Reconstituição Histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Reconstituição histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Criar é fazer existir, dar vida. Recriar é reconstituir. Como a criação e existência deste blogue tende a que tenha vida perene tudo o que eleva a alma portista. E ao recriar-se memórias procuramos fazer algo para que se não esqueça a história, procurando que seja reavivado o facto de terem existido valores memorávais dignos de registo; tal como se cumpra a finalidade de obtenção glorificadora, que levou a haver pessoas vencedoras, campeões conquistadores de justas vitórias, quais acontecimentos merecedores de evocação histórica.

A. P.

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Falecimento de Jaime Silva: Mais um dos Heróis da Taça de 1968 que desaparece.


Faleceu o "Jaime do Porto", o popular “Ventoinha” da equipa do FC Porto da década dos anos sessenta, componente da célebre equipa portista vencedora da Taça de Portugal que culminou a época futebolística de 1967/1968, qual autêntica lança metida na África do futebol português desses tempos do sistema BSB federativo.


No mesmo mês em que veio ao mundo em terra de Santa Maria, a 17 de Abril de 1941, e dias depois de ter completado 78 anos, Jaime Ferreira da Silva deixou o mundo dos vivos a 26 de abril do corrente 2019, passando a ser mais uma estrela no firmamento azul celeste. Tendo sido sepultado no dia seguinte em Fiães, sua terra, no concelho da Feira – que ainda conheceu como Vila da Feira, como a sede de seu concelho natal era antes assim chamada oficialmente, havendo mais tarde ficado a ser precisamente Santa Maria da Feira.

= "Cromos" com a figura de Jaime, nas coleções dos Ídolos da bola dessas eras.

Jaime Silva, começou a prática do futebol no clube da sua terra natal, o Fiães, mas com apenas 15 anos foi levado à Constituição por um tio que vivia na Venezuela e desde logo ficou integrado nas escolas de formação do Clube. Começou sob a orientação experimentada de Artur Baeta, passando na segunda temporada aos juvenis, orientado por José Vale. Enquanto júnior foi campeão Regional e finalista no Nacional da categoria, com Reboredo como seu treinador.


Em 1959/60 subiu aos seniores passando a evoluir regularmente na equipa de reservas em cujas formações se sagrou campeão regional. Foi precisamente nessa temporada que fez a sua estreia como titular na equipa principal. Aconteceu no dia 5 de Junho de 1960, no Campo D. Manuel de Melo, no Barreiro, frente ao Barreirense, em jogo da 1ª Mão, dos quartos-de-final, da Taça de Portugal, terminado com uma igualdade sem golos, era então treinado pelo brasileiro Otto Vieira, que tinha substituído o checo Fernando Daucik.

 = Uma das equipas de Reservas em que Jaime figurou, junto com outros valores em ascensão, como Américo, e alguns de sucesso anterior, tal o exemplo de Perdigão, além de muita gente de seu tempo de formação, tais os casos de Coimbra, e outros. (Na imagem, a partir da esquerda, em cima: Américo, Vidal, Sebastião, Cristóvão, Coimbra e Videira; em baixo: Carlos Oliveira, Jaime, Vasconcelos, Perdigão e Rui Correia.)

Depois de um período de menor utilização, onde ia alternando com Carlos Duarte, Jaime conquistou finalmente o seu espaço a partir da temporada de 1962/63, com o húngaro Jonas Kalmar. 


Foi também em 1963 que vestiu pela primeira vez a camisola das quinas, nas equipas Militar e de Promessas e em 1965 na Seleção Nacional B. Nunca foi internacional A, como em seu tempo aconteceu à maioria dos futebolistas que alinharam pelo FC Porto, embora muitos bem merecessem ter vestido a camisola da seleção principal, o que não sucedia por motivos sobejamente conhecidos e vividos.


Com efeito, a partir de 1961 passou a entrar na equipa principal, alternando por vezes já com Carlos Duarte, assim como outras vezes jogando junto com ele e outros da anterior geração, havendo chegado a tempo de jogar também com Hernâni, Perdigão, Virgílio, dos monstros sagrados da geração da década de cinquenta. 


Para em 1962 ter começado a afirmar-se mais, até que de seguida se firmou e tomou conta do lugar de extremo-direito. Tendo entretanto em 1964 ficado marcada a sua influência na equipa ao ter sido visado pela escandalosa arbitragem da final da Taça de Portugal (como era norma do sistema BSB em afastar quem poderia contrariar a toada de jogo encarnado…) expulso que foi quando estava a ser uma seta direcionada ao ataque benfiquista. De modo que a equipa foi logo então cedo enfraquecida, como faz parte da história.


Depois de ter sido internacional pela Seleção Militar e de seguida pela Seleção de Esperanças e ainda pela Seleção B, por diversas vezes foi convocado para os treinos da Seleção A, chegando a ter estado como suplente na seleção principal, sem contudo ter sido chamado a alinhar. Assim como fez parte do lote dos pré-selecionados para a campanha do Mundial de 1966, havendo mesmo estado no estágio antecedente à fase final, mas foi um dos que não teve hipóteses de reforçar a equipa nacional.

= Foto dos selecionados para o estágio da seleção de 1966... 

Sinal do valor de Jaime, o então jovem extremo direito do FC Porto, é que lhe foi dedicado um dos pequenos livros, ao género de livro de bolso, da coleção Ídolos do Desporto, em Janeiro de 1966. Facto que não contemplou assim muitos dos futebolistas do FC Porto, comparativamente com atletas de clubes de Lisboa, o que é sintomático, pois os do FC Porto, então como ou até mais que agora, tinham de ser muitos superiores aos adversários para serem reconhecidos devidamente.


A juntar aos anos de formação, totalizou 14 anos de azul e branco vestido: Tendo permanecido nas Antas como sénior durante nove temporadas, entre 1959/60 a 1967/68. Começou por ser pouco utilizado na primeira época, mas depois passou a ser um dos jogadores mais utilizados pelos treinadores que passaram pelo banco portista.


Jogador rápido, batalhador, muito ofensivo e com capacidades excecionais para ir à linha cruzar, proporcionava muitas assistências para golo e ainda aparecia em zonas de finalização para tentar marcar e inclusive até marcar mesmo, por vezes. Ficou conhecido pela alcunha do «ventoinha», em alusão à sua centrífuga forma de jogar, na maneira de alimentar o ataque da equipa em velocidade expansiva.

= Foto de Jaime no Livro Oficial da Final da Taça de Portugal de 1968

Conquistou a Taça Associação de Futebol do Porto por sete vezes, entre 1959/60 a 1965/66 e a Taça de Portugal de 1967/68, como um dos titulares na equipa que derrotou o V. Setúbal por 2-1 na Final disputada no dia 16 de Junho de 1968 no Estádio do Jamor, em Oeiras, às portas de Lisboa.


Jaime também viveu outros grandes momentos com a camisola dos Dragões, como a vitória sobre o Athletic Club de Bilbao no dia 1 de Setembro de 1962 e que serviu para inaugurar a instalação elétrica do Estádio das Antas.


Importante em escala histórica maior foi o triunfo sobre os franceses do Olimpique de Lyon por 3-0 a contar para a 1ª mão da 1ª eliminatória da Taça dos Vencedores das Taças. O que marcou a primeira vitória do F.C. Porto nas competições europeias, facto ocorrido na noite de 16 de Setembro de 1964.

Nos nove anos em que representou o F.C. Porto em seniores, Jaime disputou 182 partidas e marcou 43 golos.

= Jaime, com o carinho orgulhoso de seu filho, Nataniel Rei Silva

Por fim, para melhor conhecimento de pormenores de seu percurso desportivo e portista, complementa-se esta evocação com uma entrevista vinda no jornal O Porto em 1978. (Em tempo de recuperação do título nacional que fugia ao FC Porto havia 19 anos, sendo Pedroto o treinador). Pois com os pormenores contidos nessa peça se fica com imagem memoranda de sua aura, graças a essa entrevista à boa maneira, dando a conhecer coisas com interesse, em vez do enchimento vulgar e assim a dar lugar ao conhecimento, deixando que se fique a conhecer e saber algo mais. Como no caso, quando Jaime fazia parte da equipa de Veteranos do FC Porto, cujas Velhas Guardas representou já durante a aposentação da vida de futebolista.


Jaime, que por volta de 1947 jogava futebol com peças de frutas, no lugar do Souto, em Fiães, na zona do concelho Feirense, e em 1959/60 entrou a jogar pela equipa principal de futebol do FC Porto, cuja camisola representou ao mais alto nível durante cerca duma década, é credor de figurar nos anais do FC Porto, como está nos corações portistas, de quem cresceu a ouvir o seu nome nos relatos radiofónicos e a vê-lo nos cromos de rebuçados que colecionávamos com tanto gosto.


Paz à sua alma. 


Será sempre uma constante recordação, como um dos heróis que no vale do Jamor contrariaram em 1968 o sistema reinol português, naquela célebre tarde de Junho, em que a Taça chegou às mãos dos representantes Portistas desse tempo.

Armando Pinto
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1 comentário:


  1. Dos finalistas vencedores da Taça de Portugal de 1968 julgo que atualmente só estão vivos Américo, Rolando e Valdemar (com dúvidas sobre Bernardo da Velha, que emigrou para a América e não se soube mais). Dos que também foram utilizados durante as eliminatórias está vivo o guarda-redes suplente Rui e não sei se mais algum.

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