Honrosa e glorificante tem sido a presença do F C Porto em
todos os momentos mais significativos para o desporto luso, desde que na
primeira seleção nacional de futebol logo esteve um representante do F C Porto,
passando pelas sucessivas prestações nos Jogos Olímpicos, nos Europeus e Mundiais
de futebol sénior e categorias de formação, etc. até à inclusão Portista nas
seleções militares. E, extensivamente, ainda em momentos de prestação bélica,
na necessidade de comparticipação na defesa dos interesses nacionais,
igualmente o F C Porto prestou sua quota-parte, marcando também presença
dignificante pela Grei, através de representantes do clube que souberam dar seu
contributo e inclusive o sangue ao serviço da Pátria.
Honras merecem esses heroicos bravos soldados também quase desconhecidos,
sendo tal préstimo em benefício da identidade coletiva. Havendo notícias de
comparticipação na Primeira Grande Guerra Mundial, por meio de homens que
entretanto haviam defendido a camisola do F C Porto e depois rumaram a campos
de batalha onde foi preciso seu esforço bélico, em prol dos ditames nacionais.
Cobrindo-se de glória também, nesse outro mérito, em resposta à chamada da
Pátria, cuja política fez incluir Portugal nessa luta internacional.
Desses bravos homens de armas, que integraram as lutas das
trincheiras, estiveram mesmo destemidos soldados-atletas do F C Porto, rogados em
serviço militar obrigatório e como tal incorporados no corpo expedicionário, uns
que voltaram mais tarde e um que não chegou a regressar - o então Tenente e depois Capitão Vidal Pinheiro, por haver caído morto
em pleno ato de bravura. Com honra e glória a esse Portista falecido, deixemos discorrer
algumas páginas em que estão narradas derivadas ocorrências.
Talvez pelo comprazimento derivado da época, sendo esse um tempo de afirmação física de homens de barba rija, terminada a guerra mundial e no rescaldo das movimentações guerrilheiras, houve profusa criação de agrupamentos tendentes a exercitar as destrezas sobejastes. Tendo, por essa altura, dentro das atividades do clube, também havido um departamento relacionado, como foi a secção de Tiro de Guerra, não com objetivos militares mas de uso de armas belicosas – conforme dá conta um trecho da história do F C Porto.
Mais tarde, passadas outras guerras, em que naturalmente
foram mobilizados alguns dos representantes do F C Porto, igualmente o clube
esteve noutros campos, como no aspeto desportivo representante dos setores
beligerantes. Assim, tendo havido equipas representativas de nações com
formações combatentes, na seleção nacional militar foram incluídos mancebos
Portistas que, ao tempo, estavam na tropa. Havendo num dos anos, em que houve
competições a esse nível, Portugal vencido a prova respeitante, inclusive com um
futebolista do F C Porto portando-se como principal obreiro desse feito. Aconteceu
isso no Torneio Europeu Militar realizado em 1958, com a presença de três então
jovens jogadores do F C Porto, Barbosa, Miguel Arcanjo e Hernâni. Dos quais se
salientou de modo especial Hernâni Ferreira da Silva que, além de capitanear a
equipa, foi o principal goleador e até marcou o golo decisivo na final.
Desse acontecimento desportivo, mas de carácter militar, já
demos anteriormente alguma ênfase num outro artigo, noutro dos nossos espaços
aqui na blogosfera. Acrescentando agora, como ilustração, mais duas imagens
correspondentes, como são a gravura cimeira deste post, com todos os elementos fardados,
e o cliché aqui anexo, na apoteose do herói do encontro…
Passados esses jogos e movimentos de acalmia, deparou-se
depois a guerra colonial, durante cujo período muitos foram os Portistas também
apurados, ou seja considerados aptos para a guerra, forçando a longas ausências
e consequente enfraquecimento da equipa. No que o F C Porto não podia lutar com
armas idênticas aos adversários das disputas desportivas, como é sabido…
Quanto a isso, para não jurarmos em vão, deixemos falar Jorge
Vieira, antigo dirigente do futebol do clube, na sua recordação já dum período
de finais dos anos sessentas e inícios da década de setenta – como narra no seu
livro “Pedroto, Cubillas e muito mais…”:
Apesar desse tratamento oficial, nunca o F C Porto fugiu de
desempenhar seu papel compatriota nas inerentes participações relacionadas,
como eram as oficiais ações de ânimo nacional, em digressões às então colónias,
onde se desenrolavam operações da guerrilha e defesa. Como serve de exemplo um
ato protocolar de que dá conta um instantâneo coevo, vendo-se alguns elementos
da comitiva do F C Porto que foram em digressão a Angola, corriam ventos de
mudança no teatro de guerra, em 1972. Tendo aí a representação do F C Porto homenageado
os soldados portugueses, indo depor um “bouquet” de flores numa sepultura condizente
– como se nota na fotografia, vendo-se o capitão Pavão na incumbência da
missão, entre o então chefe de secção do futebol portista e um representante
das autoridades locais; na presença, mais atrás, de Rolando e Manhiça, e, ao
lado, também Helder Ernesto.
Dentro dessas atribuições de representatividade, noutras
deslocações oficiais também o clube se fazia representar ao nível de instâncias
superiores, conforme se prestavam os membros da respetiva delegação clubista quando
visitavam as províncias ultramarinas. Conforme acontecia no papel de
embaixadas, tal o caso duma digressão à Guiné, em 1974 (pouco antes do golpe do
25 de Abril), em que a representação do F C Porto, através do dirigente Jorge
Vieira e do futebolista Cubillas, apresentou cumprimentos às autoridades governamentais
à chegada a Bissau.
Entretanto diversos atletas de outras modalidades do
ecletismo portista também andavam na guerra ultramarina, lá pelas picadas do
capim africano. Alguns dos quais nossos conhecidos, que, desde Cabo Verde a
Timor, cumpriam tempo de mobilização, longe das famílias e do ambiente
desportivo, ficando as equipas respetivas deveras amputadas, até que se desse o
regresso.
Era esse um período conturbado, e ao mesmo tempo de características
muito próprias. A ponto de ter deixado algumas curiosidades afetivas também. Ajustando-se
certas circunstâncias ao fascínio das raridades, em visão posterior. Tal como
ficou na história, de modo particular pelos meios próprios que eram usados,
para efeitos compensatórios. Num âmbito em que havia, entre diversas
particularidades, os chamados aerogramas, uns desdobráveis que, depois de
colados, em arremedo de envelope, serviam para correspondência de porte gratuito.
E o autor destas linhas ainda recebeu alguns, como se demonstra por via dum
exemplar, na imagem junta…
Enfim, o F C Porto sempre esteve presente nos momentos
importantes da vida nacional e, como alguém disse, também onde se faz história.
Com gente que não vira a cara a nada, seja em lutas de guerras por missão de defesa de soberania
institucional, como nas pugnas desportivas dentro dos campos de competição.
Armando Pinto
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Nota: A propósito, confira-se
(clicando no link) em
A.P.
Uma perspectiva interessante da relevância que tiveram figuras conotadas com o FC Porto na História da Nação Portuguesa.
ResponderEliminarAbraço.
Muito bem pensada a homenagem e recordação de vivos e falecidos quando está a chegar o fim de semana dos santos e defuntos, que este ano temos de celebrar no domingo pelo governo da treta portuguesa nos ter tirado mais um feriado.
ResponderEliminarBem visto de modo estudioso mais um capítulo do que o nosso clube significa. O FC Porto na verdade tem importância em todos os sectores da vida pública e privada.
Essa dos aerogramas traz muitas recordações. Os mais novos desconhecem e a nós mais velhos faz-nos recordar outros tempos, de bons e maus momentos. Admira como não lhe pediram aerogramas e outras dessas coisas interessantes que tem para o museu, sabendo que doou muita coisa para o importante museu do Porto.
ResponderEliminarÉ sempre importante relembrar e dar a conhecer estes atletas menos badalados que passaram pelo F.C. Porto e que foram verdadeiros heróis nacionais.
ResponderEliminarNo caso do Capitão Vidal Pinheiro que é muitas das vezes confundido e o Eng. Vidal Pinheiro, o que dava nome ao estádio do S.C. Salgueiros.
Abraço