O grande F C Porto é um mundo para muita gente, como nós. E
efetivamente, perante a variedade de factos a que se liga a dimensão do
grandioso clube desportivo azul e branco, é mesmo algo especial. Até na
presença em momentos marcantes dos anais da Grei, sendo através de
representantes portistas naturalmente relacionado com factos importantes na
história portuguesa.
Estando-se em Abril, quando passamos estas ideias a letra
corrida, logo vem à mente a data do 25 de Abril que em 1974 deu novo alento à
nação lusa. Transformando mentalidades, mas sem culpa nos “viranços de casacas”
e oportunismos entretanto acontecidos, como os mais recentes e os atuais
políticos nacionais viraram tudo do avesso.
Naquele tempo, de idílicos anseios, aquilo, o 25 de Abil, em
1974, foi um feito, afinal de contas - a que esteve ligado, pelo menos, um
Portista como é o então Capitão Sousa e Castro, um dos mais conhecidos “Capitães
de Abril”, hoje Coronel, Rodrigo Sousa e
Castro. Neto de um meu conterrâneo muito lembrado na memória coletiva, homem de
cultura e membro ativo das forças vivas locais, de seu tempo (conforme o autor
registou em livro historiador da região); e filho de um meu bom amigo também
conterrâneo, entretanto já falecido. Assim sendo, além de possivelmente ter
havido mais portistas ligados ao processo de democratização desse tempo, sabemos
ao certo do caso de Sousa e Castro, ativo membro do chamado Movimento das
Forças Armadas e depois integrante do Conselho da Revolução, entre as diversas
funções desempenhadas enquanto os heroicos militares de Abril preparavam o
terreno para eleições livres e consequente entrega posterior do poder aos
políticos.
Vincada esta honrosa ligação, passamos a outro extremo cronológico da
parte democrática do país, recuando à instauração da República em Portugal.
Sabendo-se que o F C Porto foi fundado nos últimos anos da monarquia, inclusive
com a presença do casal real desse tempo, D. Carlos e D. Amélia, no primeiro
jogo efetuado com pompa e circunstância, mas tendo no grupo pioneiro quem
ansiasse pela mudança, inclusive prestando serviço à causa republicana. No
remanso citadino que deu destemidos revoltosos do 31 de Janeiro, era albergue
de ideais de Liberdade o Porto republicano e liberal do princípio do séc. XX.
Então, tal como gente do Porto ajudara D. Afonso Henriques a
derrotar os mouros na conquista de Lisboa, também na fase de transição da queda
da monarquia houve gente do Norte do país a marcar presença em Lisboa nas
barricadas que derrotaram o poder real. Tendo-se salientado os arrojados
participantes da luta travada durante alguns dias na rotunda, em Lisboa, os quais ficaram por isso conhecidos por Bravos da Rotunda. Entre os quais esteve presente um
quase lendário personagem da vida pública, que sabemos ter sido também
Portista, pelos contactos de amizade que chegamos ter, depois – João Sarmento
Pimentel, ainda Cadete em 1910 e que estava na escola do exército quando, durante
os primeiros dias de Outubro daquele ano, arriscando tudo, participou nos
combates travados em prol da República.
Ora, no mesmo feito esteve um outro portista, e por sinal
inclusive jogador de futebol integrante do plantel dos primeiros tempos do
Futebol Clube do Porto – Henrique Hierro. Um Bravo da Rotunda, também, como
narra Alcino Pedrosa em texto dos que estará para complilar num trabalho de
valor, sobre “Mais que um jogo”, referente à FOTO AO LADO: «Henrique Hierro, na fila de baixo, com a bola
na mão, era futebolista do Futebol Clube do Porto, em 1910. Amava o futebol, a
ponto de ser conhecido pelo "rapaz da bola". Tinha, no entanto, uma
outra paixão: a causa republicana. Ia para os treinos com o jornal "O
Mundo" debaixo do braço. Desapareceu inexplicavelmente no dia 3 de Outubro
de 1910, para regressar ao Porto uma semana depois. Tinha ido para Lisboa
juntar-se aos seus confrades republicanos. Foi um dos bravos da Rotunda.»
Esta foto, constante da História do F C Porto escrita por
Rodrigues Teles, regista a pose de alguns dos pioneiros jogadores do F C Porto. Em pé: Elísio Bessa,
Manuel Valença, Vitorino Pinto; Agachados: Mário Maçãs, Camilo Figueiredo,
Magalhães Bastos; Sentados: José Bacelar, Camilo Moniz, Henrique Hierro,
António Portal e Ivo Lemos. Fotografia mais precisamente de 1909, sendo na
ocasião a formação da equipa de Segundas Categorias do F. C. do Porto, contando que
muitos dos mesmos componentes também faziam ou fizeram parte do Grupo de Honra.
Está visto que muitos desses homens honravam os princípios
da criação do F C Porto sem abdicarem das suas posições político-sociais,
incluindo participação diligente à concretização valorizável de seus
ideais.
Acresce ainda, quanto ao mencionado João Sarmento Pimentel
que, mais tarde, já como Capitão, chefiou o movimento que no Porto derrotou a
Monarquia do Norte, em 1919, junto com seu irmão, então Tenente, Francisco
Sarmento Pimentel (o qual, anos volvidos, tendo enveredado pela aviação, foi
autor da 1ª travessia aérea de Portugal à Índia).
= À esquerda, o Capitão João Sarmento Pimentel, que faleceu como General depois de reabilitação após o 25 de Abril... E à direita, o então Tenente Francisco Sarmento Pimentel, mais tarde Coronel Piloto-Aviador - ambos condecorados com a Ordem da Liberdade, ao tempo da Presidência da República do General Ramalho Eanes =
À aclamada vitória republicana, que impediu o Movimento
Couceirista de repor a monarquia em Portugal na segunda década do século XX, a
cidade da Liberdade correspondeu apoteoticamente, primeiro com a publicação de
um desenho ilustrativo contendo a figura do mesmo Capitão Sarmento Pimentel, distribuído
por todo o lado; e depois com a oferta ao mesmo Comandante duma espada de honra.
Trofeu esse que, a pedido de um amigo, João Sarmento Pimentel, posteriormente (quando
estava no exílio político, no Brasil, devido à ditadura do Estado Novo) ofereceu
para o museu da cidade do Porto, ao tempo existente em meados dos anos
sessentas – mas que hoje, dessa espada, desconhecemos o paradeiro, ou seja, se
estará num dos sucessores espaços museológicos, isto é no Museu Militar ou no
Museu Soares dos Reis, ou em nenhum deles…
Com estas e outras, posta a formatura destes exemplos,
ficamos com tal paradigma da contribuição portista em altos momentos da gesta
portuguesa, dentro do espírito que, como alguém disse, ajudou a moldar o
carácter da cidade portucalense!
Isto e o mais como simples exemplos da prestação à Pátria de atos de bravura de elementos relacionados com o F C Porto: Contando que em 1975 também Ramalho Eanes, conhecido simpatizante da causa portista, teve papel de relevo na manutenção do estado democrático. E outros casos, dentre muitos possíveis.
O F C Porto é como dizia o poeta Pedro Homem de Melo: - «Como não pôr no Porto uma esperança, "se daqui houve nome Portugal"?»!
Armando Pinto
((( Clicar sobre as imagens, para ampliar )))
Boa malha. Muito nos conta.Interessante é que conheço uma rua em Matosinhos com o nome de Sarmento Pimentel, mas na cidade do Porto não tenho ideia de haver. À atenção de Rui Moreira e comissão toponímica. E a espada ainda existirá? também pergunto.
ResponderEliminarCom exceção do General Ramalho Eanes desconhecia outros nomes que participaram em atos heróicos da nossa História e tivessem estado relacionados com o Futebol Clube do Porto. É óbvio que muitos outros poderão ter tido idêntica paixão, porque não faltam heróis na Invicta Cidade intervenientes destacados nos movimentos políticos, que certamente foram adeptos e alinhados com o clube mais representativo da mesma cidade.
ResponderEliminarUma peça de grande valor para juntar à gloriosa saga do nosso grande baluarte do norte e de Portugal.
DRAGÃO, SEMPRE!