No mundo azul e branco, do entendimento portista, os
jogadores que souberam honrar a camisola do FC Porto estão em lugar de grande
apreço na afeição clubista. Havendo entre todos sempre alguns que ficam ligados
de modo especial, por momentos também especiais proporcionados no universo
afetivo. Como aqui para o autor destas linhas ficaram os que venceram a final
da Taça de Portugal em 1968 – por ter sido a primeira grande vitória vivida por
quem começou a ser Portista em inícios dos anos sessentas… E entre os
vencedores, além de Américo, Pinto, Valdemar, Nóbrega, Djalma, Atraca, Rolando,
Pavão, Bernardo da Velha e Jaime, esteve também Eduardo Gomes.
Eduardo Gomes na época era quase só conhecido por Gomes - e
curiosamente passou depois a ser referido publicamente com o primeiro nome, mas mais nas referências históricas, devido ao aparecimento e
importância do goleador Fernando Gomes... anos mais tarde.
Ora esse Gomes, o primeiro, era um futebolista muito útil e
certeiro, por norma sem saber jogar mal, mas dentro do clube demorou um pouco a
conquistar um lugar fixo na equipa principal. E tal como apareceu, quase sem se
dar por ele, também desapareceu, saindo por fim do F C Porto sem
grandes alaridos. Havendo seu início no FC Porto também sido quase despercebido por ter estado algum tempo sem jogar, por não ter havido acordo do Leixões para a sua transferência para o FC Porto, tendo ele se sujeitado a ficar sem jogar, até poder jogar onde queria.
De nome completo Eduardo de Oliveira Gomes, nasceu no dia 12
de Agosto de 1942 em Matosinhos. E como tal, naturalmente, iniciou-se nas
camadas jovens do clube da sua terra, inscrito pelo Leixões S C na Federação
Portuguesa de Futebol em 1958/59. Ali, depois de ter percorrido os
escalões da formação do Leixões, ascendeu à categoria sénior do clube
leixonense em 1961, logo na época da conquista da Taça de Portugal ganha pelo
Leixões, surpreendendo o FC Porto na final, que Gomes ajudou a conquistar. Para de
seguida ter permanecido na equipa principal mais duas épocas, até que em
1964/65 se transferiu para o Futebol Clube do Porto, mas só pôde jogar oficialmente em 1966/67, depois de legalizada a situação (segundo as normas desse tempo), já quando o FC Porto era treinado por
José Maria Pedroto.
= Eduardo Gomes na equipa de futebol do Futebol Clube do
Porto. Em cima da esquerda para a direita: Rolando, Sucena, Almeida, Pavão,
Atraca e Américo. Agachados: Gomes, Djalma, Bernardo da Velha, Custódio Pinto e
Nóbrega. Época de 1967/68. =
Na sua primeira temporada ao serviço do FC Porto, em quem jogou, contribuiu
na conquista da Taça Associação de Futebol do Porto. Enquanto durante as épocas
que permaneceu no clube também esteve anualmente no lote vencedor do Torneio
Início da Associação de Futebol do Porto, ao tempo disputado durante a
pré-época – como se recorda aqui o caso da época de 1967/68, através de imagem
e anotação pessoal de arquivo do autor.
Nas Antas permaneceu durante seis temporadas, sendo
inicialmente utilizado como extremo-direito e depois como médio de ataque.
= Equipa do FC Porto da época 1967/68: Em cima, da esq. p/ d.ta
- Rolando, Fernando, Almeida, Mário, Atraca e Américo; em baixo, pela mesma
ordem - Eduardo Gomes, Djalma, Custódio Pinto, Manuel António e Malagueta.
= Equipa do FC Porto da época 1967/68, no ato da entrega do
trofeu referente à conquista do Prémio Somelos-Helanca pelo guarda
redes Américo, como melhor do campeonato dessa época, segundo pontuação do
jornal A Bola. Em cima , da esq. p / d.ta: Jaime, Rolando, Bernardo da Velha,
Valdemar, Américo, Rui, Fernando, Sucena e Eduardo Gomes. Em baixo, pela mesma
ordem, Lisboa, Luís Pereira, Djalma, Malagueta, Custódio Pinto e Ricardo.
Foi como
espécie de líbero, deambulando pelo meio campo e extrema direita que atuou no
Estádio do Jamor, na final da Taça de Portugal da temporada de 1967/68. Pois Eduardo
Gomes foi um dos titulares que derrotaram o Vitória de Setúbal por 2-1 e levaram para as
Antas tão apreciado troféu, dez anos depois da última conquista na mesma prova. No que foi, nesse tempo de acirrado sistema federativo BSB, uma autêntica "lança metida em África" do regime, como grande triunfo da presidência de Afonso Pinto de Magalhães à frente dos destinos do FC Porto e do treinador Pedroto na sua primeira passagem no clube como responsável do futebol sénior portista.
= Equipa da Final da Taça /68!
Com Pedroto chegou Gomes a capitanear algumas vezes a equipa
principal, como no caso do jogo da homenagem nacional a Vicente do Belenenses...
... e mais tarde, depois de ter estado envolvido no “caso Pedroto”, que em 1969
suspendeu alguns dos mais influentes do plantel (Américo, Pinto e Gomes) por divergências com alterações
dos hábitos da equipa, devido a início de estágios, ao regressar à atividade Gomes voltou a ser capitão
da equipa na fase final desse campeonato, perdido anteriormente durante a
ausência dos titulares afastados.
Depois ainda esteve na equipa durante a seguinte
época de 1969/70, de fraca memória, sendo que, como período de transição, houve enfraquecimento da
equipa com a saída de Américo da baliza, forçado por lesão a acabar a
carreira, mais a saída de Djalma, Jaime e alguns outros, tal como ainda por mais diversos
motivos, tornando-se época quase para esquecer.
Equipa do FC Porto do início da época de 1969/70: Em cima,
da esq. p/ d.ta: Gualter, Rolando, Pavão, Vieira Nunes, Leopoldo e Aníbal; em
baixo pela mesma ordem - Lisboa, Custódio Pinto, Chico Gordo, Eduardo Gomes e
Nóbrega.
De permeio, excetuaram-se algumas ocorrências dignas
de nota, conforme foi a ida ao Brasil, em Janeiro de 1970, para a inauguração
do então novo estádio do São Paulo, onde a equipa azul e branca participou no jogo de inauguração do Estádio Cícero Pompeu de Toledo, mais
conhecido por Estádio do Morumbi. Cujo resultado da partida foi um empate a
1-1, em prélio presenciado por cerca de cem mil adeptos, que resultou na
conquista do Trofeu Governador Abreu Sodré. Havendo também durante essa
digressão sido ainda recebido no Rio um trofeu como reconhecimento público de
popularidade (“F C Porto o mais popular clube português no Rio de Janeiro”),
através dum concurso da rádio, como se pode ver e ler pelo recorte reportando
esses dois galardões.
Depois disso esteve Gomes ainda na equipa portista durante o período
de renovação do futebol dos dragões, até que no final da época de 1970/71 deixou de fazer parte do
plantel do FC Porto. Após, na soma das seis épocas em que representou o clube
Dragão, Eduardo Gomes ter disputado 100 jogos oficiais e apontado à sua conta 5
golos, também em jogos oficiais pelo FC Porto.
Plantel do FC Porto à época 1970/71: Em cima da esq. p/ d.ta
- Tommy Docherty (Treinador), Rui, Manhiça, Rolando, Valdemar, Vieira Nunes,
Pavão, Albano Soares, Gualter, Hélder Ernesto, Gomes, Armando Silva e António
Teixeira (também treinador).
Mais tarde enveredou pela carreira de treinador, havendo já no
comando técnico passado por vários clubes, como Coimbrões, Custóias,
Trofense, Arcozelo, Valadares e Aliados de Lordelo. Reside atualmente em Vila
Nova de Gaia e continua a ser lembrado entre os adeptos portistas, nomeadamente
deveras recordado por conhecedores da História do FC Porto.
De sua carreira brilhante juntamos mais algumas imagens, como corolário de sua ligação ao mundo portista, numa espécie de album de recordações dele e nosso – desde equipas de sucessivas gerações de ases da bola que envergaram a camisola do FC Porto, em que Gomes esteve incluído, até momentos épicos, como a final da Taça de Portugal ganha em 1968 e outras imagens comprovativas da sua polivalência valorosa. Como fica em nós a imagem do Gomes do tempo do Américo, Pinto, Rolando, Pavão, Nóbrega e C.ª !
Armando Pinto
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