António Garrido: Adepto tardio do FC Porto,
depois de ter sido Sportinguista enquanto árbitro ativo…
Faleceu António
Garrido. Antigo árbitro internacional, que se finou aos 81 anos, vítima de
doença prolongada. Um árbitro que prejudicou o F C Porto mas acabou por
reconhecer que o F C Porto era o melhor.
António Garrido, falecido esta quarta-feira, dia 10 de
Setembro, foi e é considerado um dos maiores árbitros nacionais de sempre,
tendo sido o primeiro português a dirigir uma final da Taça dos Campeões
Europeus (1980). Para além desse jogo decisivo da edição de 1980 da mais
importante competição europeia de clubes, Garrido marcou presença também em
dois Mundiais de futebol (1978 e 1982) e um Europeu (1980).
Costuma-se dizer que quando alguém morre só se deve dizer
bem, mas pensamos que se deve dizer a verdade. Ainda mais quando pode
demonstrar o carácter do finado. Tal como nos lembramos do senhor Garrido, que
quando árbitro nos deixou fracas recordações, mas depois demonstrou ser pessoa
de bem.
Assim, recordamo-nos de ele ter tido influência, pelo menos,
num campeonato que o Sporting conquistou em 1980, ao não ter assinalado um
penalty quando se desenrolava ainda sem golos o decisivo F C Porto-Sporting
dessa época de 1979/1980, com o campeonato a caminhar para o fim. Embora,
depois disso e já com o Sporting adiantado no marcador, acabasse mais tarde por
assinalar um outro penalty, dessa vez para o F C Porto, finalmente, que restabeleceu a igualdade; porém, desse modo,
mantendo o Sporting na frente da classificação, em posição que se revelou
determinante na atribuição do primeiro lugar do campeonato. Sendo ele
Sportinguista, como aliás declarara na sua ficha oficial (como aliás o jornal
Correio da Manhã refere em artigo publicado hoje em sua página informática),
mas mesmo assim era nomeado para dirigir jogos do Sporting.
= António Garrido, numa imagem constante duma coleção de gravuras, do site "Cromos da minha infância" =
Mas vamos por partes. E, com olhos nalgumas passagens hoje
transcritas na comunicação social, é de acrescentar:
Muito depois de ter abandonado os meios futebolísticos, em
Maio recente, em entrevista à agência Lusa, António Garrido recordava que as
presenças na fase final dos Mundiais foram o ponto alto da sua carreira. Na sua
estreia em Mundiais, em 1978, na Argentina, António Garrido arbitrou o primeiro
jogo da seleção anfitriã, com a Hungria (vitória dos sul-americanos por 2-1).
No Europeu de 1980, em Itália, arbitrou o decisivo
Itália-Bélgica, que ao terminar empatado colocou os belgas na final da
competição, que acabariam por perder para a então República Federal Alemã.
Quatro anos depois, em 1982, nova ida ao Mundial, desta
feita em Espanha. No Campeonato do Mundo do país vizinho, Garrido esteve perto
de apitar a final.
"Durante o campeonato, tudo indicava que seria o
árbitro da final desde que o Brasil fosse à final", lembrou António
Garrido à Lusa. Mas a Itália eliminou o Brasil (3-2, com um 'hat-trick' de
Paolo Rossi) e Garrido viu, assim, esfumar-se a possibilidade de chegar ao topo
da carreira.
"Acabei por me limitar a fazer o jogo do terceiro e
quarto lugares. Estava em grande forma, era considerado um dos melhores, senão
o melhor, árbitro mundial nessa altura. Acabei por ter azar e não ir à
final", lamentou.
Nos jogos das competições europeias de clubes, o ponto alto
de António Garrido foi a final da Taça dos Campeões Europeus de 1980, na
vitória dos ingleses do Nottingham Forest sobre os alemães do Hamburgo (1-0, no
Santiago Bernabeu, em Madrid).
Já antes tinha arbitrado uma Supertaça Europeia em 1977,
entre o Liverpool e o Hamburgo. E acabaria por cumprir o sonho de dirigir uma
partida no mítico estádio Wembley, na final do campeonato britânico entre a
Inglaterra e a Escócia.
A nível nacional, António Garrido assumiu no início de
carreira - perante os responsáveis da arbitragem - que era do Sporting, mas
acabou por se tornar um adepto do FC Porto.
"Uma pessoa acaba por se sentir bem onde nos tratam
bem. Não é que o Sporting ou o Benfica não me tratassem bem. Acompanhei os
árbitros nos jogos desses clubes [...], mas comecei a sentir-me acarinhado,
principalmente quando terminei a carreira, pelo FC Porto. Acabei por ganhar uma
simpatia pelo FC Porto e posso dizer que hoje sou portista", assumiu em
2012, em entrevista ao Jornal de Leiria.
Contabilista de profissão, António Garrido começou como
fiscal de linha num Peniche-Caldas de juvenis em 1964 e estreou-se como árbitro
no mesmo ano, dirigindo a partida entre 'Os Nazarenos' e o Mirense. Chegou ao
topo da carreira nacional e em 1973 ganhou as divisas de internacional.
Medalha de Mérito Desportivo
Foi reconhecido pelo Governo com a medalha de Mérito
Desportivo e mais tarde agraciado pelo Presidente da República com o grau da
Ordem do Infante D. Henrique.
Depois de ter terminado a carreira como árbitro, foi durante
20 anos instrutor de árbitros da FIFA, observador da UEFA e comissário de
árbitros em campeonatos do Mundo.
António Garrido foi membro do Conselho de Arbitragem a nível
nacional durante quatro anos. Em 2005 foi ouvido pela Polícia Judiciária como
testemunha no processo Apito Dourado, depois de ter sido escutado em conversas
com arguidos como Valentim Loureiro e Pinto de Sousa. (Relembrando-se que o caso apito dourado foi uma inventona que na opinião pública verdadeira, afinal, ficou associado ao orelhas e à jorrnalista homada, através dum livro encomendado... tendo do processo saídos ilibados os que foram pronunciados oficialmente. Enquanto não chegou à barra dos tribunais o chamado apito encarnado, ao passo que na comunicação social foram branqueadas escutas telefónicas em que se ouvia a voz do presidente encarnado a dizer que podia ser nomeado o João... )
Garrido nasceu a 3 de Dezembro de 1932 na freguesia de
Vieira de Leiria. Alvo de homenagem pública no local do velório, ficou em câmara ardente na igreja da Marinha Grande e sepultado
no cemitério da mesma localidade.
Armando Pinto
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