Reconstituição Histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Reconstituição histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Criar é fazer existir, dar vida. Recriar é reconstituir. Como a criação e existência deste blogue tende a que tenha vida perene tudo o que eleva a alma portista. E ao recriar-se memórias procuramos fazer algo para que se não esqueça a história, procurando que seja reavivado o facto de terem existido valores memorávais dignos de registo; tal como se cumpra a finalidade de obtenção glorificadora, que levou a haver pessoas vencedoras, campeões conquistadores de justas vitórias, quais acontecimentos merecedores de evocação histórica.

A. P.

terça-feira, 30 de agosto de 2022

Efemeride da consagração final da Volta a Portugal de 1964 - ganha por Joaquim Leão do FC Porto e coletivamente também pelo FC Porto

Estava-se no último domingo do quente mês de agosto de 1964 e as atenções centravam-se no final da Volta a Portugal em bicicleta. Acontecimento que despertava atenções e paixões em grande escala entre a população. Como acontecia há muito, havendo na memória pessoal, devido à idade, poucas lembranças anteriores, a não ser ténues imagens retidas. Sendo então e assim essa a edição da grande Volta Portuguesa que foi a primeira mais acompanhada diariamente a par e passo, aqui pelo autor destas lembrançanças, então através do jornal logo pela manhã, como pelos relatos da rádio durante o dia, e esperando pelo Diário da Volta à noitinha pela televisão. Tendo no último dia, chegada a tarde, todos os olhos terem finalmente pousado no ecrã da televisão, num aparelho dos poucos ainda existentes por cá... visto nessa tarde domingueira a televisão portuguesa ter transmitido diretamente a chegada da última etapa. Vendo-se então cá no norte de Portugal, no caso, a consagração do ciclismo do FC Porto em Lisboa.  Com Joaquim Leão a receber os louros da vitória individual e toda a equipa do FC Porto a ter a devida consagração da extensiva vitória coletiva.

  

Então, a 30 de agosto, em 1964, chegava ao fim a Volta a Portugal, pela tarde desse domingo, na conclusão da última etapa da 27.ª edição da Grandíssima Portuguesa, a prova rainha do desporto dos pedais.


Agora, na passagem da efeméride dessa que foi uma das Voltas a Portugal mais populares, evoca-se aqui e agora desta feita tal Volta a Portugal de 1964, ganha por Joaquim Leão do FC Porto, clube igualmente triunfador por equipas na mesma prova.


= Equipa do FC Porto que venceu a Volta de 1964 individual e coletivamemte, terminando com todos os 8 ciclistas com que começou a prova, os que era legalmente permitido inscrever. Aqui, no instantâneo fotográfico, num momento da volta de honra à pista de Alvalade onde terminou a última etapa, com o treinador Onofre Tavares a comandar o esquadrão valoroso.

Com efeito, a 30 de agosto de 1964 concluiu-se essa edição da Volta, a então 27ª Volta a Portugal. Com Joaquim Leão a erguer o braço de triunfo final ao chegar ao risco branco da meta, na pista do estádio de Alvalade, em Lisboa.


Vem assim a talhe, não de foice mas de bicicleta de corrida, a evocação dessa vitória, entre 
os raios de ação percorridos pelas bicicletas que andaram pelas estradas portuguesas em competição.


Como nota de enquadramento, pode rever-se o que sobre essa mesma prova ficou narrado no livro “História da Volta”, de Guita Junior, que ilustra algo, apesar de conter diversas incorreções (tendo essa obra infelizmente enganos que têm induzido em erro outras publicações).



Iniciada a 14 de agosto, desse ano de 1964, a Grandíssima Volta Portuguesa foi para a estrada pela 27ª vez, até aí. Tendo no decurso da mesma sido estabelecido novo recorde, em sinal de como foi disputada e resultou em autêntico sucesso, à medida do entusiasmo popular gerado.


Para uma visão eslarecedora, o resumo da corrida está deveras bem ilustrado em esclarecedores figurações patentes no álbum de banda desenhada “OS HERÓIS DA ESTRADA”, de 1986, edição dos jornais O Jogo e Jornal de Notícias.


Com efeito, foi todo um bom trabalho de equipa que ajudou à vitória do grande ciclista, em tamanho e valor. Com os interesses coletivos a sobreporem-se às possibilidades individuais de cada um dos oito ciclistas que começaram e acabaram a Volta na equipa do FC Porto. Tendo um dos exemplos acontecido na etapa em que Joaquim Leão alcançou a liderança da classificação geral. Conforme sucedeu com Ernesto Coelho, que ia então classificado em 4º da Geral, com possibilidades de ficar no pódio final, mas, tendo sofrido um furo e ficado para trás à espera de assistência, foi sacrificado por isso ter acontecido na ocasião em que Joaquim Leão devia atacar, lançando-se em busca do primeiro posto. Pois o técnico Onofre Tavares teve de deixar o pupilo que se atrasara momentaneamente, optando naturalmente pela melhor posição do que ia na frente. E no final Ernesto Coelho lá estava ao lado de Joaquim Leão, satisfeito com a vitória do colega – como a foto seguinte é elucidativa.

= Joaquim Leão, com a coroa de louros sobre a camisola amarela de vencedor da Volta, em momento de saudação vitoriosa, tendo o colega de equipa Ernesto Coelho ao lado.  

Essa Volta foi mesmo deveras empolgante, estando ainda na memória pessoal do autor destas linhas. Tendo  então, jovenzinho ainda em idade escolar do ensino primário, guardado diversas gravuras recortadas de jornais da época. Imagens que são hoje relíquias de estimação pessoal, também. 


Assim sendo, deixa-se a narrativa a cargo de imagens documentais do arquivo pessoal do autor, de recortes e papéis preservados, algo amarelecidos pelo tempo, cujos originais temos guardados, com dobras, anotações pessoais e outras particularidades (fora as iniciais AP que, sempre de forma diversa, apenas colocamos como marca na digitalização). De material capaz de reforçar quão interessante é a história do ciclismo no seio da coletividade azul e branca, como modalidade que, em seus tempos áureos, captou muito entusiasmo e apoio à causa Portista.


Eis aí, então, algumas recordações mais da Volta individualmente conquistada por Joaquim Leão, e coletivamente aumentou o número de triunfos do F C Porto, em 1964. Com registos pessoais já, à feição da época.



Essa imagem icónica, guardada também pessoalmente de recorte da revista Flama, era acompanhada por curiosa descrição de toda a envolvência desse feito de Joaquim Leão.


Entretanto no jornal O Porto, ao tempo órgão oficial informativo e historiador do FC Porto, foi devidamente assinalado tal feito, como se pode rever por alguns recortes:


= Joaquim Leão, com a coroa de louros de trunfo na Volta a Portugal, num dos atos comemorativos com que na época foi homenageado, ladeado pelos seus colegas de equipa Mário Silva e Sousa Cardoso. =

Mais recentemente, a Volta a Portugal de 1964, a Volta de Joaquim Leão, ficou ainda anotada num álbum de autocolantes, com legenda, em curioso formato redondo duma roda de bicicleta, com o título “À Volta da VOLTA a PORTUGAL”, em 2018, do Jornal de Notícias (podendo reparar-se como tem enganos, os mesmos do tal livro antes aqui referido).


Joaquim Leão continuou depois a andar em lugares de destaque nas corridas pelos tempos adiante, como seu palmarés reflete. Com medalhas e faixas de vencedor e campeão que emoldurou num quadro que tinha em lugar de destaque no seu estabelecimento de cafetaria, o seu café no centro de Sobrado, na terra natal. Quadro esse que é visível na imagem cimeira deste artigo, em torno de fotografia dele mesmo com a camisola de vencedor da Volta. Como também se pode ver em captação fotográfica algo recente, ainda em vida.


Passados anos desse cometimento, em sinal da importância dessa Volta ganha, Joaquim Leão foi entrevistado pelo Jornal de Notícias para recordar precisamente tal triunfo.


Tudo também pelo interesse que a Grandíssima desperta. Como aqui se releva, prestando atenções memoriais à Volta portuguesa.

Pois então, em mais uma corrida pelo tempo, ao sabor da brisa das recordações, erguemos o dorso, na escrita, para recuperação de fôlego desta modalidade que passa a grande parte das terras e às casas das pessoas, para regressar à memorização sobre a importância dada ao ciclismo, esse desporto sobre rodas que tanto tem engrandecido o F C Porto, no caso - embora causando invejas aos adversários.


Pois sim. E com isso houve sempre um grande entusiasmo portista pelo ciclismo, visto o F C Porto, entre, pelo menos, finais da década de quarenta até princípios da década de sessenta, ter tido grande predomínio nas corridas oficiais de bicicletas.  Daí o autor destas linhas ter andado a par e passo atento à carreira dos ciclistas de azul e branco vestidos, pelos idos longínquos tempos de infância (de quem recorda estas andanças), quando surgiram as vitórias de Sousa Cardoso e, depois Mário Silva, depois ainda José Pacheco, até que, passado um ano de interregno, se seguiu a Volta a Portugal ganha por Joaquim Leão, esse ciclista grande em tamanho e valor... que muito admiramos, como ciclista da camisola das duas listas azuis das Antas e colega dos nossos ídolos principais dessas épocas, Mário Silva, Sousa Cardoso, Azevedo Maia, Ernesto Coelho, Carlos Carvalho, Joaquim Freitas, José Pinto, Mário Sá, etc..


Assim, no lanço, relembramos a referida entrevista (no JN, em 1999) dedicada ao Joaquim Leão, através duma retrospetiva efetuada ao correr dos anos noventa, do século passado, já, a lembrar o grande triunfador individual da Volta a Portugal de 1964.


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Joaquim Leão faleceu a 5 de dezembro de 2018, com 75 anos. Desaparecendo então fisicamente mais um ídolo de nossa infância e dos tempos em que o FC Porto fazia frente ao sistema desportivo nacional por meio do ciclismo…


Joaquim Leão, o tal, que contrariando o nome, deu grandes alegrias ao mundo do clube Dragão.


Joaquim Leão foi um dos quatro ciclistas de Sobrado (Valongo) que venceu a Volta a Portugal em bicicleta (os outros foram Fernando Moreira e Rui Vinhas, também do FC Porto, e ainda Nuno Ribeiro, da equipa LA Alumínios-Pecol-Bombarral). Foi em 1964 que o ex-ciclista sobradense venceu a prova rainha em Portugal. No Museu do FC Porto está a camisola da vitória com que Joaquim Leão envergava no dia 30 de agosto, quando terminou a Volta.

Nessa altura Joaquim Leão foi recebido como um herói. Como recordava: -“Vim de carro descapotável, desde o alto da Serra até Sobrado... era só gente na estrada. Em Ermesinde, a minha irmã que era freira, colocou-me uma coroa de flores. Aqui em Sobrado era só gente e foi uma festa tão grande como nunca mais se viu. Tenho mesmo muitas saudades desses momentos”.»

= Camisola amarela de vencedor da Volta de 1964, exposta no Museu do FC Porto - com efeitos da passagem do tempo. Um histórico símbolo de que o tempo pode deixar a traça esburacar objetos, mas a estimação histórica mantém-se.

Temos também (expressando em linguagem clássica, o autor deste blogue) uma cassete de vídeo, ainda no formato antigo de imagem, sobre a Volta ganha por Joaquim Leão, que ele próprio oferecera em tempos ao seu antigo colega de equipa Ernesto Coelho, em reconhecimento do mesmo ter sido um dos que mais o ajudaram no trabalho de equipa para essa vitória… e que, por sua vez, o amigo Ernesto Coelho me ofereceu, a mim, autor e gestor deste blogue. Cassete antiga entretanto cedida ao Porto Canal, para atualização também do formato de modo a ficar em suporte atual.

Joaquim Leão com a camisola do clube azul e branco percorreu as estradas do país para inúmeras vitórias durante cerca de uma dezena de anos. Conseguiu vários títulos, nomeadamente seis de campeão nacional de estrada, uma clássica Porto-Lisboa e conquistou outros prémios. Sendo na condição de campeão que esteve na Festa dos Campeões, ao tempo tradicional do clube, em 1968. Primeito num repasto festivo, de tarde, na Quinta da Vinha, do Presidente Honorário do FCP Sebastão Ferreira Mendes; e depois num festival noturno no estádio das Antas. Momentos esses registado nas fotos seguintes.

= Pose de um grupo de ciclistas campeões, junto com dirigentes do clube. Vendo-se, entre outros, a seguir aos dois prmeiros da foto... Joaquim Leite, Delfim Santos, Custódio Gomes, o ao tempo vice-presidente Dr. Miguel Pereira, Sebastião F. Mendes, o presidente Pinto de Magalhães, Joaquim Leão, Manuel de Sousa, José Azevedo e José Luís Pacheco.

= Joaquim Leão com a faixa de campeão nacional, entre campeões, na equipa do FC Porto.

Joaquim Leão, anos mais tarde, por alturas em que o FC Porto deixara de ter equipa de ciclismo profissional e manteve durante algum tempo apenas o escalão amador de formação, foi também treinador do clube. E continuou pelos tempos além sempre portista, um bom portista. Merecedor, como é,  de estar sentimentalmente na Memória Portista.

Armando Pinto           
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Curiosidade: Um postal com história – a propósito de eliminatórias do FC Porto com o Bruges…

O FC Porto volta a ter proximamente o Bruges como adversário em provas europeias, agora na participação da fase de grupos na atual edição da Liga dos Campeões. Como no passado aconteceu já por algumas vezes, nas diversas competições internacionais.

Ora é de uma dessas ocasiões, por acaso a mais antiga de jogos oficiais entre os dois clubes, uma lembrança pessoal que ficou da ida da equipa principal do FC Porto à Bélgica em novembro de 1972, para defrontar o Bruges, que nesse tempo era também referido por Burgeois. Tendo à época recebido, como então acontecia por vezes, um postal remetido de onde se encontrava a embaixada portista. Isso, no caso, através de postal ilustrado, com imagem do hotel em que estava a equipa do FC Porto, remetido por correio pelo meu amigo Armando Silva, o guarda-redes Armando que fazia parte do plantel portista e como tal se deslocou integrado na caravana azul e branca, ao tempo. Postal do qual aqui se juntam imagens de ambos os respetivos lados, como ilustração desta curiosidade e terna recordação pessoal.



Armando Pinto

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segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Homenagem evocativa a Carlos Duarte: - Recordando “retrato familiar” publicado em 1963 no jornal O Porto!

A vida de um clube desportivo, como o Futebol Clube do Porto, é feita de momentos muito diversos, extensivamente a instantes e circunstâncias felizes e tristes. Sobrepondo tais circunstâncias a paixão clubista. Continuando porém a vida, na vitória sobre a morte, quão é a memória perdurável. Conforme, no caso, merecem antigos valores do FC Porto, em cuja carreira existiram bons e maus resultados, mas por se terem distinguido e honrado a camisola azul e branca permanecem na Memória Portista. Tal o caso de Carlos Duarte, recentemente falecido. O senhor Carlos Domingos Duarte que continua presente no sentimento do universo do clube Dragão. Tanto que aqui se homenageia, desta vez com uma recordação jornalística de outros tempos. Recuperando na memória perene uma reportagem de âmbito familiar publicada no jornal O Porto em 1963. Algo que dispensa mais palavras, sendo melhor ver e ler…!

Armando Pinto

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domingo, 28 de agosto de 2022

Recordando: Trofeu Luis Otero ganho pelo FC Porto em Espanha por duas vezes - na era de torneios internacionais de verão!

Recuando no tempo, entre lembranças memorandas de tempos idos, no último domingo de agosto de 1962 o FC Porto conquistava no norte peninsular, entrando pelo território espanhol em plena Galiza, o então afamado Torneio de Pontevedra do Trofeu Luis Otero, com grande e vistosa taça em disputa. Um dos torneios internacionais que ao tempo se realizavam na fase de pré-época do futebol. Culminado perante brilhante triunfo da equipa principal do futebol portista, nesse tempo ainda de preparação para a época que se avizinhava (e, volvidos dois anos, em nova participação azul e branca no mesmo torneio, no primeiro domingo de setembro de 1964, isso se desenrolou também quando se aproximava a eliminatória com o Lyon de França, para a Taça das Taças, quão ficou nos anais históricos com a primeira vitória portista em provas europeias oficiais).

Ocorreu a referida primeira conquista do Trofeu Luis Otero então no último domingo de agosto, que em 1962 calhou a 26 desse mês estival. Vindo assim a talhe essa lembrança agora, à chegada e passagem do último domingo do mês de agosto em 2022, embora este ano calhe neste dia 28, a fazer lembrar o dia santificado de inícios dos idílicos anos sessenta.

Na calha desta remembrança e porque, depois da vitória em 1962, o FC Porto voltou a repetir tal pecúlio em 1964 com segunda vitória no mesmo torneio, trazendo segundo trofeu com o mesmo nome para o Porto, mesmo "a gosto"... junta-se nesta evocação as duas edições em que o FC Porto saiu vitorioso em terras de Nuestros Hermanos.

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Atualmente o chamado defeso do futebol, no período de preparação para a pré-época dos campeonatos do desporto rei, ressalta pela situação das transformações dos planteis das equipas e inerentess interesses de grandes somas envolvidas, em plena fase conhecida por mercado de transferências. Enquanto noutros tempos, em que até as provas oficiais começavam mais tarde, o panorama era diferente, sendo tempo ainda de realização de jogos particulares de prepração, incluindo participações em torneios de grande monta. Realizando-se então torneios famosos que eram possíveis por não existirem ainda pré-eliminatórias de acesso às competições europeias, nem os campeonatos nacionais começarem em pleno período de verão, havendo inclusive férias grandes, como era chamado a tal período de veraneio alongado.


Fazendo um enquadramento histórico, recorde-se que enquanto pelos idos de quarenta e inícios de cinquenta, do século XX, ainda não existiam provas internacionais oficializadas, foram decorrendo jogos de permutas entre equipas de diversos países, tendo o FC Porto tido jogos famosos com receções vitoriosas diante do Vasco da Gama do Brasil, Arsenal de Londres, Portuguesa do Rio, Fluminense, o Real Madrid, Vazas, Valência, etc, cuja repercussão se refletia em tais momentos terem sido distinguidos com publicações de coloridas separatas de publicações da especialidade, à época, em género de “posters” médios ilustrados. Gravuras essas que se viam nesse tempo, como embelezamento, por exemplo, coladas ou pregadas a forrarem tapamentos de locais públicos, quais divisórias de tábuas de madeira em tascas e similares estabelecimentos de comes e bebes nessas eras, quando não em quadros emoldurados a decorarem lojas de comidas e casas de pasto, como em tempos idos se chamava aos restaurantes tradicionais de aspeto singelo ou clássico, respetivamente. Para depois, quando começaram as provas europeias oficiais, iniciadas a partir do Outono, os períodos de verão antecedente aos jogos de campeonato eram precedidos de torneios internacionais organizados por clubes, que se foram tornando famosos.

Então, pelos anos sessentas, em plena década que o FC Porto em Portugal não conseguia mostrar sua valia pelas manobras dos bastidores federativos, foi conseguindo desforrar-se no estrangeiro, onde foi sendo possível fazer coisas bonitas e ganhar provas importantes. Tal o caso do famoso torneio espanhol do Troféu Luís Otero, anualmente organizado em Pontevedra, na Galiza.


Eis em imagem o atraente trofeu que em Setembro de 2017 foi até “Objeto do Mês” de amostra no espaço público de acesso à Loja do Dragão e ao Museu do FC Porto: o Troféu Luís Otero, de 1964. Sendo esse o segundo, como importa sempre recordar, pois que tal torneio e consequente troféu foi conquistado por duas vezes pelo FC Porto, a primeira em 1962 e por fim em 1964.

Com efeito, ao longo da história, o FC Porto marcava presença em importantes torneios de verão, autênticos festivais futebolísticos que ajudavam a preparar as épocas desportivas, a encantar plateias nacionais e estrangeiras e, também, a depositar factos e objetos memoráveis no património do clube.


É o caso do Troféu Luís Otero, conquistado pela segunda vez pelo FC Porto em 1964 com uma equipa onde emergia Rolando, um dos históricos capitães azuis e brancos, e o jovem Artur Jorge. A taça, erguida em Pontevedra (Espanha), esteve entretanto em exposição sobre este torneio patente no Hall do Museu do clube, na área de circulação livre, onde todos os meses há uma revelação da diversidade e riqueza da coleção do clube, enquanto não passa para a exposição permanemnte dentro do próprio Museu do FC Porto.

Assim sendo, apraz avivar o facto ao quadrado, recordando a vitória dupla conquistada, através de alguns dos dados relacionados com essa participação em tal torneio, da primeira vez realizado entre três competidores, e à segunda dois, sempre com o FC Porto em jogo.

= Azumir e Valdir =

Em 1962, os participantes foram o Pontevedra CF e Real Betis, de Espanha, mais o FC Porto, de Portugal. Tendo o FC Porto tido o seguinte programa

- Meia-final, a 24 de Agosto de 1962 - FC Porto, 2 - Real Betis, 1 [golos: 1-0 por Hernâni, aos 40´; e 2-0 por Azumir, aos 44´; 2-1 pelo espanhol Luís, aos 87´]´,
Alinhando as equipas com
FC Porto: Rui; Virgílio, Miguel Arcanjo, Mesquita, Atraca, Paula, Carlos Duarte, Pinto, Azumir, Hernâni e Serafim.
Real Betis: Corral; Colo, Ríos, Arieta, Lasa, Bosch, Senekovic, Luís, Ansola, Cortés, Portilla.

- Final, no seguinte 26 de Agosto - Pontevedra CF, 0 - FC Porto, 2 [golos: 0-1 por Azumir, aos 52´, e 0-2 por Serafim, aos  58´]
Alinhando os finalistas assim
Pontevedra CF: Gato (Estévez); Firi, Calleja, Cholo; Pastor, Bea (Guillermo);Recalde, Vallejo, Tucho, Cerezuela, Ferreiro.
FC Porto: Rui; Virgílio, Arcanjo, Mesquita; Festa, Paula; Carlos Duarte, Pinto, Azumir, Hernâni e Serafim.


Chegados os elementos da comitiva portista ao Porto no dia seguinte, houve receção apoteótica a 27 de Agosto. Em 1962, quando a equipa do FC Porto regressava a casa com o Trofeo Luis Otero, de futebol, conquistado em Pontevedra (Espanha). Vários jogadores históricos, como o guarda-redes Américo, faziam parte do plantel nesse ano. Os quais, entre mais, se podem recordar visitando o Museu para conhecer melhor os ídolos perpetuados na memória do clube.


Em 1964, como curiosidade (visto ao tempo não haver substituições em jogos oficiais mas apenas em particulares) os jogadores que foram subestituídos, por não poderem ficar no banco, posaram já sem estarem equipados, no fim, junto com os colegas, como foi o caso de Pinto e Jaime. Tal como Atraca, que acompanhara a equipa mas sem entrar em campo - como se pode ver pela fotografia da ocasião, da equipa com o trofeu da vitória; em cuja imagem cimeira aqui publicada, a abrir esta crónica, eles aparecem na pose do conjunto vitorioso com os colegas.

Por acaso Américo não chegou a alinhar em nenhuma das vezes em que o FC Porto venceu esse torneio, por estar "tocado" (resguardado de lesão passageira) e por tal motivo ter estado no banco como reforço se necessário fosse. Contudo fazia parte do plantel obviamente, tendo de ambas as vezes depois alinhado logo de início no campeonato português, ele que era e foi o guarda-redes nº 1 desse valioso grupo, do qual se recorda uma das formações contemporâneas. 


Volvidos dois anos (com interregno de um ano em que só participaram o Bétis e o anfitrião Pontevedra, com o visitante sevilhano saindo vencedor), em 1964 o FC Porto voltou a ser convidado, sendo participantes o Pontevedra CF, de Espanha, e o português FC Porto:


- Final, a 6 de Setembro de 1964 - Pontevedra CF, 0 - FC Porto, 2 [golos:0-1 por Bernardo da Velha, aos 32´, e 0-2 por Nóbrega, aos  75´]
Alinhando
Pontevedra CF: Fermín; Azcueta, Batalla, Cholo; Martín Esperanza, Roldán I; José Luis (Recalde), Cerezuela (Roldán II), Vallejo, Neme, Odriozola.
FC Porto: Rui; Festa, Almeida, Joaquim Jorge; Carlos Baptista, Paula; Jaime (depois Artur Jorge), Bernardo da Velha, Valdir, Pinto (Rolando) e Nóbrega.


No "Relatório e Contas" da gerência de 1964 ficou registado que então, «pela segunda vez deslocou-se o Futebol Clube do Porto à capital da Província Galega para defrontar a valorosa equipa de futebol do "Pontevedra Clube de Futebol" em disputa do "V Trofeu Luis Otero", que foi brilhantemente ganho pelo nosso clube, após exibição convincente e que muito agradou à "afición" espanhola... O prélio realizou-se no dia 6 de setembro de 1964, pelas 17, 30 horas no Estádio Municipal de Passarón e terminou com a vitória do Futebol Clube do Porto por 2-0. Após o jogo a caravana do F. C. do Porto que se havia deslocado em automóveis, regressou a esta cidade, sendo de registar, por dever ser caso inédito na história brilhante do Futebol Clube do Porto, que a "Taça" conquistada ficou retida por uns dias, na Alfândega de Valença do Minho.» 

Coisas desse tempo do Estado Novo, recorde-se ainda... 

Armando Pinto
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