quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Troféu Luís Otero – Objeto duplamente histórico na memória museológica portista


Tal como noutros tempos houve alterações profundas na sociedade perante mudanças estruturais, como foi em Portugal no período de transição da Monarquia à República, entrado o século XX (para não recuar demasiado na cronologia) diante do desaparecimento de antigos dinheiros como eram as moedas de Reis até à entrada do Escudo, mais a mudança das cores nacionais do azul e branco da realeza para o verde e vermelho do Partido Republicano Português e seus movimentos associados, como à entrada do século XXI surgiu a moeda Euro que substituiu pela metade o Escudo, também no futebol tudo se tem alterado ao longo dos tempos e talvez até mais depressa. Acontecendo, no caso do futebol, como desporto rei, que o facto se evidencie demasiado na repentina situação das transferências e grandes somas envolvidas. Contudo, antes disso ainda, o panorama foi sendo modificado em variados aspetos menos agressivos, como eram em tempos distantes as provas do início de época, através de torneios famosos que eram possíveis por não existirem ainda pré-eliminatórias de acesso às competições europeias, nem os campeonatos nacionais começarem em pleno período de verão, havendo inclusive férias grandes, como era chamado a esse período de veraneio alongado.


Pois então, enquanto pelos idos de quarenta e inícios de cinquenta, do século XX, ainda não existiam provas internacionais oficializadas, foram decorrendo jogos de permutas entre equipas de diversos países, tendo o FC Porto tido jogos famosos com receções vitoriosas diante do Vasco da Gama do Brasil, Arsenal de Londres, Portuguesa do Rio, Fluminense, o Real Madrid, Vazas, Valência, etc, cuja repercussão se refletia em tais momentos terem sido distinguidos com publicações de coloridas separatas de publicações da especialidade, à época, em género de “posters” médios ilustrados. Gravuras essas que se viam nesse tempo, como embelezamento, por exemplo, coladas ou pregadas a forrarem tapamentos de locais públicos, quais divisórias de tábuas de madeira em tascas e similares estabelecimentos de comes e bebes nessas eras, quando não em quadros emoldurados a decorarem lojas de comidas e casas de pasto, como em tempos idos se chamava aos restaurantes tradicionais de aspeto singelo ou clássico, respetivamente. Para depois, quando começaram as provas europeias oficiais, iniciadas a partir do Outono, os períodos de verão antecedente aos jogos de campeonato eram precedidos de torneios internacionais organizados por clubes, que se foram tornando famosos.

Então, pelos anos sessentas, em plena década que o FC Porto em Portugal não conseguia mostrar sua valia pelas manobras dos bastidores federativos, foi conseguindo desforrar-se no estrangeiro, onde foi sendo possível fazer coisas bonitas e ganhar provas importantes. Tal o caso do famoso torneio espanhol do Troféu Luís Otero, anualmente organizado em Pontevedra, na Galiza.


Eis o atraente trofeu que agora, em Setembro de 2017, é o “Objeto do Mês” de amostra no espaço público de acesso à Loja do Dragão e ao Museu do FC Porto: o Troféu Luís Otero, de 1964. Sendo esse o segundo, como importa sempre recordar, pois que tal torneio e consequente troféu foi conquistado por duas vezes pelo FC Porto, a primeira em 1962 e por fim em 1964.

Com efeito, como é descrito na relação correspondente, a propósito, «ao longo da história, o FC Porto marcava presença em importantes torneios de verão, autênticos festivais futebolísticos que ajudavam a preparar as épocas desportivas, a encantar plateias nacionais e estrangeiras e, também, a depositar factos e objetos memoráveis no património do clube.


É o caso do Troféu Luís Otero, conquistado pela segunda vez pelo FC Porto em 1964 com uma equipa onde emergia Rolando, um dos históricos capitães azuis e brancos, e o jovem Artur Jorge. A taça, erguida em Pontevedra (Espanha), e outras curiosidades sobre este torneio descobrem-se no Hall do Museu, área de circulação livre, onde todos os meses há uma revelação da diversidade e riqueza da coleção do clube, colocando a história ainda mais ao alcance de todos » - para todas as idades e com entrada livre, no Hall do Museu.
                                                                                                     Rolando »»»

Assim sendo, apraz avivar o facto ao quadrado, recordando a vitória dupla conquistada, através de alguns dos dados relacionados com essa participação em tal torneio, da primeira vez realizado entre três competidores, e à segunda dois, sempre com o FC Porto em jogo.

= Azumir e Valdir =

Em 1962, os participantes foram o Pontevedra CF e Real Betis, de Espanha, mais o FC Porto, de Portugal. Tendo o FC Porto tido o seguinte programa

- Meia-final, a 24 de Agosto de 1962 - FC Porto, 2 - Real Betis, 1 [golos: 1-0 por Hernâni, aos 40´; e 2-0 por Azumir, aos 44´; 2-1 pelo espanhol Luís, aos 87´]´,
Alinhando as equipas com
FC Porto: Rui; Virgílio, Miguel Arcanjo, Mesquita, Atraca, Paula, Carlos Duarte, Pinto, Azumir, Hernâni e Serafim.
Real Betis: Corral; Colo, Ríos, Arieta, Lasa, Bosch, Senekovic, Luís, Ansola, Cortés, Portilla.

- Final, no seguinte 26 de Agosto - Pontevedra CF, 0 - FC Porto, 2 [golos: 0-1 por Azumir, aos 52´, e 0-2 por Serafim, aos  58´]
Alinhando os finalistas assim
Pontevedra CF: Gato (Estévez); Firi, Calleja, Cholo; Pastor, Bea (Guillermo);Recalde, Vallejo, Tucho, Cerezuela, Ferreiro.
FC Porto: Rui; Virgílio, Arcanjo, Mesquita; Festa, Paula; Carlos Duarte, Pinto, Azumir, Hernâni e Serafim.


Chegados os elementos da comitiva portista ao Porto no dia seguinte, houve receção apoteótica que, a propósito, foi também ainda há um ano recordada globalmente. Incluída tal lembrança que foi nas efemérides referidas diariamente na página informática do Museu FC Porto e extensivamente partilhada na pública carta de mensagens e novidades do clube, “Dragões Diário”, relembrado a 27 de Agosto, que nessa data fazia anos que «em 1962, a equipa do FC Porto regressava a casa com o Trofeo Luis Otero, de futebol, conquistado em Pontevedra (Espanha). Vários jogadores históricos, como o guarda-redes Américo, faziam parte do plantel nesse ano». Os quais, entre mais, se podem recordar visitando o Museu para conhecer melhor os ídolos perpetuados na memória do clube.


Por acaso Américo não chegou a alinhar em nenhuma das vezes em que o FC Porto venceu esse torneio, por estar lesionado. Contudo fazia parte do plantel obviamente, tendo de ambas as vezes depois alinhado logo de início no campeonato português, ele que era e foi o guarda-redes nº 1 desse valioso grupo, do qual se recorda uma das formações contemporâneas.


Volvidos dois anos (com interregno de um ano em que só participaram o Bétis e o anfitrião Pontevedra, com o visitante sevilhano saindo vencedor), em 1964 o FC Porto voltou a ser convidado, sendo participantes o Pontevedra CF, de Espanha, e o português FC Porto:

- Final, a 6 de Setembro de 1964 - Pontevedra CF, 0 - FC Porto, 2 [golos:0-1 por Bernardo da Velha, aos 32´, e 0-2 por Nóbrega, aos  75´]
Alinhando
Pontevedra CF: Fermín; Azcueta, Batalla, Cholo; Martín Esperanza, Roldán I; José Luis (Recalde), Cerezuela (Roldán II), Vallejo, Neme, Odriozola.
FC Porto: Rui; Festa, Almeida, Joaquim Jorge; Carlos Baptista, Paula; Jaime (depois Artur Jorge), Bernardo da Velha, Valdir, Pinto (Rolando) e Nóbrega.


Armando Pinto
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2 comentários:

  1. Que saudades deste início de paixão!

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  2. Belíssimo trofeu que estava exposto e cheguei a ver na sala Museu Pinto Magalhães das Antas

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