Ainda não há muitos anos havia noção de desportistas com o
chamado amor à camisola, na ideia de afetividade sentida ao clube da camisola
que vestiam. Entre atletas das diversas modalidades praticadas no âmbito do
ecletismo dos clubes de nomeada, no caso mais amplo das coletividades de maior
expressão. Pois nos clubes de menor dimensão, naturalmente, esse facto era
ainda possivelmente mais notório. Com a evolução verificada pelo andar dos
tempos, especialmente no futebol profissional, tal facto foi-se modificando,
até que presentemente o futebol se tornou em algo muito diferente do que antes levou
a ser uma grande paixão popular.
Assim, pois, em tempos que lá vão, quando começamos (aqui o autor desta crónica) a sentir
predileção portista, dizia-se, como indicação de futebolistas que jogavam nas Antas:
- o Américo do Porto, o Hernâni do Porto, o Pinto do Porto, etc. Etc... Tal como
pelos anos adiante ainda se dizia o Festa do Porto, o Nóbrega do Porto, o Pavão
do Porto, o Rolando do Porto… Ou seja havia então jogadores que passaram
praticamente sua carreira no F C Porto. Tanto como Hernâni unicamente esteve
uma temporada noutro clube, por via do serviço militar; ao passo que Américo se
formou no clube e apenas esteve fora uma época por empréstimo, porque havia
outros à frente (depois de seu primeiro ano de sénior como terceiro
guarda-redes, até que depois regressou como segundo e por fim ficou a primeiro
guardião), enquanto Custódio Pinto veio do Montijo muito novo, ficou até a
residir pela área do Grande Porto o resto da vida e só não acabou a carreira de
jogador no FCP por ter sido afastado de modo inglório, por fim (dispensado pelo
treinador António Teixeira. A modos parecidos, só que menos conhecidos, ao que anos mais tarde aconteceu no caso de Fernando Gomes, prejudicado pelo feitio do pequenote Otávio). Acrescendo mais o facto de alguns outros terem tido propostas de transferências, que não quiseram (como Virgílio, Rodolfo, etc. etc.) e, só por isso mesmo, não chegaram a conhecer situações de terem de defrontar o F C Porto, mas assumiram-se de corpo e alma no clube em não terem querido sair. Por entre os muitos que, dentro do possível, se mantiveram fieis ao F C
Porto, assim como vários houve que simplesmente conheceram em seu corpo a
camisola azul e branca do clube do emblema encimado pelo mítico Dragão.
Acima disso, contudo, é de salientar ter havido casos de
alguns futebolistas de caracter portista, tal, que levou a que não quisessem defrontar
o F C Porto aquando de confrontos da equipa do seu Porto diante dos clubes em
que estavam momentaneamente; além do caso de um que se recusou a jogar noutra
equipa para não ter de defrontar a sua. Vindo assim a talhe os exemplos de Cesário
Bonito, Francisco Gomes da Costa e Hernâni Ferreira da Silva. Não sendo tão conhecido o episódio do primeiro, o Dr. Cesário Bonito, por o memo não ter atingido
saliência maior como praticante, pois jogara nas eras de diversas categorias ao
tempo existentes (primeiras, segundas e terceiras equipas, em épocas recuadas
dos primórdios do futebol a sério pelas bandas da nossa Pátria); mas esse, que
depois veio a ser Presidente da Direção (e ficou mais conhecido como um grande
Presidente do F C Porto), em jovem se havia recusado a defrontar o F C Porto
quando foi estudar para Coimbra e teve convites para jogar na Académica. Já
Gomes da Costa (do tempo do Pinga), ficou celebrizado como bom avançado, e Hernâni (maioral do tempo de Barrigana, Virgílio, Pedroto, Arcanjo, e também ainda de Perdigão, Américo, Azumir, etc.) foi quem se sabe, um senhor do futebol e do F C Porto.
Esses são, por assim dizer, paradigmas dos jogadores à Porto
de antigamente. Se bem que, depois, na evolução dos tempos, houve também outros
que souberam sempre ser bons profissionais e ficaram no gosto das pessoas que
sentiam e sentem o clube. Como hoje ainda felizmente os há, de outra maneira,
interessando haver os que dentro do campo, quando estão com a camisola do F C Porto
colada ao peito, dão tudo o que podem pelo clube que representam.
Neste prisma, de jogadores de carisma especial, juntamos os
dois exemplos mais sintomáticos: Gomes da Costa e Hernâni Silva. O Dr. Gomes da
Costa, que mais tarde foi pessoa também carismática no município de sua terra, em Vila Pouca de Aguiar (referindo-se
isto para que não possa haver qualquer confusão com outro de mesmo apelido, o velho militar dos compêndios
históricos); e mais o sr. Hernâni, que por fim foi dirigente no F C Porto e pessoa
do maior respeito civil e desportivamente, como reza a história, imclusive com nome numa rua da sua terra, em Águeda.
Para o caso, como ilustração documental, apresentamos alguns recortes, primeiro, aí acima, dum trabalho
historiador de Rodrigues Teles, sobre os Internacionais A de futebol do F C do Porto,
aquando da colocação da galeria (em quadros emoldurados) dos Internacionais Portistas
na sede do F C Porto (editado em brochura em 1968/69 e posteriormente publicado
em fascículos no jornal O Porto de 1969 a 1970). Bem como, por fim, aqui abaixo, colocamos (respeitante a Hernâni) um respigo dum
exemplar da pequena revista “Seleções Desportivas”, de 1978 e (sobre Gomes da Costa) uma ficha inserta
na “Enciclopédia do Desporto”, volume 4, edição Quidnovi, de Julho de 2003.
Armando Pinto
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