Reconstituição Histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Reconstituição histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Criar é fazer existir, dar vida. Recriar é reconstituir. Como a criação e existência deste blogue tende a que tenha vida perene tudo o que eleva a alma portista. E ao recriar-se memórias procuramos fazer algo para que se não esqueça a história, procurando que seja reavivado o facto de terem existido valores memorávais dignos de registo; tal como se cumpra a finalidade de obtenção glorificadora, que levou a haver pessoas vencedoras, campeões conquistadores de justas vitórias, quais acontecimentos merecedores de evocação histórica.

A. P.

domingo, 27 de fevereiro de 2022

Parabéns senhor Américo - nos seus 89 anos de vida !


Américo, o meu amigo senhor Américo Lopes, "faz anos". Perfazendo agora, nesta data, 89 anos de vida. Facto bem marcante, sendo no caso pessoal algo especial por ser o meu ídolo de infância, o jogador do Porto que eu mais admirava nos meus tempos de escola primária e catequese, quando ouvia pelos relatos da rádio as suas defesas e guardava os cromos de coleção com a sua figura.


Neste tempo de pandemia ainda resistente, em que felizmente estamos a conseguir vencer, saúda-se assim mais este aniversário natalício do grande "Américo do Porto", no dia de seu aniversário verdadeiro (pois que oficialmente ficou registado civilmente uma semana depois), com mais esta lembrança escrita de parabéns. 

Assim sendo, mais um aniversário natalício ocorre, felizmente, do "Américo do Porto", dando isto oportunidade de o felicitar e sobretudo lembrar esse que foi o valoroso guarda-redes titularíssimo da equipa principal de futebol do FC Porto de 1961/62 até 1968/69.

Está pois de parabéns nesta data este célebre guarda-redes, o primeiro "Baliza de Prata" do futebol português, vencedor que foi logo no ano de estreia desse trofeu, em 1964, que em tempos e durante alguns anos foi atribuído ao guarda-redes com menos golos sofridos numa época. Como mais tarde voltou a ser o primeiro vencedor do prémio atribuído ao melhor futebolista de cada temporada, conforme sucedeu em 1968 quando Américo foi o vencedor do Prémio Somelos-Helanca.


Num livrinho dos Ídolos do Desporto, pelos idos tempos da Primavera de 1968, Américo era considerado GUARDA-REDES “ETERNO”. Conforme o título do segundo livro que lhe foi dedicado na antiga e célebre coleção “Ídolos do Desporto”, publicado em Março de 1968 (depois de ter havido um anterior, de Janeiro de 1964) nessa linha de livros de bolso que fizeram história.


Curiosamente esse facto teve caso extensivo, que convém relembrar e aprofundar:

Quem conhece esses pequenos livros dos “Ídolos do Desporto”, que fizeram história em anos recuados, deve estranhar o título atribuído ao famoso guardião portista Américo no primeiro livrinho escrito sobre ele, em 1964 (sendo que mais tarde houve um segundo, em reconhecimento de sua valia). Não devendo haver muita gente até hoje a saber o porquê de tal epíteto deveras bizarro. Havendo ideia que quem escreveu o livro quis fazer um trocadilho, em choque de cotovelo (sabendo-se que essa coleção era editada em Lisboa…). Quão de certo modo foi, mas por alteração de ideia à afirmação de quem primeiro lhe atribuiu um gabanço (em 1963) com palavras idênticas mas sentido diferente.

Pois então, no primeiro livro da coleção Ídolos do Desporto a biografar o guarda-redes Américo Lopes, do FC Porto, apareceu e lá está ao cimo um título algo estranho: “AMÉRICO – o guarda redes suicida !” E durante muitos anos ficou interrogação sobre aquilo. Até que volvidos anos, teve um mais interessante título no segundo sobre ele: “AMÉRICO – o guarda-redes «eterno»” !  E o porquê de tal título primeiro a dar ideia dele ser suicida? A tal troca da ideia, em forma de jogo de palavras. Pegando num elogio, como era, dito e escrito duma forma, para de modo diferente alterar o sentido, fazendo parecer outra coisa… Quando, conforme o elogio que esteve na origem, devia ser e era de afirmar que o Américo não tinha medo, por fazer defesas de maneira destemida, num arrojo suicida… O que era e é diferente!

Essas edições, de 1964 e 1968, tiveram certo impacto, efetivamente, por quanto Américo era apreciado entre admiradores do excelente guarda-redes portista. Mas também por esses pequenos livros, ao género de revista de bolso, terem muita procura, a pontos de ainda haver muitos colecionadores da mesma publicação, que teve séries várias ao longo de anos consecutivos.

Com efeito, esse foi um tempo em que os seguidores do desporto eram brindados regularmente com publicações colecionáveis a historiar a vida dos clubes desportivos, mais as carreiras anuais das equipas de futebol e das provas de ciclismo, por exemplo, e especialmente sobre as biografias de desportistas salientes. Tendo havido assim uma coleção deveras popular, intitulada “Ídolos do Desporto”, que registou os percursos de diversos atletas entre as décadas dos anos 50 a 70, embora como sendo de Lisboa tivesse dado à estampa muitos mais casos de desportistas dos clubes de Lisboa, desde o futebol e ciclismo, passando por atletismo, basquetebol, hóquei etc. Enquanto, por exemplo, do FC Porto, quase só tiveram direito a constar nessa coleção jogadores de futebol, e em muito menor numero que os colegas dos outros clubes, e doutras modalidades apenas dois ciclistas do FC Porto ficaram assim à posteridade. Quão foi na realidade o interesse dessa coleção, através da qual hoje ainda se conhecem pormenores biográficos dos ídolos de tempos idos.

= Américo, de fato oficial com o emblema do clube, tal como os colegas, na comitiva portista à saída para a digressão à Venezuela, em agosto de 1963. Junto com Carlos Duarte, Azumir, Joaquim Jorge, Hernâni, Festa, Miguel Arcanjo, Paula, Rui, Custódio Pinto, Carlos Batista, Jaime, Atraca, Jorge Gomes e Mesquita, mais treinador, massagista e diretores, no tempo da presidência de Nascimento Cordeiro.

Mas então, quanto ao que esteve na origem do tal título inserto na capa do nº 5 da 3ª série da “Colecção Ídolos do Desporto", de 1964… Foi que numa deslocação do FC Porto à Venezuela, para disputar o “Torneio de Caracas”, vulgo Pequena Taça do Mundo ou Mundialito, em agosto de 1963, o guarda-redes Américo fez tão boas exibições que nos jornais desportivos de Caracas “disseram muito bem” de Américo, entre outras apreciações simpáticas a elementos portistas e à própria equipa azul e branca. Apesar dos resultados nem terem sido famosos, também por haver tido pela frente adversários mundialmente cotados, em dois jogos com o Real Madrid de Espanha e o S. Paulo do Brasil. Tal como depois foi transcrito no jornal O Porto, em setembro seguinte:

Tendo um jornalista de "La Esfera", o crítico Lorenzo Mascarill, afirmado que Américo foi o melhor, sendo «um guarda-redes que não conhece o medo. Defendeu tudo que era possível defender. Saiu de sua baliza, algumas vezes, com “arrojo suicida”».


O caso reflete a importância de Américo no mundo do futebol português, acrescendo ter tido direito a dois livros desses tais. Sabendo-se que essa coleção, publicada em Lisboa ao longo de diversas séries e ao longo de alguns anos, dava então muito mais atenção a atletas dos clubes de Lisboa e arredores, tanto que de Benfica e Sporting até incluiu atletas vários de diversas modalidades, desde ciclismo, hóquei, basquetebol até ao atletismo, enquanto do FC Porto apenas foram lembrados diversos futebolistas e simplesmente dois ciclistas; e quanto aos futebolistas os do FC Porto foram em número reduzido comparativamente com os outros… Mas, enquanto isso, Américo teve direito a dois livros desses e só não foi mais além porque depois teve  de acabar a carreira devido a lesão, impeditiva de poder continuar. Repetição essa que, no âmbito dos jogadores de futebol do FC Porto, antes de Américo apenas se dera com Hernâni, e depois também apenas com Custódio Pinto, Francisco Nóbrega e José Rolando. O que é sintomático, conhecendo-se o panorama sócio-desportivo desses tempos e a história do futebol do FC Porto.  


Pois, além desse indicativo revelador de tal verdade, a realidade daquele elucidativo título, O GUARDA-REDES “ETERNO”, consubstanciava como o guardião Américo Lopes era visto no quadro dos grandes guarda-redes nacionais, como infinito no imaginário desportivo português. E embora o destino não tenha depois permitido maior longevidade, terminando tão brilhante carreira volvido um ano, em 1969, então com 36 anos, mesmo assim Américo continua a ser dos futebolistas portistas mais lembrados na memória de conhecedores e apreciadores da História do FC Porto.

Como agora se recorda, passados tantos anos já disso tudo, na oportunidade em que Américo, o senhor Américo Ferreira Lopes, o eterno “Américo do Porto”, perfaz 89 anos de vida.

Longa e apreciada vida que o faz ser, na atualidade, um senhor muito respeitado, como antes ele se fazia respeitar a sair dos postes e a fazer valer os seus dotes de valoroso guardião das balizas que lhe foram confiadas.


Como constante recordação que é e será, Américo tem sido referenciado e lembrado por diversas vezes e ocasiões em escritos lavrados pelo autor destas linhas, quer no anterior blogue (entretanto “desaparecido” da blogosfera, após ataques informáticos adversários…) como neste de Memória Portista. Estando biografado e perpetuado como merece, pelo menos no universo cibernauta daqui. Porém nunca será demasiado acrescentar mais.

~~~ *** ~~~

Siska, o grande guarda-redes Miguel Siska do Futebol Clube do Porto, era o grande ídolo de Américo Ferreira Lopes, na sua adolescência lá no remanso de Santa Maria de Lamas, quando o então jovem sonhava um dia ir para o Porto...



Até que, mais tarde, com a intervenção de Soares dos Reis, antigo guarda-redes internacional e depois dirigente do FC Porto, após diversas peripécias particulares, o sonho tornou-se realidade, tendo Américo ido para os Juniores do FC Porto. E seguidamente o destino iria dando conta do que foi sendo escrito em sua vida.

Eis uma foto de Américo como guarda-redes do Juniores do FC Porto:


Enquanto júnir do FC Porto, no pouco tempo em que esteve nessa categoria a defender a baliza portista, pois depressa subiu a sénior, Américo fez parte da equipa do FC Porto que venceu o Campeonato Regional, sagrando-se assim um dos  Campeões juniores.

Desse tempo juntam-se algumas imagens ilustrativas, do que no jornal O Porto foi sendo transmitido de tal produção futebolística, em que evoluia Américo, mais os irnãos Sarmentos, Sá Pereira, etc.


- Mais um histórico instantâneo da vitória:


Era Américo logo nesses princípios de carreira um guarda-redes que transmitia confiança e dava grandes esperanças, a pontos de ter merecido ser uma das Figuras do FC Porto caricaturadas no jornal O Porto, também, com um verso do poeta tradicional das publicações do clube nesse tempo, apresentando-o como um guarda-redes de grande futuro:


Seguidamente, subindo aos seniores, passou a fazer parte do plantel que tinha como guarda-redes mais velhos o titular Barrigana e seu sucessor Pinho.


Em 1952 Américo ascendeu então à categoria superior. Por aquela época da subida de Américo à primeira categoria do FC Porto, com o estádio das Antas inaugurado há pouco tempo, a equipa do FC Porto teve diversas viagens de visitas de cortesia a terras de onde houve pedidos para idas de representações oficiais do grande clube da capital do Norte, com vista à realização de jogos particulares (uns com fins de angariação de fundos para a campanha da construção do estádio que andava ainda a ser pago, quer com fins beneficentes, ou simplesmente a corresponder a convites sociais). Sendo normalmente essas equipas compostas por alguns dos jogadores titulares e outra parte, senão em maioria, com suplentes e ex-juniores mais consagrados, numa mescla de juventude e experiência. Em cujas digressões naturalmente Américo também integrou as respetivas caravanas. Como no caso da ida do FC Porto a Torre de Moncorvo, no Nordeste Transmontano, por intervenção do então Presidente da Direção Dr. Urgel Horta, médico estabelecido no Porto mas natural daquele concelho transmontano. Onde em 1952 houve então um jogo festivo, nesse âmbito – a que se reporta a foto, vendo-se Américo ainda muito jovem entre colegas de idades diversas, entre os quais até António Araújo, junto ao presidente Dr. Urgel Horta, embora apenas a fazer figura de protocolo, como figura célebre do clube e do futebol português.


Naquela visita à zona das amendoeiras, os elementos da embaixada portista viajaram de comboio, indo na Linha do Douro até à estação do Pocinho, onde se deu entusiástica receção popular aos jogadores do Porto, ídolos também daquela gente que nunca os vira em carne e osso. Ate por fim ter ocorrido o encontro de futebol, nesse dia importante na história do desporto em Moncorvo, em pleno “Stadium São Paulo”, campo antigo da localidade que recebeu de braços abertos tal representação portista.

Américo quando era terceito guarda-redes do plantel do FC Porto e como tal não ia para o banco como suplente ainda, em jogos da equipa principal do clube, ia já contudo como assistente, por vezes. Como fixou uma captação fotográfica, com ele e Osvaldo Cambalacho junto ao banco dos responsáveis, assistindo a um jogo da equipa principal, no tempo do treinador Cândido de Oliveira e de Pinga como Adjunto, sendo Presidente o Dr. Paulo Pombo.


Nesses tempos Américo estava já fixado na Equipa B do FC Porto, defendendo a baliza das Reservas (e que Reservas!), na equipa onde jogavam diversos elementos da primeira linha, como Carlos Duarte, Albasini e Osvaldo Cambalacho,  junto com jovens promessas desse tempo, como os irmãos Sarmentos, António Morais e outros. 


É sabido, assim, que Américo, entrado no plantel sénior do FC Porto em 1952 e tendo tido estreia oficial na equipa principal do FC Porto em 1953, em jogo a contar para o Campeonato Nacional da 1ª Divisão, teve porém de esperar a vez, por então estarem à sua frente guarda-redes como Barrigana, primeiro, e depois Pinho e Acúrcio, havendo de permeio ainda se intrometido o tempo de serviço militar obrigatório que originou paragem de cerca de dois anos e depois ainda ter estado uma época emprestado, para manter atividade. Tendo de permeio, nos períodos em que se manteve no FC Porto, Américo sido um dos guarda-redes da equipa de Reservas, em cuja função ajudou essa formação dos suplentes e reforços, a Equipa B do clube, a vencer algumas provas, de cariz distrital e mesmo nacional.

= Equipa vencedora do Torneio Regional de Reservas em 1956 e que teve boas prestações no Torneio Octogonal, ao tempo disputado =

Como, por entre diversos exemplos, se pode notar e anotar um através de um recorte do jornal "O Porto" de Maio de 1956, cuja notícia dá conta da prestação da equipa portista no "Torneio Octogonal de Reservas" disputado a nível nacional, com vitória da equipa defendida por Américo, em triunfo sobre o Torreense (curiosamente equipa que o FC Porto então vencia em duas frentes e versões diferentes, quer em reservas como na "primeira categoria", pois por essa altura acontecera também a vitória do FC Porto na Taça de Portugal de 1956, na final ganha por 2-0 ao Torreense no Jamor, às portas de Lisboa).


Nesses comenos, Américo foi fazendo parte do plantel senior portista com ativa participação, sendo incluído mesmo em momentos significativos. Como no caso que ficou registado numa pose histórica, em que num jogo festivo (de homenagem ao antigo internacional e campeão  Carlos Pereira) incluiu a equipa do FC Porto para a ocasião formada por futebolistas carismáticos de outros tempos, mais alguns dessa atualidade e jovens promessas. Alinhando Américo junto com o célebre Pinga, e ainda outros antigos como Carlos Pereira e Szabo, por exemplo, ficando ao lado (conforme a foto) de Joaquim Machado, Monteiro da Costa, Del Valle, Carlos Pereira, Cambalacho, Pinho, Carlos Duarte, Pedroto, Sezabo, Artur Pinga e José Maria.


Estando então Américo a afirmar-se, veio a "Tropa" interromper a escalada no mundo do futebol senior. Sendo deveras sintomático, de como era já apreciado, o facto da sua ida para o serviço militar ter merecido destaque no jornal oficial do clube. Como se pode ver por mais uma coluna d' O Porto:


Havendo-se intrometido a tropa pelo meio, e tendo estado dois anos no serviço militar obrigatório que obrigou a cerca de duas épocas de paragem, no regresso, depois de ainda ter feito parte da equipa de Reservas do FCP, foi depois Américo emprestado  ao Boavista, em cuja formação do Bessa esteve apenas uma época.


Voltando ao clube de seguida, continuou a fazer parte do plantel portista, à espera de oportunidade, enquanto foi sendo suplente da equipa. Como no caso a que se reporta outra fotografia digna de registo, dando conta da chegada da equipa de fuebol do FC Porto à Madeira, para disputa de um encontro na ilha, pela curiosudade de mostrar como nesse tempo era a chegada à Pérola do Atlântico. Conforme a deslocação da comitiva (em que Américo aparece à esquerda da imagem, em primeiro plano) teve então transbordo, após a amaragem do aparelho aéreo e escala através de barco para ida a terra.


Entretanto, com mais experiência, passados tempos Américo contribuiu para a conquista do Campeonato Nacional de futebol de 1958/1959, em que os titulares foram sendo Pinho e Acúrcio, tendo Américo sido utilizado durante a época também e como tal sido um dos Campeões Nacionais do FC Porto, no célebre campeonato em que o FC Porto conseguiu superar o famigerado caso-Calabote.


Ora, chegada a época de 1961/62 com Jorge Orth no comando da equipa, Américo passou a ser titular da equipa principal do FC Porto. Estando-se ainda na fase de transição dos últimos anos de carreira de grandes vultos como Hernâni, Virgílio, Carlos Duarte, Barbosa, Perdigão, enquanto alguns outros ainda duraram algum tempo mais, tal o caso de Arcanjo (que em Janeiro de 1965 ainda fez um jogo na fase de apuramento da seleção nacional rumo ao Mundial de 1966), de permeio com afirmação momentânea de promessas como Serafim e Paula, nesses tempos, à chegada de novos e promissores valores, como Custódio Pinto, Jaime, Festa, Joaquim Jorge, Almeida, Azumir, Carlos Manuel, etc.

= No gradeamento do campo de treinos das Antas, anexo ao recinto principal (mais tarde chamado campo nº 2, a partir que houve mais campos de treinos na zona envolvente), o plantel do tempo em que Américo ainda jogou com Hernâni, Miguel Arcanjo e Carlos Duarte, mas também com Jaime, Azumir, Festa, Paula, Pinto, Carlos Manuel, Almeida, Romeu, Valdir, Rolando, Nóbrega, Rui, etc.

Ao assumir a guarda da baliza portista Américo tomou-se verdadeiramente dono do lugar n.º 1 da equipa com grandes exibições, conforme foi o caso de jogos vitoriosos em Alvalade diante do Sporting, ao tempo a equipa número dois do regime desportivo vigente, como no antigo estádio da Luz ao empatar em 1961/62, contra todas as expetativas e quase surpreendentemente vencendo o clube do Estado Novo mesmo em 1962/63… ao tempo em que era trinador o húngaro Janos Kalmar.

=  Equipa do FC Porto que em 1962/63 foi vencer a Lisboa em pleno estádio da Luz, para o  Campeonato Nacional da 1ª Divisão, à  4ª jornada disputada a  18/11/1962. Com o “score” de SL Benfica, 1 - FC Porto, 2 - perante 2 golos de Azumir e 1 de Eusébio. Dessa tarde de glória, com que Américo brindou todo o mundo, é a pose da praxe, tendo o coevo terceiro anel da Luz por fundo visual. 
(Em cima, a partir da esquerda para a direita - Mesquita, Paula, Miguel Arcanjo, Joaquim Jorge, Festa e Américo; em baixo pela mesma ordem - Jaime, Custódio Pinto, Azumir, Hernâni e Serafim.) =


... Com a curiosidade de nesse tempo serem usadas as camisolas de versão mais linda de sempre, do equipamento histórico-tradicional do FC Porto, como é maioritariamente considerado na afeição memorial portista.


… O pior, por esses tempos e mais tempo, era o que vinha depois, por mais que a equipa do Porto conseguisse demonstrar em campo. Como, entre tantos e diversos exemplos, nesse mesmo Campeonato de 1963 aconteceu com um penalti inventado pelo árbitro Reinaldo Silva no jogo da 2ª Volta nas Antas, conforme foi recordado mais tarde no jornal O Norte Desportivo aquando do 25º aniversário do Estádio das Antas, como um grande “roubo” de que o FC Porto foi mais uma vez vítima e com consequência decisiva na perda de mais um campeonato:


A par disso e passando ao lado, dentro do que era possível, Américo foi-se afirmando efetivamente como grande guarda-redes do clube. E depressa também ganhou estatuto de grande referência no grupo de trabalho da equipa, a pontos de, após a saída dos mais antigos, e de permeio ter havido algumas experiências de comando, ter passado para Américo a braçadeira de Capitão de equipa, como líder carismático. Tendo sido com Américo a Capitão que se deu a primeira vitória do FC Porto em competições oficiais europeias, com a vitória por 3-0 sobre o Olimpique Lyonnais (Lyon) para a 1ª mão da 1ª eliminatória da então Taça das Taças, em Setembro de 1964.


Decorridos tempos, Américo venceu a 1ª Baliza de Prata atribuída a guarda-redes nacionais, em 1963/64, como guarda-redes que menos golos sofreu ao longo do campeonato nacional dessa época, entre ocorrências várias. Tal como foi sendo desenvolvido dentro do clube o seu estatuto de figura importante, inclusive tendo figurado como representante do futebol numa organização oficial portista noutra modalidade, quão foi o caso de ter sido entregue ao guarda-redes Américo a bandeirola de sinal de chegada duma etapa do Grande Prémio de Ciclismo do FC Porto, com meta na pista do estádio das Antas, também.


Entremeando esses jogos oficiais, outros encontros ficaram para a história com importante contributo de Américo, como foram os casos de alguns torneios de pré-época ganhos em Espanha, tal os casos de dois Trofeus Luis Otero, em 1962 e 1964. Reportando ao última a pose da equipa, conforme foto oficial do mesmo torneio de Pontevedra, na Galiza.


Apesar de entretanto não terem sido conseguidos campeonatos, ou seja, não tendo sido possível ganhar o campeonato durante esses anos, como se sabe, mesmo assim o FC Porto ia fazendo frente aos rivais e era temido nos confrontos diretos. Apenas que depois as manobras de bastidores faziam o resto… Assim, por exemplo, foram-se sucedendo algumas boas vitórias sobre o clube do regime, como foi um bom exemplo a vitória por 2-0 sobre Eusébio e C.ª no jogo da estreia de Pavão, a 26 de Setembro de 1965. Vindo a talhe esta referência para registar uma foto da equipa desse tempo, com Américo junto a colegas valorosos que bem mereciam ter sido também campeões.

(Foto da equipa do FC Porto do jogo de estreia de Pavão, a contar para a 3.ª jornada do Campeonato Nacional de 1965/66. No Estádio das Antas, a 26/9/1965. Com o resultado obtido através de golos de Naftal e Nóbrega. Em cima da esquerda para a direita - Atraca, Pavão, Alípio Vasconcelos, Alberto Festa, João Almeida e Américo; em baixo pela mesma ordem - Jaime, Naftal, Manuel António, Custódio Pinto e Nóbrega.)

Depois veio a grande vitória na Taça de Portugal de 1967/1968, em cuja final, disputada no chamado Estádio Nacional, vulgo estádio de Oeiras, nos arredores de Lisboa, então o FC Porto venceu o Vitória de Setúbal por 2-1.Tendo Américo contribuído de modo importante, fazendo uma das suas exibições de grande nível, nesse encontro em que o clube sadino chegava à final da mesma Taça pelo quarto ano consecutivo, com duas vitórias nessa segunda maior prova do calendário futebolístico português, em anos alternados, até aí.

Final em que Américo se cobriu de glória, como último reduto dessa equipa em que teve à sua frente Atraca, Bernardo da Velha, Valdemar, Rolando, Pavão, Eduardo Gomes, Jaime, Custódio Pinto, Djalma e Nóbrega; sendo autores dos golos Valdemar Pacheco e Francisco Nóbrega.


Assim sendo, vem a talhe relembrar como era o cenário da situação desse tempo em que o grande Américo era considerado “Eterno”, conforme foi sintetizado em livro. Como calha a preceito lembrar que nesse mesmo ano de 1968 Américo foi considerado o melhor guarda-redes nacional, como ficou também registado num outro livrinho da mesma coleção, então sobre a época da equipa principal do FC Porto, publicado a 8 de Junho de 1968 (dias antes da final da Taça de Portugal ganha a 16 de Junho).


Curiosa essa apreciação, em coluna à parte, registando a sua consagração como vencedor daquele galardão que premiava o jogador mais regular do Campeonato Nacional, o Prémio Somelos-Helanca de reconhecimento ao futebolista mais pontuado de todos, entre os participantes das melhores exibições, ao longo das sucessivas jornadas, segundo pontuação dum jornal como A Bola, por tradição totalmente anti-Porto. Acrescido de até ser lembrado o quanto foi injustiçado anteriormente no Mundial de 1966, que poderia ter tido outro desfecho se houvesse sido posto Américo a defender a baliza dessa seleção do sistema BSB… como tardiamente reconheceram tal erro o então selecionador Manuel Luz Afonso e o treinador Otto Glória.


Américo, sempre muito ponderado e senhor de si, entretanto já ia pensando no futuro e estabelecera-se comercialmente com a famosa loja chamada Casa Magriço, de artigos desportivos, com nome dado em homenagem à ida à saga de Inglaterra de 1966...


Servindo então todas as ocasiões para promover o seu estabelecimento, como nos casos de viagens e outas ocasiões públicas, sempre com a sua boa disposição, ficaram disso algumas imagens alusivas.


Entretanto, ainda durante a que veio a ser sua penúltima época de futebolista, Américo foi considerado pelo jornal A Bola o melhor jogador do Campeonato Português, vencendo assim o correspondente Prémio Somelos-Helanca. Algo relevante, sabendo-se como aquele jornal lisboeta é afeto aos clubes de Lisboa e adverso ao FC Porto...


Desse sintomático reconhecimento ficou no jornal O Porto (edição de 11/5/1968) uma interessante entrevista:


A propósito, recordamos aqui aquela referida façanha, de Américo ter suplantado a concorrência em pontuação de reconhecimento por um jornal adverso ao F C Porto.


Em 1969 Américo terminou a carreira, ao final da temporada de 1968/69, devido a grave lesão num joelho, a que nesse tempo não foi aconselhável uma necessária e duvidosa operação cirúrgica.


Depois ainda foi episodicamente treinador em parte duma época, para salvar o clube da sua terra natal. Acudindo a pedido dos dirigentes do Lamas, que estava em vias de descer de divisão, Américo acedeu à solicitação afetiva e dirigiu o União de Lamas, ajudando o clube a manter-se na mesma 2ª Divisão Nacional, em que se manteve durante esse tempo. Enquanto ele se dedicava a uma outra vida de sucesso, então tendo enveredado definitivamente pela via empresarial, na linha anterior de uma confeitaria em Espinho e seguidamente à Casa Magriço, de artigos desportivos, que abriu e manteve em duas lojas na cidade do Porto ainda quando jogava futebol. Tendo por fim fundado na terra de residência um estabelecimento de asssitência médica, a Clínica Boa Hora, gerida por si até se aposentar e depois continuada por sua afilhada, D. Isabel, que fora criada por ele e sua esposa como filha.


= Um Calendário de jogos com publicidade da Casa Magriço do tempo de Américo...

Depois disso e terminada a carreira, fundou a clínica médica referida e continuou sempre ativo. Enquanto em sua casa criou um belo museu de recordações de sua carreira desportiva, dos mais interessantes que se conhecem a nível particular, para admirador ver e satisfação perdurar. 


Nascido em Santa Maria de Lamas a 27 de Fevereiro de 1933 (embora tenha sido registado civilmente com data fictícia de 6 de Março), Américo reside em São Paio de Oleiros, onde fundou a Clínica de Saúde Boa Hora, recentemente passada a sua afilhada D. Isabel Leite, criada por ele e sua esposa como filha, a qual verdadeiramente tem por ele autêntico amor filial, além de grande admiração pela sua figura também eterna. 


Rijo e muito lúcido, Américo Lopes é pois bem resistente ao tempo, à imagem do castelo feirense de seu concelho, mantendo-se como pessoa de boa memória para muita e boa gente.

Enquanto isto, no Museu do FC Porto entretanto consta algo seu, também, incluindo uma figuração no cimo do autocarro das vitórias, ficando-se a desejar que a sua Baliza de Prata lá chegue a ficar guardada, assim como a grande Taça Somelos-Helanca, que estava na Sala-Museu Afonso Pinto de Magalhães, o antigo Museu da Sede e depois das Antas, também tenha lugar no atual Museu FC Porto by BMG, no Dragão.


~~~ ***** ~~~

Enquanto tudo isso, Américo Lopes ficou a ser e é uma das lendas do clube, com nome numa das placas circulares no passeio da fama em frente ao Dragão Caixa e está imortalizado por uma estátua no Museu do FC Porto By BMG.


No meio dessas e outras ocorrências várias, também a nível autárquico Américo teve honras de reconhecimento da Junta de Freguesia da terra de residência. Natural de Santa Maria de Lamas, onde começara a jogar no União de Lamas, antes de ter vindo para o FC Porto, depois de casar passou a residir na freguesia vizinha de São Paio de Oleiros, no concelho de Santa Maria da Feira. Havendo sido em 2015 homenageado pela Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros, que o distinguiu então com a sua Medalha de Mérito.


Em torno da figura de Américo gira assim a particularidade de dentro do FC Porto ser o portista “Baliza de Prata” outrora distinguido com o Trofeu Pinga, num período de auge da sua carreira; e posteriormente, muitos anos após o fim da mesma carreira, passar a ser em 2017 Dragão de Ouro de Recordação Portista. De modo que tem as duas distinções maiores do FC Porto, o antigo Troféu Pinga e o atual Dragão de Ouro.


Referiu-se-lhe Pinto da Costa na noite da Gala dos Dragões de Ouro/2017: "A recordação foi dos momentos mais marcantes desta noite. O Américo Lopes, o guarda-redes Américo, foi um dos grandes ídolos de infância. Depois de terminar a carreira, continuou a ser um portista de eleição".


Dessa ocasião tem o autor destas linhas como recordação o envelope respetivo de Américo, da sua entrada na sessão solene (oferecido, devidamente autografado, pelo ”Dragonado” de Honra):



^^^^^^

Na ocasião da passagem de seu 89.º aniversário natalício, prestando-lhe mais esta publicação de homenagem e reconhecimento, desejamos que continue bem e tenha muita vida pela frente.

Parabéns Sr. Américo! Feliz aniversário! Com um abraço

- Aqui do seu amigo e sempre admirador portista

Armando Pinto

((( Clicar sobre as imagens, para ampliar ))) 


Sem comentários:

Enviar um comentário