Há 44 anos,
precisamente, o 31 de Janeiro, que hoje ocorre neste sábado, então foi ao
domingo. Ficando-nos na retina o que se passou nesse belo dia, num lindo
domingo de sol de inverno. E, esse, foi realmente um 31… para a história. Não o
31 de Janeiro antigo, também levado a cabo na cidade do Porto, da revolta
política pela liberdade social, uns anos antes da proclamação da República; mas
no âmbito desportivo, muitos anos volvidos, quando Portugal era quase só Lisboa
e o resto paisagem, à imagem do regime político e desportivo salazarista.
= Plantel do F C Porto nessa época, dos 4-0 ao Benfica...
Ainda há poucos dias, em texto publicado, aqui rememoramos
parcialmente esse acontecimento, por entre as “Memórias PortistasPersonalizadas”:
- …Entretanto, entre tantas recordações, nunca mais poderá
ser esquecido que, apesar do poderio da organização do desporto estar em
Lisboa, com tanto faciosismo decisivo, em tempo de ditadura do Terreiro do
Paço, de vez em quando o F. C. Porto ia conseguindo contrariar as injustiças e,
quantas vezes, impor-se mesmo, em futebol jogado... Como aconteceu com uns
célebres 4-0 ao Benfica, nas Antas, com quatro golos de António Lemos, na tarde
soalheira do domingo que era último dia de Janeiro de 1971.
Porque do facto já colocamos diversas referências memoriais,
por quanto relembramos em ocasiões anteriores essa grande vitória, apenas
focamos agora a recordação correspondente à efeméride do dia, neste dia em que
trazemos à memória pública uma lembrança dessa inesquecível vitória por 4-0,
com quatro golos de Lemos.
Armando Pinto
Lemos não era Fernando Gomes: ator secundário e figurante nas história do FC Porto, mas com uma honra especial: a de ser o maior goleador ante o rival Benfica, num só jogo.
ResponderEliminarA velha e longa história de clássicos entre Benfica e FC Porto (226 jogos, desde 28 de junho 1931, até 2014) apaixona gerações, eleva ídolos e reforçou (ou derrubou) hegemonias. Construíram-se vitórias de dimensões improváveis, à conta de goleadores lendários, como Eusébio e Fernando Gomes – de cada um dos lados. Porém, há algo que nem eles conseguiram.
Da parte do FC Porto, só Lemos marcou mais de três golos ao arqui-rival num só jogo. Ele foi um dos heróis improváveis que mais maltrataram o Benfica num clássico,.
Pedaços de história que agora se recordam. Lemos fez todos os golos de um FC Porto 4-0 Benfica, de 1971… e ganhou uma mobília de quarto.
O dia mais memorável da carreira de Lemos teve uma epifania . Sozinho, humilhou o poderoso Benfica, a meio da longa travessia do deserto do FC Porto (19 anos sem ser campeão nacional). Foi a 31 de janeiro de 1971. A goleada, por 4-0, não chegou para evitar o título encarnado (os dragões foram terceiros), mas Lemos e restantes portistas foram para casa carregados de prémios.
Uma empresa patrocinadora dos azuis e brancos prometera um vasto de rol e ofertas a quem facturasse nessa tarde. E Lemos correspondeu. Aos 20 minutos, já tinha garantido um guarda-chuva “Bangu”. Depois conquistou ainda meia dúzia de camisas “Cinco Quinas”, um conjunto de tintas, trinchas e pincéis “1001″ e, com um chapéu a José Henrique, uma mobília de quarto completa.
Ao todo, foram quatro golos – o último aos 87’, quando já estava debilitado fisicamente – recheados de prémios. “O que fiz com a ajuda dos meus companheiros era impensável naquele tempo, mas pelos vistos ainda é, porque mesmo com grandes avançados no FC Porto, como Gomes e Jardel, ainda ninguém fez o mesmo”, recordou, anos depois, o avançado, que partilhou as prendas com os colegas de equipa: “deu para todos, as tintas, a mobília…”.
O feito ganha ainda mais impacto porque essa goleada foi a única vitória de Lemos em todos os clássicos que jogou contra o Benfica. E porque o avançado, nascido em Angola, esteve em risco de nem fazer parte do plantel dos dragões nessa época: a sua continuidade na equipa, tal como quase todas as decisões do clube, na época, foi votada num plenário de diretores (onde estavam os representantes das modalidades amadoras, como era na altura Pinto da Costa) e aprovada pela margem mínima.
Dois anos depois, Lemos viu a carreira ser interrompida pela Guerra do Ultramar: não obteve o estatuto de atleta de alta competição e foi mobilizado para Cabo Verde. Devido a um desvio de rota na viagem para África, acabou na Guiné-Bissau. E só em 1974/75, já depois do 25 de abril, voltou ao futebol, já sem o fulgor de outrora (fez mais uma época nas Antas e depois passou por Marítimo, Ac. Viseu, Vila Real e Infesta). Na memória – a sua e a da velha e longa história do clássico – ficam aqueles quatro golos ao Benfica.
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Retirado da Internet, onde faltou dizer que o Lemos no mesmo ano marcou 6 ao Benfica, com os 2 do empate de 2-2 na Luz. Depois nesse ano não foi o melhor marcador do campeonato porque lhe foi imposto injustamente um castigo de 4 jogos, após expulsão provocada num jogo no campo da Cuf – para o tirar do caminho. O estatuto de alta competição, com serviço à nação, devia ter-lhe sido atribuído, porque Lemos jogou na seleção nacional de juniores e de Esperanças. E a mobilização para o Ultramar foi para o tirar da equipa do Porto, indo para essa guerra por isso, como foram outros do F C Porto – enquanto os do Benfica e do Sporting ficavam nos quarteis militares em Lisboa.
Nunca é demais lembrar esse jogo que tem uma importancia muito maior não só por ter sido o Lemos a marcar os quatro golos, mas também devido à época em que se vivia em que Lisboa era Portugal e o resto era paisagem.
ResponderEliminarAbraço
Bela recordação. Também estive presente nessa tarde de glória para LEMOS e para o FCP. No tempo em que perdíamos muitas vezes. Hoje perdemos muito pouco. Outros tempos ...
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