Reconstituição Histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Reconstituição histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Criar é fazer existir, dar vida. Recriar é reconstituir. Como a criação e existência deste blogue tende a que tenha vida perene tudo o que eleva a alma portista. E ao recriar-se memórias procuramos fazer algo para que se não esqueça a história, procurando que seja reavivado o facto de terem existido valores memorávais dignos de registo; tal como se cumpra a finalidade de obtenção glorificadora, que levou a haver pessoas vencedoras, campeões conquistadores de justas vitórias, quais acontecimentos merecedores de evocação histórica.

A. P.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Norman Hall: a propósito do Porto-Benfica, face à questão das arbitragens “limpinhas”… e jogadas de bastidores.


Aproxima-se o “clássico” F C Porto-Benfica”, do campeonato da Liga de futebol nacional, jogo que (longe vá o agoiro!) pode ter decisão arbitrária… se continuar a saga do favorecimento ao Benfica, como tem acontecido. Vendo-se e sentindo-se como o clube do regime tem sido levado ao colo. O que leva a dizer, para já, que estamos fartos de arbitragens desonestas e habilidades dos homens com poder de decisão federativa, liguista e do conselho de arbitragem. Chega de arbitragens escandalosas em Portugal, como até já há grupos de internautas a dizer basta. E não se pode tolerar mais as desonestidades dos dirigentes das cúpulas do futebol português. 

Por algum motivo é que os clubes que são favorecidos em Portugal, nas provas estrangeiras se vão abaixo das canetas, ficando fora das fases mais adiantadas da Liga dos Campeões e até da Liga Europa, por não terem árbitros nomeados em Portugal. Na senda do que vem de longe…

Nesse prisma, trazemos um caso paradigmático, desta feita, à ribalta deste espaço - que até é lido por adversários, a pontos que alguns energúmenos daqueles tanto tentaram que conseguiram tirar do espaço da internet o blogue antecessor, “Lôngara”, por não gostarem de lá estar muita verdade… verdadeira.

Mas desta vez o caso até se passou relativamente a um jogo com outro clube lisboeta, na altura colocado entre os grandes, trazendo-se apenas como exemplo de quanto o F C Porto sempre foi tratado de forma menor, pelo poder da capital do império da bola…

Passando ao assunto, há que frisar, porém, que o tema, desta vez, até nem foi escrito totalmente aqui pelo autor, mas calha a preceito, em semana de jogo importante…

Ora então atente-se nisto, respigado duma edição da revista “Dragões”, de há anos já:

« Para quem acha que foi o Pinto da Costa que inventou a "guerra" Porto-Lisboa aqui vai um pouco de cultura portista e desportista acerca de um jogador dos anos 20 do século passado.

Norman Hall - O «português» que afinal não o era.

O protagonista desta história jogou no FC Porto há (muitos) anos, o que equivale a dizer que foi inscrito na época de 1919-1920. Nasceu em Inglaterra, chamava-se Norman Hall e, juntamente com Abel D´Aquino, é o único atleta de antanho a figurar na galeria dos sócios honórarios do clube.
Numa altura em que os atletas eram inscritos por categorias (o FC Porto chegou a disputar os campeonatos de quartas categorias), Norman Hall, embora inscrito a meio da época (20/12/1919), passou desde logo a integrar a 1ª categoria, o plantel de elite, na altura constituído apenas por António Lino Moreira, José Magalhães Bastos, José Ferreira da Silva, Harrison, Joaquim Couteiro, Floriano Pereira, Hamilton, Joaquim Reis, Edward George Bull e Alexandre Cal, vindo a revelar-se um grande jogador e um excepcional desportista.
Foi seu o golo da vitória por 2-1 (de grande penalidade) frente ao Sporting, no campo de Monserrate, em Viana do Castelo, a 28 de Julho de 1925, na final do Campeonato de Portugal de 1924/25, campeonato dedicado a Velez Carneiro «half center do Foot-Ball Club do Porto» (como se escrevia na terminologia da época), morto a tiro de pistola, logo após um jogo com os espanhóis do Desportivo da Corunha, na travessa dos Congregados, para onde o atraíra um colega seu de trabalho, escriturário, casado, de seu nome Carmindo Ferreira Duarte.
Razões? Reza a história que se tratou de problemas de alcova, um crime passional, uma questão de adultério. Adiante. A história que queremos hoje contar é outra. Vem preto no branco no «Relatório e Contas do FC Porto» de 1926/27, refere-se ao jogo dos quartos de final do Campeonato de Portugal daquela época quando, a 3 de Abril de 1927, o FC Porto defrontou, em Lisboa, «Os Belenenses, e gira, à volta da utilização do nosso Norman Hall na qualidade de cidadão Português.
Este campeonato, organizado pela «Associação Portuguesa de Football Association» e disputado segundo um novo figurino, tinha no seu regulamento uma alínea que impedia qualquer equipa de alinhar com mais de dois estrangeiros.
Embora o FC Porto entendesse que Norman Hall – porque residia em Portugal desde os oito anos de idade, jogava pelo clube há 15 e pela equipa representativa do Porto-Cidade desde 1919 – era, «moralmente» um jogador português, não quis correr riscos e tendo no seu «eleven» habitual dois jogadores estrangeiros (Siska, um húgaro que o treinador Akos Tezler, seu compatriota, recrutara no Vasas de Budapeste, e Fridolf Resberg, um norueguês que, tendo abraçado a carreira diplomática no seu país e sido colocado no Consulado da Noruega no Porto, surgiu um dia na Constituição para treinar e…tornar-se num avançado de categoria) fez seguir para a Federação, via Associação de Futebol do Porto, uma exposição no sentido de saber se Norman Hall seria ou não considerado jogador português para cumprimento do regulamentado.
Apreciada e discutida a exposição em reunião do Comité Executivo do Campeonato de Portugal – à qual assistiu Manuel Mesquita, representante do FC Porto, entre outros delegados – a decisão final foi coincidente com o ponto de vista Azul e Branco, qualificando Norman Hall como jogador português.
Atingidos os quartos de final, após ter levado de vencida o já defunto «Estrela de Braga», coube ao FC Porto viajar até Lisboa para, como se disse, defrontar «Os Belenenses».
No onze ao lado de Siska, Pedro Temudo, Flávio Laranjeira, Álvaro Sequeira Júnior, António Coelho da Costa, Álvaro Pereira, Valdemar Mota, Acácio Mesquita, Resberg e António Oliveira, lá estava Norman Hall.
A vencer por 2-1 o FC Porto viria a sofrer o empate mesmo em cima do minuto 90, quando o árbitro de Beja, Flecha de sua graça, sancionou um golo em claro fora de jogo, levando o encontro para um prolongamento de meia hora, durante o qual o clube da Cruz de Cristo se colocaria na posição de vencedor (3-2), com novo golo em fora de jogo, como, de resto, unanimemente, a imprensa da época reconheceu.
Os erros foram tão flagrantes e grosseiros que o FC Porto se sentiu obrigado a protestar o jogo junto da Federação, acompanhando o protesto dos 500$00 regulamentares.
O árbitro reconheceu os erros, pelo que não parecia haver outra saída que não fosse mandar repetir o jogo. A Federação, sabendo isto, abafou o protesto, considerou sem qualquer justificação os 500$00 perdidos a favor dos seus cofres e, numa cambalhota impensável, tirou o coelho que tinha escondido na cartola. Alegou que o FC Porto tinha transgredido artº 36 Cap. IV do Regulamento ao alinhar com três estrangeiros (Siska, Resberg e Hall) e, como tal, deveria ver a derrota confirmada.
Reproduzindo o que na época foi escrito, e sempre citando o referido relatório da gerência do FC Porto, dir-se-á que a resolução do caso Hall foi uma traiçoeira armadilha preparada por habilidosos muito práticos no metier para assim terem absolutamente segura a vitória do grupo de Lisboa, visto que, em campo, e com um juiz imparcial não a conseguiriam.
Apesar da nossa Associação se ter imposto perante esta flagrante injustiça, não houve processo de fazer valer os nossos direitos, visto que a acta da reunião atrás referida tinha sido deturpada, não correspondendo à verdade da resolução tomada, motivo por que nem sequer foi assinada.
Resumindo: mais uma vez os dirigentes lisboetas da Federação Portuguesa de Football Association conseguiram os seus fins não olhando a meios».
É caso para dizer agora: decorridos (tantos) anos, o protesto genuíno ficou sem decisão e a massa sem ser devolvida!»

In «Revista Dragões», de Outubro de 2007

= Festa de Despedida de Norman Hall =

Observação: Embora conste do arquivo do autor algumas boas imagens deste futebolista em apreço, desta vez deitamos mão a fotos postadas na Internet por amigos destas andanças, derivado a momentânea impossibilidade de digitalização. Motivo porque as imagens foram copiadas, com a devida vénia: a de cima através  do blogue "Dragãodoporto"; a do meio de "Estrelas do F C Porto", do Paulo Moreira; e a de baixo de "Retalhos da História" do F C Porto, de Fernando Moreira, em Dragões de Azul Forte, no blogue "Bibó Porto, carago"!

Armando Pinto 

3 comentários:

  1. Já são bem antigas essas trafulhices a beneficiar sempre os clubes da capital, principalmente os vermelhos, tanto através dos dirigentes máximos do Futebol Nacional, como da Comunicação Social.
    Um exemplo: Quando o F.C. Porto ganhou pela primeira vez aos vermelhos lá na capital, os jornais de Lisboa tentaram branquear o resultado do jogo e isso "obrigou" o Capitão do F.C. Porto, Alexandre Cal, a escrever uma carta ao jornal "O Primeiro de Janeiro" na edição do dia 17 de Abril de 1920: «Quero frisar que os jogadores do F.C. Porto não só se portaram de uma maneira brilhante em ambos os desafios, como foram extremamente correctos para com os seus adversários e para com o publico, não tendo abandonado o campo de jogo no decorrer da segunda parte do primeiro desafio por má vontade, mas sim porque o publico se manifestou ruidosamente e invadiu o campo, não consentindo a continuação do jogo (contra o Império). Eu não viria de modo algum falar neste assunto se a “Imprensa Desportiva” da Capital pusesse um pouco de parte o seu facciosismo e fizesse, com imparcialidade e lealdade, o relato de ambos os desafios. Mas assim não procedeu e os jornais que têm a sua “secção desportiva” e que pelo menos costumam anunciar aos seus leitores os resultados dos desafios, deixando desta vez de o fazer, excepto um que falou do resultado do primeiro desafio, mas que não disse a expressão da verdade. Com efeito, o F.C. Porto não perdeu com o Império como esse jornal publicou; se tivesse contado os factos como eles se passaram, deveria ter dito que o jogo entre o F.C. Porto e o Império não chegou a terminar porque o publico, indignado, principalmente com a arbitragem, protestou ruidosamente, incitando os jogadores a abandonarem o campo, sendo este logo invadido pela assistência, não consentindo que o jogo continuasse e aclamando com entusiasmo os jogadores portuenses, sendo até o guarda-redes levado ao colo pela multidão e delirantemente ovacionado. Esta é que é a pura verdade: o F.C. Porto não perdeu com o Império.
    O segundo desafio, jogado contra o Benfica, foi ganho pelo F.C. Porto por 3-2. Este resultado não veio em nenhum jornal dos que mantém “secção desportiva”. A razão deste silencio? É simples: Lisboa, em futebol, há dez anos ou mais que estava habituado a vencer o Porto, conseguindo quase sempre mais ou menos fáceis vitórias. Este ano, o Porto, quis vencer e venceu, e para isso trabalhou com vontade, desfazendo assim a ideia que muitos tinham de ser impossível tão cedo o Norte triunfar do Sul. Eis a razão porque foi tão pouco falada a vitória dos portuenses.
    Quanto aos jornais desportivos, um deles, que por sinal costuma trazer uma resenha bastante desenvolvida dos bons desafios, limita-se a fazer uma pequena apreciação que por acaso não condiz nada com o título, e essa mesma feita em tipo pequeno, como que a ver se passa despercebida. Inclusivamente, em lugar de dizer, “o F.C. Porto venceu o Benfica”, diz: “team do Porto vence o Benfica”. Faço esta pequena observação, que poderia parecer sem importância, mas é para que todos fiquem sabendo que o grupo que foi a Lisboa é única e exclusivamente de elementos do F.C. Porto e não com alguns do Oporto Cricket Club, como um jornal desportivo da capital fez constatar, talvez por más informações…»

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  2. vídeo interessante aqui

    a Verdade é como o azeite, car@go! e como a Vingança, também: tarda, não falha e serve-se fria.

    ps:
    por que sei do que escreve, por também o ter sentido "na pele", lastimo o que lhe aconteceu ao 'lôngara'.
    infelizmente há sempre uns fdp's que não aceitam nem lidam bem com a Verdade...

    abr@ço
    Miguel | Tomo II

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  3. Francisco Palmeiro, antigo jogador do 5lb nos anos 50 e 60, admite a corrupção e ajuda de Inocêncio Calabote no vergonhoso jogo '5lb vs. CUF', de 22 de Março de 1959.
    Francisco Palmeiro afirma que Gama - guarda-redes da CUF - era «simpatizante» do 5lb, «facilitou» naquele jogo e «deu vários frangos» para beneficiar o 5lb.
    A "ajuda" foi tão escandalosa que o treinador da CUF substituiu Gama pelo guarda-redes suplente Zé Maria ao intervalo!
    Inocêncio Calabote assinalou quatro-penaltys-quatro (!!) que Francisco Palmeiro admite que alguns não existiram e/ou serão duvidosos. Aquele árbitro ainda expulsou 3 jogadores da CUF e concedeu cerca de 12 (doze) minutos de descontos, numa altura em que, em circunstâncias "normais", não eram dados mais do que 2 a 3 minutos de descontos.
    O vídeo que prova a Vergonha e a Mentira Desportiva do 5lb, contado por um antigo e histórico jogador do 5lb.

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