Reconstituição Histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Reconstituição histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Criar é fazer existir, dar vida. Recriar é reconstituir. Como a criação e existência deste blogue tende a que tenha vida perene tudo o que eleva a alma portista. E ao recriar-se memórias procuramos fazer algo para que se não esqueça a história, procurando que seja reavivado o facto de terem existido valores memorávais dignos de registo; tal como se cumpra a finalidade de obtenção glorificadora, que levou a haver pessoas vencedoras, campeões conquistadores de justas vitórias, quais acontecimentos merecedores de evocação histórica.

A. P.

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Recordando (de vez em quando) – entre valores portistas de tempos idos: Albano Soares

= Albano =

Chegou um dia ao Porto para vestir a camisola do FC Porto – e que bem que lhe ficava – um jovem oriundo de Fafe, de nome Albano, que me despertou atenção (exprimindo na primeira pessoa, para ser mais direto, em vez do plural ou terceira pessoa para ficar bem nos cânones de estilística literária). Também conhecido por Albano Soares, esse que então, adquirido pelo FC Porto ao Fafe, passou a enfileirar no plantel sénior do FC Porto, como um dos reforços para a equipa principal, após uma época difícil de tragar no sentimento portista, por o futebol azul e branco ter estado quase a conseguir o título de campeão, depois perdido ingloriamente. E ainda com esse ambiente, acrescido da saída de alguns dos antigos futebolistas, havia que colmatar a situação. E então, Albano, médio ex-Fafe, chegou em 1969, na pré-época para 1969/70, junto com Cibrão, defesa ex-Gil Vicente, ainda Vieira Nunes, defesa ex-Académica e em regresso ao FC Porto, Gualter, defesa ex-Vitória de Guimarães, mais o brasileiro Ronaldo, vindo do outro lado do Atlântico com rótulo de avançado, mas que depois passou a defesa, e ainda outro avançado brasileiro, Salim; junto com alguns ex-juniores do clube, promovidos, como o defesa Rodolfo, o então médio atacante Oliveira e o avançado Chico Gordo. Ficando-se a saber que o Albano chegara a ser júnior do Benfica em 1966/1967, mas acabara por regressar entretanto já como sénior ao clube da sua terra, Fafe. De onde despertou o interesse do FC Porto.

Nasceu pois em Fafe o Albano Silva Soares, tal é o seu nome completo, nascido a 23 de janeiro de 1949. Sendo o pai comerciante respeitado no ramo da panificação naquela então vila, em cujo negócio tinha diversos contactos com muita boa gente das redondezas, incluindo gente de Felgueiras, como os Mouras, e particularmente um desses felgueirenses, também respeitado industrial do mesmo ramo, por acaso o fundador do histórico Futebol Clube de Felgueiras, Verdial Moura, da Longra (vizinho e amigo aqui do autor). Um verdadeiro senhor, como o considerei sempre e o Albano o conheceu bem, também. Isto para dizer que o então jovem Albano ajudava o pai no negócio familiar e como tal tinha contactos já para além de sua região.

= Albano, em pose com Gualter, com a camisola do FC Porto =

Iniciada a sua carreira com os primeiros pontapés na bola em Fafe, despertou o interesse do Benfica, que com diversos olheiros espalhados pelo país o atraíram a Lisboa, acabando por jogar na equipa de Juniores do Benfica, em 1966/1967. Porém voltou depois ao Fafe, passada essa temporada, em que foi colega de bons valores, entre os quais Humberto Coelho, Nené e Raúl Águas, além de outros que não conseguiram lugar no plantel da equipa vermelha da Luz. Enquanto Albano, na passagem a sénior, estava para provavelmente ir ser emprestado ao Barreirense, então na 1ª Divisão, mas regressou ao Fafe, por imposição de seu pai, com natural visão de progenitor. E assim acabou por regressar entretanto já como sénior ao clube da sua terra. Tendo então jogado de equipamento amarelo fafense em 1967/1968 e 1968/1969, em cuja última temporada deu nas vistas no jogo da eliminatória da Taça de Portugal que o Fafe disputou nas Antas (em fevereiro de 1969, nos 32 avos de final da Taça, com vitória do FC Porto por 3-0). Tendo aí feito um grande jogo, por assim dizer, diante do FC Porto, a pontos de ter merecido rasgados elogios da imprensa e logo ter havido contactos de mandatários do clube com o pai do jogador, quão depressa ficou o contrato feito (de 160 contos, por 3 anos, maquia assinalável nesse tempo dos mil escudos serem chamados contos, mais um jogo que o FC Porto ficou de ir fazer a Fafe).

= No início da época 1969/70... 

Chegou então Albano ao FC Porto pouco depois de ter casado, e, feitos os trabalhos de preparação inicial, não teve possibilidades de alinhar depois por se ter intrometido a tropa. Sabendo-se como nesse tempo os jogadores do FC Porto eram prejudicados quando eram militares. Havendo ele assentado praça no exército para cumprir o serviço militar obrigatório e ficado sem poder treinar. Depois, enquanto isso, em Lisboa treinava na Tapadinha  e mais tarde, quando foi colocado em Santa Margarida, treinava no  pelado do Tramagal. Até que já com tempo mais adiantado nessa obrigação ainda conseguiu passar a ir às Antas de vez em quando, para sempre que possível se integrar nos treinos. Diante dessa situação, tendo contrato de 3 anos e já sem ter podido competir entretanto a nível superior nos primeiros jogos da época, depois apenas à 7ª jornada do Campeonato Nacional, já em novembro de 1969, dessa época de 1969/70, alinhou pela primeira vez na equipa principal do FC Porto em jogo, que além dessa lembrança, não deixou boas recordações pelo resultado volumoso com que a equipa portista foi derrotada (por 5-0 no Bonfim, com o Setúbal). 

Mas, nesse jogo, repare-se, com bom desempenho da sua parte, a pontos que continuou a titular no jogo seguinte, quando nas Antas o FC Porto venceu o União de Tomar por 2-0. E ainda alinhou também na 2ª mão da 2ª eliminatória da Taça das Cidades com Feira, na Inglaterra, em casa do Newcastle. Contudo, a tropa continuou a influenciar seu desempenho, sem poder treinar no Porto, de modo que só em fevereiro de 1970 voltou a alinhar pela equipa de honra do clube, e daí em diante alinhou em mais jogos no final da época. Totalizando 8 jogos, distribuídos por 6 jogos no Campeonato Nacional, 1 jogo na Taça das Cidades com Feiras e 1 jogo na campanha da Taça de Portugal.

A nível da equipa, com tantas transformações, acrescido da mudança de treinadores, primeiro por doença de um (Schwartz) e depois vinda de outro (Docherty) e por fim este a formar dupla com o anterior adjunto (António Teixeira), a época decorreu mal e a equipa nunca se encontrou, chegando ao ponto de terem sido utilizados quatro guarda-redes e ainda mais um suplente, enquanto de jogadores foram praticamente todos utilizados, à vez.

Na época seguinte, em 1970/71 Albano continuou a fazer parte do plantel do FC Porto, já reforçada com novos valores, a juntar aos que ficaram da época anterior. Tendo aí jogado na equipa principal durante a pré-época de 1970, em jogos de Torneios Internacionais. Como aconteceu em Vigo, com o Celta de Vigo, jogo em que Albano se lesionou e, com uma rotura, ficou impedido de se deslocar numa seguinte deslocação da equipa à Venezuela e depois ao Brasil (sendo substituído à última hora pelo Lemos, que para essa viagem teve de usar o passaporte do Albano, ou seja do colega que estava incluído na comitiva oficial, por na época a fisionomia até ter dado… assim).

= Equipa do FC Porto que alinhou em Vigo: a partir da esquerda e em cima - Pavão, Manhiça, Vieira Nunes, Albano, Gualter e Armando; em baixo, pela mesma ordem - Abel, Custódio Pinto, Chico Gordo, Bené e Eduardo Gomes. 

Contudo, após a pré-época e iniciada essa temporada de 1970/71, devido à tropa, Albano apenas se manteve no FC Porto durante um quarto da época, sem jogar ainda devido a ter perdido tempo e ritmo com o serviço militar, à mistura com lesões, acabando por seguir emprestado para o Riopele, no restante tempo da mesma época de 1970/71. 

Plantel do FC Porto da época de 1970/71. A partir da esquerda para a direita: em cima - Tommy Docherty (treinador), Rui, Armando Manhiça, Rolando, Valdemar, Vieira Nunes, Pavão, Albano, Gualter, Hélder Ernesto, Eduardo Gomes, Armando Silva e António Teixeira; em baixo, pela mesma ordem - Chico Gordo, Bené, Abel, Séninho, Manuel Duarte, Nóbrega, Custódio Pinto, Ricardo e Lemos.

Após isso, na época seguinte foi emprestado ao Tirsense, que então estava na 1ª Divisão, onde jogou em 1971/1972 com o equipamento preto dos jesuítas na 1ª Divisão Nacional.

Seguidamente, terminando com o vínculo ao FC Porto, continuou a carreira de jogador ao serviço de diversos clubes: Fafe - em 1972/1973; Riopele - 1973/1974, 1974/1975, 1975/1976, 1976/1977; Recreio de Águeda - 1977/1978; (de novo) Fafe - 1978/1979, 1979/80, 1980/81 e 1981/1982; e Moreirense - 1982/1983.

Finda a carreira de jogador, Albano teve oportunidade ainda de se ter mantido ligado ao futebol, então como treinador. Tendo entre 1983 até 2009/2010 estado como responsável das equipas do Moreirense, Cabeceirense, Recreio de Águeda (na 1.ª Divisão), Estrela da Amadora (também na 1.ª Divisão), Mealhada, Anadia, Naval, Fafe (de novo) Anadia, Gafanha, Tocha, (depois e de novo) Anadia, (e de novo e por fim) Gafanha.

Com tão interessante percurso, em que teve possibilidade de conhecer muitas terras (e como se diz “Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso”!), o Minhoto Albano, oriundo da zona de transição do Entre Douro e Minho, no Norte, acabou por se afeiçoar pela Beira Litoral, apaixonado pela mulher de sua vida em Águeda, mas antes ainda de lá ter jogado, e radicando-se nessa bela zona do distrito de Aveiro, onde ganhou raízes e criou sua família. Fixado que está em toda a envolvência do Centro do país, em cenário de terras banhadas por águas da Ria e do Rio Vouga. Continuando sempre como conhecido nome de um apreciado antigo jogador de futebol do FC Porto. Como é e merece ser recordado, o amigo Albano Soares.

Armando Pinto

((( Clicar sobre as imagens )))


Sem comentários:

Enviar um comentário