A seis de setembro de 1964 o FC Porto venceu em Espanha o V Trofeu Luis Otero, derrotando o Pontevedra por 2-0. Reeditando então a anterior vitória de 1962, nesse prestigiado torneio galego – assim chamado em homenagem a um antigo futebolista com esse
nome, natural de Pontevedra e iniciado no Pontevedra (clube), depois saliente
como jogador de outras equipas da Galiza, sobretudo Celta de Vigo e Corunha, que
de permeio representou Espanha na seleção que ganhou a medalha de prata nas Olimpíadas
de Verão de 1920.
Recuando no tempo, entre lembranças memorandas de tempos idos, no início de setembro de 1964, em pleno primeiro domingo desse mês de transição entre o final do verão e aproximação ao outono, o FC Porto voltava a conquistar o então afamado Torneio de Pontevedra do Trofeu Luis Otero, assinalado com grande e vistosa taça em disputa. Um dos torneios internacionais que ao tempo se realizavam na fase de pré-época do futebol, disputado no norte peninsular, entrando pelo território espanhol em plena Galiza. Culminado perante brilhante triunfo da equipa principal do futebol portista, nesse tempo ainda de preparação para a época que se avizinhava. Numa fase da temporada desenrolada ainda sem competições oficiais, quando já se aproximava a entrada nas competições internacionais, ainda sem se ter dado início ao Campeonato Nacional (que se iniciaria depois em Outubro). Ou seja, com esse torneio espanhol a servir de preparação com vista à eliminatória com o Lyon de França, para a Taça das Taças, que se seguiria e depois felizmente ficou nos anais históricos com a primeira vitória portista em provas europeias oficiais.
Ocorreu então a segunda conquista do Trofeu Luis Otero no primeiro domingo de setembro de 1964. Vindo assim a talho de foice essa lembrança, a fazer lembrar o dia santificado da mudança do ambiente por esses idílicos anos sessenta.
Na calha desta remembrança e porque, antes dessa vitória de 1964, o FC Porto havia vencido em 1962 a 3ª edição do mesmo torneio, junta-se nesta evocação imagens conjuntas das duas edições em que o FC Porto levantou tal grande trofeu em terras de Nuestros Hermanos.
Atualmente o chamado defeso do futebol já passou, tendo o período de preparação para a pré-época dos campeonatos do desporto-rei decorrido ainda no tempo de maior calor meteorológico. Mas naqueles tempos estava ainda na crista da onda...
Fazendo um enquadramento histórico, recorde-se que enquanto pelos idos de quarenta e inícios de cinquenta, do século XX, ainda não existiam provas internacionais oficializadas, foram decorrendo jogos de permutas entre equipas de diversos países, tendo o FC Porto tido jogos famosos com receções vitoriosas diante do Vasco da Gama do Brasil, Arsenal de Londres, Portuguesa do Rio, Fluminense, o Real Madrid, Vazas, Valência, etc, cuja repercussão se refletia em tais momentos terem sido distinguidos com publicações de coloridas separatas de publicações da especialidade, à época, em género de “posters” médios ilustrados. Gravuras essas que se viam nesse tempo, como embelezamento, por exemplo, coladas ou pregadas a forrarem tapamentos de locais públicos, quais divisórias de tábuas de madeira em tascas e similares estabelecimentos de comes e bebes nessas eras, quando não em quadros emoldurados a decorarem lojas de comidas e casas de pasto, como em tempos idos se chamava aos restaurantes tradicionais de aspeto singelo ou clássico, respetivamente. Para depois, quando começaram as provas europeias oficiais, iniciadas a partir do Outono, os períodos de verão antecedente aos jogos de campeonato eram precedidos de torneios internacionais organizados por clubes, que se foram tornando famosos.
Então, pelos anos sessentas, em plena década que o FC Porto em Portugal não conseguia mostrar sua valia pelas manobras dos bastidores federativos, foi conseguindo desforrar-se no estrangeiro, onde foi sendo possível fazer coisas bonitas e ganhar provas importantes. Tal o caso do famoso torneio espanhol do Troféu Luís Otero, anualmente organizado em Pontevedra, na Galiza.
Eis em imagem o atraente troféu que em Setembro de 2017 foi até “Objeto do Mês” de amostra no espaço público de acesso à Loja do Dragão e ao Museu do FC Porto: o Troféu Luís Otero, de 1964. Troféu que depois ainda não ficou, entretanto, na exposição permanente do novo museu, como tantos outros (porque no antigo museu estivera bem à vista de toda a gente). Sendo esse o segundo, no caso, como importa recordar agora. Pois, como já foi referido, tal torneio e consequente troféu foi conquistado por duas vezes pelo FC Porto, a primeira em 1962 e por fim em 1964.
~~~ ***** ~~~
Com efeito, ao longo da história, o FC Porto marcava presença em importantes torneios de verão, autênticos festivais futebolísticos que ajudavam a preparar as épocas desportivas, a encantar plateias nacionais e estrangeiras e, também, a depositar factos e objetos memoráveis no património do clube.
= A taça, erguida em Pontevedra (Espanha).
É o caso do Troféu Luís Otero, conquistado pela segunda vez pelo FC Porto em 1964 com uma equipa onde emergia Rolando, que mais tarde veio a ser um dos históricos capitães azuis e brancos, e o então também ainda aspirante Artur Jorge. Ao tempo jovens promessas, entre os consagrados.
Assim sendo, apraz avivar o facto, desta vez dando destaque à segunda edição, de 1964.
Por esse tempo o FC Porto, na presidência de Nscimento Cordeiro, havia vendido o esperançoso avançado Serafim ao Benfica. Facto que caiu muito mal entre a massa adepta portista. Tendo, na tentativa de colmatar essa saída, sido adquirido o avançado brasileiro Valdir. Enquanto na dianteira da equipa ainda andava também Bernardo da Velha...
= Valdir =
Vários futebolistas históricos faziam parte do plantel nesse ano. Os quais, entre mais, se podem recordar na imagem seguinte, dando a reconhecer alguns dos jogadores desse tempo.
Em 1964, como curiosidade (visto ao tempo não haver substituições em jogos oficiais mas apenas em particulares) os jogadores que foram substituídos, por não poderem ficar no banco, posaram já sem estarem equipados, no fim, junto com os colegas, como foi o caso de Pinto e Jaime. Tal como Atraca, que acompanhara a equipa mas sem entrar em campo - como se pode ver pela fotografia da ocasião, da equipa com o trofeu da vitória; em cuja imagem aqui publicada eles aparecem na pose do conjunto vitorioso com os colegas.
Por acaso Américo não chegou a alinhar por estar "tocado" (resguardado de lesão passageira) e por tal motivo ter estado no banco como reforço se necessário fosse, mas fez parte da ficha do jogo, incluindo ter ficado na fotografia da pose do plantel vitorioso. Tendo logo depois alinhado no início da época, quer nos jogos da Taça das Taças da Europa, com o Lyon, como seguidamente no Campeonato Nacional, como titular, ele que era e foi o guarda-redes n.º 1 desse valioso grupo, do qual se recorda uma das formações contemporâneas.
Fixe-se então imagens que perduram dessa vitória internacional de 1964, sendo participantes o Pontevedra CF, de Espanha, e o português FC Porto:
- Final, a 6 de Setembro de 1964 - Pontevedra CF, 0 - FC Porto, 2 [golos: 0-1 por Bernardo da Velha, aos 32´, e 0-2 por Nóbrega, aos 75´]
Alinhando
Pontevedra CF: Fermín; Azcueta, Batalla, Cholo; Martín Esperanza, Roldán I; José Luis (Recalde), Cerezuela (Roldán II), Vallejo, Neme, Odriozola.
FC Porto: Rui; Festa, Almeida, Joaquim Jorge; Carlos Baptista, Paula; Jaime (depois Artur Jorge), Bernardo da Velha, Valdir, Pinto (Rolando) e Nóbrega.
No "Relatório e Contas" da gerência de 1964 ficou registado que então, «pela segunda vez deslocou-se o Futebol Clube do Porto à capital da Província Galega para defrontar a valorosa equipa de futebol do "Pontevedra Clube de Futebol" em disputa do "V Trofeu Luis Otero", que foi brilhantemente ganho pelo nosso clube, após exibição convincente e que muito agradou à "afición" espanhola... O prélio realizou-se no dia 6 de setembro de 1964, pelas 17, 30 horas no Estádio Municipal de Passarón e terminou com a vitória do Futebol Clube do Porto por 2-0. Após o jogo a caravana do F. C. do Porto que se havia deslocado em automóveis, regressou a esta cidade, sendo de registar, por dever ser caso inédito na história brilhante do Futebol Clube do Porto, que a "Taça" conquistada ficou retida por uns dias, na Alfândega de Valença do Minho.»
Coisas desse tempo do Estado Novo, recorde-se ainda...
Armando Pinto
((( Clicar sobre as imagens )))
Sem comentários:
Enviar um comentário