Reconstituição Histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Reconstituição histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Criar é fazer existir, dar vida. Recriar é reconstituir. Como a criação e existência deste blogue tende a que tenha vida perene tudo o que eleva a alma portista. E ao recriar-se memórias procuramos fazer algo para que se não esqueça a história, procurando que seja reavivado o facto de terem existido valores memorávais dignos de registo; tal como se cumpra a finalidade de obtenção glorificadora, que levou a haver pessoas vencedoras, campeões conquistadores de justas vitórias, quais acontecimentos merecedores de evocação histórica.

A. P.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Américo - “Guarda-redes eterno” (festejando seus 86 anos)!


Num livrinho dos Ídolos do Desporto, pelos idos tempos da Primavera de 1968, Américo era considerado GUARDA-REDES “ETERNO”. Conforme o título do segundo livro que lhe foi dedicado na antiga e célebre coleção “Ídolos do Desporto”, publicado em Março de 1968 (depois de ter havido um anterior, de Janeiro de 1964) nessa linha de livros de bolso que fizeram história.


O caso reflete a importância de Américo no mundo do futebol português, sabendo-se que essa coleção, publicada em Lisboa ao longo de diversas séries e ao longo de alguns anos, dava então mais atenção a atletas dos clubes de Lisboa e arredores, tanto que de Benfica e Sporting até incluiu atletas vários de diversas modalidades, desde ciclismo, hóquei, basquetebol até ao atletismo, enquanto do FC Porto apenas foram lembrados diversos futebolistas e simplesmente dois ciclistas; e quanto aos futebolistas os do FC Porto foram em número reduzido comparativamente com os outros… Mas, enquanto isso, Américo teve direito a dois livros desses e só não foi mais além porque depois teve  de acabar a carreira devido a lesão, impeditiva de poder continuar. Repetição essa que, no âmbito dos jogadores de futebol do FC Porto, antes de Américo apenas se dera com Hernâni, e depois também apenas com Custódio Pinto, Francisco Nóbrega e José Rolando. O que é sintomático, conhecendo-se o panorama sócio-desportivo desses tempos e a história do futebol do FC Porto.  


Pois, além desse indicativo revelador de tal verdade, a realidade daquele elucidativo título, O GUARDA-REDES “ETERNO”, consubstanciava como o guardião Américo Lopes era visto no quadro dos grandes guarda-redes nacionais, como infinito no imaginário desportivo português. E embora o destino não tenha depois permitido maior longevidade, terminando tão brilhante carreira volvido um ano, em 1969, então com 36 anos, mesmo assim Américo continua a ser dos futebolistas portistas mais lembrados na memória de conhecedores e apreciadores da História do FC Porto.

Como agora se recorda, passados cinquenta anos disso tudo, na oportunidade em que Américo, o senhor Américo Ferreira Lopes, o eterno “Américo do Porto”, perfaz 86 anos de vida.

Longa e apreciada vida que o faz ser, na atualidade, um senhor muito respeitado, como antes ele se fazia respeitar a sair dos postes e a fazer valer os seus dotes de valoroso guardião das balizas que lhe foram confiadas.


Como constante recordação que é e será, Américo tem sido referenciado e lembrado por diversas vezes e ocasiões em escritos lavrados pelo autor destas linhas, quer no anterior blogue (entretanto “desaparecido” da blogosfera, após ataques informáticos adversários…) como neste de Memória Portista. Estando biografado e perpetuado como merece, pelo menos no universo cibernauta daqui. Porém nunca será demasiado acrescentar mais.

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Siska, o grande guarda-redes Miguel Siska do Futebol Clube do Porto, era o grande ídolo de Américo Ferreira Lopes, na sua adolescência lá no remanso de Santa Maria de Lamas, quando o então jovem sonhava um dia ir para o Porto...


Até que, mais tarde, com a intervenção de Soares dos Reis, antigo guarda-redes internacional e depois dirigente do FC Porto, após diversas peripécias particulares, o sonho tornou-se realidade, tendo Américo ido para os Juniores do FC Porto. E seguidamente o destino iria dando conta do que foi sendo escrito em sua vida.


Em 1952 Américo ascendeu à categoria superior. Por aquela época da subida de Américo à primeira categoria do FC Porto, com o estádio das Antas inaugurado há pouco tempo, a equipa do FC Porto teve diversas viagens de visitas de cortesia a terras de onde houve pedidos para idas de representações oficiais do grande clube da capital do Norte, com vista à realização de jogos particulares (uns com fins de angariação de fundos para a campanha da construção do estádio que andava ainda a ser pago, quer com fins beneficentes, ou simplesmente a corresponder a convites sociais). Sendo normalmente essas equipas compostas por alguns dos jogadores titulares e outra parte, senão em maioria, com suplentes e ex-juniores mais consagrados, numa mescla de juventude e experiência. Em cujas digressões naturalmente Américo também integrou as respetivas caravanas. Como no caso da ida do FC Porto a Torre de Moncorvo, no Nordeste Transmontano, por intervenção do então Presidente da Direção Dr. Urgel Horta, médico estabelecido no Porto mas natural daquele concelho transmontano. Onde em 1952 houve então um jogo festivo, nesse âmbito – a que se reporta a foto, vendo-se Américo ainda muito jovem entre colegas de idades diversas, entre os quais até António Araújo, junto ao presidente Dr. Urgel Horta, embora apenas a fazer figura de protocolo, como figura célebre do clube e do futebol português.


Naquela visita à zona das amendoeiras, os elementos da embaixada portista viajaram de comboio, indo na Linha do Douro até à estação do Pocinho, onde se deu entusiástica receção popular aos jogadores do Porto, ídolos também daquela gente que nunca os vira em carne e osso. Ate por fim ter ocorrido o encontro de futebol, nesse dia importante na história do desporto em Moncorvo, em pleno “Stadium São Paulo”, campo antigo da localidade que recebeu de braços abertos tal representação portista.

É sabido que Américo, entrado no plantel sénior do FC Porto em 1952 e tendo tido estreia oficial na equipa principal do FC Porto em 1953, em jogo a contar para o Campeonato Nacional da 1ª Divisão, teve porém de esperar a vez, por então estarem à sua frente guarda-redes como Barrigana, primeiro, e depois Pinho e Acúrcio, havendo de permeio ainda se intrometido o tempo de serviço militar obrigatório que originou paragem de cerca de dois anos e depois ainda ter estado uma época emprestado, para manter atividade. Tendo de permeio, nos períodos em que se manteve no FC Porto, Américo sido um dos guarda-redes da equipa de reservas, em cuja função ajudou essa formação dos suplentes e reforços, espécie de equipa equipa B do clube, a vencer algumas provas, de cariz distrital e mesmo nacional.

= Equipa vencedora do Torneio Regional de Reservas em 1956 e que teve boas prestações no Torneio Octogonal, ao tempo disputado =

Como, por entre diversos exemplos, se pode notar e anotar um através de um recorte do jornal "O Porto" de Maio de 1956, cuja notícia dá conta da prestação da equipa portista no "Torneio Octogonal de Reservas" disputado a nível nacional, com vitória da equipa defendida por Américo, em triunfo sobre o Torreense (curiosamente equipa que o FC Porto então vencia em duas frentes e versões diferentes, quer em reservas como na "primeira categoria", pois por essa altura acontecera também a vitória do FC Porto na Taça de Portugal de 1956, na final ganha por 2-0 ao Torreense no Jamor, às portas de Lisboa).


Entretanto Américo já contribuíra para a conquista do Campeonato Nacional de futebol de 1958/1959, tendo sido utilizado durante a época também e como tal sido um dos Campeões Nacionais do FC Porto, no célebre campeonato em que o FC Porto conseguiu superar o famigerado caso-Calabote.


Ora, chegada a época de 1961/62 com Jorge Orth no comando da equipa, Américo passou a ser titular da equipa principal do FC Porto. Estando-se ainda na fase de transição dos últimos anos de carreira de grandes vultos como Hernâni, Virgílio, Carlos Duarte, Barbosa, Perdigão, enquanto alguns outros ainda duraram algum tempo mais, tal o caso de Arcanjo (que em Janeiro de 1965 ainda fez um jogo na fase de apuramento da seleção nacional rumo ao Mundial de 1966), de permeio com afirmação momentânea de promessas como Serafim e Paula, nesses tempos, à chegada de novos e promissores valores, como Custódio Pinto, Jaime, Festa, Joaquim Jorge, Almeida, Azumir, Carlos Manuel, etc.

= No gradeamento do campo de treinos das Antas, anexo ao recinto principal (mais tarde chamado campo nº 2, a partir que houve mais campos de treinos na zona envolvente), o plantel do tempo em que Américo ainda jogou com Hernâni, Miguel Arcanjo e Carlos Duarte, mas também com Jaime, Azumir, Festa, Paula, Pinto, Carlos Manuel, Almeida, Romeu, Valdir, Rolando, Nóbrega, Rui, etc.

Ao assumir a guarda da baliza portista Américo tomou-se verdadeiramente dono do lugar n.º 1 da equipa com grandes exibições, conforme foi o caso de jogos vitoriosos em Alvalade diante do Sporting, ao tempo a equipa número dois do regime desportivo vigente, como no antigo estádio da Luz ao empatar em 1961/62, contra todas as expetativas e quase surpreendentemente vencendo o clube do Estado Novo mesmo em 1962/63… ao tempo em que era trinador o húngaro Janos Kalmar.

=  Equipa do FC Porto que em 1962/63 foi vencer a Lisboa em pleno estádio da Luz, para o  Campeonato Nacional da 1ª Divisão, à  4ª jornada disputada a  18/11/1962. Com o “score” de SL Benfica, 1 - FC Porto, 2 - perante 2 golos de Azumir e 1 de Eusébio. Dessa tarde de glória, com que Américo brindou todo o mundo, é a pose da praxe, tendo o coevo terceiro anel da Luz por fundo visual. 
(Em cima, a partir da esquerda para a direita - Mesquita, Paula, Miguel Arcanjo, Joaquim Jorge, Festa e Américo; em baixo pela mesma ordem - Jaime, Custódio Pinto, Azumir, Hernâni e Serafim.)
Com a curiosidade de nesse tempo serem usadas as camisolas de versão mais linda de sempre, do equipamento histórico-tradicional do FC Porto, como é maioritariamente considerado na afeição memorial portista. =


… O pior, por esses tempos e mais tempo, era o que vinha depois, por mais que a equipa do Porto conseguisse demonstrar em campo. Como, entre tantos e diversos exemplos, nesse mesmo Campeonato de 1963 aconteceu com um penalti inventado pelo árbitro Reinaldo Silva no jogo da 2ª Volta nas Antas, conforme foi recordado mais tarde no jornal O Norte Desportivo aquando do 25º aniversário do Estádio das Antas, como um grande “roubo” de que o FC Porto foi mais uma vez vítima e com consequência decisiva na perda de mais um campeonato:


A par disso e passando ao lado, dentro do que era possível, Américo foi-se afirmando efetivamente como grande guarda-redes do clube. E depressa também ganhou estatuto de grande referência no grupo de trabalho da equipa, a pontos de, após a saída dos mais antigos, e de permeio ter havido algumas experiências de comando, ter passado para Américo a braçadeira de Capitão de equipa, como líder carismático. Tendo sido com Américo a Capitão que se deu a primeira vitória do FC Porto em competições oficiais europeias, com a vitória por 3-0 sobre o Olimpique Lyonnais (Lyon) para a 1ª mão da 1ª eliminatória da então Taça das Taças, em Setembro de 1964.


Decorridos tempos, Américo venceu a 1ª Baliza de Prata atribuída a guarda-redes nacionais, em 1963/64, como guarda-redes que menos golos sofreu ao longo do campeonato nacional dessa época, entre ocorrências várias. Tal como foi sendo desenvolvido dentro do clube o seu estatuto de figura importante, inclusive tendo figurado como representante do futebol numa organização oficial portista noutra modalidade, quão foi o caso de ter sido entregue ao guarda-redes Américo a bandeirola de sinal de chegada duma etapa do Grande Prémio de Ciclismo do FC Porto, com meta na pista do estádio das Antas, também.


Apesar de entretanto não terem sido conseguidos campeonatos, ou seja, não tendo sido possível ganhar o campeonato durante esses anos, como se sabe, mesmo assim o FC Porto ia fazendo frente aos rivais e era temido nos confrontos diretos. Apenas que depois as manobras de bastidores faziam o resto… Assim, por exemplo, foram-se sucedendo algumas boas vitórias sobre o clube do regime, como foi um bom exemplo a vitória por 2-0 sobre Eusébio e C.ª no jogo da estreia de Pavão, a 26 de Setembro de 1965. Vindo a talhe esta referência para registar uma foto da equipa desse tempo, com Américo junto a colegas valorosos que bem mereciam ter sido também campeões.

(Foto da equipa do FC Porto do jogo de estreia de Pavão, a contar para a 3.ª jornada do Campeonato Nacional de 1965/66. No Estádio das Antas, a 26/9/1965. Com o resultado obtido através de golos de Naftal e Nóbrega. Em cima da esquerda para a direita - Atraca, Pavão, Alípio Vasconcelos, Alberto Festa, João Almeida e Américo; em baixo pela mesma ordem - Jaime, Naftal, Manuel António, Custódio Pinto e Nóbrega.)

Depois veio a grande vitória na Taça de Portugal de 1967/1968, em cuja final, disputada no chamado Estádio Nacional, vulgo estádio de Oeiras, nos arredores de Lisboa, então o FC Porto venceu o Vitória de Setúbal por 2-1.Tendo Américo contribuído de modo importante, fazendo uma das suas exibições de grande nível, nesse encontro em que o clube sadino chegava à final da mesma Taça pelo quarto ano consecutivo, com duas vitórias nessa segunda maior prova do calendário futebolístico português, em anos alternados, até aí.

Final em que Américo se cobriu de glória, como último reduto dessa equipa em que teve à sua frente Atraca, Bernardo da Velha, Valdemar, Rolando, Pavão, Eduardo Gomes, Jaime, Custódio Pinto, Djalma e Nóbrega; sendo autores dos golos Valdemar Pacheco e Francisco Nóbrega.


Assim sendo, vem a talhe relembrar como era o cenário da situação desse tempo em que o grande Américo era considerado “Eterno”, conforme foi sintetizado em livro. Como calha a preceito lembrar que nesse mesmo ano de 1968 Américo foi considerado o melhor guarda-redes nacional, como ficou também registado num outro livrinho da mesma coleção, então sobre a época da equipa principal do FC Porto, publicado a 8 de Junho de 1968 (dias antes da final da Taça de Portugal ganha a 16 de Junho).


Curiosa essa apreciação, em coluna à parte, registando a sua consagração como vencedor daquele galardão que premiava o jogador mais regular do Campeonato Nacional, o Prémio Somelos-Helanca de reconhecimento ao futebolista mais pontuado de todos, entre os participantes das melhores exibições, ao longo das sucessivas jornadas, segundo pontuação dum jornal como A Bola, por tradição totalmente anti-Porto. Acrescido de até ser lembrado o quanto foi injustiçado anteriormente no Mundial de 1966, que poderia ter tido outro desfecho se houvesse sido posto Américo a defender a baliza dessa seleção do sistema BSB… como tardiamente reconheceram tal erro o então selecionador Manuel Luz Afonso e o treinador Otto Glória.


Américo, sempre muito ponderado e senhor de si, entretanto já ia pensando no futuro e estabelecera-se comercialmente com a famosa loja chamada Casa Magriço, de artigos desportivos, com nome dado em homenagem à ida à Inglaterra de 1966... Servindo então todas as ocasiões para promover o seu estabelecimento, como nos casos de viagens e outas ocasiões públicas, sempre com a sua boa disposição.


Depois disso e terminada a carreira, fundou uma clínica médica e continuou sempre ativo. Enquanto em sua casa criou um belo museu de recordações de sua carreira desportiva, dos mais interessantes que se conhecem a nível particular, para admirador ver e satisfação perdurar. 


Nascido em Santa Maria de Lamas a 27 de Fevereiro de 1933 (embora tenha sido registado civilmente com data fictícia de 6 de Março), Américo reside em São Paio de Oleiros, onde fundou a Clínica de Saúde Boa Hora, recentemente passada a sua afilhada D. Isabel Leite, criada por ele e sua esposa como filha, a qual verdadeiramente tem por ele autêntico amor filial, além de grande admiração pela sua figura também eterna. 


Rijo e muito lúcido, Américo Lopes é pois bem resistente ao tempo, à imagem do castelo feirense de seu concelho, mantendo-se como pessoa de boa memória para muita e boa gente.

Enquanto isto, no Museu do FC Porto entretanto consta algo seu, também, incluindo uma figuração no cimo do autocarro das vitórias, ficando-se a desejar que a sua Baliza de Prata lá chegue a ficar guardada, assim como a grande Taça Somelos-Helanca, que estava na Sala-Museu Afonso Pinto de Magalhães, o antigo Museu da Sede e depois das Antas, também tenha lugar no atual Museu FC Porto by BMG, no Dragão.


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Na ocasião da passagem de seu 86.º aniversário natalício, em mais outra vez também, prestando-lhe mais esta publicação de homenagem e reconhecimento, desejamos que continue bem e tenha muita vida pela frente.

Parabéns Sr. Américo! Feliz aniversário! Com um abraço

- Aqui do seu amigo e sempre admirador portista

Armando Pinto

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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Alberto Festa: Mundialista-Magriço Portista


Tal como o antigo futebolista Valdemar Mota foi o primeiro olímpico do FC Porto, integrando a seleção lusa presente nas Olimpíadas de 1928; Hernâni, Arcanjo e Barbosa foram Campeões Mundiais Militares como integrantes da seleção portuguesa vencedora em 1958 do Torneio Internacional Militar (de Seleções Militares dos países da NATO); em 1966 Alberto Festa tornou-se no primeiro futebolista do FC Porto a ter estado presente numa fase final dum Mundial de futebol... havendo sido “Magriço” representante do FC Porto, utilizado como titular em jogos do Mundial de 66 em Inglaterra.


Recorde-se que o nome Magriços dado então aos jogadores integrantes do lote dos 22 elementos da seleção A de Portugal que disputou o Campeonato do Mundo de Futebol de 1966, se baseou no episódio d’ Os Doze de Inglaterra, descrito por Camões no canto VI d’ Os Lusíadas. E, mais concretamente no apelido do chamado Magriço (Álvaro Gonçalves Coutinho, mais conhecido como Grão Magriço ou simplesmente o Magriço), o mais famoso desses 12 cavaleiros da era do rei D. João I, fidalgos guerreiros que viajaram até Inglaterra para participarem num torneio em defesa de 12 damas… como é da história romântica. Associando-se oficialmente aquela “ideia na medida daquilo que o Grão Magriço representa, o belo episódio que Luís de Camões canta n’Os Lusíadas”, quão aquele antepassado significava para a ocasião, por assimilação dum autêntico desportista ido a Inglaterra... “

Foi assim Alberto Festa um dos componentes da campanha dos Magriços de 1966, podendo considerar-se Festa o Grão Magriço do FC Porto nessa saga duma das lanças portistas no tempo do sistema BSB...!  


Foi pois Festa um dos Magriços, como jogador utilizado nesse Mundial. E como tal tem lugar de relevo na história do FC Porto. Como têm Américo e Custódio Pinto, que também integraram a caravana portuguesa nesse Mundial de 1966, pese não terem jogado, mas por se saber como foram injustiçados pelo poder do sistema reinol desse tempo e sempre serem lembrados como paradigmáticos do que acontecia por esse tempo do sistema BSB, das presidências federativas circunscritas aos 3 clubes de Lisboa – Benfica, Sporting e Belenenses… dos quais foi a molhada dos jogadores utilizados na velha Albion.

= Equipa do jogo de atribuição do 3º lugar no Mundial de 1966, obtido por Portugal após vitória por 2-1 com a Rússia, tendo Festa feito assistência para um dos golos portugueses, centrando para a cabeça de Torres (tendo o outro sido de penalti, com que Eusébio marcou a Lev Yashin)

Festa era então o capitão de equipa do FC Porto e defesa que substituíra dignamente o célebre Virgílio Mendes. Mas, após o Mundial, pouco mais conseguiu jogar, pois em 1967/68 sofreu uma grave lesão que o obrigou a interromper seu percurso no futebol e acabou por o afastar até dos grandes palcos do desporto-rei.


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Entrado na equipa do FC Porto em tempo de transição de valores, nos inícios da década dos anos sessentas, estando ainda no plantel alguns dos grandes nomes da geração de cinquenta, como Hernâni, Virgílio, Arcanjo, Carlos Duarte e Perdigão, e começando a entrar outros mais novos, tais os casos de Américo, Pinto, Jaime, e por aí adiante, Festa calhou como sopa no mel para substituir esses monstros, porque atuou de início em mais que um lugar. Tendo começando como defesa-central e tendo ainda experimentado funções de meio-campo, afirmou-se por fim como defesa-direito, o lugar que durante onze anos foram de Virgílio, o célebre “Leão de Génova” e “raçudo” defensor que em seu tempo foi o internacional com mais jogos na seleção portuguesa, tal como durante muitos anos foi também o “mais internacional” do FC Porto.


A chegada de Alberto Festa ao FC Porto esteve relacionada com o empréstimo de Francisco Nóbrega ao Tirsense, onde esse jovem avançado esquerdino jogou por empréstimo do FC Porto, evoluindo no clube da terra dos Jesuítas durante um ano, de seguida, mediante o acordo da transferência do promissor defesa Festa. E então houve também continuidade de ligação das afinidades ente o clube que fora treinado pelo grande ídolo portista Artur Pinga, pois antes dele jogara e fora campeão em juniores do FC Porto o avançado Ferreirinha, também de Santo Tirso e que entretanto entrara na família de Festa como cunhado, casado com uma das suas três irmãs (do conjunto familiar de oito, sendo Alberto um dos cinco rapazes). Bem como depois também veio para o FC Porto Carlos Manuel, enquanto vários jovens jogadores do FC Porto rumaram ao Tirsense ao longo desses tempos de evolução do clube concelhio da Abadia Beneditina.


Depressa Festa se tornou senhor de lugar certo na equipa principal do FC Porto e se transformou num dos nomes idolatrados das multidões, saídos e disputados nos populares cromos do mundo da bola. Tanto que a meio dessa mesma década de sessenta era já um dos capitães de equipa e em 1966, depois que Américo abdicou da função após ter sofrido uma expulsão injusta derivada do cargo, Festa ficou mesmo como principal capitão do grupo (até a respetiva braçadeira ter passado para Custódio Pinto, com a grave e duradoura lesão que afastou Festa da equipa azul e branca e da seleção nacional).


Ao longo de sua carreira Festa fez muitos jogos, distribuídos pelo clube de sua terra, o Tirsense, com cuja camisola negra se deu a conhecer; e maioritariamente com a camisola azul e branca no FC Porto, tendo ao serviço do clube das Antas ajudado à conquista da Taça de Portugal de 1967/68, por ter atuado em dois jogos dessa vitoriosa campanha portista.


Alberto Augusto Antunes Festa, mais conhecido como Alberto Festa e no futebol popularmente com nome de guerra Festa, nasceu em Santo Tirso, a 21 de Julho de 1939.


Começara a jogar futebol no F.C. Tirsense, desde a formação até à equipa principal. Atingindo ponto máximo ao chegar ao Futebol Clube do Porto em 1960/61, através da visão de Pedroto, então treinador dos Juniores do FC Porto, que serviu de "olheiro" para o efeito. A sua estreia com a camisola dos Dragões aconteceu em finais de 1961, como defesa-central, ao ser chamado a substituir Miguel Arcanjo que se havia lesionado. Facto ocorrido no dia 5 de Novembro de 1961 no Estádio Padinha em Olhão, onde os portistas empataram 1-1 com o Olhanense, em encontro a contar para a 5ª jornada do Campeonato Nacional da época de 1961/62. Depois disso voltou a ser escalado para a equipa principal em Janeiro de 1962. Como se pode recordar deitando olhos a algumas páginas do pequeno livro que em 1964 lhe foi dedicado na coleção “Ídolos do Desporto”:


Entretanto… Na continuação da sua carreira, esteve num momento de particular realce na vida da coletividade das Antas: No dia 16 de Setembro de 1964 foi um dos titulares da equipa portista que venceu o Olimpique Lyonnais por 3-0 na 1ª mão da 1ª eliminatória da Taça dos Vencedores das Taças, feito esse marcante ao ter sido o primeiro triunfo do F.C. Porto nas competições europeias de futebol.

= Equipa do FC Porto que a 16 de Setembro de 1964 jogou no estádio das Antas com o Lyon na 1ª mão da 1ª eliminatória da então existente Taça das Taças, taça europeia dos Clubes Vencedores de Taças, derrotando aí os franceses do Olimpique Lyonnais por 3-0, com 2 golos de Custódio Pinto e 1 de Carlos Baptista. (Em França, na 2ª mão, voltou a repetir-se o triunfo, dessa vez por 1-0 com golo de Valdir). Na foto vêm-se os portistas segurando flâmulas alusivas ao encontro das Antas, em tempo que Américo era o Capitão da equipa e como tal tinha o galhardete para a entrega e troca tradicional. Tendo o FC Porto alinhado como se pode ver na imagem (porque à época era habitual os intervenientes fazerem pose sensivelmente com lugares relativos às posições em campo, estando, em pé - na ordem da direita para esquerda: Américo, Joaquim Jorge, Almeida, Festa, Paula, Rolando; e (em baixo - a partir da esquerda da foto) Jaime, Pinto, Valdir, Carlos Baptista e Nóbrega.

Com grande fulgor, Festa foi naturalmente um dos escolhidos para a campanha de apuramento para o Mundial de 1966. Estreara-se na seleção Nacional A em Janeiro de 1963, alinhando juntamente com os colegas de equipa Paula e Serafim. Sabendo-se como os jogadores do FC Porto para irem à seleção tinham de ser muitíssimo superiores aos outros e por vezes nem assim… Continuando depois Festa a ser ainda selecionado de quando em vez, uma vezes sozinho e outras com um ou dois colegas, embora alguns ficando a suplentes. Tendo em 1964 estado em duas grandes vitórias de Portugal, na Suíça e na Bélgica, na companhia também dos colegas Américo e Pinto, assim como esteve junto com Hernâni no último jogo com a camisola das quinas desse grande general do futebol português. 


Na campanha de apuramento para o Mundial, que se seguiria, Festa jogou ao lado do colega portista Miguel Arcanjo primeiramente e depois uma vez ou outra com Custódio Pinto, enquanto em jogos de preparação intermédios jogaram também Américo e Nóbrega, ao passo que outros ficaram a suplentes, como Atraca, Jaime e até Rui, por exemplo. Chegada a decisão da escolha dos selecionados, estiveram em estágio seis elementos do FC Porto, dos quais apenas três continuaram e seguiram na comitiva para Londres.


Aí, em 1966, Festa foi um dos três “Magriços” do FC Porto, juntamente com Américo Lopes e Custódio Pinto, que marcaram presença no Campeonato do Mundo de Futebol de Inglaterra. 

= Reportagem em O Porto, aquando do 1º jogo de Festa no Mundial de 1966 (depois jogou ainda mais outros dois)

Tendo Festa alinhado em 3 encontros, pela metade dos seis jogos disputados nessa fase final, enquanto Américo e Pinto ficaram de fora – porque ao tempo a presidência federativa era do Belenenses e como tal jogaram dois futebolistas do clube do Restelo, o guarda-redes José Pereira e o defesa Vicente, enquanto do Setúbal jogou o centrocampista Jaime Graça, que de seguida foi para o Benfica… e o resto era grosso modo o núcleo habitual de Benfica-Sporting, os clubes que antes e depois ocuparam e ocupariam as cadeiras das presidências da Federação!


Após isso, em 1966 ele foi agraciado oficialmente pela presidência da República com a Medalha de Prata da Ordem do Infante D. Henrique. Como também foi reconhecido federativamente com a Medalha de Ouro Ao Mérito da FPF. Assim como antes o FC Porto já o havia distinguido com a atribuição do Troféu Pinga, que nesse tempo era o galardão máximo do clube (anterior ao Dragão de Ouro).


Em 1967/68 ainda fez parte do plantel portista que disputou os jogos da campanha da Taça de Portugal, havendo jogado em dois encontros. Até que sobreveio entretanto uma lesão grave num joelho, afastando-o dos relvados por longo período; e apesar de ter andado por grandes especialistas estrangeiros, não recuperou mais totalmente. Mesmo assim, como foi um dos 23 utilizados ao longo das eliminatórias que levaram à final do Jamor, Festa foi um dos bravos que contribuíram para a conquista da Taça de Portugal, culminada com a vitória do FC Porto sobre o Vitória de Setúbal por 2-1 na final disputada no estádio do Jamor, em Oeiras, arredores de Lisboa.

= Festa sabia quem tinha na sua baliza... o grande Américo - que depois até foi o grande herói da final da Taça de 1968!

Pelo seu estatuto e grande carisma detido no seio do FC Porto, Festa foi o representante do futebol do clube na cerimónia de inauguração do Mausoléu do FC Porto, em Agosto de 1968 – a que se reporta a gravura jornalística, aqui ilustrativa.  


Terminada a carreira ao serviço do FC Porto com uma Taça de Portugal ganha, em 1968, e ainda triunfos por cinco vezes na Taça Associação de Futebol do Porto (1961/62, 1962/63, 1963/64, 1964/65 e 1965/66), Festa ficou ligado à história do FC Porto, grande clube em que vestiu a camisola azul e branca durante oito temporadas, sobretudo como grande defesa direito dos Dragões. Cuja tabela de Internacionalizações pela Seleção A portuguesa ficou descrita no trabalho de Rodrigues Teles sobre os até então "Internacionais do F. C. do Porto".


Passada essa fase, para continuar a jogar, ainda que a outro nível, na temporada de 1968/69 Festa regressou ao F.C. Tirsense para competir durante mais quatro épocas, até terminar a sua carreira no final da temporada de 1971/72.


Viria ainda a regressar ao FC Porto como treinador das camadas jovens e por fim acabou a relação futebolística como secretário técnico do Tirsense, na sua terra.

= Festa, aquando de sua ligação aos escalões de formação do FC Porto, junto a Pedroto, Pinto da Costa e Feliciano, convivendo com alguns dos craques do futuro... 

O seu currículo desportivo consta publicamente na Enciclopédia do Desporto, volume 5, edição Quidnovi de 2003. De cuja página se junta a respetiva “entrada”, como resumido complemento.


A presença de Festa no FC Porto, em suma, provou como foi digno da posição que antes fora de Virgílio. Quão bem desempenhou o seu lugar entre 1960/61 e 1967/68.


E para sempre foi e é o Magriço efetivo do FC Porto no primeiro Mundial em que Portugal esteve presente na fase final.


Armando Pinto                                                                                                
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