Reconstituição Histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Reconstituição histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Criar é fazer existir, dar vida. Recriar é reconstituir. Como a criação e existência deste blogue tende a que tenha vida perene tudo o que eleva a alma portista. E ao recriar-se memórias procuramos fazer algo para que se não esqueça a história, procurando que seja reavivado o facto de terem existido valores memorávais dignos de registo; tal como se cumpra a finalidade de obtenção glorificadora, que levou a haver pessoas vencedoras, campeões conquistadores de justas vitórias, quais acontecimentos merecedores de evocação histórica.

A. P.

terça-feira, 22 de março de 2016

Fernando Barbot – hoquista do primeiro lote portista de Campeões Europeus formados no F C Porto


Fernando Barbot é um nome de peso na memória do hóquei portista. Primeiro através do antigo dirigente da secção de hóquei em patins do F C Porto e da Associação de Patinagem do Porto, e depois do filho com o mesmo nome, que calçou os patins e de aléu nas mãos evoluiu em rinque com a camisola do F C Porto, tendo inclusive sido campeão europeu, pela seleção nacional de juniores na conquista do título europeu de 1969. Oriundos de uma família tradicionalmente ligada ao hóquei, pois além do patriarca dedicado à área administrativa e organizativa, jogavam hóquei em patins os filhos, Fernando, Luís e João Paulo, três irmãos Barbots. Havendo anos depois, já após ter guardado os patins e o stique (“stick”), o filho Fernando também desempenhado funções diretivas, na qualidade de dirigente da A.P.P.

Ora o Fernando Barbot campeão europeu é o personagem hoquista que desta vez aqui lembramos, com todo o merecimento pela sua dedicação ao hóquei e, na parte que nos toca mais, pela afeição ao nosso comum clube Dragão.


Pois o então jovem Fernando tinha assim nome próprio como seu pai, que foi Vice-Presidente da Direção da Associação de Patinagem do Porto, organismo ainda com a sua sede numa das salas do Clube Fenianos do Porto (era o Sr. Armando Ribeiro o Presidente, como figura grada do hóquei, de que mais tarde chegou a ser selecionador nacional), assim como depois foi mesmo Presidente, o sr. Fernando Barbot, tido então com grande respeito, tal o renome obtido no mais alto cargo representativo da Associação portuense. E como hoquista, o filho Fernando mereceu a honra de ter sido chamado à seleção nacional de juniores, havendo integrado a primeira fornada da patinagem da Constituição que obteve o título europeu nessa equipa representativa de Portugal, como hoquistas formados no F C Porto.  Honra sobretudo para o clube, pois esses três, que eram Cristiano, Fernando Barbot e António Júlio, tornaram-se aí os primeiros atletas campeões da Europa formados nas Escolas do F C Porto em todas as modalidades. Saídos que foram da formação iniciada no antigo rinque da Constituição, cuja criação dava então frutos, a pontos de Cristiano, nesse tempo ainda com idade de júnior, já ser figura principal da equipa sénior. Num lote de campeões europeus juniores que, com honra e glória para o clube e para o país, era ainda reforçado com Castro, guarda-redes que viera da ilha da Madeira e de idade júnior também já ajudava na equipa sénior do F C Porto.


Ora, Fernando Barbot, filho, é o mais velho dos três herdeiros de senhor Fernando Barbot pai, que ao tempo era um associado já antigo do F C Porto. Fernando A. Barbot Costa, distinguido com a categoria de Sócio Honorário individual da Associação de Patinagem do Porto (enquanto o F C Porto é Sócio de Mérito coletivo). Sendo o filho de nome completo Fernando Manuel Fernandes Barbot Costa. Rapaz que foi para o hóquei praticamente pela mão de seu pai – como referiu ao jornal O Porto, na ocasião (em entrevista conjunta ao quinteto portista que dignificou o F C Porto através da representação portuguesa em Vigo). Era o então jovem Fernando estudante do Colégio João de Deus, no Porto, descrito como “um moço aprumado e de maneiras pouco modernistas", estando à época com 18 anos, logo ainda com mais tempo na categoria júnior (jogando com seu irmão Luís, mais Jorge Câmara e outros prometedores hoquistas desse tempo). Acrescentando o próprio, naquela entrevista: «Quando pequeno, aí com uns três anos de idade, era ele (o pai) quem me levava a ver os jogos. Como adorava patinar de “stic” nas mãos, não demorou a fazer-me jogador…»

= Quarteto dos hoquistas que foram os primeiros campeões europeus do F C Porto (em pose no antigo espaço do campo da Constituição - a partir da esquerda:)  António Júlio, José Castro, Fernando Barbot e Cristiano  =

Campeão Europeu com a camisola da seleção portuguesa que venceu o Campeonato da Europa de juniores, disputado em Vigo entre 10 e 14 de Setembro de 1969, Fernando Barbot faz parte da galeria de internacionais de hóquei do F C Porto. De cuja equipa, em que esteve incluído, há apenas uma fotografia de conjunto, numa pose coletiva feita durante a viagem rumo à Galiza, na paragem para almoço, motivo porque estão todos de fato de treino. Isso porque naquele tempo para cada jogo só eram escalados oito elementos, dos dez do lote escolhido, originando assim que só se equipavam os que constavam na ficha do encontro.

= Seleção Nacional de Juniores que se sagrou Campeã Europeia de 1969, da qual faziam parte quatro hoquistas e um massagista do F. C. do Porto. Além de alguns mais que depois também vieram para o F C Porto. Em pé, da esquerda para a direita: José Fernandes (então da CUF, mas que depois ingressou no F C Porto), Dinis, Leitão (ambos do Parede), António Júlio (F C Porto), Fernando Barbot (F C Porto), Rui Monteiro (guarda-redes, Paço d´Arcos) e Joaquim Lopes (massagista e também do F C Porto). À frente, de cócoras: Vítor Orênsio (Parede), António Vale (Valongo) - estes dois, mais tarde transferidos para o F C Porto, Cristiano (F C Porto) e José Castro (guarda-redes, F C Porto).=

Dessa campanha, entre curiosidades e recordações, Fernando Barbot guardou o regulamento (que era entregue a todos os selecionados, com diretrizes de comportamento). Outros tempos, outras regras…


A participação da equipa portuguesa nessa prova foi seguida com grande entusiasmo e natural esperança, em virtude de na época anterior a seleção junior, já com Cristiano e Castro, do F C Porto, ter feito um brilharete no Europeu de 1968 também disputado em Espanha, tendo ficado com os mesmos pontos da seleção anfitriã, que venceu por diferença de golos. A ponto que, na jornada decisiva de Setembro de 1969, foram diversas personalidades do hóquei nortenho até Vigo, devido à proximidade, mas também ao interesse entusiasta, com saliência para alguns dirigentes do F C Porto e para o capitão da equipa principal do F C Porto, Alexandre Magalhães, entre pessoas que foram levar um abraço de estímulo aos jovens hoquistas portugueses.

Desse campeonato junta-se aqui também o frontispício do livro, devidamente autografado por todos os membros da comitiva. Sendo interessante anotar a respetiva identificação das assinaturas:
- Do lado esquerdo e de cima para baixo – Rui Monteiro, António Vale, Victor Orêncio e António Júlio; do lado direito e no mesmo sentido: Amílcar Fernandes (diretor da Federação), Welson Marques (Adjunto do selecionador), Guilhermino Rodrigues (Selecionador nacional), José Manuel Castro, Fernando Barbot, Joaquim Pedro Dinis, José Fernandes, Cristiano e Leitão.

= Capa do livro oficial do Campeonato Europeu de Juniores – 1969 (IX campeonato de europa de hockey sobre patines junior)

No regresso sucederam-se algumas justas homenagens, a nível oficial e também particular. De uma dessas ocasiões é a captação fotográfica que se junta, a seguir, reportando a homenagem da Associação de Patinagem e do próprio F C Porto em cerimónia realizada no rinque da Constituição. Vendo-se, no instantâneo desta foto, Cristiano, Barbot e Castro, no momento em que era entregue a Fernando Barbot uma placa alusiva com que a APP homenageou os Campeões Europeus de sua jurisdição. Na imagem está, à direita, o então diretor Dr. José Eduardo Pinto da Costa (ainda sem as  barbas brancas que tornam hoje mais conhecido o Doutor Pinto da Costa). 


Havendo continuado no escalão júnior, junto com seu irmão Luís Barbot, Armindo, Jorge e demais dessa época, Fernando ajudou a formação júnior do F C Porto a classificar-se para a fase final do "Nacional", facto inédito até então. (Enquanto o irmão mais novo era peça importante da equipa do escalão a seguir, sagrando-se campeão nacional como integrante da equipa que venceu o Campeonato Nacional de Juvenis, também ocorrência conseguida pela primeira vez nessa categoria em tal grau dos jovens portistas.)

= Equipa de Juniores do F. C. do Porto que pela 1.ª vez se classificou para o Campeonato Nacional, decorria o ano de 1970. Em pé: Tavares (massagista) Fernando Barbot, Luís Barbot, Armindo, Feliciano, Adriano Ferreira e Lopes. De cócoras: Vítor Freitas, Vítor Machado, Jorge Câmara, José Manuel Coelho e Joel (roupeiro).=

Fernando Barbot subiu depois à categoria sénior em 1971, tendo feito parte da equipa portista que venceu a fase Norte do Campeonato Metropolitano. Havendo então alinhado ao lado de Cristiano, que durante anos foi referência do hóquei portista, de José Ricardo, possivelmente o melhor hoquista português nascido na Madeira, de Joaquim Leite, grande valor do hóquei patinado e que entretanto foi internacional de hóquei em campo, mais do guarda-redes internacional sénior João Brito, do Hernâni que era nome certo nas seleções do Norte e da Associação de Patinagem do Porto e, como outros, só não foi à seleção A da FPP por ser de onde era… etc. e tal.


Entretanto Fernando Barbot havia recebido um convite para jogar pelo Boavista, mas não chegou sequer a equacionar essa possibilidade, preferindo manter-se entre os seus amigos de longa data, em vez de ir representar o clube do Bessa, que nesse tempo também tinha equipa de hóquei e com diversos contactos mútuos através de jogos da equipa B do FC Porto, como em jogos de torneios de reservas - a que se reporta o exemplo de uma imagem coeva (vendo-se na apresentação dum encontro Fernando Barbot a capitanear a equipa portista, enquanto os hoquistas da zona da Boavista pareciam muito descontraídos, em sinal do seu clube não ter grandes aspirações na modalidade, ao tempo).


Intrometendo-se a chamada para a tropa, como nesse tempo era e de longa duração o serviço militar obrigatório, acrescido à situação da equipa senior do F C Porto ter recebido alguns reforços vindos de outras equipas, Fernando Barbot solicitou a Jorge Nuno Pinto da Costa (ao tempo responsável desse setor no clube) que lhe fosse permitida a saída para um outro clube da cidade, para se manter a jogar com regularidade. Porque tinha contrato assinado com o F C Porto por mais tempo (sendo os contratos de três anos, à época), apesar de não ganhar dinheiro algum, como aliás nunca recebeu qualquer vencimento enquanto atleta. Tendo então passado a jogar no pavilhão do Lima, pelo Académico do Porto, oficialmente como emprestado pelo F C Porto, mas com a carta na mão, já. Carta essa, como era chamada, que consistia no documento de filiação clubista e inscrição associativa e federativa, efetivamente. Fez então parte da última equipa da camisola branca academista que esteve presente numa fase final do Campeonato Nacional, em 1974/75. Nessa altura tirou o primeiro grau do curso de treinadores, junto com Cristiano e outros, numa interessante experiência (pois esse curso era abrangente em diversas áreas de técnica e tática, tendo por mestres nomes sonantes do desporto nesse tempo, desde o conhecido treinador e jornalista Correia de Brito, o Prof. Manuel Puga, que era grande preparador físico em várias modalidades, além de ter sido conceituado treinador de voleibol e representante na cidade do Porto da Direção Geral dos Desportos, até ao árbitro internacional Afonso Cardoso e ao especialista de medicina desportiva Dr. Sousa Nunes, incluindo mesmo parte de dirigismo desportivo com um federativo como Vaz da Silva, etc.).  Passado então um período de três anos no clube alvi-negro, recebeu convite para representar o Candal, ainda.

Fernando Barbot, depois, representou então o Candal, de 1976 a 1978, numa equipa formada por hoquistas oriundos do F C Porto, especialmente porque o treinador havia sido pessoa importante do hóquei portista, o senhor Alfredo Sampaio Mota, antigo chefe de secção do hóquei em patins das Antas. Tendo então Fernando Barbot, junto com Jorge Câmara, Rui Caetano, Januário, Domingos Ferreira, José Manuel e seu irmão João Paulo Barbot (todos ex-F.C. do Porto), levado essa equipa de equipamento azul a ter subido de divisão, ingressando na 1ª Divisão nessa altura. Tendo Fernando Barbot ficado também assinalado nesse plantel histórico daquela zona de Gaia, tanto que ainda constam quadros emoldurados dessa equipa em cafés e outros locais públicos da localidade.

= Irmãos Barbots, junto com Cristiano, num convívio recente de Gente do Hóquei Portista.

= ... E com o autor destas linhas, simples adepto do hóquei portista e amigo também !

Para a história, com o nome de Fernando Barbot na memória portista, permanece nos anais do hóquei em patins aquela grande vitória que foi o Europeu conquistado em Espanha, na Galiza, corria o ano de 1969. Cujo acontecimento foi assinalado entretanto quando perfez 45 anos, em 2014, através dum jantar de convívio entre alguns desses campeões europeus que puderam estar presentes. Como neste blogue demos nota, conforme se pode rever (clicando sobre os links) em

e

ARMANDO PINTO
((( Clicar sobre as imagens, para ampliar )))

3 comentários:

  1. O hóquei patins do FCP tinha bons praticantes ainda no rinque da Constituição, lembrando Vitorino, Moreira, etc, e depois veio o Cristiano que na verdade foi a mola que mexeu com o hóquei por cá. Depois lembramo-nos bem dos irmãos barbot e do pavilhão novo, o gimnodesportivo para o qual os sócios e simpatizantes todos contribuímos. Assim sendo este artigo faz justiça a todo esse passado que faz com que haja o presente.

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  2. Como foi bom reviver os tempos em que convivi com o Fernando Barbot, os irmãos, o Cristiano, o Zé Fernandes, o Ricardo, que Deus haja, o Júlio e tantos outros. Do mesmo modo com o seu pai, o Armando Ribeiro, o Samagaio, pois fui diretor da Associação de Patinagem do Porto, em representação dos Carvalhos, Clube onde fui guarda-redes, dirigente, treinador e muito mais. Já lá vão mais de 65 anos. Como me recordo dos jogadores que o então seccionista Jorge Nuno Pinto da Costa foi buscar para reatar o Hóquei. O Campos, guarda-redes do Paço de Rei, o Sousa, do Carvalhos por quem "pagou" 30 contos, o Malheiro, do Paredes, etc. Obrigado ao autor destas memórias.

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  3. Viva amigo. Não costumo publicar comentários anónimos, mas publiquei este por ver que é com boa intenção. Mas seria bom pelo menos no fim do comentário colocar o nome, para sabermos quem é. Pode ser? Abraço.

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