrante Norte era do FC Porto, pois as rádios de Lisboa só transmitiam de vez em quando! O Quadrante Norte fixou-se nestas equipas daqui, principalmente no FC Porto. Onde jogasse esta equipa, os ouvintes sabiam que iria haver relato desse jogo. Por isso, aquela estação de rádio tinha um elevadíssimo número de ouvintes.

(…) Quando fazia o relato de um jogo abstraía-me de tudo. Procurava transmitir, apenas, aquilo que se passava no jogo e à minha volta, dentro do estádio. Para mim, no relato, limitava-me a ouvir a minha voz e a dos meus companheiros. O que me interessava era aquilo que se passava dentro do retângulo de jogo. Procurava ser o mais fiel possível àquilo que se passava em campo. Não me importava o clube que jogava. Aquilo que queria era relatar, lance por lance e não tomar parte de outras coisas.

Como o Quadrante Norte fazia 80 % dos jogos do FC Porto, diziam que era portista! Posso viver com isso perfeitamente.

Quero dizer-lhe que o único clube que me mandou um ofício (na altura estava na Rádio Renascença) a agradecer o meu relato e a forma isenta como transmiti o jogo com o Dínamo de Zagreb, foi o Benfica. Nesse jogo tive como companheiro, nos comentários, o Senhor do jornalismo, Carlos Pinhão.

Foi o Amaro que introduziu alguns termos nos relatos desportivos em Portugal!…

É normal! Vivi desde criança no Brasil e ouvia os meus companheiros, pois trabalhava numa empresa de rádios e de televisão. Por isso, era impossível que não tivesse apanhado algumas expressões. Seria ridículo tentar aportuguesar as palavras! Fazia-o de forma natural e não tenho culpa do meu sotaque.» 

Sotaque, diremos nós, que ajudou a dar mais impacto a tudo aquilo.

*****

Tendo então o trajeto radiofónico de Amaro em Portugal ficado ligado ao FC Porto, ficou de tudo isso também como grande marca um disco gravado, do género LP de vinil, “ F. C. DO PORTO CAMPEÃO” a contar “a História de um Título”, com registos dos relatos e entrevistas das emissões do Quadrante Norte dos Emissores Norte Reunidos, sobre o Campeonato Nacional de 1977/1978 ganho pelo FC Porto ao fim de longo jejum, naquele tempo. Disco que com muita estima faz parte das boas coisas guardadas pelo autor deste blogue.


*****

Das expressões ouvidas ao Amaro, ficou celebrizado o brado “Vai buscar, Tibi”, nos golos contra o FC Porto. Enquanto nos golos do FC Porto, a favor claro, foi “… É Gôoool! E que gôooo..! Do Pooorto”… “E que lindo é, as bandeiras tremulando, a torcida delirando, vendo a rede balançar”! “É gol!!!

Isso também, quanto ao Tibi... foi porque o Amaro  quase só relatava jogos do FC Porto, logo dos guarda-redes das outras equipas raramente eram relatados por ele os golos sofridos por tantos outros. Mas curiosamente no tempo de Fonseca, Amaral, Zé Beto, Mlynarczyk, não ficaram tão no ouvido os golos sofridos e como tal relatados, talvez porque já havia maior habituação ao “vai buscár”, assim como "no bárbante”, “agora não adianta chorár”, etc. Mas sempre ficando nas preferências quando era golo do "camisa nove Gômes" e sempre mais o "que bonito é"..!

Fica a eterna recordação. 

Armando Pinto

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quarta-feira, 22 de março de 2023

Efeméride do Caso Calabote - no Campeonato Nacional de futebol ganho pelo FC Porto contra o "Sistema"... em 1959 !

Neste dia, em 1959, o FC Porto conquistou epicamente o Campeonato Nacional mais dramático e prolongado da história do futebol português. Então, de sua parte, o FC Porto  venceu o Torreense por 3-0 em Torres Vedras, e, apesar do que entretanto se passava com o rival direto, conquistou o título de campeão nacional discutido para lá do último segundo. Porque, estavam os dois diretos competidores com os mesmos pontos na tabela classificativa... E, assim sendo... Com a atribuição do troféu a decidir-se pela diferença de golos, o árbitro Inocêncio Calabote assinalou penáltis em série no estádio da Luz, onde o Benfica goleou a CUF por 7-1, e deu um interminável tempo de compensação. A 50 quilómetros dali, onde jogava o FC Porto, os encarnados tinham o treinador adjunto no banco do Torreense e treze contos preparados para cada um dos jogadores do emblema de Torres Vedras em caso de vitória sobre os azuis e brancos. Mesmo perante este cenário hollywoodesco, foi o FC Porto que fez a festa por um golo de diferença. Conforme se pode reavivar aqui.

Isso quando nesse tempo ainda o Campeonato da 1.ª Divisão Nacional acabava ao início da Primavera, sendo que depois se passavam a desenrolar as eliminatórias da Taça de Portugal, então ainda assim e todas a duas mãos de seguida até à final, com a chamada festa já no verão (enquanto só à chegada dos anos 1960 passaram os jogos das eliminatórias da Taça a ser intercalados com os do Campeonato). Acontecendo então em Março do último ano dos anos 50 a decisão da prova mais importante do futebol português.

 

Estava a Primavera a florir ainda em 1959, então, quando a 22 de Março se deu essa célebre conquista pelo FC Porto do Título Nacional de futebol sobreposto ao “Caso-Calabote”. Conquistado ao suplantar autenticamente a "batotice" com que certos agentes do clube adversário direto tentaram alterar a verdade desportiva, já então... como ficou para a história.

Diz o Evangelho que antigamente era o Verbo… mas no caso do desporto português em tempo do Estado Novo era vivó velho... como era ao tempo, também, no fatalismo que parecia imposto pelos tempos fora. E o verbo, com letra minúscula, era repetitivo.

Ora, segundo o que descreveu São João Evangelista, o Verbo no Evangelho remetia à palavra divina, pois antes de qualquer outra coisa existir, Deus já existia. Mas, se o verbo antigo significava o bem, os tempos desse período de ditadura dos mais variados campos era já apologista do mal. Como eucalipto que seca tudo à volta, o sistema sócio-desportivo queria tudo à sua maneira e interesse. Tendo-se sucedido os casos de bradar aos céus, mas dentre muitos, entre tantos, um houve que conseguiu superar isso, ainda que com espera sofrida, porém vitoriosa mesmo à posteridade. Tanto que, apesar de tudo, ainda não está esquecida e tem sempre quem faça força para que não passe ao olvido…


Foi pois nesse ambiente que ao começo da Primavera de 1959 ocorreu o inesquecível "caso-Calabote", por ter tido repercussão. Dado ter acontecido com contornos de escândalo vistoso, no último jogo do campeonato dessa época; inclusive a meter longa espera pelo desfecho do jogo em que mais visível era a batota, por jogadas de bastidores. Uma ocasião em que o bem, no fim, pôde enfim vencer o mal.

= Durante o jogo, o banco do sofrimento... 

=  No fim - Hernâni a ser vitoriado no fim da longa espera... 

Inocêncio Calabote era um árbitro que sempre arbitrou mal em jogos do FC Porto, com tradição de sistematicamente prejudicar a equipa portista. Sendo um personagem funesto e medonho, apesar da sua pequena estatura. 


De cara de poucos amigos, era um género de “falso padre” do rol benfiquista daqueles tempos. Dessa vez escolhido, pelos manda-chuvas do sistema vigente, para arbitrar o jogo em que o Benfica tinha de marcar golos suficientes para ultrapassar a vantagem que o FC Porto detinha na diferença de golos, precisamente. Visto Porto e Benfica terem chegado à ultima jornada empatados em pontos, e assim resultar desempate na diferença de golos, pela soma deles, em que o FC Porto tinha vantagem. Enquanto isso, no jogo do FC Porto em Torres Vedras até foi colocado a orientar a equipa da casa o treinador adjunto do Benfica, além dos jogadores (segundo testemunhos estão publicados) terem certas promessas, havendo feito anti-jogo a maior parte do tempo e abusado de rude dureza em todos os lances praticamente, ao que se juntou inclusive o árbitro desse encontro também não ter assinalado dois penaltis, que poderiam dar mais golos para o FC Porto.  


De modo que, enquanto em Lisboa o Benfica ia marcando golos a eito, com penaltis inventados e outras manobras, já os jogadores do FC Porto viam-se em sérias dificuldades para conseguirem marcar (algo conseguido apenas aos 26 minutos de jogo, por Perdigão), chegando quase ao fim do jogo ainda só com um golo obtido. Talvez que isso até tenha sido o que salvou a situação, visto na altura apenas se ir sabendo do desenrolar dos jogos através dos relatos radiofónicos e telefonemas que fosse possível fazer, em tempo de Pbx e consequentes ligações para as meninas da central telefónica. Pois como o FC Porto alcançou os seus segundo e terceiro golos já muito para o fim do jogo (o 2º por Noé aos 89 minutos e o 3º por Teixeira, aos 90), tendo o terceiro e último, o decisivo afinal, sido assim mesmo ao expirar do próprio jogo, às tantas em Lisboa o árbitro Calabote pensou que os golos que o Benfica marcou já chegassem e por isso não prolongou ainda mais o jogo além dos doze minutos que fizera acrescer, para lá dos noventa. Levando a que, como o jogo de Lisboa começara mais tarde alguns minutos também, a espera foi demasiado longa para quem teve de se limitar a esperar o fim do jogo Benfica-Cuf…


Toda a gente ficou assim à espera, quer quem estava no campo das Covas em Torres Vedras, ou em casa a ouvir relato pela rádio. Pois quem permanecia no estádio da Luz estava a par de tudo. Aí o jogo custava a acabar, por o árbitro Calabote deixar o tempo alongar-se à espera de poder proporcionar ao seu Benfica um resultado que mais lhe interessava. O FC Porto acabara de vencer o Torreense por 3 - 0, mas na Luz o árbitro Inocêncio Calabote, que já marcara 3 penaltis a favor do Benfica, expulsara 3 jogadores da CUF, foi prolongando o jogo por mais 12 minutos, mas ao apitar para o fim, finalmente, o resultado com que o Benfica ganhava por 7-1 acabou por não chegar!


Foi a 22 MARÇO de 1959. Passa agora em 2023 sessenta e quatro anos que isso aconteceu.


Por tudo isso nunca será demasiado repetir e tornar a explicar e avivar, para reforçar a lembrança:

Rezam as crónicas, com efeito, que nesse dia 22 de Março de 1959 o FC Porto acabou por conquistar o campeonato nacional numa jornada muito especial e contundente, tendo vencido em Torres Vedras no jogo derradeiro o Torreense por 3-0, mas… tendo toda a gente do FC Porto, desde jogadores a treinadores, diretores e adeptos, que esperar mais de doze minutos pelo final do encontro também disputado em Lisboa, nessa mesma tarde entre Benfica e CUF, arbitrado por Inocêncio Calabote – que tentou por todos os meios que a equipa encarnada marcasse os golos necessários para ultrapassar a conta que mantinha em disputa com o FC Porto, prolongando o tempo de jogo muito para lá da hora e de qualquer desconto aceitável, sem conseguir contudo… Pois então a equipa do SL Benfica venceu por 7-1, mas com menos um golo do que seria necessário para que o título não rumasse ao Porto.


Esse caso está narrado com clareza no livro “O CASO CALABOTE”, escrito por João Queiroz e publicado pela editora QUIDNOVI, em Novembro de 2009, ainda dentro de período da passagem de 50 anos desse facto. Apenas que, comparando com edições de outras obras da mesma editora, Quidnovi/QN-Edição e Conteúdos, S.A., esse livro apareceu com uma edição gráfica quase despretensiosa, para não dizer ligeiramente barata, como que a tentar passar despercebida, sem ilustrações e com formato reduzido. Livro que o autor destas linhas adquiriu à época e está devidamente guardado na biblioteca pessoal. Esperando que ainda venha a ser possível ter uma outra edição (em reedição) mais consentânea com a dimensão do caso, mesmo porque não faltam imagens, quer em jornais e revistas, como pela Internet e blogosfera, de fotos relacionadas com o tema. Algumas das quais, relativamente ao jogo de Torres Vedras, se juntam aqui e agora, para constar.

= Perdigão entre adeptos portistas eufóricos, após conclusão da vitória no campeonato...

Como legendagem memorial acrescente-se algumas notas entre margens, tipo à margem da reportagem, como ao tempo era escrito na imprensa:

Então, antes dos dois jogos: «O BENFICA RECEBE A CUF E SOBE AO RELVADO DOIS MINUTOS ANTES DO INÍCIO DO JOGO. A ESTRATÉGIA É RETARDAR A PARTIDA O MÁXIMO POSSIVEL, DE FORMA A SABER O QUE SE PASSA EM TORRES VEDRAS, NO TORREENSE -F.C.PORTO.»

Havia condição prévia e necessária, para o Benfica: Tinha de «MARCAR MAIS CINCO GOLOS DO QUE AQUELES QUE O F.C.PORTO MARCASSE… ERA O OBJECTIVO.»

«…QUANDO CALABOTE INICIA O JOGO, JÁ SE CONTAVAM OITO MINUTOS NO JOGO DO F.C.PORTO.»

«AO INTERVALO, 4-0 NA LUZ COM DOIS PENALTIS.»

«NA SEGUNDA PARTE ENTRE GOLOS DE RAJADA (7-1), PENALTIS, A SUBSTITUIÇÃO DO GUARDA-REDES GAMA A PEDIDO DOS COLEGAS, TRÊS JOGADORES DA CUF NA RUA E UM FINAL DE JOGO QUE NUNCA MAIS CHEGAVA… O F.C.PORTO CONSEGUE UM 3-0 QUE NEM O ADJUNTO DO BENFICA (VALDIVIESO), QUE ESTEVE NO BANCO DO TORREENSE, CONSEGUIU IMPEDIR...»


E no fim do jogo do Torreense-FC Porto todos ficaram a ouvir nos rádios, que por lá havia quem tivesse, a aguardar o fim do jogo que nunca mais terminava em Lisboa. Até os jogadores ficaram sentados no chão, cansados mas sem sentirem isso mais que o sofrimento de revolta e ansiedade... 


...Até que por fim se deu o momento de alegria, perante a certeza, finalmente, que o Porto era campeão. 

= O guarda-redes do FC Porto, Acúrcio, após se ter sabido que o FC Porto conseguiu ser mesmo Campeão Nacional...

Dessa vez houve justiça final, pois nem sempre o mal consegue levar a melhor, afinal… E assim o FC Porto foi campeão, contra a vontade de árbitros, dirigentes federativos, mais outros agentes, etc. Como, pelo tempo adiante, isso ultrapassou a vontade e discernimento também de certos jornalistas e outros publicistas mais, incluindo os benfiquistas fanáticos que só vêm vermelho diante dos sentidos.


Após tudo isso, porque o que se passou foi demasiado evidente... Calabote foi irradiado. Mesmo tendo mentido no seu relatório, mas tudo havia sido muito do conhecimento público...


Passam agora 64 anos que isso aconteceu. Algo que tem de ser sempre lembrado, pois as desonestidades e ações malvadas não podem ser branqueadas. Porque o crime perverso da batota não pode compensar, ou pelo menos não devia… embora em Portugal continue a haver saudosismos de velhos processos e atualmente a "toupeirice" passe incólume pela proteção ao clube do regime.

= "Campeões Nacionais" em 1959 
Armando Pinto
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