Américo, o guarda-redes eterno do FC Porto, como foi
intitulado no segundo livro que lhe foi dedicado pela popular coleção Ídolos do
Desporto, em 1968, apesar de ter entrado no plantel principal azul e branco em 1952 e se
haver estreado na primeira equipa do FC Porto em 1953, bem como mais tarde foi
também utilizado no Campeonato Nacional de 1958/59 e como tal sido Campeão em 1959,
apenas em 1961/62 conseguiu assegurar a titularidade, como guarda-redes detentor
da camisola nº 1. Tendo entretanto sabido esperar, por ter tido à sua frente
primeiro o “Mãos de ferro” Barrigana, de permeio com dois anos de inatividade ao
se ter intrometido o tempo da tropa, depois apareceu Pinho a titular, enquanto o
jovem Américo teve um ano de empréstimo no Boavista, e por fim, já de regresso
ao plantel portista, teve ainda Acúrcio em bom plano à frente das balizas. Até
que finalmente, na época de 1961/1962 Américo passou a ser o indiscutível
guarda-redes dono da camisola nº 1 do clube.
Américo revelou-se um grande guarda-redes, a ponto de pelo
tempo adiante, mesmo passados muitos anos, ser constante recordação. Pois sobre
Américo, o meu amigo senhor Américo Ferreira Lopes, também meu grande ídolo
portista da minha infância, já neste espaço de Memória Portista lhe tem sido prestados
afetuosos memorandos referentes ao carisma que torna sempre lembrada sua
carreira desportiva. Vindo desta feita a ser vez de evocar seus primeiros tempos
de guardião do FC Porto, deitando olhos a algumas passagens do jornal O Porto
nesses idos tempos dos iniciais anos sessentas.
Avivando esses tempos, recorda-se pois essa fase de início da sua titularidade como guarda-redes principal do FC Porto através duma
entrevista publicada no jornal O Porto em março de 1962, dando lugar de
destaque aos então números 1 e 11 titulares da equipa. Como se pode rever por
essa peça jornalística, vendo a parte respeitante ao Américo (in O Porto de 28
de março de 1962 - com a ressalva que ele não é Teixeira, mas Ferreira):
Curiosamente, nesse tempo em que Américo já pensava no
futuro e se dedicava a empreendimentos comerciais, tendo uma pastelaria em
Espinho (depois de ter sido sócio de Pedroto e Teixeira numa firma de venda de
motos), confessava entretanto que teria gostado de ser médico… Como que numa
relação afetiva com um outro empreendimento que veio a criar mais tarde (depois
de também ter fundado a Casa Magriço, de artigos desportivos, no Porto), após isso tudo, com a
sua Clínica Médica Boa Hora, em São Paio de Oleiros.
Recuando ainda aos princípios de sua titularidade e
sobretudo ao tempo de afirmação como guarda-redes do futebol português, em
abril seguinte Américo foi reconhecido pela RTP com um prémio, o que ao tempo
foi deveras significativo, sabendo-se como nessas eras, e durante muitos anos
ainda, a televisão portuguesa estatal nem transmitia qualquer jogo sequer do FC
Porto, ao invés do que fazia com os clubes de Lisboa.
Ora, de tal reconhecimento público, publicou o jornal O Porto,
em sua edição de 25 de abril de 1962, a correspondente notícia.
Desse mesmo tributo, ilustra-se o ato com foto depois publicada no
primeiro livro da coleção Ídolos do Desporto sobre Américo, em 1962.
Nesses entretantos já Américo havia sido chamado aos treinos
da Seleção Nacional A, mas vendo a sua estreia com a camisola das quinas sendo sistematicamente adiada,
por motivos fáceis de adivinhar… e algumas vezes mesmo de modo esquisito e quase
hilariante: Como o que ocorreu a 6 de maio seguinte, conforme no jornal O Porto
de 9 de maio desse ano de 1962 foi narrado como “A «Anedota» da Quinzena”… sobre o que se passou com a escolha dos jogadores que alinharam no jogo particular Brasil-Portugal, no Brasil, em que Américo estava para ser titular mas acabou a suplente de Costa Pereira, apesar do guarda-redes do Benfica estar de garganta infetada e com febre!
De notar que, sendo isso em tempo do Estado Novo, nessa
época quase inicial da guerra colonial e fase de grande proteção de Salazar ao Benfica,
como é sabido com a transferência e manutenção de Eusébio, por exemplo, ao tempo estava
ainda mais acirrada a censura à imprensa. Sendo o jornal O Porto “Visado pela
Censura”. Ora, como tal, não podendo então aparecer escrito as coisas
abertamente, deduz-se como se passou tudo isso, para ainda assim se conseguir
entender. Porque, em bom português, meia palavra basta…
Já em 1963, com a carreira mais solidificada e sua imagem a
ser de interesse público diante dos adeptos da família Portista, o jornal O Porto,
em sua edição de 24 de março de 1963, dedicou-lhe interessante artigo de página
e meia na rubrica “Os Ases na intimidade” – que para aqui se transpõe, evocando
esses tempos (em modo de digitalização possível):
Armando Pinto
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