Tal como o antigo futebolista Valdemar Mota foi o primeiro
olímpico do FC Porto, integrando a seleção lusa presente nas Olimpíadas de
1928; Hernâni, Arcanjo e Barbosa foram Campeões Mundiais Militares como integrantes
da seleção portuguesa vencedora em 1958 do Torneio Internacional Militar (de Seleções
Militares dos países da NATO); em 1966 Alberto Festa tornou-se no primeiro
futebolista do FC Porto a ter estado presente numa fase final dum Mundial de
futebol... havendo sido “Magriço” representante do FC Porto, utilizado como
titular em jogos do Mundial de 66 em Inglaterra.
Recorde-se que o nome Magriços dado então aos jogadores integrantes
do lote dos 22 elementos da seleção A de Portugal que disputou o Campeonato do
Mundo de Futebol de 1966, se baseou no episódio d’ Os Doze de Inglaterra, descrito
por Camões no canto VI d’ Os Lusíadas. E, mais concretamente no apelido do
chamado Magriço (Álvaro Gonçalves Coutinho, mais conhecido como Grão Magriço ou
simplesmente o Magriço), o mais famoso desses 12 cavaleiros da era do rei D.
João I, fidalgos guerreiros que viajaram até Inglaterra para participarem num
torneio em defesa de 12 damas… como é da história romântica. Associando-se
oficialmente aquela “ideia na medida daquilo que o Grão Magriço representa, o
belo episódio que Luís de Camões canta n’Os Lusíadas”, quão aquele antepassado
significava para a ocasião, por assimilação dum autêntico desportista ido a
Inglaterra... “
Foi assim Alberto Festa um dos componentes da campanha dos Magriços de 1966, podendo considerar-se Festa o Grão Magriço do FC Porto nessa saga duma das lanças portistas no tempo do sistema BSB...!
Foi pois Festa um dos Magriços, como jogador utilizado nesse
Mundial. E como tal tem lugar de relevo na história do FC Porto. Como têm
Américo e Custódio Pinto, que também integraram a caravana portuguesa nesse
Mundial de 1966, pese não terem jogado, mas por se saber como foram injustiçados
pelo poder do sistema reinol desse tempo e sempre serem lembrados como
paradigmáticos do que acontecia por esse tempo do sistema BSB, das presidências federativas
circunscritas aos 3 clubes de Lisboa – Benfica, Sporting e Belenenses… dos
quais foi a molhada dos jogadores utilizados na velha Albion.
= Equipa do jogo de atribuição do 3º lugar no Mundial de 1966, obtido por Portugal após vitória por 2-1 com a Rússia, tendo Festa feito assistência para um dos golos portugueses, centrando para a cabeça de Torres (tendo o outro sido de penalti, com que Eusébio marcou a Lev Yashin)
Festa era então o capitão de equipa do FC Porto e defesa que
substituíra dignamente o célebre Virgílio Mendes. Mas, após o Mundial, pouco
mais conseguiu jogar, pois em 1967/68 sofreu uma grave lesão que o obrigou a interromper
seu percurso no futebol e acabou por o afastar até dos grandes palcos do
desporto-rei.
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Entrado na equipa do FC Porto em tempo de transição de
valores, nos inícios da década dos anos sessentas, estando ainda no plantel
alguns dos grandes nomes da geração de cinquenta, como Hernâni, Virgílio,
Arcanjo, Carlos Duarte e Perdigão, e começando a entrar outros mais novos, tais
os casos de Américo, Pinto, Jaime, e por aí adiante, Festa calhou como sopa no
mel para substituir esses monstros, porque atuou de início em mais que um lugar.
Tendo começando como defesa-central e tendo ainda experimentado funções de
meio-campo, afirmou-se por fim como defesa-direito, o lugar que durante onze
anos foram de Virgílio, o célebre “Leão de Génova” e “raçudo” defensor que em
seu tempo foi o internacional com mais jogos na seleção portuguesa, tal como durante
muitos anos foi também o “mais internacional” do FC Porto.
A chegada de Alberto Festa ao FC Porto esteve relacionada
com o empréstimo de Francisco Nóbrega ao Tirsense, onde esse jovem avançado esquerdino
jogou por empréstimo do FC Porto, evoluindo no clube da terra dos Jesuítas durante
um ano, de seguida, mediante o acordo da transferência do promissor defesa Festa.
E então houve também continuidade de ligação das afinidades ente o clube que
fora treinado pelo grande ídolo portista Artur Pinga, pois antes dele jogara e
fora campeão em juniores do FC Porto o avançado Ferreirinha, também de Santo
Tirso e que entretanto entrara na família de Festa como cunhado, casado com uma
das suas três irmãs (do conjunto familiar de oito, sendo Alberto um dos cinco rapazes).
Bem como depois também veio para o FC Porto Carlos Manuel, enquanto vários
jovens jogadores do FC Porto rumaram ao Tirsense ao longo desses tempos de
evolução do clube concelhio da Abadia Beneditina.
Depressa Festa se tornou senhor de lugar certo na equipa
principal do FC Porto e se transformou num dos nomes idolatrados das multidões,
saídos e disputados nos populares cromos do mundo da bola. Tanto que a meio
dessa mesma década de sessenta era já um dos capitães de equipa e em 1966,
depois que Américo abdicou da função após ter sofrido uma expulsão injusta
derivada do cargo, Festa ficou mesmo como principal capitão do grupo (até a
respetiva braçadeira ter passado para Custódio Pinto, com a grave e duradoura lesão
que afastou Festa da equipa azul e branca e da seleção nacional).
Ao longo de sua carreira Festa fez muitos jogos, distribuídos
pelo clube de sua terra, o Tirsense, com cuja camisola negra se deu a conhecer; e maioritariamente com a camisola azul e branca no FC Porto, tendo ao serviço do
clube das Antas ajudado à conquista da Taça de Portugal de 1967/68, por ter atuado
em dois jogos dessa vitoriosa campanha portista.
Alberto Augusto Antunes Festa, mais conhecido como Alberto
Festa e no futebol popularmente com nome de guerra Festa, nasceu em Santo Tirso, a 21 de Julho
de 1939.
Começara a jogar futebol no F.C. Tirsense, desde a formação
até à equipa principal. Atingindo ponto máximo ao chegar ao Futebol Clube do
Porto em 1960/61, através da visão de Pedroto, então treinador dos Juniores do FC Porto, que serviu de "olheiro" para o efeito. A sua estreia com a camisola dos Dragões aconteceu em finais
de 1961, como defesa-central, ao ser chamado a substituir Miguel Arcanjo que se
havia lesionado. Facto ocorrido no dia 5 de Novembro de 1961 no Estádio Padinha
em Olhão, onde os portistas empataram 1-1 com o Olhanense, em encontro a
contar para a 5ª jornada do Campeonato Nacional da época de 1961/62. Depois disso
voltou a ser escalado para a equipa principal em Janeiro de 1962. Como se pode
recordar deitando olhos a algumas páginas do pequeno livro que em 1964 lhe foi
dedicado na coleção “Ídolos do Desporto”:
Entretanto… Na continuação da sua carreira, esteve num
momento de particular realce na vida da coletividade das Antas: No dia 16 de
Setembro de 1964 foi um dos titulares da equipa portista que venceu o Olimpique
Lyonnais por 3-0 na 1ª mão da 1ª eliminatória da Taça dos Vencedores das Taças,
feito esse marcante ao ter sido o primeiro triunfo do F.C. Porto nas
competições europeias de futebol.
= Equipa do FC Porto que a 16 de Setembro de 1964 jogou no estádio das
Antas com o Lyon na 1ª mão da 1ª eliminatória da então existente Taça das
Taças, taça europeia dos Clubes Vencedores de Taças, derrotando aí os franceses do Olimpique
Lyonnais por 3-0, com 2 golos de Custódio Pinto e 1 de Carlos Baptista. (Em
França, na 2ª mão, voltou a repetir-se o triunfo, dessa vez por 1-0 com golo de
Valdir). Na foto vêm-se os portistas segurando flâmulas alusivas ao encontro das Antas, em
tempo que Américo era o Capitão da equipa e como tal tinha o galhardete para a entrega
e troca tradicional. Tendo o FC Porto alinhado como se pode ver na imagem (porque à época era habitual os intervenientes fazerem pose sensivelmente com
lugares relativos às posições em campo, estando, em pé - na ordem da direita
para esquerda: Américo, Joaquim Jorge, Almeida, Festa, Paula, Rolando; e (em
baixo - a partir da esquerda da foto) Jaime, Pinto, Valdir, Carlos Baptista e
Nóbrega.
Com grande fulgor, Festa foi naturalmente um dos escolhidos
para a campanha de apuramento para o Mundial de 1966. Estreara-se na seleção
Nacional A em Janeiro de 1963, alinhando juntamente com os colegas de equipa Paula
e Serafim. Sabendo-se como os jogadores do FC Porto para irem à seleção tinham
de ser muitíssimo superiores aos outros e por vezes nem assim… Continuando depois
Festa a ser ainda selecionado de quando em vez, uma vezes sozinho e outras com
um ou dois colegas, embora alguns ficando a suplentes. Tendo em 1964 estado em
duas grandes vitórias de Portugal, na Suíça e na Bélgica, na companhia também
dos colegas Américo e Pinto, assim como esteve junto com Hernâni no último jogo
com a camisola das quinas desse grande general do futebol português.
Na campanha de apuramento para o Mundial, que se seguiria, Festa
jogou ao lado do colega portista Miguel Arcanjo primeiramente e depois uma vez
ou outra com Custódio Pinto, enquanto em jogos de preparação intermédios jogaram
também Américo e Nóbrega, ao passo que outros ficaram a suplentes, como Atraca,
Jaime e até Rui, por exemplo. Chegada a decisão da escolha dos selecionados,
estiveram em estágio seis elementos do FC Porto, dos quais apenas três continuaram
e seguiram na comitiva para Londres.
Aí, em 1966, Festa foi um dos três “Magriços” do FC Porto,
juntamente com Américo Lopes e Custódio Pinto, que marcaram presença no Campeonato do
Mundo de Futebol de Inglaterra.
= Reportagem em O Porto, aquando do 1º jogo de Festa no Mundial de 1966 (depois jogou ainda mais outros dois)
Tendo Festa alinhado em 3 encontros, pela metade dos seis jogos disputados
nessa fase final, enquanto Américo e Pinto ficaram de fora – porque ao tempo a
presidência federativa era do Belenenses e como tal jogaram dois futebolistas do clube do Restelo, o
guarda-redes José Pereira e o defesa Vicente, enquanto do Setúbal jogou o centrocampista
Jaime Graça, que de seguida foi para o Benfica… e o resto era grosso modo o
núcleo habitual de Benfica-Sporting, os clubes que antes e depois ocuparam e
ocupariam as cadeiras das presidências da Federação!
Após isso, em 1966 ele foi agraciado oficialmente pela
presidência da República com a Medalha de Prata da Ordem do Infante D.
Henrique. Como também foi reconhecido federativamente com a Medalha de Ouro Ao Mérito da FPF. Assim como antes o FC Porto já o havia distinguido com a atribuição
do Troféu Pinga, que nesse tempo era o galardão máximo do clube (anterior ao
Dragão de Ouro).
Em 1967/68 ainda fez parte do plantel portista que disputou os jogos da
campanha da Taça de Portugal, havendo jogado em dois encontros. Até que sobreveio
entretanto uma lesão grave num joelho, afastando-o dos relvados por longo
período; e apesar de ter andado por grandes especialistas estrangeiros, não
recuperou mais totalmente. Mesmo assim, como foi um dos 23 utilizados ao longo
das eliminatórias que levaram à final do Jamor, Festa foi um dos bravos que
contribuíram para a conquista da Taça de Portugal, culminada com a vitória do FC Porto sobre
o Vitória de Setúbal por 2-1 na final disputada no estádio do Jamor, em Oeiras,
arredores de Lisboa.
= Festa sabia quem tinha na sua baliza... o grande Américo - que depois até foi o grande herói da final da Taça de 1968!
Pelo seu estatuto e grande carisma detido no seio do FC
Porto, Festa foi o representante do futebol do clube na cerimónia de
inauguração do Mausoléu do FC Porto, em Agosto de 1968 – a que se reporta a
gravura jornalística, aqui ilustrativa.
Terminada a carreira ao serviço do FC Porto com uma Taça de
Portugal ganha, em 1968, e ainda triunfos por cinco vezes na Taça Associação de
Futebol do Porto (1961/62, 1962/63, 1963/64, 1964/65 e 1965/66), Festa ficou
ligado à história do FC Porto, grande clube em que vestiu a camisola azul e
branca durante oito temporadas, sobretudo como grande defesa direito dos
Dragões. Cuja tabela de Internacionalizações pela Seleção A portuguesa ficou descrita no trabalho de Rodrigues Teles sobre os até então "Internacionais do F. C. do Porto".
Passada essa fase, para continuar a jogar, ainda que a outro nível,
na temporada de 1968/69 Festa regressou ao F.C. Tirsense para competir durante
mais quatro épocas, até terminar a sua carreira no final da temporada de
1971/72.
Viria ainda a regressar ao FC Porto como treinador das
camadas jovens e por fim acabou a relação futebolística como secretário técnico
do Tirsense, na sua terra.
= Festa, aquando de sua ligação aos escalões de formação do FC Porto, junto a Pedroto, Pinto da Costa e Feliciano, convivendo com alguns dos craques do futuro...
O seu currículo desportivo consta publicamente na
Enciclopédia do Desporto, volume 5, edição Quidnovi de 2003. De cuja página se
junta a respetiva “entrada”, como resumido complemento.
A presença de Festa no FC Porto, em suma, provou como foi digno
da posição que antes fora de Virgílio. Quão bem desempenhou o seu lugar entre
1960/61 e 1967/68.
E para sempre foi e é o Magriço efetivo do FC Porto no
primeiro Mundial em que Portugal esteve presente na fase final.
Armando Pinto
((( Clicar sobre as imagens, para ampliar )))
recordo-me de ter visto num dos programas do Porto Canal passagens duma visita de Festa ao Museu do F. C. Porto há cerca de um ano ou dois e estranhei o repórter não ter grandes conhecimentos da carreira do Festa. Faltava uma reportagem como esta para dar a conhecer mais um dos grandes do FCP. Aliás no actual Museu alguns grandes como Valdemar Mota, Araújo, Hernâni e Festa não têm o destaque que deviam ter.
ResponderEliminarGrande trabalho. Muitíssimo bem feito e bem escrito. Parabenizo este trabalho de sapa, coisa que não se vê em meios dos clube mas sim em sócios como o amigo. Dou-lhe igualmente parabéns por olhar ao clube e não a outros interesses, conforme vejo que não anda pelo facebook como outros a mostrar que sabem, mas mostra o que muito conhece no blogue para portistas. Aliás tenho-o visto no Dia do Clube todos os anos e reparo que se mantém muito na sua, discreto, sem se mostrar muito, quando podia por-se em bicos de pés. Agradeço enquanto portista tudo o que tem feito, porque quando faz estes posts de fundo dá prazer ler e ficar a conhecer. Obrigado.
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