Julho, mês de bons acontecimentos na profusão permitida pelo
tempo quente, costuma ser mais associado como período de férias para muita
gente, enquanto a nível desportivo normalmente é referenciado ao ciclismo, pela
época de competições de proximidade à Volta a Portugal, mas por vezes o futebol
retém atenções. Como nas temporadas dos campeonatos europeus e mundiais de seleções e em
tempos também outras provas de importância para o tempo.
Assim foi, por exemplo, no ano de 1935 – em que no dia 7 de
Julho o FC Porto, então também campeão nacional, venceu o Bétis de Sevilha,
campeão espanhol, num amigável considerado como a "Taça Ibérica". Tinha o FC Porto uma equipa de grandes valores, como Pinga, Carlos Nunes, António Santos, Valdemar Mota, Soares dos Reis, Avelino, Pocas, Carlos Pereira, Jerónimo, Carlos Mesquita, João Nova, Castro e Cª, em que praticamente quase todos foram à seleção nacional, o que era e é caso raro; porque como é sabido, para um portista ser chamado à equipa da Federação Portuguesa de Futebol tem de ser mesmo muito bom, não bastando mais, mas sim muitíssimo superior aos outros.
Pois esse facto e tal feito ocorreu então nesse dia que em
1935 foi a um domingo.
O caso é bem lembrado na efeméride do dia 7 de julho, na
rubrica Aconteceu, em "Dragões Diário”, relatando isso:
« Domingo, 7 de julho
de 1935: o Porto é hoje a capital do futebol da Península. No Campo do Ameal
estão 15 mil espectadores, autoridades civis, militares e consulares, para
assistir à primeira edição da Taça Ibérica, a prova que opõe o campeão de
Portugal ao de Espanha. O FC Porto joga com o Bétis e chega ao intervalo a
ganhar por 1-0, com um golo de Pocas, médio em estreia absoluta na equipa de
Szabo. No reatamento, Pinga eleva rapidamente a marca para 3-0, os andaluzes
ainda reduzem, com dois golos em dois minutos, mas não conseguem parar Pinga
nem evitar que ele estabeleça o 4-2 final. Aplausos para o primeiro campeão
ibérico, recém-consagrado campeão da I Liga, que também era o primeiro vencedor
Campeonato de Portugal e que depois conquistaria o primeiro Campeonato Nacional
da I Divisão e ainda a primeira edição oficial da Supertaça. Sempre o primeiro.»
Tamanha ocorrência, para o tempo, merece mesmo ser relembrada, de modo a que seja
conhecida. Como noutros tempos até era, mas não na comunicação social comandada
pelo clube do regime... Embora num livro editado há anos pelo jornal A Bola, pela pena do grande jornalista e igualmente investigador António Simões, haja referência a isso mesmo - como recortamos para aqui, a dar efeito da justa rememoração.
Assim, ilustra-se o tema com esta lembrança alusiva, através de recorte da parte respeitante ao FC Porto na obra publicada pelo jornal A Bola, "Glória e Vida de 3 Gigantes".
Assim, ilustra-se o tema com esta lembrança alusiva, através de recorte da parte respeitante ao FC Porto na obra publicada pelo jornal A Bola, "Glória e Vida de 3 Gigantes".
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ADITAMENTO:
Sobre este mesmo tema já havia o autor escrito também um
artigo no antigo blogue pessoal (“Lôngara…), o tal que há anos foi anulado da internet
por adversários, por não convir ao sistema que haja memória... em cujo espaço atualmente apenas aparecem mensagens
estrangeiras!
Também, igualmente sobre o mesmo assunto foi publicado em
2014 um texto muito completo na rubrica “Os Imortais”, da edição de abril desse
ano da “Dragões”, revista oficial do FC Porto. Do qual, em homenagem ao grande
jornalista e investigador Victor Queirós, um dos elementos da equipa que teve
papel relevante na instalação do Museu FC Porto By BMG, para aqui transpomos o mesmo artigo, em
reforço desta jornada gloriosa do FC Porto.
« TRÊS GOLOS DE PINGA, UMA GOLEADA E A PRIMEIRA TAÇA IBÉRICA
A 7 de julho de 1935, o FC Porto venceu o Bétis e a primeira
prova que opôs os campeões de Portugal e de Espanha
Por Victor Queirós
O imortal FC Porto de Szabo acumulou registos impressionante
através da bravura de equipas preparadas para atacar: O Real Bétis Balompié e
outros campeões espanhóis acabaram vergados ao poder de linhas atacantes
constantemente renovadas e com uma capacidade ímpar para marcar. Só Pinga fez
três dos quatro golos da vitória na primeira edição da Taça Ibérica, disputada
em 1935.
Historicamente, foi o FC Porto quem desbravou os caminhos de
todas as principais competições regionais e nacionais. Desbravou-as e conquistou-as.
Essa queda especialíssima para vencer todas as primeiras edições das provas
prioritárias criadas em Portugal estendeu-se à Taça Ibérica, prova de
referência em que a capacidade dinamizadora do FC Porto do século XX esteve
sempre presente.
É com um orgulho natural que o FC Porto olha para a História
e se revê vencedor do primeiro Campeonato de Portugal (1922), do primeiro
Campeonato da I Liga (1935), do primeiro Campeonato Nacional da I Divisão
(1939) e da primeira edição oficial da Supertaça (1980/81). E, ao alargar das
fronteiras, da primeira edição da Taça Ibérica, a 7 de Julho de 1935.
A vocação para fazer história resume essa rara qualidade do
FC Porto, capaz de se impor em qualquer circunstância, mesmo desconhecendo em
rigor o real valor dos adversários, como era o caso do Real Bétis Balompié, o
campeão espanhol que defrontou o campeão português na primeira edição da Taça
Ibérica, sendo de notar que, por esses tempos, Espanha era vista como uma das
maiores potências europeias e “sovava”, regularmente, a selecção portuguesa em
goleadas que chegaram a atingir os 9-0…
Um dos grandes méritos do FC Porto ao longo de mais de um
século de existência foi essa invulgar capacidade de rasgar fronteiras, como
voltou a ficar provado no triunfo sobre o poderoso Bétis, com os temíveis
goleadores Simon Lecue e Victorino Unamuno. O último transferiu-se, mais tarde,
para o Atlético Aviación (hoje Atlético de Madrid), marcando golos atrás de
golos no campeonato espanhol.
Mas o FC Porto de Szabo, o primeiro campeão da I Liga, já
era uma equipa do mundo. Desde 1930, adquirira a boa prática de abater os
melhores conjuntos europeus e mundiais e, na coleção particular de vítimas de
primeira grandeza, estavam os campeões da Hungria, da Checoslováquia, da
Áustria, ou o invencível Vasco da Gama de 1931.
Entre 1930, após a entrada de Pinga, e 1935, com a fusão do
trio Waldemar-Pinga-Acácio, ninguém escapou ao poder de fogo deste trio
infernal e a primeira edição da Taça Ibérica seria, com alguma naturalidade,
marcada por mais uma poderosa demonstração de superioridade do FC Porto e, em
particular, de Pinga, autor de três dos quatro golos que derrotaram o campeão
espanhol.
Num Ameal superlotado de público e de autoridades civis,
militares e consulares, o FC Porto chegou ao intervalo a vencer por 1-0, com um
golo fortuito, raro e feliz, de área a área, obtido por Pocas, médio
transmontano em estreia absoluta. No reatamento, Pinga elevou rapidamente a
marca para 3-0.
Um breve lapso de evasão, associado à qualidade da equipa
espanhola, permitiu que Caballero e Unamuno, no espaço de apenas dois minutos,
reduzissem para 3-2. Sentindo o perigo, Pinga sacou do seu inesgotável arsenal
mais uma diabrura e bateu Urquiaga para estabelecer o 4-2 final, muito mais
concordante com a realidade do jogo e, ainda assim, vagamente lisonjeiro para o
Bétis.
Estava encontrado o primeiro campeão ibérico. Pena que a
eclosão da Guerra Civil espanhola tenha congelado a prova e perturbado a
realização dos campeonatos espanhóis, cujos vencedores não foram reconhecidos
durante o período (1936-1939) em que o conflito não deu tréguas.
O facto de as autoridades desportivas espanholas não terem
atribuído oficialmente o título nesses três anos impediu que se colasse ao jogo
o rótulo formal de segunda Taça Ibérica. Mas que houve taça, lá isso houve… E
mesmo sem Taça Ibérica oficial (só reatada em 1984), a tradição ainda se
manteve por alguns anos.
O FC Porto era o alvo preferido dos campeões espanhóis e,
além de derrotar várias vezes o orgulhoso Real Madrid nos anos 1940 e 1950,
seria uma vez mais a primeira equipa portuguesa a bater, em Espanha, um campeão
espanhol: o Valência, em Outubro de 1947.
Este Valência, que dominou a década de 1940 (três títulos e
duas Taças do Rei) era um brutal ministério de atacantes comandado pelos
imortais Edmundo Suárez e Epifanio Fernández, dupla de área que ganhou o
apelido de “ataque eléctrico”, ainda assim incapaz de eletrocutar o FC Porto do
argentino Eladio Vaschetto, também ele um colossal ex-avançado da escola do
River Plate, com centenas de golos espalhados pelo Rive, pelo Colo-Colo (Chile)
e pelo Puebla (México), três dos grandes sul-americanos do século XX.
FC Porto-Bétis, 4-2
Campo do Ameal, no Porto
7 de Julho de 1935 (15h00)
Assistência: 15.000 espectadores
Árbitro: José Pereira (Coimbra)
FC PORTO: Soares dos Reis; Avelino Martins, Jerónimo; Nova,
Pocas, Carlos Pereira; Waldemar Mota, Pinga, António Santos, Carlos Nunes,
Carlos Mesquita
Jogaram ainda: Álvaro Pereira, Raul e Castro
Treinador: Joseph Szabo
BÉTIS: Urquiaga; Arego, Aêdo; Peral, Gomez, Lecue; Saro,
Adolfo, Unamuno, Caballero, Valera.
Jogaram ainda: Timimi, Espinosa e Fernandez
Treinador: Joseph O’Connell
Ao intervalo: 1-0
Marcadores: Pocas, Pinga (3); Caballero e Unamuno
Quando Jerónimo pagou a viagem a Szabo
Nos oito excecionais primeiros anos em que comandou o FC
Porto (1 Campeonato de Portugal, 1 Campeonato da I Liga, 7 Campeonatos do
Porto), Szabo, médio internacional húngaro que foi jogador e treinador do FC
Porto nos dois primeiros anos (1928 e 1929), viveu muitas vezes longe da
família, já que a esposa preferia ter os filhos na Hungria. Mas, à altura, nem
os mais reputados técnicos de então ganhavam o suficiente para se permitirem ao
luxo de viagens regulares aos países de origem. Sem fundos para ir conhecer o
último filho, que nascera seis meses antes em Budapeste, a prenda de Szabo pela
conquista da Taça Ibérica foi o mais singelo acto de amizade: Jerónimo, defesa
internacional portista gerado no seio de numa família de posses, pagou a viagem
ao treinador em nome da equipa.
985 golos com Szabo no banco
O primeiro período de Joseph Szabo no FC Porto (1928 a 1935)
foi o mais produtivo da história do FC Porto. Golo era o credo de Szabo e,
nesses oito anos, a sua equipa marcou 509 golos! Uma barbaridade que se explica
de forma objetiva: dispunha de atacantes como Pinga, Waldemar Mota, Acácio
Mesquita, Norman Hall, Simplício, Balbino, Lopes Carneiro, Carlos Mesquita,
Carlos Nunes e António Santos, jogadores com lugar em qualquer passeio da fama
de qualquer grande clube mundial. Noventa anos depois, Szabo ainda é o
treinador com mais golos na história do FC Porto: 985, em 306 jogos oficiais.
Contabilizados os jogos particulares (790 golos), a conta atinge os 1775 golos.
Brutal. »
Armando Pinto
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