quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Efeméride – Falecimento do treinador Jorge Orth: em janeiro de 1962

 

A 11 de janeiro de 1962 faleceu repentina e surpreendentemente Jorge Orth, o então treinador principal do futebol do FC Porto, que tão boa conta estava a dar no comando da equipa principal portista. Desaparecendo então esse malogrado técnico de futebol, sem ter tido tempo de levar o seu trabalho mais além. Ficando porém deveras saliente na memória alvi-anil, na perpetuação dos que da lei da morte se libertaram por sua aura na História do F C Porto.


Assim sendo, tal como já aqui se recordou anteriormente  no artigo sobre Desportistas falecidos em atividade Portista  exaltamos a memória deste senhor das lides futebolísticas, homenageando tal treinador que proporcionou um tempo de renovadas esperanças nas hostes Portistas nos inícios da década de sessenta.


Orth chegara ao Porto em tempos de vacas magras, como se diz normalmente quanto a um sentido de menor fulgor e enfraquecimento. Porque, depois do título alcançado pelo FC Porto em 1958/59, não houve uma diretriz capaz de manter o ritmo e logo na época seguinte o F C Porto se quedou num modesto 4º lugar, depois da traição de Guttmann (que se passou de armas e bagagens para o Benfica, inclusive desviando para aquele rival lisboeta o barreirense José Augusto, entre outras artimanhas), enquanto em 1960/61 a equipa azul e branca terminou em 3º lugar e ainda perdeu a final da Taça de Portugal, de modo surpreendente e escandalosamente contra o Leixões, no estádio das Antas. Então, a Direção do clube fez um esforço para preparar a época seguinte, entregando para 1961/62 o leme da equipa das Antas a um treinador chamado Gyorgy Orth.


Tratava-se de um técnico de futebol húngaro, com sessenta anos de idade e trinta de carreira. Este foi o homem-chave para a época que se avizinhava, que até nem começou lá muito bem. Nos primeiros cinco jogos, a equipa conquistou apenas 5 pontos. Mas depressa soube dar a volta. Como se costuma dizer que depois da tempestade vem a bonança, e quem porfia sempre alcança, houve frutos do facto de dentro do clube então ter-se sabido esperar; pois, após a série de maus resultados, logo que foi adquirido um avançado de raiz, a equipa treinada por Orth somou seis vitórias seguidas. E passou a haver um clima de quase euforia, de grandes esperanças, em suma.

= Hernâni =

Orth revolucionou o futebol do F C Porto, com sangue novo. Pôs a jogar uma nova vaga de futebolistas, passando Américo para guarda-redes titular, apostando em Pinto, o jovem Custódio Pinto que viera do Montijo e passou a jogar ao lado do experiente Hernâni, fez Serafim aparecer e começou a substituir antigos astros por jovens promessas, como Jaime, Festa, Paula, etc., bem como, de modo mais vincado, fez vir do Brasil o atacante que faltava, um avançado de jeito, para colmatar a falta de um goleador-matador (nesse tempo chamado avançado-centro), recaindo a escolha em Azumir, cuja eficácia depressa deu resultados.

Efetivamente o futebol do F C Porto estava em fase de transformação e renovação. Por exemplo começava a chegar ao fim a carreira do grande Hernâni, mas ainda pujante e eficaz. Carreira ainda, então, «a que aliás pôs termo muito cedo, pois foi (com o grande treinador Jorge Orth) o “patrão” de uma equipa jovem, que fez brilhar a grande altura: entre outros, é claro, Jaime, Custódio Pinto, Azumir e, sobretudo, Serafim…» (como descreveu Tavares Teles).

= Plantel sénior do futebol portista de 1961/1962, com a maioria dos titulares do tempo de Jorge Orth. A partir da esquerda, em cima – Américo, Virgílio, Ivan, Arcanjo, Festa, Joaquim Jorge, Paula e Rui; em baixo – Carlos Duarte, Azumir, Jaime, Pinto, Hernâni, Serafim e Perdigão. 

Estava o FC Porto a vencer a aposta no húngaro Gyorgy Orth, que já tinha treinado em Itália, França, Argentina, Colômbia, México e Peru. Tanto que ao comando técnico da equipa azul e branca colocou o F C Porto na discussão do título e passou a ser considerado cidadão portuense, pela simpatia granjeada, tendo mesmo passado a ser chamado de Jorge.

Mas os deuses não estavam com o F C Porto e Jorge Orth faleceu repentinamente, interrompendo essa linda caminhada que vinha tendo no F C Porto. Havendo ainda orientado a equipa na 12ª jornada, jogada no Barreiro contra a Cuf. Depois… morreu. Foi a 11 de Janeiro de 1962. Nesse dia de inverno aconteceu a tragédia. Findo o treino matinal, Orth foi para casa e, sem que ninguém contasse, morreu de fulminante ataque cardíaco. Apagando-se assim seu fio de vida e já não voltou a treinar. 

= Trecho do "Relatório e Contas de 1962" da anuidade da gerência do FC Porto desse período.

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Nessa época de 1961/1962 o FC PORTO fazia ainda uma travessia no deserto dado que até então se encontrara numa crise de diversos níveis, estando ao tempo a começar por superar tal período com o aparecimento de bons resultados pela equipa de futebol, graças ao trabalho do treinador contratado, o qual remodelou a equipa dando lugar a alguns dos novos que estavam à espera de oportunidade, numa mescla de reforço com outros bons valares que ainda se mantinham da geração anterior; e através da influência da vinda do ponta de lança brasileiro Azumir, que acabaria o campeonato como o melhor marcador com 21 golos. 

Tendo no início do campeonato a equipa do FC Porto passado por fase irregular, como demonstravam vários empates obtidos, foi-se depois reencontrando, sobretudo com a entrada de Azumir, quando já decorriam algumas jornadas. E mais começou por levantar a cabeça com os numerosos golos marcados e decisivos da tripla de sucesso que se formara entre Azumir, Pinto e Hernâni. Porém, quando estava a crescer o entusiasmo, pela confiança provinda da boa campanha da equipa, após varias vitórias consecutivas, o FC PORTO perdeu em casa da Cuf, no Barreiro, facto que trouxe alguma preocupação nas hostes portistas, embora continuando na luta pelo titulo, pois nada estaria perdido. Na semana em que o FC Porto preparava o jogo seguinte e após o primeiro treino pós jogo do referido desaire, Orth desfaleceu na sua casa e acabou por falecer com um enfarte cardíaco. Cobriu-se de luto todo o mundo portista e o plantel do futebol do clube sentiu o desenlace. O seu funeral, realizado na cidade do Porto, resultou em espontânea manifestação pública de apreço coletivo, sendo sepultado no cemitério portuense de Paranhos, onde depois ficou em mausoléu que faz parte do património do clube.


A cidade do Porto cobriu-se de luto. E todo o mundo Portista ficou abalado.

Na biografia de Américo, em número coevo da coleção "Ídolos do Desporto", ficou narrada a evolução e funesta situação verificada:


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O funeral de Jorge Orth foi uma manifestação de pesar impressionante. Toda a estrutura do F C Porto se incorporou no préstito, e a equipa não largou a urna, sendo transportado o apreciado mestre pelas mãos de seus atletas que, à vez, se revezaram a pegar no esquife contendo seus restos mortais, até à última morada.

Foi sepultado no cemitério de Paranhos, em túmulo que não ficou a ser definitivo, por ter sido decidido erigir um mausoleu condigno à altura da grandeza do FC Porto, para honrar o falecido treinador que ficava ligado à História do FC Porto. 


Seguiu-se, pouco tempo depois, o tal Sporting-Porto em Lisboa. E os homens das Antas dedicaram esse jogo ao saudoso treinador...


Aí  Azumir marcou um golo, o único do encontro, que, aliado a grande exibição de Américo, Hernâni, Serafim, Pinto, Arcanjo, Virgílio, Festa, Ivan, Paula e Jaime, permitiu importante e marcante vitória. Na linha até do que antes se passara por entre emoções da despedida.

Na verdade, durante o seu funeral, o jogador portista Azumir assumia vingar o sucedido com o título no campeonato. O que não conseguiu, por abaixamento evidente do rendimento da equipa, com o lugar responsável do banco ocupado por Francisco Reboredo. Embora mantendo-se na discussão do primeiro lugar até à última jornada, quando uma derrota do FC Porto em Guimarães, com uma deplorável arbitragem, como era costume, deitou tudo a perder. Apesar disso, como consolação, no final da época o avançado brasileiro Azumir sagrou-se o melhor marcador do campeonato, tendo apontado 23 golos em 20 jogos e o FC Porto ficou-se pelo 2º lugar a 2 pontos do Sporting.

= Azumir =

Do plantel, nessa era de renovação, faziam parte os seguintes jogadores: Américo, Rui, Ivan, Paula, Serafim, Virgílio, Miguel Arcanjo, Custódio Pinto, Hernâni, Azumir, Jaime, Festa, Carlos Duarte, Mesquita, Perdigão, Barbosa, Noé, Teixeira, Juca, Monteiro da Costa e Morais. Mas outros estavam na calha, como aconteceu com Nóbrega, a passar por fase de empréstimo para rodagem.


Ora, Nóbrega, entre outros,  teve com Orth seu batismo nos treinos de pré-época nas Antas, e ficou com sua carreira algo associada ao que resultou depois, conforme se pode também verificar pelo que expressa o livro que lhe dedicou a coleção "Ídolos do Desporto":


Tendo com a morte de Jorge Orth ficado Reboredo no comando da equipa, seguiu-se-lhe no início da época seguinte Jeno (Eugénio) Kalmar, com o qual Nóbrega entrou na equipa senior, como é referido na pagina do pequeno livro sobre o esquerdino Francisco Nóbrega. 

Desse período em que Kalmar esteve à frente da equipa portista, o novo treinador acompanhou a evolução do caso da concretização do mausoleu para definitiva sepultura de Jorge Orth. Tendo ele e sua esposa sido amigos e companheiros da viúva D. Ana Orth. 


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Entretanto para a edificação do mausoleu de Jorge Orth foi posta em marcha uma campanha de angariação de receitas através do universo portista. Para esse movimento de angariação foram muitas as contribuições, pelas mais variadas partes do mundo português e formas de participações, através de diversificadas iniciativas. Como foi dado conta no jornal O Porto algumas vezes, uma das quais logo em maio desse mesmo ano de 1962, poucos meses após a morte de Orth.

Em janeiro de 1963 estava já o mausoléu edificado, embora sem estar colocado no seu local a tempo de ser feita a devida cerimónia no próprio dia em que passava o 1.º aniversário da morte do treinador.

Dias depois, mais propriamente no dia 26, nesse mesmo mês de janeiro de 1963, era então feita a trasladação com a dignidade merecida.

Esse ato e toda a sua envolvência teve então devido registo n’ O Porto de 30 de janeiro, com imagens correspondentes, sendo ali narrado em pormenor todo o processo e sua concretização, em reportagem alusiva e profusamente explicativa. Conforme do mesmo se pode ler aqui, em bocados recortados, para melhor leitura.


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Muita água correu entretanto e posteriormente por baixo das pontes da Invicta. Tanto tempo se passou, mas a recordação de Jorge Orth permaneceu nos sentimentos nobres dos fieis adeptos do grande F C Porto. Sendo esse venerando personagem um nome histórico nas brumas da memória Portista.

Armando Pinto
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