Faleceu o "Jaime do Porto", o popular “Ventoinha” da equipa do
FC Porto da década dos anos sessenta, componente da célebre equipa portista
vencedora da Taça de Portugal que culminou a época futebolística de 1967/1968, qual
autêntica lança metida na África do futebol português desses tempos do sistema
BSB federativo.
No mesmo mês em que veio ao mundo em terra de Santa Maria, a
17 de Abril de 1941, e dias depois de ter completado 78 anos, Jaime Ferreira da
Silva deixou o mundo dos vivos a 26 de abril do corrente 2019, passando a ser
mais uma estrela no firmamento azul celeste. Tendo sido sepultado no dia
seguinte em Fiães, sua terra, no concelho da Feira – que ainda conheceu como
Vila da Feira, como a sede de seu concelho natal era antes assim chamada
oficialmente, havendo mais tarde ficado a ser precisamente Santa Maria da Feira.
= "Cromos" com a figura de Jaime, nas coleções dos Ídolos da bola dessas eras.
Jaime Silva, começou a prática do futebol no clube da sua
terra natal, o Fiães, mas com apenas 15 anos foi levado à Constituição por um
tio que vivia na Venezuela e desde logo ficou integrado nas escolas de formação
do Clube. Começou sob a orientação experimentada de Artur Baeta, passando na
segunda temporada aos juvenis, orientado por José Vale. Enquanto júnior foi
campeão Regional e finalista no Nacional da categoria, com Reboredo como seu
treinador.
Em 1959/60 subiu aos seniores passando a evoluir
regularmente na equipa de reservas em cujas formações se sagrou campeão
regional. Foi precisamente nessa temporada que fez a sua estreia como titular
na equipa principal. Aconteceu no dia 5 de Junho de 1960, no Campo D. Manuel de
Melo, no Barreiro, frente ao Barreirense, em jogo da 1ª Mão, dos
quartos-de-final, da Taça de Portugal, terminado com uma igualdade sem golos,
era então treinado pelo brasileiro Otto Vieira, que tinha substituído o checo
Fernando Daucik.
= Uma das equipas de Reservas em que Jaime figurou, junto com outros valores em ascensão, como Américo, e alguns de sucesso anterior, tal o exemplo de Perdigão, além de muita gente de seu tempo de formação, tais os casos de Coimbra, e outros. (Na imagem, a partir da esquerda, em cima: Américo, Vidal, Sebastião, Cristóvão, Coimbra e Videira; em baixo: Carlos Oliveira, Jaime, Vasconcelos, Perdigão e Rui Correia.)
Depois de um período de menor utilização, onde ia alternando
com Carlos Duarte, Jaime conquistou finalmente o seu espaço a partir da
temporada de 1962/63, com o húngaro Jonas Kalmar.
Foi também em 1963 que vestiu
pela primeira vez a camisola das quinas, nas equipas Militar e de Promessas e
em 1965 na Seleção Nacional B. Nunca foi internacional A, como em seu tempo aconteceu
à maioria dos futebolistas que alinharam pelo FC Porto, embora muitos bem
merecessem ter vestido a camisola da seleção principal, o que não sucedia por
motivos sobejamente conhecidos e vividos.
Com efeito, a partir de 1961 passou a entrar na equipa
principal, alternando por vezes já com Carlos Duarte, assim como outras vezes
jogando junto com ele e outros da anterior geração, havendo chegado a tempo de
jogar também com Hernâni, Perdigão, Virgílio, dos monstros sagrados da geração
da década de cinquenta.
Para em 1962 ter começado a afirmar-se mais, até que de
seguida se firmou e tomou conta do lugar de extremo-direito. Tendo entretanto
em 1964 ficado marcada a sua influência na equipa ao ter sido visado pela
escandalosa arbitragem da final da Taça de Portugal (como era norma do sistema
BSB em afastar quem poderia contrariar a toada de jogo encarnado…) expulso que
foi quando estava a ser uma seta direcionada ao ataque benfiquista. De modo que
a equipa foi logo então cedo enfraquecida, como faz parte da história.
Depois de ter sido internacional pela Seleção Militar e de seguida pela Seleção de Esperanças e ainda pela Seleção B, por diversas vezes foi convocado para os treinos da Seleção A, chegando a ter estado como suplente na seleção principal, sem contudo ter sido chamado a alinhar. Assim como fez parte do lote dos pré-selecionados para a campanha do Mundial de 1966, havendo mesmo estado no estágio antecedente à fase final, mas foi um dos que não teve hipóteses de reforçar a equipa nacional.
= Foto dos selecionados para o estágio da seleção de 1966...
Sinal do valor de Jaime,
o então jovem extremo direito do FC Porto, é que lhe foi dedicado um dos
pequenos livros, ao género de livro de bolso, da coleção Ídolos do Desporto, em
Janeiro de 1966. Facto que não contemplou assim muitos dos futebolistas do FC
Porto, comparativamente com atletas de clubes de Lisboa, o que é sintomático,
pois os do FC Porto, então como ou até mais que agora, tinham de ser muitos
superiores aos adversários para serem reconhecidos devidamente.
A juntar aos anos de formação, totalizou 14 anos de azul e branco vestido: Tendo permanecido nas Antas como sénior durante nove temporadas, entre 1959/60 a
1967/68. Começou por ser pouco utilizado na primeira época, mas depois passou a
ser um dos jogadores mais utilizados pelos treinadores que passaram pelo banco portista.
Jogador rápido, batalhador, muito ofensivo e com capacidades
excecionais para ir à linha cruzar, proporcionava muitas assistências para golo
e ainda aparecia em zonas de finalização para tentar marcar e inclusive até marcar mesmo, por vezes. Ficou conhecido pela
alcunha do «ventoinha», em alusão à sua centrífuga forma de jogar, na maneira de
alimentar o ataque da equipa em velocidade expansiva.
= Foto de Jaime no Livro Oficial da Final da Taça de Portugal de 1968
Conquistou a Taça Associação de Futebol do Porto por sete
vezes, entre 1959/60 a 1965/66 e a Taça de Portugal de 1967/68, como um dos
titulares na equipa que derrotou o V. Setúbal por 2-1 na Final disputada no dia
16 de Junho de 1968 no Estádio do Jamor, em Oeiras, às portas de Lisboa.
Jaime também viveu outros grandes momentos com a camisola
dos Dragões, como a vitória sobre o Athletic Club de Bilbao no dia 1 de
Setembro de 1962 e que serviu para inaugurar a instalação elétrica do Estádio
das Antas.
Importante em escala histórica maior foi o triunfo sobre os franceses do
Olimpique de Lyon por 3-0 a contar para a 1ª mão da 1ª eliminatória da Taça dos
Vencedores das Taças. O que marcou a primeira vitória do F.C. Porto nas
competições europeias, facto ocorrido na noite de 16 de Setembro de 1964.
Nos nove anos em que representou o F.C. Porto em seniores, Jaime disputou
182 partidas e marcou 43 golos.
= Jaime, com o carinho orgulhoso de seu filho, Nataniel Rei Silva
Por fim, para melhor conhecimento
de pormenores de seu percurso desportivo e portista, complementa-se esta
evocação com uma entrevista vinda no jornal O Porto em 1978. (Em tempo de recuperação do título nacional que fugia ao FC Porto havia 19 anos, sendo Pedroto o treinador). Pois com os
pormenores contidos nessa peça se fica com imagem memoranda de sua aura, graças
a essa entrevista à boa maneira, dando a conhecer coisas com interesse, em vez
do enchimento vulgar e assim a dar lugar ao conhecimento, deixando que se fique a
conhecer e saber algo mais. Como no caso, quando Jaime fazia parte da equipa de
Veteranos do FC Porto, cujas Velhas Guardas representou já durante a aposentação da vida de
futebolista.
Jaime, que por volta de
1947 jogava futebol com peças de frutas, no lugar do Souto, em Fiães, na zona
do concelho Feirense, e em 1959/60 entrou a jogar pela equipa principal de futebol
do FC Porto, cuja camisola representou ao mais alto nível durante cerca duma década, é
credor de figurar nos anais do FC Porto, como está nos corações portistas, de
quem cresceu a ouvir o seu nome nos relatos radiofónicos e a vê-lo nos cromos
de rebuçados que colecionávamos com tanto gosto.
Paz à sua alma.
Será sempre uma constante recordação, como um dos heróis que no vale do Jamor contrariaram em 1968 o sistema reinol português, naquela célebre tarde de Junho, em que a Taça chegou às mãos dos representantes Portistas desse tempo.
Armando Pinto
((( Clicar sobre as imagens )))
Dos finalistas vencedores da Taça de Portugal de 1968 julgo que atualmente só estão vivos Américo, Rolando e Valdemar (com dúvidas sobre Bernardo da Velha, que emigrou para a América e não se soube mais). Dos que também foram utilizados durante as eliminatórias está vivo o guarda-redes suplente Rui e não sei se mais algum.