A história do futebol nacional não se vê só nas páginas de
jornais e livros, nem nas imagens que possam perdurar de reportagens filmadas.
Por quanto pode significar o que nos faz rever em toda a sua dimensão. Quão
também conta o valor de testemunhos pessoais, como no caso do que um simples
adepto pode saber e conhecer.
Assim sendo, podemos dizer que há recordações que são
páginas sublimes do livro do futebol. Conforme temos na retina quanto a um
futebolista de grande carácter como foi o guarda-redes Armando, um valoroso
guardião das balizas do Braga e do Porto, nos anos 60 e 70, do século XX. Guarda-redes que nos chamou primeiro
a atenção quando defendia que se fartava na baliza do clube bracarense, sendo
decisivo na inédita vitória do Braga na Taça de Portugal, em 1966, o que causou
então admiração por todo o país; e depois quando veio para as Antas, em 1970, regressando
ao F C Porto, onde se formara.
Pessoa que sempre estimamos, quer na admiração de quando o
víamos de camisola com o emblema do F C Porto diante daquela grande baliza que
ele tão bem defendia, quer como no seu feitio sincero e cordato, conforme nos
pudemos aperceber. Portista de raça, fiel e de uma só cara, à imagem dos
Portistas, como nos consideramos e somos, afinal, habituados a viver só à nossa
custa, acostumados assim a contar só connosco, laboriosamente e sem
favorecimentos, honesta e valorosamente. E bom adepto do Braga, que tão bem
soube defender.
Quando muito nos honra termos Casillas no nosso F C Porto,
algo que poucos clubes da esfera mundial se podem ufanar, em terem um
guarda-redes de classe assim, um Campeão da Europa e do Mundo ao nível de
títulos de clubes e de seleções, recordista de presenças na Liga dos Campeões,
entre diversas honrarias; e na linha de grandes guarda-redes como Américo,
Vítor Baía, Barrigana e Siska, e outros dos de maior nomeada, não nos
esquecemos que gostamos de ter Casillas no F C Porto, como antes gostamos de Armando,
Tibi, Fonseca, Zé Beto, Mlynarczyc e Helton.
Pois, desses, é vez hoje de voltarmos a recordar Armando.
Guarda-redes iniciado no F C Porto, nas camadas jovens que evoluíram no Campo
da Constituição, a partir das escolas. Tendo então feito parte da seleção de
Juniores da Associação de Futebol do Porto, cuja formação incluía também, nesse
tempo, um jovem defesa portuense que atuava no Infesta… e dava pelo nome de Jorge
Nuno (Pinto da Costa).
= Armando, depois de ter deixado de jogar, junto com Pinto da Costa, presidente do FC Porto, em momento de convívio e recordação
Tendo Armando Pereira da Silva, nascido a 11 de Outubro
de 1938, representado oficialmente o F C Porto uma época nos Juvenis e três nos
Juniores entre 1954 a 1958, em cujo ano subiu ao escalão sénior quando foi
suplente de Pinho na final da Taça de Portugal ganha pelo F C Porto, por 1-0
sobre o Benfica (golo de Hernâni). Logo a seguir foi com a equipa
principal portista em digressão a Angola e Moçambique e durante dois anos fez
parte do plantel sénior dos Dragões, tendo mesmo jogado em 3 jogos da 1ª equipa
azul e branca e ainda sido suplente de Acúrcio em 8 jogos oficiais, além de
ter sido guarda-redes efetivo da equipa do FCP em torneios de reservas, junto
com os muitos valores do plantel que nem sempre atuavam na formação principal.
Depois
de ter feito então parte do grupo principal do F C Porto até 1960, rumou de
seguida ao Gil Vicente, onde atuou em 1960/61, tendo de seguida o serviço
militar vindo interromper-lhe a carreira, e, devido a mobilização para a guerra
do ultramar, chegou a representar em 1962/63 o Ferroviário de Malange, de
Angola. No regresso à vida civil, já em plena metrópole, representou
o Salgueiros no decurso da temporada de 1963/64, até que em 1964/65 passou a
defender a baliza do Sporting de Braga, clube onde ficou na história como
guardião da equipa que até hoje alcançou o maior feito do clube da cidade dos Arcebispos
– A Taça de Portugal, conquistada na final disputada no Jamor num célebre
domingo de 1966.
Nesse percurso, Armando Silva foi entretanto chamado a representar a seleção nacional B (em jogo contra congénere equipa da França) e depois foi suplente da Seleção A em quatro jogos.
Passada essa década romântica de sonhos de Martin Luther King e dum John Kennedy, da música dos Beatles e das grandes viagens do espaço, chegando o homem à lua, no início da década de setenta deu-se o regresso de Armando às origens, tendo voltado ao F C Porto.
E
nas Antas permaneceu de 1970/71 até 1973, para de seguida acabar a carreira de
novo no Braga, em 1975, clube onde é um dos Guerreiros mais históricos.
Volvidos anos, chegou a experimentar a carreira de treinador, havendo sido
Campeão Distrital da 2ª Divisão da A F Braga da época de 1983/84 pelo A D
Terras de Bouro.
Ao longo desses anos Armando foi Campeão Nacional de
Juniores pelo F C Porto em 1957/58, Campeão Distrital de Malange (durante a comissão
do serviço militar pela Pátria), vencedor da Taça de Portugal pelo Braga em 1965/66,
1 vez Internacional B e suplente em 4 jogos da seleção A. Detendo record
mundial de penaltis defendidos consecutivamente (4 seguidos) no jogo F C Porto
x Celta de Vigo, em Caracas (Venezuela) no verão de 1971. Bem como, mais tarde,
foi agraciado com a Medalha de Exemplar Comportamento da Federação Portuguesa
de Futebol, em virtude dos seus 391 jogos sem qualquer castigo.
Armando, guarda-redes histórico do Braga e do F C Porto, está
pois de parabéns pela sua bonita carreira desportiva. Mas, além disso, está
hoje também de parabéns, mais uma vez, pela passagem de mais um seu aniversário
natalício. Facto que nos leva a lhe desejar muitas mais venturas: - ao Armando
meu amigo de longa data, guarda-redes que admirei como nº 1 do meu F C Porto e
pessoa de meu especial apreço. Aqui e agora com um abraço de parabéns, também,
pelo seu percurso humano.
Para ilustração de tudo isto, do muito que queria dizer
(escrever), junto desta feita algumas fotos diferentes de vezes anteriores,
cujas gravuras dispensam mais elucidações. Deixando ainda falarem pela vista
algumas outras imagens documentais, junto às fotografias respetivas.
Armando Pinto
((( Clicar sobre as imagens )))
Jamor, 22 de maio de 1966. No relvado do Estádio Nacional, no Jamor, SC Braga e Vitória de Setúbal estão empatados a zero. Passam os minutos, prolonga-se o nulo e cresce a ansiedade. Falta menos de um quarto de hora para o final da Taça de Portugal. O jogo está aguerrido, disputado por homens de barba rija, sem temores e em ritmo elevado.
ResponderEliminarO clique para o SC Braga desbloquear o resultado surge aos 77 minutos, quando o avançado Perrichon, oportuno e letal, supera os adversários e remata certeiro. Mais do que um golo, o avançado argentino consegue cunhar o nome dos minhotos na História perante uma equipa que jogava como detentor da Taça de Portugal, ficara em quinto lugar no campeonato e tinha jogadores de valor como Mourinho Félix, Jaime Graça ou Carlos Manuel.
Antes de o capitão, Canário, um universitário vindo de Lisboa, poder receber a Taça de Portugal das mãos do Presidente da República, Américo Tomás, o SC Braga precisou de sofrer. Uniu esforços e vontades, cerrou os dentes e agarrou-se à vantagem. Um dos últimos lances ofensivos do Vitória de Setúbal terminou nas mãos de Armando, titular indiscutível da baliza bracarense. Logo depois, Braga Barros, internacional de Leiria, terminou o jogo.
“Eu saí da baliza e vi todos os outros, os jogadores, o treinador, o massagista… Parecíamos ovelhas tresmalhadas, uns para um lado, outros para outro. Depois, foram as comemorações normais de quem não está habituado a ganhar”, recorda ARMANDO. Hoje, com 74 anos e com a doença de Parkinson a importunar, o antigo guarda-redes, um dos intocáveis nesta equipa treinada por Manuel Palmeira, mantém as memórias dessa final bem vivas. “Tenho muito, muito, muito orgulho”. E isso fica notório em cada recordação.
Até surgir, então, o tal golo de Perrichon. “A bola é jogada no meio campo, depois é metida nas costas da defesa do Setúbal. O Perrichon vai a correr de frente, o defesa está de costas e tem que virar e o Perrichon, como vai embalado, tem mais facilidade em chegar à bola primeiro. E chegou”. A descrição é feita por Armando, ao pormenor, acompanhada de um desenho, como se fosse um esquema, feito com os dedos na mesa. “O Vitória de Setúbal era uma equipa fabulosa. E só uma grande equipa lhes poderia ganhar”, orgulha-se.
Para chegar ao Jamor, o SC Braga não teve tarefa fácil. Pelo caminho, já se disse, enfrentou Benfica e Sporting, equipas dominadoras de então. Frente aos encarnados, o SC Braga perdeu por 3-1 na Luz – a única derrota na caminhada – mas a vitória conquistada no então Estádio 28 de Maio (4-1) permitiu a passagem à fase seguinte. “Nós começamos a ganhar a Taça quando eliminámos o Benfica”, atira Canário. Uma vitória por 1-0 frente ao Sporting, ao terceiro jogo, depois de dois empates a um, carimbou o passaporte do SC Braga rumo à final.
Pela primeira vez na sua história, o SC Braga atingiu a final da Taça de Portugal. Para Armando, contudo, a sensação de pisar o relvado do Jamor não foi nova, porque o guarda-redes já havia conquistado o troféu, em 1958, ao serviço do FC Porto, apesar de não ter sido utilizado. Fazê-lo pelo SC Braga provoca, no entanto, uma emoção diferente. “É indescritível. Não há palavras que consigam transmitir aquilo que a gente sentiu”, diz.
“Ganhar uma Taça de Portugal pelo SC Braga é mais qualquer coisa, porque no FC Porto, se não ganhar num ano, ganha para o outro ano. No SC Braga não havia outra hipótese, era aquela e acabou”, atira. E o “acabou” é, até este momento, para ser levado à letra, porque foi nesse ano que o clube – que até tinha corrido o risco de ficar fora do campeonato nacional por falta de dinheiro – ganhou a única Taça de Portugal do seu historial. De lá para cá, esteve em mais quatro finais: perdeu duas para o FC Porto e outras duas para o Sporting.
(Reportagem de 2015)