Reconstituição Histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Reconstituição histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Criar é fazer existir, dar vida. Recriar é reconstituir. Como a criação e existência deste blogue tende a que tenha vida perene tudo o que eleva a alma portista. E ao recriar-se memórias procuramos fazer algo para que se não esqueça a história, procurando que seja reavivado o facto de terem existido valores memorávais dignos de registo; tal como se cumpra a finalidade de obtenção glorificadora, que levou a haver pessoas vencedoras, campeões conquistadores de justas vitórias, quais acontecimentos merecedores de evocação histórica.

A. P.

segunda-feira, 18 de março de 2024

Recordando… De vez em quando: a apresentação pública de Alberto Teixeira, ainda Principiante – depois histórico futebolista dos anos 60 no FC Porto e mais tarde elo importante de ligação de Pedroto ao Clube…

Em meados da década dos anos 60 o jornal O Porto tinha uma rubrica de apresentação de jovens valores do futebol portista, através de crónicas de Artur Baeta, treinador das camadas jovens do clube nesse tempo. Sendo por esse meio que houve a primeira entrevista a Artur Jorge (já relembrada e memorizada nesta blogue, há alguns anos e mais recentemente aquando de seu falecimento) e, entre tantas mais, também teve pública apresentação Alberto Teixeira, então capitão da equipa de Principiantes. O Alberto que, depois de seguidamente ter passado pelos Juniores, escalão em que foi Campeão Nacional pelo FC Porto ao lado de Pavão e outros, subiu ao plantel sénior com Pedroto no comando e fez parte da campanha que quase levou ao Título em 1968/1969. Mais tarde, após ter passado por outras equipas e quando estava a jogar no Boavista, foi quem apresentou o treinador Pedroto a Jorge Nuno Pinto da Costa. Facto interessante e importante, apesar do que por vezes tem aparecido referido de modo diferente, com importância apreciável quanto ao que resultou depois no regresso do Mestre ao FC Porto, quando Pinto da Costa era Chefe do Departamento de Futebol, ao tempo da Presidência do Dr. Américo Sá.

Pois antes de tudo isso, mas revelando já algo do que era esse então jovem futebolista, o Alberto passou a ser mais conhecido da Família Portista através da sua apresentação pública em letra de forma, no jornal O Porto, em março de 1964. Cuja crónica se recorda, aqui e agora.

Armando Pinto

NOTA: - A propósito, recorde-se aqui (clicando) em

https://memoriaporto.blogspot.com/2021/02/como-pinto-da-costa-e-pedroto-iniciaram.html

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domingo, 17 de março de 2024

Aconteceu há 112 anos (17/03/1912): - A 1ª vitória do FC Porto em jogos de futebol com equipas estrangeiras – lembranças em imagens e legendas de Paulo Jorge Oliveira

A 17 de Março de 1912 o FC Porto conquistou a sua primeira vitória internacional (registada), contra o Real Vigo, por 4-1. Sendo tal "coisa" um acontecimento verdadeiramente histórico, a merecer fazer parte das melhores memórias do mundo portista, aqui se memoriza o facto, desse jogo que em 1912 deu o pontapé de saída nas vitórias em encontros de equipas do FC Porto com equipas estrangeiras. Desta vez deitando mãos e olhos ao que o amigo Paulo Jorge Oliveira publicou na sua página de Facebook e para aqui se transpõe, regista e partilha, com a devida vénia (Armando Pinto):

= «Anuncio que saiu no JN de 17 de março de 1912 a anunciar o cartaz do jogo internacional no Campo da Rainha que o FC Porto venceu o Vigo FC por 4 - 1. »


= «Vitória do FC Porto frente ao Vigo FC no antigo Campo da Rainha. (17/03/1912). FC Porto 4 - 1 Vigo FC. Em cima da esq. p/ dta. Magalhães Bastos, Peter Janson e Vitorino Pinto. Na fila do meio, Dr. Camilo Figueiredo, Allwood e Mário Maças. Em baixo pela mesma ordem, Camilo Moniz, Weber, Grant, Harrison e Ivo de Lemos. Treinador francês Adolphe Cassaigne.»

(Paulo Jorge Oliveira)

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sexta-feira, 8 de março de 2024

Falecimento de Vítor Gomes (1950-2024)

Faleceu Vítor Gomes, antigo futebolista do FC Porto que foi muito admirado como elemento importante da antiga formação do FC Porto, primeiro nos Juvenis, como saliente elemento da equipa que na época de 1965/66 pela 1.ª vez conquistou para o FC Porto o Campeonato Nacional de juvenis e depois nos Juniores do FC Porto que em 1967/68 venceu o Torneio Ibérico. Tanto que depois foi um dos mais novos jogadores a subir ao plantel sénior do FC Porto, em 1968/69. Tendo mais tarde ficado conhecido como jogador da Académica de Coimbra, para onde rumou de seguida ainda no antigo regime estudantil, continuando depois longa e interessante carreira por outros clubes, até ter acabado a carreira, que dividia com suas funções de professor do ensino normal.

= Época de 1965/66. Equipa de juvenis do FC Porto que pela 1.ª vez conquistou o Campeonato Nacional de juvenis, derrotando na final o Benfica por 1-0.

Quando jogava nos Juvenis e nos Juniores Vítor Gomes era já apreciado e tido em devida conta, como se notava pela braçadeira de capitão que lhe foi entregue.

E nos Juniores, fez parte de equipas valiosas nas quais andavam com a sagrada camisola das duas listas azuis jogadores que eram tidos como futuros craques, como o plantel que venceu o  Troféu do 1º Torneio Íbérico. 


O tema dá para recordar esses tempos, pois era um jogador cujo valor então estava considerado como muito prometedor e tinha boa imagem entre a família portista, como ao tempo era visto Vítor Gomes. Então jovem que dera nas vistas na equipa portista de juniores, ao lado de outros como Araújo, Helder Ernesto, Lemos, Chico Gordo, Abreu, Vitorino, Rui Ernesto, etc.

= Equipa de Juniores com Vítor Gomes (1.º da esquerda, em primeiro plano, com uma bola) entre aquela linha de grandes promessas…

E de seguida ascendeu aos seniores, em cujo escalão maior, ao tempo, foi um dos mais jovens a conseguir ser promovido, assim. De modo que entrou então de forma saliente para junto dos consagrados do plantel sénior. Tinha então 18 anos e cerca de mais 3 meses apenas. 

Teve estreia no plantel sénior em jogos para o Campeonato Nacional da 1ª Divisão à 6.ª Jornada da prova, na vitória por 2-0 sobre o Varzim, no estádio das Antas, a 6 de outubro de 1968 (entrando aos 45 minutos de jogo para o lugar do avançado brasileiro Djalma). 

Foi também um dos mais jovens (com 18 anos e 7 meses) a entrar em campo na equipa principal do FC Porto em jogos para as competições europeias. Tendo alinhado em ambos os jogos da 2.ª eliminatória da então existente Taça das Taças, na época de 1968/69, em novembro de 1968, nos jogos com o Slovan de Bretislava (no jogo da 1.ª mão substituindo o defesa polivalente Bernardo da Velha e na 2.ª mão a render o médio atacante Lisboa).

Teve então como ponto alto a digressão da equipa portista a Moçcambique, no período próximo da Páscoa de 1969, que faz parte das histórias dessa época.


Depois dessa temporada com Pedroto e António Morais no comando da equipa, Vítor Gomes ainda incluiu o plantel na época seguinte, durante a preparação da pré-época com Elek Schewartz.

De nome completo Vítor Fernando da Silva Correia Gomes, natural de Nogueira do Cravo, de Oliveira de Azeméis, terra em que nasceu a 22-4-1950, veio para o FC Porto com idade juvenil como avançado, atuando a extremo, e depois completou-se como médio de ataque. Após os anos de formação nos Juvenis e Juniores do FC Porto, integrou o plantel sénior do FC Porto em 1968/1969 e ainda em parte da época de 1969/1970, havendo efetuado 18 jogos pela equipa principal portista.

= Vítor Gomes atuando pela equipa principal do FC Porto em jogo contra o Varzim, na Póvoa.

Seguiu depois o caminho da Académica, ao abrigo da lei escolar, tornando-se mais conhecido no mundo da bola nacional ao serviço dos capas negras da Académica-OAF (Organismo Autónomo de Futebol), de onde passou para o União de Coimbra e depois encetou um périplo por diversas equipas, desde FC Penafiel, FC Famalicão, AD Sanjoanense, Recreio de Águeda, União da Madeira, UD Oliveirense, Real Nogueirense, FC Arouca e Bustelo, onde terminou a sua carreira de futebolista em 1985/1986.   

Após ter pousado as chuteiras, o Vítor Gomes ainda fez parte das Velhas Guardas do FC Porto, integrando equipas de antigos ídolos portistas, junto com Custódio Pinto, Nóbrega, Almeida, Valdemar e tantos outros desse seu tempo de jogador federado e de nossos tempos de adeptos atentos a tudo o que fosse e seja respeitante ao Futebol Clube do Porto. 


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O Vítor Gomes era um atento leitor e seguidor do blogue “Memória Portista”, como ele fazia questão de me transmitir. Tendo-o eu conhecido pessoalmente no Encontro do “Dia do Clube” realizado em Rio Tinto, em 2016. Ocasião em que logo ele me cumprimentou a dizer que me conhecia já pelo blogue. Sendo desse mesmo dia uma foto em que posaram juntos o Prof. Styliano, o Rolando, Vítor Gomes e Valdemar, que nessa reunião alargada de Portistas estiveram também, entre alguns dos antigos craques portistas ali presentes.

Vítor Gomes, nesse mesmo Dia do Clube, também no final do dia ainda se juntou a todos os presentes na foto de conjunto (estando do lado direito, junto ao Hélder Russo, Paulo Jorge Oliveira e a mim, que estou ao lado também do Albertino. mais novo mas igualmente ídolo de tempos passados).


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Pois agora chegou a notícia do falecimento de Vítor Gomes, infelizmente. Falecido na quinta-feira, dia 7. Desaparecendo assim mais um dos jogadores que admiramos naqueles idos anos da década de sessenta, quando foi formatado a preceito o nosso Portismo, enquanto o clube tinha dirigentes de entrega pura ao clube, treinadores carismáticos para sempre e jogadores resistentes, de autêntica fidelidade, nesse tempo de difícil competição com os rivais protegidos do regime.

Com efeito, entre notícias com que não se contam e aparecem de supetão, chegou esta sexta-feira tal notícia do falecimento do Vítor Gomes. Parte pois deste mundo um bom amigo, um seguidor do blogue "Memória Portista" e um simpático personagem do mundo portista e desportista. 


Descanse em paz.

Até sempre!

Armando Pinto

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NOTA: As fotos sem marca (e algumas com margens) são publicadas respeitando a feição da origem, conforme foram publicadas na página de Facebook do próprio Vítor Gomes. Enquanto as imagens com marca são de arquivo pessoal e particular do autor deste blogue.

ARMANDO  PINTO 

quarta-feira, 6 de março de 2024

Lembrando Américo Lopes no aniversário da Clínica que fundou – (em) “Boa Hora"!

 

A 6 de março de 1989 Américo, o antigo guarda-redes “Baliza de Prata” do FC Porto, fundou uma clínica médica a que deu nome de “Clínica Boa Hora”. Então criada oficialmente no dia de calendário em que uns bons anos antes, no ano de seu nascimento, em 1933, ele havia sido registado civilmente e como tal ficou a constar primeiro na Cédula, como era mais usual nesse tempo, e depois no seu Bilhete de Identidade.

= Américo com a "Baliza de Prata", troféu instituído pela Agência Portuguesa de Revistas e que Américo ganhou logo no primeiro ano de sua existência, como guarda-redes que menos golos sofreu em 1963/1964.

Efeméride esta, da fundação respetiva, que se refere apenas por iniciativa pessoal com intenção de enaltecer a vida e obra do “Américo do Porto”, através de mais essa sua faceta.

Não foi à toa a ideia desse dia, sendo o dia 6 de março, então, mais associado na documentação como dia de seu nascimento, embora tenha na realidade nascido a 27 de fevereiro, dia em que festejava seu aniversário natalício. Facto derivado de seu pai o ter registado dias depois da data verdadeira, como à época acontecia para não ser paga uma multa por atraso fora de prazo. Mas para efeitos legais e oficiais contava o dia 6 de março, como tal. 


Então, passados anos, cerca de vinte anos depois de ter acabado a carreira de futebolista (em 1969) e, depois de ter tido outras casas comerciais de diferentes ramos de negócios, e quando contava já 56 anos de vida, Américo Lopes lançou-se com novo e definitivo empreendimento, tendo fundado em 1989 uma clínica médica, em boa hora e a que deu o nome precisamente de Boa Hora  pelo seu bom nascimento e destinada a ser para boa hora de quem de seus cuidados precisasse. Como se tem verificado. Desde então, a partir desse dia 6 de março. Honrando sobremaneira a terra afetiva, São Paio de Oleiros, com essa dotação da Clínica que muito prestigia a vila.

Américo Ferreira Lopes teve  um percurso profissional interessante: em jovem trabalhou com o pai, que tinha uma fábrica de cortiça, na sua terra natal, em Santa Maria de Lamas. Depois, além de jogador de futebol, Américo ainda no início da carreira futebolística teve uma sociedade comercial de venda de motos, no Porto, com António Teixeira, José Maria Pedroto e Carlos Vieira, colegas futebolistas mais velhos. Depois teve uma confeitaria em Espinho e uma fábrica de pastelaria. Mais tarde, já após o Mundial de 1966, estabeleceu-se com a Casa Magriço, de venda de artigos desportivos, com duas lojas no Porto. Negócio que teve enquanto futebolista profissional e depois ainda, após ter acabado a carreira tutebolística. Entretanto ainda teve negócios relacionados com construção civil. E por fim fundou e dirigiu a Clínica Boa Hora, na terra de sua residência, em São Paio de Oleiros (também de seu concelho de Santa Maria da Feira). Sempre com visão empresarial de acautelar o seu futuro e de seus familiares mais chegados. Havendo depois, já em idade avançada, passado a clínica a sua afilhada, como pessoa de confiança e que aceitou, para dar continuidade a tal empreendimento.

Américo, além de ter sido um histórico guarda-redes de futebol do Futebol Clube do Porto e internacional pela Seleção Nacional, foi importante cidadão de Santa Maria de Lamas, onde nasceu em 1933 e teve residência até casar, mas também e vincadamente de São Paio de Oleiros, onde residiu a partir de 1957. E aí viveu até falecer e repousar por fim no descanso eterno, em 2023. Tendo esta sua terra afetiva sido deveras mais conhecida pelas referências dele ali ter vivido. Como curiosamente, no caso pessoal, foi por isso que tive conhecimento da mesma, a ponto que numa época a que eu presidia a uma instituição da minha terra, a Casa do Povo da Longra, aqui do concelho de Felgueiras, e no âmbito das respetivas atividades associativas fundei um Rancho Infantil e Juvenil (em 1994) a fazer parte da mesma instituição, como extensivamente organizava anualmente um Festival Folclórico, convidei para participar num desses encontros etnográficos, entre os Ranchos de cartaz, um congénere agrupamento de S. Paio de Oleiros (em 1999). Enquanto isso, como era a título de permuta, na resposta de troca então pela primeira vez pude (em 2000) ir à terra do sr. Américo, na ida ao Festival desse Rancho, existente ao tempo (agora nem sei, mesmo porque entretanto já passei a pasta dessas e outras funções de cidadania ativa). Tal como foi por me chamar a atenção, pelo nome da terra, onde vivia o sr. Américo, que um dia eu tive conhecimento e visitei o Presépio Gigante do “Cavalinho”, também existente por esse tempo e ainda durante mais anos…  

= Américo no dia em que foi homenageado, em 2015, pela Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros com a Medalha de Mérito da mesma autarquia local, de que ele em tempos foi Presidente durante dois mandatos.

Agora, passado já algum tempo de seu falecimento, ocorrido no outono do passado ano de 2023, quando estava com 90 anos, e agora que passam 35 anos de sua criação da Clínica Boa Hora, em homenagem a tudo o que representa a vida de Américo, o grande guarda-redes do FC Porto e da Seleção Nacional, aqui se evoca sua obra na efeméride da fundação de sua Clínica. Respigando algumas passagens de entrevistas publicadas em jornais e revistas, em cujas conversas foi intercalado o tema da sua Clínica.

= A partir da esquerda: Barrigana, Vítor Baía, Américo e Acúrcio!

Assim, na revista “A Bola Magazine”, no seu número de setembro de 1990, em entrevista aos 3 grandes guarda-redes do passado da História do FC Porto, Barrigana, Acúrcio e Américo, junto com o então titular e jovem Vítor Baía, sendo Américo o mais novo dos antigos,  ficou feita logo referência a sua clínica, fundada no ano anterior, em 1989.

Isso, ao mesmo tempo que na mesma revista nesse tempo de publicação extra do jornal A Bola, Américo rememorou ainda, sobre a Campanha da Seleção Nacional dos "Magriços" no Mundial de 1966 em Inglaterra;

Depois e entretanto, em 1992, aquando do jogo Sporting-FC Porto para o Campeonato Nacional de futebol da 1ª Divisão da época de 1991/1992 (que o FC Porto acabaria no dia seguinte por vencer, por 2-0, no antigo estádio de Alvalade), Américo foi entrevistado no jornal A Bola como representante histórico do FC Porto na véspera da realização desse clássico em Lisboa. Tendo sido fotografado precisamente em frente à Clínica, como ficou registado, vendo-se em fundo o “reclame” (painel publicitário da respetiva sinalética) da própria Clínica. Tinha ele aí 57anos.  

Por fim, quanto a este tema, em 2000, no ano de viragem de século, contando ele então 67 anos, Américo foi figura no caderno destacável do jornal O Jogo, sob tema de “Memórias do meu século”. 

Em cuja entrevista, ao longo de quatro páginas inteiras, o “guarda-redes eterno” desfiou suas contas do rosário de memórias. De onde se recorta uma pequena parcela, da parte referente à sua Clínica.



Passam agora, em 2024, já 35 anos desde aquela realização em que Américo voou noutra área de vida, como antes voava para a bola, diante das áreas das balizas.

Armando Pinto

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domingo, 3 de março de 2024

Memória do 1.º Congresso das Filiais e Delegações do FC Porto – a propósito do aniversário de seu mentor e do jogo desse dia…

Em Março de 1984 realizou-se no Porto, em pleno Pavilhão Gimnodesportivo das Antas, o 1.º Congresso do FC Porto, das Filiais e Delegações do Clube. Tendo sido seu Mentor o então Vice-Presidente Alexandre Magalhães, que teve a ideia e a levou por diante, e como organizador principal o Dr. Monteiro Pinho, tendo a Comissão para o Congresso tido Coordenação Geral de Alexandre Magalhães, Monteiro Pinho e César Gomes, secundados por uma vasta equipa de diretores e funcionários que conseguiram realizar esse importante e grande acontecimento no mundo portista.

Ora, na ocasião, ao segundo fim-de-semana de março, já o grande diretor Vice-Presidente da Direção havia “feito anos” dias antes, no dia 3, e assim estava ainda de parabéns. 

Entretanto o Congresso, realizado de sexta-feira a domingo, entre os dias 9, 10 e 11 de março, nesse tempo de transição para a Primavera de 1984, teve encerramento no domingo em que se realizou nas Antas um Porto-Benfica para o Campeonato Nacional de futebol da então 1.ª Divisão, em que todos os congressistas estiveram presentes como convidados. Jogo que o FC Porto ganhou brilhantemente (com golos de Sousa, Walsh e Oliveira, do Benfica, na própria baliza, para o FC Porto; tendo Nené marcado o tento solitário dos benfiquistas). 

Assim sendo, recorda-se isso agora, a propósito de duas lembranças que vêm a calhar. Ocorrendo, neste dia em que se lembra isto, o aniversário natalício do senhor Alexandre José Magalhães, e realizando-se neste mesmo domingo mais um Porto-Benfica.

Com esta memória, aqui presto minha homenagem com parabéns pessoais ao aniversariante deste dia, sr. Alexandre Magalhães. Fazendo votos que também o jogo deste domingo deixe boas recordações como o de 1984.

Força Porto. Porto só há um. O nosso, que deve ser dos sócios e mais nenhum…!

Abraço de Parabéns amigo senhor Alexandre Magalhães.

Aqui do seu amigo

Armando Pinto

Nota: Imagens do oficial "LIVRO DO 1.º CONGRESSO das Filiais e Delegações - FC Porto".

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Evocação do eterno guarda-redes Américo, na data de seu aniversário primeiro depois da morte...

O antigo guarda-redes do FC Porto Américo, o meu amigo senhor Américo Ferreira Lopes, se fosse vivo faria hoje 91 anos. Nascido que foi a 27/02/1933, tendo falecido o ano passado a 22/09/2023. Sendo assim neste ano o primeiro aniversário que não passa em vida, mas contudo continua vivo na memória de quem o admirou em vida e o tem como constante recordação.

Como homenagem, evoca-se sua memória através de duas entrevistas que lhe foram feitas em tempos, há muitos e bons anos, por serem sintomáticas e extravasarem o muito que aqui neste blogue lhe fomos dedicando.

De uma página intitulada “Tovar F. C”, em peça de 2020, pode repescar-se uma entrevista que por sinal tem ilustração cimeira com uma imagem retirada do meu blogue “Memória Portista”:

«…Impõe-se uma entrevista com o senhor keeper, vencedor da 1.ª divisão em 1959 e da Taça de Portugal 1968, sempre no Porto, onde acumula 255 jogos, com mais vitórias que derrotas (150-45) e um número curioso de partidas a zero (101) em tempos idos, com Eusébio no Benfica, Matateu no Belenenses e Figueiredo no Sporting. Pelo meio, 15 internacionalizações pela seleção A (mais 1 pela B) e ainda a tal convocatória para o Mundial-66, juntamente com outros dois portistas (Festa e Custódio Pinto). Como se isso fosse pouco, Américo joga com José Maria Pedroto e é treinado por ele.

Atenção, Américo é um doutor a falar. Animado, vivo, bem-falante e dotado de uma memória de elefante, responde-nos em direto da Rua Ribeirinho 58, em São Paio de Oleiros. É ele o proprietário e gerente da Clínica Boa-Hora, fundada por si no dia 6 de Março de 1989.


- Como é que chega ao FC Porto?

Um dia, em 1949, decidi apresentar-me aos treinos do FC Porto, ali na Constituição – só pouco depois é que fomos para as Antas. Fui de olhos fechados, sem saber muito bem o que apanhar pela frente. Achava que tinha mérito para jogar na equipa da minha vida. Fui lá e conquistei o meu espaço. Joguei dois anos nos juniores e depois subi à primeira equipa, um sonho tornado realidade. Só via Porto à minha frente. Agora está a ver, um jovem de 16 anos vê o sonho de uma carreira à frente e não mais o larga. Aconteceu comigo e ainda hoje me sinto sortudo.

- Quando lá chegou, à Constituição, já era para guarda-redes ou…?

Era o meu sonho de menino. Sempre joguei à baliza, até na escola. É uma profissão inexplicável. Gostava de estar ali, no meu canto, a defender e [começa a rir-se] a irritar os outros. Gostava mesmo disso. Eles rematavam, rematavam, rematavam e não marcavam. Às vezes, até me pediam para sair da baliza.

- Com ou sem luvas?

Sem luvas. Só usava luvas nos dias de chuva. De resto, era com as mãos. Nada melhor que sentir a bola bem segura, sentir o couro. Se doía? Qual quê?! Nada disso, nada disso. A bola era macia [o homem diverte-se com a sua própria história e ri-se sem parar].

- Nem com os remates do Eusébio?

Não, nem pensar. As pessoas falam muito da potência dos seus remates – e eram, fortes, lá isso eram – mas o mais terrível era a disponibilidade dele para atirar à baliza. É que ele rematava de qualquer lado e de qualquer jeito. Se a bola viesse torta, ele fazia por atirá-la à baliza. Parte da sua genialidade é disso mesmo. Espontaneidade no remate. Aliado à pontaria, pois claro. De nada vale atirar com força e ao lado ou por cima. O Eusébio era diferente. Quanto atirava, era para a baliza e eu que me entendesse com a bola. Outro pormenor delicioso do Eusébio era a lealdade. Fomos sempre amigos e eu costumava dizer-lhe que nunca me tinha marcado cara a cara.

- Não era o Américo conhecido como o guarda-redes…?

Suicida. Isso foram pessoas como você, jornalistas, a chamarem-me isso. Nunca soube de onde isso veio. E tive mais, muitas mais. Era o suicida, depois as mãos disto, as mãos daquilo e até fui o leiteiro, porque, diziam vocês, tinha uma vaca em casa para tirar o leite e ter sorte. A verdade é que saía muito da minha área, fazia por isso. Se visse que a bola estava ao meu alcance, ia lá para afastá-la da área. Os guarda-redes de hoje jogam muito na sua área. Eu jogava aí mas também saía da minha zona de conforto.

- Só não pôde sair dessa zona no Mundial-66. Portugal fez seis jogos e utilizou dois guarda-redes. Primeiro o Carvalho, depois o José Pereira. Só o Américo não jogou. Porquê?

Uns anos depois, o senhor que tomou essa decisão pediu-me muitas desculpas pelo facto. Estou a falar do Manuel da Luz Afonso, o selecionador. Sim senhor, o Otto Glória era o treinador de campo e decidia muitas coisas mas a última palavra era sempre do Manuel da Luz Afonso. Começou o Carvalho e até nem esteve mal. Não percebi o porquê de o tirarem assim de repente, a meio da prova. Depois entrou o José Pereira, que quase não era internacional nem jogou assim tão bem. E eu sem jogar. Veja lá bem: o Otto Glória foi treinador do Benfica e do Sporting, o Manuel Afonso tinha sido diretor do Benfica e o Gomes da Silva, o coordenador da seleção, era do Belenenses. Por isso, os jogadores eram quase sempre os mesmos, sobretudo do meio-campo para a frente, e nós, os suplentes, a ver a bola desde a bancada.

- Da bancada?

Naquela altura, só jogavam onze. Não havia suplentes. Esses iam para a bancada. Podíamos, isso sim, visitar o balneário ao intervalo e no final do jogo. Muitos atribuem a mudança de local à última hora da meia-final com a Inglaterra de Liverpool para Londres, mas o nosso grande erro foi não poupar jogadores imprescindíveis nos quartos-de-final com a Coreia do Norte. Ainda por cima, entrámos convencidos que íamos ganhar fácil e apanhámos um valente susto. A perder por 3-0, tivemos de jogar mais que o dobro para passar a eliminatória e isso custou-nos fisicamente. E por quê? Só jogavam os mesmos: Jaime Graça, Coluna, Simões e outros.

= Equipa principal do FC Porto em 1964/1965, de que Américo já era titular indiscutível desde 1961/1962. 

- Depois desse Mundial, volta à baliza da seleção e até brilha em Itália, não é?

Empatámos 1-1 [Março de 1967] e ninguém previa esse resultado, até porque a Itália estava a preparar-se para o Euro-68, que haveria de ganhar em casa, e era francamente favorita. Os jornais até falavam em quatro ou cinco de diferença. Foi um a um e só porque o José Augusto lembrou-se de fintar dentro da área. Ele perdeu a bola e o italiano [Capellini] marcou. Ainda me lembro bem daquilo que o selecionador deles disse depois, na conferência de imprensa: ‘com o guarda-redes de Portugal na baliza de Itália, tínhamos sido campeões do Mundo [em 1966]’. Nesse jogo, há outro detalhe. Eu lesionei um grande jogador, o Riva [avançado do Cagliari, um dos bambino d’oro de Itália]. Sem querer, parti-lhe a perna: eu saí da baliza a olhar para a bola, no ar, e choquei violentamente com ele. A tristeza invadiu-me completamente e nem a visita ao hospital diminui. Só fiquei completamente aliviado quando ouvi falar do seu regresso. Até foi a tempo de ser campeão europeu em 1968 e tudo.

- Havia estágios nos anos 60?

Se havia! De sexta a segunda-feira. Com o Pedroto, de quinta a segunda. Eu e o Pedroto fomos campeões nacionais como jogadores em 1959, treinados por um brasileiro pesado de aspeto e feitio, o [Dorival] Yustrich, e depois ele treinou-me no Porto. Entrávamos no estágio à quinta e, às vezes, com jogos europeus do Porto ou com a seleção pelo meio, só ia a casa 15 dias depois. Era uma vida muito complicada. No ano do Mundial, veja bem, estive três meses sem ver a minha mulher, de Maio até Agosto.

- E quando voltou a Portugal, agarrou-se ao seu Triumph Spitfire? Li isso no site Bibó Porto.

[lá está a gargalhada por antecipação] Tinha um Simca e sugeriram-me trocá-lo por esse Triumph Spitfire. Nem pensei duas vezes, aceitei logo. Era uma Acão promocional. Bastava-me andar com ele e pronto. Era um carro original, raramente visto em Portugal. Guiá-lo era uma maravilha.

- Qual a sua maior alegria desportiva?

O ser campeão, o ganhar a Taça 68 no 2:1 ao Vitória FC, o ir à seleção, mas….»


~~~ ***** ~~~

E uma outra entrevista, referenciada aquando de seu falecimento:

«EUSÉBIO NUNCA ME MARCOU GOLO ISOLADO» (OU O QUE AMÉRICO «LEVA PARA A COVA»…)

NACIONAL 23.09.2023 • António Simões

Guarda-redes do FC Porto (que morreu sexta-feira, dia 22) só jogava com luvas quando era dia de chuva e de um penálti de Eusébio saiu «enjoado». Num «encosto» de Santana começara a abrir-se o seu drama. Do Mundial de 1966, saiu com a convicção: «Se tivesse jogado, teríamos sido campeões!»

Até morrer na sexta-feira (se é que gente como ele morre alguma vez…) Américo Lopes polvilhou a vida com «orgulho» que, quem o conhecia bem, sabia que não era vaidade: «É verdade, tratavam-me por Guarda-Redes Suicida pelo modo valente com que me atirava aos pés dos avançados. Não sei de onde veio a alcunha. Mas tive muitas. E se era o… suicida também era as mãos não sei de quê – de ferro ou de ouro. Mas ainda havia quem me tratasse pior – como o homem que tinha uma vaca em casa que tirava o leite para ter a sorte que tinha. O que não tinha, sei bem: não tinha medo de ninguém, medo de nada! E, então, se eram altos como o Torres ou fulgurantes como o Eusébio, eu dizia-lhes que, comigo, era matar para não morrer. Não digo que eles tivessem medo, mas que era questão de impor respeito, era. E, sim, esse é orgulho que hei-de levar para a cova: o Eusébio nunca me marcou um golo isolado!»

SEM LUVAS, ENJOADO COM TIRO DE EUSÉBIO

Sendo, pois, de livres e penáltis os golos que Eusébio lhe fez – raros foram os guarda-redes a poderem ufanar-se do que Américo podia: «Era, o Eusébio tinha um pontapé impressionante. Eu defendia sempre sem luvas, só nos dias de chuva é que as punha. Foi assim que, certa vez, defendi uma grande penalidade do Eusébio – e só Deus sabe o que eu sofri. Sofri, sim senhor: a bola bateu-me na zona abdominal, com tanta força me bateu que me deixou… Mas, disso, nunca ninguém soube - eu era um duro, rijo para caraças e nunca daria parte de fraco, dizendo-o!»

O SONHO DO FILHO DO SENHOR DAS CORTIÇAS

O pai tinha uma empresa de cortiças e Américo Lopes contou-o a Filinto Lapa (em A BOLA do dia 1 de setembro de 1969, em véspera da sua Festa de Despedida de jogador): «Nasci a 6 de março de 1933 (melhor dizendo, assim registado no civil, porque nasceu a 27 de fevereiro, na verdade), em Santa Maria de Lamas e por isso o União de Lamas foi a primeira porta onde eu bati. Simplesmente foi-me negada autorização para participar em torneios oficiais. O senhor ministro não autorizou que jogasse com menos de 16 anos e fui-me embora. Mas eu sonhava com o futebol, com os campos, com a bola. Na minha mente, uma lenda habitava: como deve ser bom jogar a sério! Naquela altura, falava-se nos Azevedos, nos Barriganas. Eu ouvia na Rádio: O guarda-redes do voou, voou de um poste ao outro! Espantoso! – e decidi-me: tenho de ser jogador de futebol e tenho de ser guarda-redes – para também voar de um poste ao outro! Para isso, pelos meus 17 anos, fiz as «malas» e fui apresentar-me no FC Porto. Fiquei logo nos juniores e, meses depois, na época de 1951/52, o meu nome já aparecia nos jornais. Em 1952!53 alinhei nas reservas, o titular do primeiro time era o grande Barrigana – e eu só queria ser como o grande Barrigana.»

NA TROPA LONGE POR NÃO SER DO BENFICA OU SPORTING

Aos 20 anos surgiu-lhe o habitual aviso para ir à tropa. Não a Filinto Lapa não o disse assim (e se o dissesse a Censura não permitiria, obviamente, que saísse assim…) – haveria de dizê-lo, depois, amiúde: «Na tropa estive um ano e meio em Castelo Branco e em Abrantes porque era do FC Porto. Se fosse do Benfica ou do Sporting não tinha lá ficado, os clubes não deixavam, teria, certamente, cumprido serviço bem mais perto do Porto – ou no Porto mesmo. Pedi aos responsáveis do FC Porto para me ajudarem a livrar do serviço militar e eles foram sempre adiando. A dado instante, deram-me um saco com uns calções, umas luvas, uma camisola e um par de chuteiras, para eu ir treinando por onde andasse na recruta - só que não havia campo para o fazer. Durante ano e meio tiveram, portanto, um jogador de farda e que nunca treinou, nunca jogou. Isso sim: pagaram-me sempre!».

NA PRIMEIRA VEZ, UMA GRANDE «BARRACADA»

A sua primeira vez na primeira equipa do FC Porto dera-se (por finais de 1952) em Évora – por Barrigana se ter magoado: «Isso ainda foi antes de me ter de apresentar no quartel! Artur Baeta, que estava nesse encontro, e o técnico Lino Taiolli, acreditaram em mim e… olhe, foi uma grande barraca. O Correia também se estreou a central e, nessa tarde, todos nós nos fartámos de meter água».

Livre da tropa, retornou às Antas com o FC Porto a lançar, com Dorival Yustrich, ao título de 1955/1956. «A baliza tinha a lotação completa, à minha frente estavam o Pinho e o Acúrsio - e então, fui de empréstimo para o Boavista. Quando, um ano depois, o Yustrich voltou, perguntou por mim. Está no Boavista — disseram-lhe e ele respondeu: Mas eu o queria aqui! Talvez para evitar conflitos, alguém adiantou: Não dá, já está comprometido oficialmente com eles. O que não era verdade. E, por isso, lá fiquei. Em 1957/58, treinador do FC Porto passou a ser Otto Bumbel, na sequência do despedimento do Yustrich por causa daquela zaragata dele com o Hernâni, em que andaram os dois à pancada – e, então, sim, voltei ao FC Porto.»

COM GUTTMANN, CAMPEÃO COM UM JOGO

O FC Porto fora a São Paulo descobrir Béla Guttmann – e no primeiro jogo do campeonato de 1958/1959 (desse campeonato ganho com Inocêncio Calabote a marcar-lhe a história) foi a Américo que deu a baliza. Não, não foi só pelos três golos sofridos no empate com o Vitória de Setúbal (na primeira jornada) que não mais lá voltaria – foi por continuar a ter o Pinho e o Acúrsio «à frente» (e, esses 90 minutos nas Antas, foram o bastante para lhe pôr o único título nacional no palmarés.

«MAGRIÇO» SEM MINUTO (E QUEIXA SÓ DEPOIS)

Algures por 1963, da baliza do FC Porto logo saltitou Américo para a baliza da seleção: «Internacional fui pela primeira vez aos trinta anos – e pela seleção A joguei 22 vezes, mais uma pela B». Apesar dos brilharetes que se soltaram mãos durante o apuramento para o Mundial de 1966 (e não só, claro, quer antes, quer depois…) em Inglaterra não passou de suplente, primeiro de Carvalho e depois de José Pereira – e a Filinto Lapa (nessa sua entrevista do adeus) não se revelou agastado com isso, apanhando-se-lhe apenas o murmúrio: «É verdade, fui Magriço e… não joguei. E se o Manuel da Luz Afonso não me pôs a jogar foi porque entendeu que outros estariam em melhor forma do que eu. Por isso não, não estou ressentido. Aliás, nesta hora da despedida, na hora da análise à carreira que tive, saio sem rancor a ninguém. Aceito tudo.»

Largos anos após, sim: Américo destravou, enfim, o que guardara em mágoa e a acrimónia (no que era, afinal, para si, um sinal dos tempos…) «Não quero parecer vaidoso, mas era muito superior ao Zé Pereira e ao Carvalho. Comigo na baliza, acho que Portugal podia ter sido campeão mundial. O selecionador Manuel da Luz Afonso nunca me deu qualquer explicação, era de poucas palavras. E o Otto Glória, o treinador de campo… mandava pouco. Sendo bom o ambiente na seleção, os jogadores do FC Porto ficavam sempre um bocado em segundo plano. Era a mentalidade da época…»


PRIMEIRO VENCEDOR DO PRÉMIO DE A BOLA

Já com José Maria Pedroto a treinador, foi com Américo em lustro que o FC Porto ganhou a Taça de Portugal de 1967/1968. Retornando a titular da baliza de Portugal – tendo, nessa época, A BOLA criado o Prémio Somelos-Helanca para consagrar o Melhor Jogador do Campeonato, foi ele quem o conquistou - recebendo, para além de monumental troféu, cheque de 20 contos. (Três contos era, então, o ordenado mensal que o clube lhe dava e 113 contos custava o Mini Morris que, nos anúncios por alguns jornais, tinha a publicitá-los raparigas em curtos calções de futebol e a «moral e os bons costumes» achava um «despudor» mostrarem-se, assim, as pernas ao léu.)

Foi (em fins da época de 1968/69, quando estava suspenso por Pedroto, junto com Pinto, Eduardo Gomes e Alberto Teixeira) que Américo percebera «insuportáveis» as dores no joelho que o precipitaram à operação que lhe marcaria, fatal, o fim. E, com ele assim, campeão foi o Benfica (graças a empate na Luz já com António Morais no lugar de treinador interino e Rui na baliza que fora de Américo…)

DRAMA COMEÇOU NO JOGO COM O BENFICA, NO ENCOSTO DE SANTANA

Bem antes começara o seu dorido fado (sem que lhe imaginasse tão dramáticas as consequências…), o fado que saltitou, assim, da boca de Américo para a pena de Filinto Lapa (nessa edição de A BOLA de 1 de setembro de 1969): «Por 1961, num jogo em Lisboa, contra o Benfica: o Santana encostou-se a mim, não sei se intencional se casualmente, e o meu joelho direito acusou o toque. Saí faltavam dez minutos para o fim do primeiro tempo e recebi tratamento. No segundo tempo, reentrei e o Santana voltou a tocar-me no joelho, não sei se intencional se casualmente. E então, foi de vez. Tive mesmo que abandonar o campo. Empatámos 1-1 e estive quinze dias parado. Voltei e andei um ano a carregar sobre o joelho direito. Não tinha dores e o Dr. Sousa Nunes não viu mal em que eu continuasse a jogar. Até que o Dr. Sena Lopes teve de me operar. Antes do FC Porto-Tomar (já de novo integrado na equipa principal portista), senti dor aguda, fui ao médico, ao Dr. Filipe Rocha, que, após exame com radiografias, diagnosticou o mal irreparável: a rotura do menisco degenerou. Sim, o exame clínico ditou que tudo começara em 1961, naquele jogo com o Benfica. A deformação óssea que tenho, agora, no joelho e me corta a autorização para jogar futebol, foi-se processando ao longo de todo este tempo. Antes disto, olhe… o que se passara comigo foi, afinal, coisa pouco – coisa pouca mesmo tendo partido um pé, os dois pulsos e dois dedos. E parece que tenho, também, deformação dos ossos da bacia por outros encostos. Da bacia e os ombros.»

COM O BENFICA NO ADEUS E A MÁGOA DE EUSÉBIO NÃO

Esses foram suplícios que lhe vieram por ser como era: ir sempre atrás da bola como um gato ia atrás do rato, mergulhando, valente, aos pés dos avançados que lhe apareciam afoitos e vertiginosos ou voando, acrobata para a bola sempre a desafiar as leis da gravidade. Ao regressar do Mundial de Inglaterra, Américo abrira, no Porto, loja de material desportivo a que chamou Magriço – e, para o jogo da sua despedida, ofereceu-se o Benfica.

O joelho que o traíra aos 36 anos, permitiu-lhe apenas um minuto na baliza do FC Porto no jogo da festa de despedida (que o Porto perdeu por 3-0, com Aníbal na baliza). Das bilheteiras levou 300 contos – e não, nessa tarde, Américo não teve, consigo o Eusébio (foi a sua única «desolação»). Ele, o Eusébio, andava, ainda, em arrastadas negociações com Borges Coutinho, o presidente benfiquista – e em A BOLA do dia 4 de setembro de 1969 (onde se travava em óbvio destaque a «homenagem a Américo») a manchete fez-se com Eusébio...»


Armando Pinto

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