A Volta a Portugal em bicicleta de 2017, na sua 79ª edição em que se perfaz a conta de 90 anos da primeira realizada em 1927, anda pelas estradas do país nestes inícios de agosto quente também no entusiasmo que a caravana do ciclismo português transporta em tão tradicional prova. E, entre as etapas de seu percurso, uma há de passagem por terras de Felgueiras, também, o que apraz aqui registar, como região que é de históricas ligações ao ciclismo, no passado, e boas ligações atuais, sendo Felgueiras o concelho natal do autor destas linhas e... de Adriano Quintanilha, grande entusiasta do ciclismo, como personagem empreendedor de diversos projetos resultantes em equipas que engrossaram o pelotão nacional ao longo de anos, quão importante figura que teve papel decisivo no regresso do ciclismo ao FC Porto e como tal no reavivar do entusiasmo atualmente à vista por esta modalidade de heróis dos pedais.
Com efeito, a região do Vale do Sousa será uma das zonas que por estes dias (quando se escreve isto, nos inícios de agosto de 2017) terá os ciclistas da Volta a Portugal a correrem entre a verdejante paisagem destas paragens idílicas sob o céu bem azul. O que sucede à 7ª Etapa, no dia 12, após partida em Lousada, com passagem pela vila da Longra, em direção à cidade de Felgueiras e depois à Lixa, também, naturalmente correndo assim aqui em terras de Felgueiras, onde o ciclismo teve tradições efetivas (como está historiado pelo autor destas linhas, em diversas publicações), com saliência para o ciclista Artur Coelho, natural de Felgueiras, que, correndo pelo FC Porto, participou em Voltas a Portugal entre 1955 a 1961, a prova-rainha em que ele por diversas vezes foi camisola amarela e ganhou algumas etapas, além de se ter salientado com vitórias noutras corridas como em Grandes Prémios e ter representado a Seleção Nacional em duas participações na Volta a Espanha, bem como e especialmente por haver vencido a clássica 9 de Julho de São Paulo, no Brasil, em 1957, além de ter corrido em França, etc. e tal.
= Troféu da Vitória de Artur Coelho no Brasil, em exposição no Museu do FC Porto =
Nas afinidades de Felgueiras ao ciclismo também consta nos anais das corridas nacionais o protagonismo felgueirense havido com Joaquim Costa, valoroso ciclista que correu na Volta a Portugal em 1961 e 1962, tal como em 1964 coube vez a Albino Mendes (conforme de ambos também já aludimos em anteriores artigos), assim como merece saliência ter existido, em finais dos anos setentas, a equipa Zala, representativa da fábrica de calçado Zala, na qual se incluiu como treinador e ciclista Fernando Mendes, formação que correu a Volta a Portugal de 1979, e que chegou a ter pelo menos um felgueirense no plantel, de nome Miguel Magalhães;
«««« = Joaquim Luís Costa, ciclista que representou a equipa então existente do Académico do Porto =
...tal como lembra ainda ter havido a equipa W52-Quintanilha-Felgueiras, com sede em Felgueiras e que ostentava camisola com as cores municipais com o símbolo do concelho de Felgueiras. Grupo que em 1993 alinhou nas provas do calendário velocipédico português e teve ação interessante na Volta a Portugal.
= Jornal O Jogo de 31-7-1993, apresentação das equipas para a 55ª Volta a Portugal =
Havendo depois, anos volvidos, uma outra equipa da firma felgueirense W52, também, que até saiu vencedora das Voltas de 2014 e 2015, esta que, embora com sede oficial de Sobrado-Valongo, incluiu nome patrocinador dos vinhos da também empresa felgueirense Quinta da Lixa. Equipa por fim substituída pela entrada do FC Porto nessa parceria, ficando como W52-FCPorto, com Adriano Quintanilha na cabeça, através de acordo firmado com o FC Porto, representado por elementos próprios, como um diretor mais o presidente do clube no topo orgânico e de modo particular pela representatividade que o grande clube azul e branco representa nacional e internacionalmente.
= Revista Dragões, de Janeiro de 2016 =
Ora, o ciclismo sempre foi um desporto de heróis e, embora a modernidade tecnológica haja alterado certas panorâmicas do interesse público, continua a haver um lugar especial para certos casos que mexem com as sensibilidades, entre exemplos como é ainda o ciclismo de competição de alto nível. O que se revela em todos os que nos interessamos de algum modo por esta modalidade desportiva ao longo dos tempos e temos sempre presentes na ideia os nossos ídolos de infância e juventude, desde tempos em que, quando começamos a seguir as notícias da "Volta", havia “aqueles” ciclistas de que gostavamos (ah Sousa Cardoso, Mário Silva, Joaquim Leão, Ernesto Coelho, Gabriel Azevedo, etc!) e a nossa equipa nos fazia ficarmos presos aos relatos radiofónicos das etapas e pelo tardio da noite à espera das imagens do Diário da Volta na televisão, que era de um só canal e “bibó velho”…
Pois então, à falta de melhor, o ciclismo mais uma vez passará fugazmente na nossa terra, ao menos, depois de em anos passados já ter tido metas de chegada, primeiro em etapas do Grande Prémio de Minho para profissionais que, em anos diferentes, teve metas finais na cidade de Felgueiras e no monte de Santa Quitéria; e depois a Volta a Portugal em Bicicleta teve chegadas na Volta de 1992, à etapa Mondim de Basto-Felgueiras da 54ª edição da Grandíssima Portuguesa, ganha então na cidade do pão de ló pelo italiano David Bramatti, da equipa Lampre; bem como na Volta de 2006, ao correr da etapa Gondomar-Felgueiras, passando na Longra com meta de aproximação à chegada, enquanto a meta final dessa 5ª etapa esteve instalada no alto de Santa Quitéria, onde triunfou o galego Gustavo César Veloso, da equipa espanhola Kaiku (o que leva a que Felgueiras esteja associada à primeira vitória em Portugal e primeira camisola amarela deste ciclista que mais tarde venceu a Volta já por duas vezes e atualmente é dos mais destacáveis nos dias decorrentes… em que é chefe de fila da W52-FC Porto); tal como em 2008 o monte de Santa Quitéria acolheu um final de etapa, mais importante ainda por ter sido no último dia, ao encerramento triunfal dessa edição da Volta, em contra-relógio vindo de Penafiel, com passagem pela Longra e chegada ao cimo dessa “rampa” de 8,4 % de inclinação média, em que triunfou o também espanhol Hector Guerra, da equipa portuguesa Liberty Seguros (tendo no pódio oficial, na alameda daquele mesmo alto da Santa, sido festejada a vitória, como vencedor da Volta, de David Blanco, do Clube de Ciclismo de Tavira-Palmeiras Resort).
= Boletim “O Felgueiras”, nº 2 de Junho de 1987 do órgão oficial do FC Felgueiras, ao tempo que Adriano Sousa fazia parte como um dos diretores =
No meio disto, apareceu de há anos a esta parte o felgueirense Adriano Quintanilha, mais conhecido desde que patrocinou, ao longo dos anos, diversificados projetos desportivos, a partir do apoio a uma dupla de automobilistas de ralis (Nuno Pinheiro e Dr. Miguel Mota, este o autor da proposta textual para a elevação da vila de Felgueiras a cidade, entrada oficialmente e aprovada na Assembleia da República; os quais vieram a falecer num desastre automóvel fora do âmbito de provas), depois com sua participação em diversas funções no clube de futebol representivo de Felgueiras, e por fim entrado no mundo do ciclismo, nomeadamente através duma equipa que correu com o nome de Felgueiras na Volta a Portugal, até uma das recentes em que teve parceria com a marca de vinhos Quinta da Lixa. Isso já depois de entretanto ter sido membro da Direção e inclusive presidente do Futebol Clube de Felgueiras (como se recorda aqui, por recortes jornalísticos). Até que o mesmo empresário, dono da empresa W52, passou a ser parceiro do FC Porto através da respetiva equipa de ciclismo.
= Suplemento do jornal O Jogo de 22-6-1988 dedicado ao FC Felgueiras, de que Adriano Sousa era o presidente em que o povo de Felgueiras depositava confiança numa ansiada subida à divisão imediata à que o clube estava (então na antiga II Divisão Nacional-Zona Norte) =
Adriano Quintanilha, entretanto já se tornara famoso por levar para as etapas da Volta a Portugal parte da sua coleção de carros desportivos, com os quais por vezes acompanha a prova. Fê-lo inicialmente ao serviço da equipa Quintanilha-Moda Jovem-Paços de Ferreira, tendo de imediato logo no ano seguinte continuado com a equipa W52-Quintanilha-Felgueiras, que se manteria na modalidade também em 1993. O regresso da W52 ao pelotão deu-se em 1995 com o apoio ao Clube de Ciclismo de Paredes, ao serviço de quem, nesse ano, Cândido Barbosa se estreou como profissional. Depois veio a ligação à formação de Sobrado e a Nuno Ribeiro, um portista que, depois da experiência com a equipa W52-Quinta da Lixa, se arreigou ao FC Porto com a equipa W52-FC Porto-Porto Canal, em 2016, atualmente com nome oficial de W52-FC Porto-Mestre da Cor a correr em 2017.
Recorde-se que, no ano passado, Quintanilha subiu mesmo ao palco da cerimónia dos Dragões de Ouro, recebendo a distinção relativa ao ‘Projeto do Ano’ do distinto galardão oficial do clube, devido à prestação da equipa ‘W52-FC Porto-Porto Canal’.
= Revista Dragões de Novembro de 2016 =
A ligação com o FC Porto começou assim em 2015, embora sem ser Portista assumido e aliás até de permeio ter diversos contactos públicos com o Benfica, segundo por vezes surge na comunicação social, e em jovem haver tido simpatia pelo Sporting, clube com o qual, até, em 2015 chegou a ter um pré-acordo para patrocinar a equipa de ciclismo dos 'leões', algo que foi quebrado e acabou por ser selado por fim com o FC Porto em finais do mesmo ano de 2015; pois, segundo Adriano Sousa referiu publicamente «a única pessoa que apareceu e apresentou um projeto viável foi o senhor Pinto da Costa e o acordo tem viabilidade, no mínimo, para cinco anos».
Pois bem, com tudo isso e o resto, é pois a equipa de ciclismo do FC Porto um caso à parte dentro do interesse portista de adeptos seguidores, mesmo que à distância física, sendo nesse aspeto já como que familiares os nomes e caras de Raúl Alarcón, Gustavo Veloso, Rui Vinhas, Ricardo Mestre, António Carvalho, Joaquim Silva, Samuel Caldeira, Amaro Antunes, João Rodrigues, Tiago Ferreira, Daniel Freitas, Jacobo Ucha, Ángel Sanchez Rebollido e Juan
Ignacio Pérez, mais Nuno Ribeiro, Maximino Pereira, Helder Alves, Miguel Vinhas, Nelson Lobo, Celestino Pinho, Alexandre Patrício, Fernando Maia, Elias Barros, etc.
Enquanto isto, aí está então o ciclismo de élite com a Volta a Portugal percorrendo parte do país profundo, dentro do que parece ser possível à Corrida Grandíssima Portuguesa, que em tempos percorria mais o país de lés as lés e ultimamente nem tanto, mediante certas condicionantes dependentes de apoios das autarquias, patrocinadores e apreciadores da passagem da "Volta".
Armando Pinto
((( Clicar sobre as imagens, para ampliar )))
Nota: = Artigo para aqui partilhado do Blogue "Longra Histórico-Literária", também do autor deste "Memória Portista".
A.P.
Ouve-se dizer que um filho é portista, que o ano passado esteve no palco da consagração da equipa do FCP e da amarela do Vinhas em Lisboa.
ResponderEliminarCiclismo e Volta a Portugal: - Desporto e tradição onde não há árbitros e como tal o clube do sistema não participa... mas, fora a ausência do Benfica… obviamente também a organização tenta diminuir, fazendo com que as etapas míticas sejam disputadas em dias de semana para haver menos gente a assistir e desse modo tentarem que não fique a ideia que no Norte o ciclismo é rei. Além da atoarda de igualmente assim procederem em não fazerem a Volta passar na cidade do Porto, por motivos óbvios... Fazendo assim que o desporto português saia prejudicado, entregue a tais pessoas do poder reinol. Enquanto a RTP presta um mau serviço público, como estação que transmite diretamente parte do final das etapas, a pontos de nos primeiros dias em que o FC Porto começou a dominar a prova acabaram as transmissões diretas antes da subida dos ciclista da W52-FC Porto ao pódio, chegando o locutor da barba por fazer a indicar a equipa só por W52, enquanto a dum rival era referida por Sporting, ou seja propositadamente esquecendo os nomes FC Porto e Tavira… Enfim, é o país que infelizmente roda á volta apenas da capital do Império!
ResponderEliminarArmando Pinto
Sobre o trabalho menos feliz que a RTP tem vindo a fazer, durante as reportagens diretas dos finais de etapas da Volta a Portugal em bicicleta, acresce chegada ao cúmulo de não indicarem as terras, ou ao menos algumas, onde os ciclistas estão a passar, porque na verdade desconhecem tudo... Enquanto noutros lados é diferente, como se costuma ver, por exemplo, durante a Volta a França serem referidas todas as terras e monumentos onde passam os ciclistas, através das câmaras da televisão... em legendas e locução.
Armando Pinto