Reconstituição Histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Reconstituição histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Criar é fazer existir, dar vida. Recriar é reconstituir. Como a criação e existência deste blogue tende a que tenha vida perene tudo o que eleva a alma portista. E ao recriar-se memórias procuramos fazer algo para que se não esqueça a história, procurando que seja reavivado o facto de terem existido valores memorávais dignos de registo; tal como se cumpra a finalidade de obtenção glorificadora, que levou a haver pessoas vencedoras, campeões conquistadores de justas vitórias, quais acontecimentos merecedores de evocação histórica.

A. P.

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Efeméride: - Inauguração do antigo Lar do Jogador do FC Porto (do tempo do Dr. Cesário Bonito e Yustrich) – mais enquadramento histórico...

A 21 de setembro de 1955 foi inaugurado oficialmente o Lar do Jogador do FC Porto, sito na então Praça Dr. Pedro Teotónio Pereira (depois Praça das Flores), na zona portuense do Bonfim. Ficava então a haver essa que era a casa dos jogadores seniores do Futebol Clube do Porto. Onde os futebolistas do plantel de honra do clube passavam a ter tempo de estágios e os solteiros passariam a partir daí a estar mais tempo na cidade do Porto, evitando viagens de ida e volta, duns lados para outros. Nesse tempo de transformações operadas no clube e sobretudo no futebol azul-branco em vias de profissionalização. Estava na presidência do FC Porto o Dr. Cesário Bonito e era treinador do futebol portista o brasileiro Yustrich.


A inauguração com efeito aconteceu a 21 de setembro de 1955, na semana seguinte ao início do Campeonato de 1955/56 – acto a que se reporta a imagem (com legendas manuscritas por José Bacelar, um dos homens de proa dentro do clube nesse tempo). Respeitante à cerimónia presidida pelo Dr. Cesário Bonito, no momento em que usava da palavra o dirigente portista Afonso Silva. Tendo havido benção das instalaçoes pelo Padre Dr. Alberto Lopes Rodrigues, sócio do FC Porto. 

Aberto solenemente naquela quarta-feira 21 de setembro, o então novo Lar do Jogador do FC Porto foi apresentado à imprensa no sábado seguinte, dia 24. Véspera do encontro FC Porto-Belenenses no estádio das Antas, jogo de estreia de Jaburu no FC Porto. Dia que a nível público foi também considerado de inauguração. Como relata um trecho do livro “Glória e Vida”, narrado em trabalho interessante do António Simões d´A Bola


O jornal O Porto descreveu em pormenor essa apresentação da nova casa, sendo que foi desse dia que pela imprensa foi dado a conhecer ao público a nova dotação.

Após isso e acertado o calendário, foi de seguida no início de outubro, mais precisamente na sexta-feira 7 (antecedendo o jogo FC Porto-Torreense, nas Antas, já como estágio pré-encontro) que se deu a instalação dos jogadores. Estava aí já o FC Porto a fazer um bom campeonato, e após vitória por 4 golos sem resposta em casa da CUF, venceu então por 2-0 a equipa visitante vinda de Torres Vedras, com os jogadores das camisolas azuis e brancas a viver esse novo alento, rumo ao título que aconteceria no final da prova. 



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Na oportuniudade desta efeméride, calha pois o foco da lembrança incidir assim sobre a antiga existência do Lar do Jogador do F C Porto, em virtude do que representou no desenvolvimento organizativo tendente à afirmação do futebol do clube. Com acrescento de enquadramento histórico. Surgido que foi, inicialmente pelos anos quarenta e depois teve continuidade a meio da década de cinquenta, do século XX, ou seja primeiro aquando da passagem para o semi-profissionalismo, dos tempos de Pinga e outros que envergavam a camisola das duas listas azuis do F C Porto, bem como posteriormente na definitiva profissionalização dos futebolistas, no tempo do comando de Yustrich, num dos sinais da evolução que começava a notar-se e tudo o mais que se foi expandindo.

Naturalmente que no presente existe uma outra casa a servir de Lar do F C Porto, a agora chamada Casa do Dragão, apenas que havendo a diferença de esta comportar jovens, destinada que é aos rapazes das categorias de formação; enquanto que a antiga mansão era para os seniores, juntando os que não tinham residência em zonas do Porto e especialmente os solteiros, servindo aos fins de semana para juntar também os casados e por vezes ainda para estágios da totalidade do plantel, embora mais usualmente os convocados para jogos, etc

O assunto dava pano para mangas, de tanto que merece apreciação e considerações, mas precisamente por uma grande abundância descritiva em que se alongaria, cingimos o tema a umas quantas rememorações e privilegiando a ilustração, através de fotografias coevas.  Na linha de que o que se vê, pela figuração, dispensa muita explicação, tal qual a máxima que uma imagem vale por mil palavras.


Ora, o Lar do Jogador inicial teve lugar na chamada Quinta da Fonte da Vinha, no tempo em que estava à frente dos destinos do clube o industrial Sebastião Ferreira Mendes. Num paradisíaco local, propriedade daquele então presidente da Direção, junto ao rio Douro, no concelho de Gaia, para os lados de Oliveira do Douro. Um frondoso espaço ribeirinho que já antes servia para realização de eventos ligados a momentos altos da vivência do F C Porto – como se demonstra por imagem de um postal de 1932, referente a “Passeio fluvial organizado pelo F.C.Porto à Quinta Fonte da Vinha, em homenagem ao seu 1º Grupo de Futebol, Campeão Nacional. Aspecto do desembarque. 14 de Agosto de 1932.”

Pois essa quinta, tendo ficado depois como sítio e casa de passagem de tempo dos futebolistas do F C Porto, passou a ser conhecida por Quinta dos Jogadores, servindo então como local de concentração em determinados períodos e de estágios antecedentes aos jogos, sendo ali que se passou, por exemplo, o célebre episódio ocorrido com uma macaca talismã do Sporting, que resultou a pontos do F C Porto ter vencido de forma concludente o resultado do embate com os leões, que se seguiu (mas que aqui e agora não podemos estar a relembrar, para não nos desviarmos do tema).

Não é verdade, portanto, o que tem sido por vezes afirmado, quanto ao Lar haver sido criado por Yustrich, pois já existira antes. Com a vinda daquele treinador brasileiro, que impôs sua chancela de marca, houve sim uma reativação da ideia e reformulação do conceito, passando a ser alargado como residência permanente dos jogadores solteiros que até aí viviam fora do Porto, além de ter ficado em instalações dentro da cidade do Porto, no Bonfim, em casa relativamente próxima ao estádio. 

Dum desses fins de semana de concentração será esta pose, duma sugestiva descontração de alguns elementos principais do plantel – vendo-se, a partir da esquerda, Gastão, Eleutério, José Maria, depois outro Zé Maria, o Pedroto (de pé), mais Sá Pereira e Hernâni.

Como corolário das estadias anuais, no período das temporadas desportivas, havia no fim de cada época um convívio, antes das férias, metendo jogos de solteiros e casados, entre os que passaram pelo Lar durante o ano. Sendo duma dessas ocasiões a gravura que se junta, com pose da equipa dos solteiros desse tempo, incluindo diferentes gerações, notando que ainda estavam solteiros homens mais velhos como Hernâni, Arcanjo; Pedroto, Virgílio, José Maria, tal qual mais novos como Morais, Sarmento, Correia, Américo, etc.


Passados anos o Lar conheceu outros poisos, entre os quais passou da Praça das Flores para a Rua de Costa Cabral, durando até eras adiantadas dos anos sessentas, enquanto os futebolistas foram tendo outras ocupações paralelas. Até que com o profissionalismo integral os estágios passaram a coexistir em pensões e hotéis.

Dessas diversas fases ilustramos um andamento cronológico através de algumas fotos intercaladas ao logo do texto, desde uma roda de amigos à porta da casa comum, ao tempo de Humaitá (e restantes indicados na legenda); seguindo-se um instantâneo de Miguel Arcanjo numa sala de estar do “Lar do Porto”, com seus discos junto a um móvel-aparelho de gira-discos da época, no regresso de uma digressão da equipa...



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..vendo-se, depois, também junto à frontaria do edifício o defesa Almeida, acompanhado de Barrigana (não o guarda-redes, mas um defesa que em meados da década de 60 fez parte do plantel, havendo integrado a equipa principal em torneios e jogos particulares, e oficialmente alinhou pelas reservas); até findar este circuito pelo tempo com Atraca num descanso de guerreiro, passando os olhos por uma publicação, no leito retemperador.


Armando Pinto

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1 comentário:

  1. Parabéns por mais uma publicação fantástica.
    Tempos em que havia respeito pelo próximo.

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