quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Gabriel Azevedo, Luís Pacheco, Joaquim Leite e Custódio Gomes – Quarteto da vaga primaveril do ciclismo portista da transição de 60 para os anos 70´s


Com a retaguarda histórica vinda de antigos ases dos pedais, havendo o FC Porto desde finais da década dos anos quarentas até aos anos sessentas comandado o pelotão do ciclismo português, teve depois o FC Porto uma nova vaga de ciclistas de primeira fila em finais dos anos sessentas. Havendo então, a partir do êxito de Joaquim Leão em 1964, na Volta a Portugal (sucedendo ao "Tetra" de Carlos Carvalho, Sousa Cardoso, Mário Silva e José Pacheco, em quatro anos entre 1959 a 1962), bem como das vezes em que Mário Silva esteve por mais que uma outra vez com hipóteses de repetir o seu triunfo na Volta a Portugal de 1961 e em sucessivos anos surgido ocasiões interpretadas nas corridas de José Azevedo e Cosme Oliveira ao terem envergado a camisola amarela da Volta, voltou a haver uma aragem de sucesso, perante a velocidade empregada por novos valores. Como foram, entre outros exemplos, os casos de Gabriel Azevedo, José Luís Pacheco, Joaquim Leite e Custódio Gomes, de modo mais saliente. Como protótipos de ciclistas que deram asas ao anseio de retoma da anterior máquina de dar aos pedais, quão era o ciclismo do FC Porto em tempos áureos. 


Assim, na Volta de 1967 Gabriel Azevedo, depois de ter sido Campeão Nacional amador sénior, foi a grande revelação da Volta. E em 1968 ganhou o Grande Prémio Philips, tendo depois visto a tropa interromper-lhe a carreira, devido à intromissão do serviço militar, em tempo de guerra colonial, até ter regressado para outras voltas. 


De permeio foram aparecendo mais valores, cuja carreira se misturou em trajetos e fugas. Tendo então começado a aparecer José Luís Pacheco, que entre a família portista passou a ser mais referido por Luís Pacheco (para não haver qualquer confusão com o antigo ciclista José Pacheco, vencedor da Volta de 1962; eles que eram primos, e ambos do concelho de Santo Tirso, sendo o mais velho José Joaquim Pacheco e o mais novo José Luís Pacheco). Ora Luís Pacheco, ainda como amador, em 1968 foi o vencedor do Campeonato Regional da sua categoria etária. E a seu lado estava Joaquim Leite, que antes correra pelo Aldoar e no Académico, o qual, logo que ingressou no FC Porto ficou em 2º lugar no mesmo Campeonato Regional ganho pelo ciclista portista Luís Pacheco. Bem como os dois, por clubes, também foram Campeões Regionais. E seguidamente, os dois, Luís Pacheco e Joaquim Leite, junto com Custódio Gomes, em equipa, foram “Campeões Nacionais de Amadores.


Essa fase de renovação foi porém interrompida, a determinada altura, ainda na presidência de Pinto de Magalhães e função dirigente de Venceslau Teixeira, entre outros seccionistas, quando a Secção de Ciclismo do FC Porto passou por fase de saída de alguns desses elementos que foram reforçar uma equipa adversária. Apesar disso, pelo que fizeram enquanto representaram o FC Porto e porque a história não se apaga, esses mesmos, e os outros que se mantiveram sempre no clube, fazem jus a figurarem de pleno direito na memória portista.


Assim sendo, indo por partes, fazemos aqui devidas referências individuais, a preceito.

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Gabriel Azevedo, de nome completo Gabriel Moreira de Azevedo, nasceu a 11 de Dezembro de 1947, na freguesia de Macieira, concelho de Vila do Conde. Iniciara a carreira de ciclista em 1963 e retirou-se em 1974 (aquando da circunstância do FC Porto ter então deixado de ter equipa profissional, por algum tempo).

Antes disso, Gabriel Azevedo apareceu em grande no ciclismo, primeiro como Campeão Nacional Amador Sénior e depois com estreia na Volta a Portugal em bom plano, em 1967, considerado mesmo a grande revelação entre os novos participantes da Grandíssima portuguesa. Assim como, de embalada, venceu em 1968 o Grande Prémio Philips, importante prova que ao tempo passou a ser considerada a segunda prova mais importante por etapas, a seguir à Volta.

Essa pedalada forte foi interrompida, infelizmente, com a ida para o serviço militar obrigatório, em 1969, rumando para a guerra em África, mobilizado que foi para a Guiné. Não tendo assim já participado na Volta de 69, que o FC Porto venceu por equipas. 


Tendo Gabriel Azevedo sido ciclista profissional de 1967 a 1974, com esse intervalo durado de 1969 a 1971 para cumprir a tropa na Guiné. Regressado por fim retomou a carreira ainda por alguns anos. Na soma total, de antes e depois, participou em 6 Voltas a Portugal, sempre com a camisola do Futebol Clube do Porto, equipa que ajudou com seu esforço de trabalhador profissional em prol do coletivo.


Depois de ter deixado de correr oficialmente, manteve-se ligado ao ciclismo, quer de competição como na formação, primeiro como treinador de diversas equipas, ao nível dos escalões jovens, como depois a mecânico e ainda a condutor de vários carros de apoio de âmbito oficial, como neutro e do carro médico. Bem como, entretanto, acresceu serviço organizativo, tendo na dedicação ao ciclismo sido também Vice-Presidente da Associação de Ciclismo do Porto durante alguns anos e ainda Comissário Nacional.


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Joaquim Leite, de nome completo Joaquim de Magalhães Leite, nasceu em 18 de Março de 1945, na freguesia de São Clemente, concelho de Celorico de Basto. Tendo passado a residir na área do Porto, entretanto. Provindo de equipas amadoras como o Aldoar, e passado pelo Académico, equipa de tradição mas já em decadência na modalidade, Joaquim Leite ingressou no FC Porto em 1968 e de imediato mostrou ao que vinha, sagrando-se Campeão Nacional de Amadores, ao lado de Luís Pacheco e Custódio Gomes; e na mesma categoria também foi Campeão Regional por Clubes. Depois, correndo pelo FC Porto em corridas realizadas em território espanhol, na Volta às Astúrias obteve o 2º lugar no Prémio da Montanha e foi 1º em igual prémio na Volta a Tarragona, sagrando-se Rei da Montanha dessa prova. Com tão boas prestações que de amador passou a profissional e logo participou na Volta a Portugal. Entretanto, sagrou-se Campeão Nacional de Clubes, em profissionais, ao lado de Mário Silva e Luís Pacheco, tal como Campeão de Perseguição por equipas. No ano seguinte, em 1969, foi novamente Campeão Regional por equipas, a par de Joaquim Leão e Luís Pacheco, assim como nesse ano, em 1969, ganhou a Taça da Associação de Ciclismo do Porto e conquistou o 1º lugar coletivo no Grande Prémio Regional, na classificação por equipas. De seguida foi 1º no Grande Prémio Riopele (tendo sido 8º no G P Philips ganho pelo colega de equipa Luís Pacheco). E nesse mesmo ano, na Volta a Portugal de 1969 contribuiu para a vitória do FC Porto por equipas (cuja atribuição só foi oficialmente validada meses depois, tendo a taça sido recebida, e consequentemente mostrada ao público na pista das Antas, já quando alguns ciclistas, por diferentes motivos, não estavam na equipa).

= Volta de honra da equipa de ciclismo do FC Porto a mostrar ao público a taça da Vitória Coletiva, da classificação por equipas, na Volta de 1969. Durante o intervalo do jogo de futebol entre F. C. Porto e Setúbal a contar para o Campeonato Nacional da então 1ª Divisão de futebol de 1969/70, a 1 de Março de 1970. Já não estando na equipa Mário Silva, que tinha ido para Moçambique como ciclista e treinador da Fagor; enquanto Duarte Ribeiro e António Carvalho já não representavam o clube. Indo a taça na mão de Hubert Niel, treinador-corredor da equipa, ao tempo, ladeado por Manuel de Sousa, Joaquim Leite, Cosme de Oliveira, José Luís Pacheco, José Azevedo e Joaquim Leão. =

De permeio Joaquim Leite, em 1970, junto com Luís Pacheco e José Azevedo, representou a seleção nacional, tendo participado no Campeonato do Mundo de estrada em Leicester.

Também em 1970 Joaquim Leite teve a sua grande vitória, ao ter vencido a clássica Porto-Lisboa, triunfando categoricamente nessa longa corrida que se realizava então e desde há muito, vencendo no arranque final da prova terminada em Lisboa, em pleno dia feriado nacional do 10 de Junho, com meta na pista do antigo estádio de Alvalade. Aí, no final dessa que era a 40ª edição de tal clássica corrida, Joaquim Leite levou a camisola do FC Porto a passar à frente na meta de tão popular prova. Fazendo história, na sucessão de anteriores vitórias do clube, sendo que antes, em 40 edições, haviam vencido 10 ciclistas do FC Porto, sendo assim, ao tempo, Joaquim Leite o 11º portista a triunfar no Porto-Lisboa.  


Nesse mesmo ano Joaquim Leite foi ainda 2º classificado no Troféu Jornal de Notícias. Ao passo que em 1972 chegou a ser camisola amarela na Volta a Portugal, numa das corridas cujo início deu grandes alegrias aos adeptos portistas. Depois disso deixou de representar o FC Porto, mudando-se para o Benfica, em 1974.


Na soma de sua carreira, enquanto ciclista do FC Porto, além de cinco participações na Volta a Portugal, foi também por 3 vezes campeão nacional por equipas em pista e estrada, 2 vezes campeão nacional de velocidade e uma de rampa. Venceu inúmeras outras provas de âmbito regional. Na soma total, por fim, participou em 8 Voltas a Portugal. Tendo alongado suas corridas em representação de variadas equipas, como Coimbrões, Aldoar, Estarreja, Académico do Porto, F C Porto e Benfica, tendo terminado a sua carreira de ciclista na época de 1976.

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José Luís Pacheco nasceu a 3 de Abril de 1948, na freguesia de Água Longa, concelho de Santo Tirso.

Iniciou a atividade de ciclista em 1967, tendo abandonado em 1978. Inicialmente, como amador de 2ª, foi campeão regional e nacional de rampa, campeão regional e nacional de perseguição por equipas em pista e campeão de perseguição em pista. Como amador de 1ª foi campeão regional de fundo e campeão regional e nacional de contra-relógio por equipas.

Passado a profissional foi também campeão regional e nacional de contra-relógio por equipas. Tendo participado em muitas provas, entre as quais foi ganhando algumas.

A sua carreira tem diversos pontos de convergência com colegas seus contemporâneos no FC Porto, como acima foi referido, na parte de outros deles. Assim logo em 1968 Luís Pacheco, ainda como amador, foi o vencedor do Campeonato Regional da sua categoria etária. E a seu lado estava Joaquim Leite, que ficou em 2º lugar. Bem como os dois, por clubes, também foram Campeões Regionais. E seguidamente, os dois, Luís Pacheco e Joaquim Leite, junto com Custódio Gomes, em equipa, foram “Campeões Nacionais de Amadores. Após passagem a profissional, ainda em 1968 Luís Pacheco sagrou-se Campeão Nacional de Clubes, em profissionais, ao lado de Mário Silva e Joaquim Leite, tal como Campeão de Perseguição por equipas. No ano seguinte, em 1969, foi novamente Campeão Regional por equipas, a par de Joaquim Leão e Joaquim Leite.

Em 1969 venceu o Grande Prémio Philips, tendo tido verdadeira apoteose na chegada ao Porto, ao fim das diversas etapas dessa prova, sendo muito vitoriado no estádio das Antas, em cuja pista estava a meta final e houve perante o público das bancadas o cerimonial protocolar e a tradicional volta de honra.


Nesse mesmo ano, na Volta a Portugal José Luís Pacheco obteve o 5º lugar na classificação geral, tendo chegado a ter boas hipóteses de triunfar, não fosse uma avaria mecânica que impediu que tivesse continuado na frente da fuga na etapa da serra da Estrela. Como dizia um jornal (cuja imagem de recorte se junta) a afirmar que Luís Pacheco podia ter ganho essa Volta, depois de grande corrida feita na subida à Estrela, em que esteve até esse momento sempre junto aos melhores e chegou ainda a dar esperanças publicamente de poder alcançar a camisola amarela. Cuja sua boa prestação e as de Mário Silva e restantes colegas, afinal, contribuíram para a vitória final por equipas.

Eis algumas imagens dessa escalada célebre pela serra da Estrela acima - conforme está guardado em arquivo do autor, da lavra de então jovem adepto do ciclismo portista....


Fruto de sua boa época anterior e continuidade seguinte, Luís Pacheco representou a Seleção Nacional nos Campeonatos do Mundo de Estrada Leicester (em 1970) e em Mendrizio (1971).


Em 1974, junto com Joaquim Leite, transferiu-se para o Benfica, até terminar a carreira. Também depois de largar a bicicleta, oficialmente, passou a estar ligado ao ciclismo como colaborador, sendo atualmente o Presidente da Associação de Ciclismo do Porto.

= José Luís Pacheco, como Presidente da ACP, junto com o presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo e individualidades presentes, como o presidente da Câmara Municipal de Felgueiras e a histórica campeã olímpica de atletismo Rosa Mota, na largada da etapa Felgueiras-Mondim (Senhora da Graça), no penúltimo dia da Volta a Portugal de 2018. 

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Custódio Gomes, nascido a 24 de Junho de 1949. Residente em Souto-Vila da Feira há muito.

Iniciou suas andanças no ciclismo em 1962, com 13 anos, na equipa Ovarense, correndo com seu irmão Anselmo, ciclista então já de escalão maior. Aí, no decurso desses primeiros anos, Custódio Gomes e Anselmo Gomes foram ganhando diversas corridas, a pontos de terem despertado as atenções do FC porto. E, então, os dois irmãos foram para o FC Porto, mas passados dois meses o Anselmo abandonou as corridas e ficou só o Custódio, que foi inscrito oficialmente em 1967 na Federação Portuguesa de Ciclismo.

Tendo começado como Amador de 2ª ganhou várias provas, entre as quais o Prémio Vilar, uma das corridas disputadas aos domingos. Tendo entretanto feito várias provas extras para poder ascender rapidamente a Amador de 1ª. Ainda como Amador participou pelo FC Porto em Espanha, também, nas Voltas a Salamanca, a Tarragona, às Astúrias e a Pontevedra e em todas elas venceu etapas, como bom sprinter que já mostrava ser. Depois disso depressa passou a sénior, tendo já participado na Volta a Portugal de 1968.


Na sua primeira Volta a Portugal, em 1968, venceu o prémio das Metas Volantes, como 1º da geral da respetiva classificação. Sendo então as metas volantes a sua especialidade, venceria depois mais vezes. 

De seu currículo desportivo ficou a constar como suas melhores classificações que: Em 1969 foi 3º no Lisboa-Porto; em 1972 venceu novamente a geral das Metas Volantes na Volta a Portugal; em 1973 venceu 1 etapa na Volta a Aragon, em Espanha; e em Portugal venceu o Circuito da Mealhada, assim como foi 2° no Grande Prémio do Estoril e venceu o Grande Prémio do Couto, no qual triunfou também numa etapa. Até que em 1974 venceu uma etapa na Volta a Portugal, na meta final instalada em Lousada (em dia que o autor destas linhas, residente perto, no vizinho concelho de Felgueiras e ao tempo a estudar em Lousada no Externato Eça de Queirós… estive pessoalmente com Custódio Gomes e Gabriel Azevedo, mais tarde, ao início da etapa da tarde, saída precisamente também de Lousada).


Ora, durante a mesma época de 1974, Custódio Gomes já havia vencido a Taça Ambar, e de permeio venceu mais o Grande Prémio Matos Rodrigues, enquanto no Grande Prémio do Couto venceu duas etapas, classificando-se no final em 2º lugar da geral individual.

Enquanto isso, como o próprio conta no livro “Santa Maria da Feira-Terra de Dragões”, da autoria de Roberto Carlos Reis, ele venceu mais prémios de metas volantes da Volta a Portugal. E relembra ainda, a propósito da etapa ganha na Volta a Portugal «precisamente no ano de 1974, ano em que o ciclismo levou uma reviravolta, porque os clubes do Norte abandonaram a Volta, devido a suspeitas de fraudes relacionadas com doping por parte das equipas do sul, e nesse ano terminou também o profissionalismo» (temporariamente, recorde-se).

= Equipa do FC Porto composta por (a partir da esquerda):  Mário Silva, Hubert Niel, José Azevedo, Joaquim Leite, Custódio Gomes, José Luís Pacheco e Cosme de Oliveira.

Entretanto, no decurso da sua carreira, Custódio Gomes foi «campeão regional de pista 15 vezes e Campeão Nacional 8 vezes. Obteve ainda um 3º lugar no Lisboa-Porto de 1974, sendo o melhor português nessa edição de tal antiga clássica. Em 1974, após os acontecimentos que alteraram o ciclismo em Portugal, Custódio Gomes, depois de oito anos no FC Porto, foi para a Venezuela, onde esteve dois anos, no primeiro ano como corredor e no segundo como treinador, ao serviço da União Ciclista de Portugal, com várias vitórias, tendo ali terminado a carreira.

Havendo-se mantido ligado por algum tempo ao mundo do ciclismo, foi ele quem descobriu e incentivou Belmiro Silva, mais tarde também ciclista do FC Porto e posteriormente vencedor duma Volta a Portugal.


Sendo que esses tempos eram de mudança, quando na música surgiam acordes de yé-yé para o rock, na literatura apareciam novos pensadores e na política os ventos provindos da guerra colonial eram abafados, enquanto no ambiente social apareceu a Primavera Marcelista… ficaram então estes, Gabriel Azevedo, Luís Pacheco, Joaquim Leite e Custódio Gomes, como assim, qual quarteto da vaga primaveril do ciclismo portista da transição da década de sessenta para os anos setentas. Mas tal como na política, o ciclismo com suas transformações, estava ainda em fase indefinida e transitória.

Armando Pinto
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