sexta-feira, 19 de julho de 2019

Taça e sucessora Copa Ibérica


Nesta sexta-feira de meio de julho, do corrente ano de 2019, em plena fase de pré-época para 2019/20, a equipa principal de futebol do FC Porto realiza hoje o segundo jogo amigável da nova temporada perante a equipa espanhola do Bétis, no Estádio Municipal de Portimão. O embate faz parte da primeira edição da Copa Ibérica, torneio quadrangular que inclui ainda mais uma formação portuguesa, o anfitrião Portimonense, e outra do país vizinho, o Getafe.


Amanhã, também ao fim da tarde e princípio da noite de sábado, os dois conjuntos hoje ainda de folga, Portimonense e Getafe, decidem qual será o adversário do vencedor do duelo entre Dragões e Verdiblancos para a final de domingo.


Estando-se ainda em período de experiências e acertos, de estudo e análise, o ambiente é também de relação entre o passado presente e o presente futuro, nas esperanças e anseios do mundo azul e branco. Como consubstanciam as imagens, relativas ao homem que marcou o golo do primeiro jogo visionado desta temporada e o que transparece já perante um dos jovens em que se depositam boas perspetivas.


Ora o adversário da meia-final, o Real Bétis, é um clube com ligações interessantes ao FC Porto, desde tempos remotos. Além de mais tarde, pelos idos de finais da década de setenta, haver ficado na lembrança portista por ter tido a envergar durante algum tempo a sua camisola das riscas verdes o António Oliveira, ido do FC Porto. O qual, com saudades que nesse tempo o clube lhe provocava, depressa regressou às Antas, depois.


Quanto à ligação de maior história, como os portistas recordam, a propósito desta reedição, agora com outro nome, “são boas as memórias portistas face ao Bétis. A 7 de julho de 1935, no velho campo do Ameal, na cidade invicta, o FC Porto bateu este clube andaluz por 4-2, com três golos de Pinga e um de Pocas, para conquistar a primeira edição da Taça Ibérica e garantir ao futebol português o primeiro troféu além-fronteiras. Na atualidade, tal como na ocasião, são as proezas do clube azul e branco que continuam a dar maior prestígio ao futebol português no estrangeiro.”

Na pertinência da ocasião, no presente da Copa Ibérica organizada em parcerira das Liga Portuguesa e Espanhola, recorda-se o que aqui já foi lembrado sobre o mesmo facto, aquando da efeméride desse acontecimento de outros tempos:


Julho, mês de bons acontecimentos na profusão permitida pelo tempo quente, costuma ser mais associado como período de férias para muita gente, enquanto a nível desportivo normalmente é referenciado ao ciclismo, pela época de competições de proximidade à Volta a Portugal, mas por vezes o futebol retém atenções. Como nas temporadas dos campeonatos europeus e mundiais de seleções e em tempos também outras provas de importância para o tempo.

Assim foi, por exemplo, no ano de 1935 – em que no dia 7 de Julho o FC Porto, então também campeão nacional, venceu o Bétis de Sevilha, campeão espanhol, num amigável considerado como a "Taça Ibérica". Tinha o FC Porto uma equipa de grandes valores, como Pinga, Carlos Nunes, António Santos, Valdemar Mota, Soares dos Reis, Avelino, Pocas, Carlos Pereira, Jerónimo, Carlos Mesquita, João Nova, Castro e Cª, em que praticamente quase todos foram à seleção nacional, o que era e é caso raro; porque como é sabido, para um portista ser chamado à equipa da Federação Portuguesa de Futebol tem de ser mesmo muito bom, não bastando mais, mas sim muitíssimo superior aos outros.


Pois esse facto e tal feito ocorreu então nesse dia que em 1935 foi a um domingo.

 « Domingo, 7 de julho de 1935: o Porto é hoje a capital do futebol da Península. No Campo do Ameal estão 15 mil espectadores, autoridades civis, militares e consulares, para assistir à primeira edição da Taça Ibérica, a prova que opõe o campeão de Portugal ao de Espanha. O FC Porto joga com o Bétis e chega ao intervalo a ganhar por 1-0, com um golo de Pocas, médio em estreia absoluta na equipa de Szabo. No reatamento, Pinga eleva rapidamente a marca para 3-0, os andaluzes ainda reduzem, com dois golos em dois minutos, mas não conseguem parar Pinga nem evitar que ele estabeleça o 4-2 final. Aplausos para o primeiro campeão ibérico, recém-consagrado campeão da I Liga, que também era o primeiro vencedor Campeonato de Portugal e que depois conquistaria o primeiro Campeonato Nacional da I Divisão e ainda a primeira edição oficial da Supertaça. Sempre o primeiro.»


Tamanha ocorrência, para o tempo, merece mesmo ser relembrada, de modo a que seja conhecida. Como noutros tempos até era, mas não na comunicação social comandada pelo clube do regime... Embora num livro editado há anos pelo jornal A Bola, pela pena do grande jornalista e igualmente investigador António Simões, haja referência a isso mesmo - como recortamos para aqui, a dar efeito da justa rememoração.


Assim, ilustra-se o tema com esta lembrança alusiva, através de recorte da parte respeitante ao FC Porto na obra publicada pelo jornal A Bola, "Glória e Vida de 3 Gigantes".

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ADITAMENTO:

Sobre este mesmo tema já havia o autor escrito também um artigo no antigo blogue pessoal (“Lôngara…), o tal que há anos foi anulado da internet por adversários, por não convir ao sistema que haja memória... em cujo espaço atualmente apenas aparecem mensagens estrangeiras!

Também, igualmente sobre o mesmo assunto foi publicado em 2014 um texto muito completo na rubrica “Os Imortais”, da edição de abril desse ano da “Dragões”, revista oficial do FC Porto. Do qual, em homenagem ao grande jornalista e investigador Victor Queirós, um dos elementos da equipa que teve papel relevante na instalação do Museu FC Porto By BMG,  para aqui transpomos o mesmo artigo, em reforço desta jornada gloriosa do FC Porto.


« TRÊS GOLOS DE PINGA, UMA GOLEADA E A PRIMEIRA TAÇA IBÉRICA

A 7 de julho de 1935, o FC Porto venceu o Bétis e a primeira prova que opôs os campeões de Portugal e de Espanha

Por Victor Queirós

O imortal FC Porto de Szabo acumulou registos impressionante através da bravura de equipas preparadas para atacar: O Real Bétis Balompié e outros campeões espanhóis acabaram vergados ao poder de linhas atacantes constantemente renovadas e com uma capacidade ímpar para marcar. Só Pinga fez três dos quatro golos da vitória na primeira edição da Taça Ibérica, disputada em 1935.

Historicamente, foi o FC Porto quem desbravou os caminhos de todas as principais competições regionais e nacionais. Desbravou-as e conquistou-as. Essa queda especialíssima para vencer todas as primeiras edições das provas prioritárias criadas em Portugal estendeu-se à Taça Ibérica, prova de referência em que a capacidade dinamizadora do FC Porto do século XX esteve sempre presente.

É com um orgulho natural que o FC Porto olha para a História e se revê vencedor do primeiro Campeonato de Portugal (1922), do primeiro Campeonato da I Liga (1935), do primeiro Campeonato Nacional da I Divisão (1939) e da primeira edição oficial da Supertaça (1980/81). E, ao alargar das fronteiras, da primeira edição da Taça Ibérica, a 7 de Julho de 1935.

A vocação para fazer história resume essa rara qualidade do FC Porto, capaz de se impor em qualquer circunstância, mesmo desconhecendo em rigor o real valor dos adversários, como era o caso do Real Bétis Balompié, o campeão espanhol que defrontou o campeão português na primeira edição da Taça Ibérica, sendo de notar que, por esses tempos, Espanha era vista como uma das maiores potências europeias e “sovava”, regularmente, a selecção portuguesa em goleadas que chegaram a atingir os 9-0…

Um dos grandes méritos do FC Porto ao longo de mais de um século de existência foi essa invulgar capacidade de rasgar fronteiras, como voltou a ficar provado no triunfo sobre o poderoso Bétis, com os temíveis goleadores Simon Lecue e Victorino Unamuno. O último transferiu-se, mais tarde, para o Atlético Aviación (hoje Atlético de Madrid), marcando golos atrás de golos no campeonato espanhol.

Mas o FC Porto de Szabo, o primeiro campeão da I Liga, já era uma equipa do mundo. Desde 1930, adquirira a boa prática de abater os melhores conjuntos europeus e mundiais e, na coleção particular de vítimas de primeira grandeza, estavam os campeões da Hungria, da Checoslováquia, da Áustria, ou o invencível Vasco da Gama de 1931.

Entre 1930, após a entrada de Pinga, e 1935, com a fusão do trio Waldemar-Pinga-Acácio, ninguém escapou ao poder de fogo deste trio infernal e a primeira edição da Taça Ibérica seria, com alguma naturalidade, marcada por mais uma poderosa demonstração de superioridade do FC Porto e, em particular, de Pinga, autor de três dos quatro golos que derrotaram o campeão espanhol.

Num Ameal superlotado de público e de autoridades civis, militares e consulares, o FC Porto chegou ao intervalo a vencer por 1-0, com um golo fortuito, raro e feliz, de área a área, obtido por Pocas, médio transmontano em estreia absoluta. No reatamento, Pinga elevou rapidamente a marca para 3-0.

Um breve lapso de evasão, associado à qualidade da equipa espanhola, permitiu que Caballero e Unamuno, no espaço de apenas dois minutos, reduzissem para 3-2. Sentindo o perigo, Pinga sacou do seu inesgotável arsenal mais uma diabrura e bateu Urquiaga para estabelecer o 4-2 final, muito mais concordante com a realidade do jogo e, ainda assim, vagamente lisonjeiro para o Bétis.

Estava encontrado o primeiro campeão ibérico. Pena que a eclosão da Guerra Civil espanhola tenha congelado a prova e perturbado a realização dos campeonatos espanhóis, cujos vencedores não foram reconhecidos durante o período (1936-1939) em que o conflito não deu tréguas.

O facto de as autoridades desportivas espanholas não terem atribuído oficialmente o título nesses três anos impediu que se colasse ao jogo o rótulo formal de segunda Taça Ibérica. Mas que houve taça, lá isso houve… E mesmo sem Taça Ibérica oficial (só reatada em 1984), a tradição ainda se manteve por alguns anos.


O FC Porto era o alvo preferido dos campeões espanhóis e, além de derrotar várias vezes o orgulhoso Real Madrid nos anos 1940 e 1950, seria uma vez mais a primeira equipa portuguesa a bater, em Espanha, um campeão espanhol: o Valência, em Outubro de 1947.

Este Valência, que dominou a década de 1940 (três títulos e duas Taças do Rei) era um brutal ministério de atacantes comandado pelos imortais Edmundo Suárez e Epifanio Fernández, dupla de área que ganhou o apelido de “ataque eléctrico”, ainda assim incapaz de eletrocutar o FC Porto do argentino Eladio Vaschetto, também ele um colossal ex-avançado da escola do River Plate, com centenas de golos espalhados pelo Rive, pelo Colo-Colo (Chile) e pelo Puebla (México), três dos grandes sul-americanos do século XX.

FC Porto-Bétis, 4-2
Campo do Ameal, no Porto
7 de Julho de 1935 (15h00)
Assistência: 15.000 espectadores
Árbitro: José Pereira (Coimbra)

FC PORTO: Soares dos Reis; Avelino Martins, Jerónimo; Nova, Pocas, Carlos Pereira; Waldemar Mota, Pinga, António Santos, Carlos Nunes, Carlos Mesquita
Jogaram ainda: Álvaro Pereira, Raul e Castro
Treinador: Joseph Szabo

BÉTIS: Urquiaga; Arego, Aêdo; Peral, Gomez, Lecue; Saro, Adolfo, Unamuno, Caballero, Valera.
Jogaram ainda: Timimi, Espinosa e Fernandez
Treinador: Joseph O’Connell

Ao intervalo: 1-0
Marcadores: Pocas, Pinga (3); Caballero e Unamuno

Quando Jerónimo pagou a viagem a Szabo

Nos oito excecionais primeiros anos em que comandou o FC Porto (1 Campeonato de Portugal, 1 Campeonato da I Liga, 7 Campeonatos do Porto), Szabo, médio internacional húngaro que foi jogador e treinador do FC Porto nos dois primeiros anos (1928 e 1929), viveu muitas vezes longe da família, já que a esposa preferia ter os filhos na Hungria. Mas, à altura, nem os mais reputados técnicos de então ganhavam o suficiente para se permitirem ao luxo de viagens regulares aos países de origem. Sem fundos para ir conhecer o último filho, que nascera seis meses antes em Budapeste, a prenda de Szabo pela conquista da Taça Ibérica foi o mais singelo acto de amizade: Jerónimo, defesa internacional portista gerado no seio de numa família de posses, pagou a viagem ao treinador em nome da equipa.

985 golos com Szabo no banco

O primeiro período de Joseph Szabo no FC Porto (1928 a 1935) foi o mais produtivo da história do FC Porto. Golo era o credo de Szabo e, nesses oito anos, a sua equipa marcou 509 golos! Uma barbaridade que se explica de forma objetiva: dispunha de atacantes como Pinga, Waldemar Mota, Acácio Mesquita, Norman Hall, Simplício, Balbino, Lopes Carneiro, Carlos Mesquita, Carlos Nunes e António Santos, jogadores com lugar em qualquer passeio da fama de qualquer grande clube mundial. Noventa anos depois, Szabo ainda é o treinador com mais golos na história do FC Porto: 985, em 306 jogos oficiais. Contabilizados os jogos particulares (790 golos), a conta atinge os 1775 golos. Brutal. »

Armando Pinto
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Post Scriptum: E o FC Porto chega à final desta prova, passando o Bétis através de vitória no desempate por grandes penalidades.

Podendo dizer-se que não é o mais importante, visto estes jogos interessarem como preparação, é sempre melhor ganhar e passar adiante. E assim, após empate no tempo regulamentar, num bom jogo, mediante as muitas substituições que também são normais, interessou que desta vez foi finalmente quebrada a “malapata” dos penaltis e o FC Porto venceu, passando à final!

A. P. 

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