Reconstituição Histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

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Criar é fazer existir, dar vida. Recriar é reconstituir. Como a criação e existência deste blogue tende a que tenha vida perene tudo o que eleva a alma portista. E ao recriar-se memórias procuramos fazer algo para que se não esqueça a história, procurando que seja reavivado o facto de terem existido valores memorávais dignos de registo; tal como se cumpra a finalidade de obtenção glorificadora, que levou a haver pessoas vencedoras, campeões conquistadores de justas vitórias, quais acontecimentos merecedores de evocação histórica.

A. P.

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quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Rui Guedes: Herói Portista da reposição histórico-cronológica do F C Porto… digno de ser Sócio Honorário do Clube Dragão!


Rui Guedes era um simpático jovem, de barba muito bem aparada e por norma sorridente, de palavra fácil e olhar contagiante, que em finais dos anos setentas começamos a ver na televisão, através de sua participação num concurso daqueles que nesses tempos preenchiam serões televisivos, à falta de melhor, quando havia apenas a televisão estatal. Passados tempos, num ápice, passou a entrar pelas casas dentro, via imagens do ecrã da tv, como companheiro e apresentador dum programa que, apesar de ter um rato (animado em boneco tipo infantil) como figura principal, cativou miúdos e graúdos. Enquanto, como pianista de méritos firmados, acompanhava o seu personagem ao piano. Sendo a figura de cartaz esse tal rato, o famoso Topo Gigio, mas curiosamente com Rui Guedes a converter-se no herói de que todos gostavam.


= Rui Guedes (pianista) apresentava um programa de entretenimento na RTP. Foi neste programa que surgiu, pela primeira vez em Portugal, o rato Topo Gigio (Cartoon, da autoria de Miguel Salazar, publicado no livro "Das Turmêntas hà Boua Isperansa", do grupo musical Trabalhadores do Comércio).=

Por esses tempos ficamos a saber que Rui Guedes era Portista. Por meio de uma entrevista que ele deu a um jornal desportivo, a Gazeta dos Desportos, que na época tinha uma secção semanal na última página sobre figuras da cultura e dos espetáculos. Depois disso ele foi-se revelando um multifacetado investigador e publicista, tendo publicado alguns livros de compilação de documentação que fora juntando, e conseguindo, através de fotografias, descobrir e inventariar factos, editando então Fotobiografias dos três principais clubes desportivos de Portugal e até doutros temas, como foi o caso duma poetisa, Florbela Espanca, dum político, tal era Sá Carneiro, e um artista como Almada Negreiros. E, para nós, será sempre o herói da reposição histórica do verdadeiro ano da fundação do F C Porto.

Assim sendo, justo é que o apresentemos formalmente, diante duma sua biografia alargada:

No início da década de 1970 participou com um carro Porsche em rallis, de corridas automóveis. Havendo ficado na lembrança dos meios automobilísticos o seu Porsche 907 psicadélico que o levaria ao 3º lugar do Grande Turismo e Desporto. O carro era assistido na "Vecar" do Porto e a pintura era o último grito da moda, aparentemente inspirada nos Porsche de fábrica, à época. Não chegou a ir muito além porque, poucas semanas depois de ter feito uma grande corrida no Rally de Monsanto, Guedes despistar-se-ia com alguma violência no segundo dia de treinos em Vila Real, danificando seriamente o 907 e terminando por aí a sua carreira desportiva. Perdia-se um piloto mas ganhava-se um futuro apresentador de televisão e "pai" da versão portuguesa do "Topo Giggio". (Já o Porsche 907 seria reconstruído na Garagem Aurora e voltaria às pistas em 1972, pelas mãos do felgueirense Carlos Santos). Mas, bem vivendo sua vida, Rui Guedes era ainda um normal jovem sociável. Em 1977 tornou-se então conhecido do grande público quando participou, em conjunto com Concha, no concurso televisivo A Visita da Cornélia.
Foi então o autor de música inédita que gravou com Eunice Muñoz na leitura de alguns dos melhores sonetos de Florbela Espanca. Reeditado mais tarde em CD pela Movieplay (1997). E para Florência musicou "Amar, Amar".
Destacou-se como pianista (chegou a tocar no bar do hotel Sheraton em Lisboa) e em 1979 começou a apresentar o programa de Topo Gigio na RTP. Era o autor das canções do programa conjuntamente com José Cid. Também apresentou o programa "Ao piano com Rui Guedes".
Com António Semedo (a voz portuguesa de Topo Gigio) produziu a peça Processo de Jesus. A banda sonora era da sua autoria e de Mike Sergeant.


O Gigio trouxe-lhe a maior fama, por quanto tocou nos corações de grandes e pequenos. A figura do Topo Gigio era indiscutivelmente um dos ratos mais famosos do mundo. Entrava nas casas de todos a determinadas horas, do conhecimento geral por essas eras, fazendo-se acompanhar ao piano por Rui Guedes e encantava crianças e graúdos com a sua boa disposição. Topo Gigio foi um boneco originalmente criado na Itália, tendo Rui Guedes adquirido os respetivos direitos, havendo-lhe de permeio mudado a camisola para riscas azuis e brancas, embora horizontais (a dar toque mais infantil), com o qual, na feliz ideia apresentada na televisão portuguesa, despertava um sentimento de ternura para com ele, sempre bem disposto e sincero.

Entretanto Rui Guedes dedicara-se à parte editorial, onde se destacam os estudos sobre a obra de Florbela Espanca. Rui Guedes comprou o espólio a um descendente do segundo marido de Florbela. Lança uma biografia e vários livros, tais como "Cartas (1906-1922)" e "Cartas (1923-1930)", com recolha, leitura e notas da sua autoria, lançados em 1986.
Participou também na edição de Fotobiografias com a história dos maiores clubes do futebol português lançadas em 1987 e 1988. Tendo começado por fazer uma grande pesquisa sobre a História do F C Porto, derivando extensivamente haver reparado e ampliado seus estudos com o material que lhe foi surgindo sobre os outros clubes. Cuja documentação mais tarde cedeu para arquivo na Torre do Tombo.
Publicou fotobiografias de Sá Carneiro e de Florbela Espanca, cujas obras completas recolheu e anotou, a edição atualizada do dicionário Cândido de Figueiredo, várias obras de carácter didático e um livro de ensaios, "Gente de Valor".
Foi vice-presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores desde 1995.
Com Ana Maria Guedes colaborou na dobragem de filmes da Walt Disney e na tradução dos versos das canções. A editora Everest lançou em livro as suas adaptações de clássicos da Disney como Pinóquio, 101 Dálmatas ou outros como Ai Que Frio! ou Cozinhar Com a Margarida.

Faleceu no dia 15 de Setembro de 2001.


De seu currículo vitae ficaram a constar como obras de sua autoria os livros: Acerca de Florbela - publicado em 1984 - pela editora Dom Quixote; Fotobiografia: Florbela Espanca - 1985 - Dom Quixote; Cartas 1906-1922 de Florbela Espanca - 1986 - com Luiz Fagundes Duarte; Futebol Clube do Porto - Fotobiografia - 1987 - Dom Quixote; Sport Lisboa e Benfica - Fotobiografia - 1987 - Dom Quixote; Sporting Clube de Portugal - Fotobiografia - 1988 - Dom Quixote; Poesia 1903 - 1917 de Florbela Espanca – 1992; Almada Negreiros - Obra Plástica - 1993 Bertrand Editora; Dicionário Prático de Conjugação dos Verbos de Língua Portuguesa - 1994 - Bertrand Editora - com Ana Maria Guedes; Sá Francisco Carneiro - 1994 - Bertrand Editora; Companhia das Índias - Porcelanas - 1995 Bertrand Editora - com Martim de Albuquerque; Interiores - 1995 - Bertrand Editora - com Homem Cardoso; Reais Mesas Do Norte De Portugal: Homenagem a Ju Távora - 1997 - com Ju Távora; Fotobiografia de Florbela Espanca - 1999 - Dom Quixote; Ourém - 2004 - com Ana Saraiva e Patrícia Guedes; e Joalharia Portuguesa - 2006 - Bertrand Editora - com Nuno Vassallo e Silva. Discos: DE JOELHOS — Arnaldo Trindade, Orfeu, Eunice Munhoz e Rui Guedes; ESCRAVA — Arnaldo Trindade, Orfeu, LP, Eunice Munhoz e Rui Guedes; ESPERA — ETS Cinema, Vira; FLORBELA ESPANCA POR EUNICE MUÑOZ, LP, Orfeu; Toca Música dos Anos 20, Orfeu, Processo de Jesus - com Mike Sergeant, Orfeu, 1982; e Suíte nº 1, edição promocional Orfeu, sem data, com segunda composição Fur Concha (em que Rui Guedes editou neste single um tema original e dedicado à companheira, a cantora Concha).

Como recordação de sua aura, atente-se numa apreciação pública que lhe fez uma escritora e jornalista que com ele privou: “ Lembram-se de quando o Rui Guedes lançou uma moda que nos fez passarmos o tempo a dizer uns aos outros «eu ponho-te um processo em cima!»? Que saudades desses dias de inocência. É que acreditávamos sinceramente que estávamos só a brincar.” (Clara Pinto Correia, em A Deriva dos Continentes).

Ah… desse tempo (era o meu filho uma criança de 3 anos, ainda, antes de ter a companhia da irmã) em boa parte as crianças e os pais vão lembrar-se sempre de como na televisão o Gigio meigamente lhes dizia que estava na hora da deita… com o Boa-noite Topo Gigio” (de 1981): «Todos os meninos que são teus amigos, / estudaram as lições. / Já estão lavadinhos deitados na cama, / rezaram as orações”…  (composição de Rui Guedes e José Cid, voz de António Semedo).

Pois Rui Guedes foi tudo isso e foi quem despoletou a questão da verdadeira fundação do F C Porto através do que publicou e provocou na sua Fotobiografia do F C Porto. Vincando que, afinal, a verdade era sabida mas incompreensivelmente não era assumida. Fez mesmo ver que a data referida da eventualidade de 1906 era inventada, não correspondendo sequer ao dia do calendário aludido por cronistas e copistas. Mas, melhor que quaisquer outras explicações, demos aqui de novo a palavra a Rui Guedes, o herói desta história – mostrando-se algumas páginas iniciais da Fotobiografia do F C Porto:





Como acrescento, em virtude da referência acima expressa, juntam-se mais as primeiras páginas da Tábua Biográfica correspondente e inserta no final da mesma célebre Fotobiografia:



Posto isto, resta acrescentar que Rui Guedes teve um papel fundamental em todo o desenvolvimento que resultou em, passados meses, ter sido oficializada a data da fundação do F C Porto, na Assembleia Geral de Fevereiro de 1988.



A disponibilização de tal realidade levou então que, pouco depois, logo na primeira publicação oficial que se seguiu, no caso a 2ª edição da brochura do Conselho Cultural do F C Porto – Porto / Clube / Cidade” – para distribuição promocional nos encontros no estrangeiro, houvesse de imediato passado a constar a nova e verdadeira versão.


Como tal, depois que já aludimos rememorações de homenagem a António Rodrigues Teles, o pioneiro historiador do F C Porto, do modo que possibilitou ter havido preservação de muitas imagens e recordações de eras remotas, do qual também referimos ter tido conhecimento da verdade, embora sem que tivesse havido uma reabilitação necessária; homenageamos desta vez o concretizador da ideia da reposição histórica, tendo sido Rui Guedes quem teve a iniciativa de provocar o que veio a resultar em autenticidade. E possibilitou que estejamos agora, em Setembro de 2013, prestes a celebrar 120 de Vida do F C Porto.

O mesmo também é anotado na obra Glória e Vida de Três Gigantes, d’ A Bola, onde o jornal afeto aos clubes lisboetas acaba por reconhecer o mérito de quem repôs a verdade e, por conseguinte, a própria veracidade.


Assim sendo, lembramos que, tal como pensamos para Rodrigues Teles, será de inteira justiça que venha ainda a ser atribuído a Rui Guedes o estatuto de Portista de Honra, com sua colocação a Sócio Honorário do F C Porto!

Armando Pinto

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