Reconstituição Histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Reconstituição histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Criar é fazer existir, dar vida. Recriar é reconstituir. Como a criação e existência deste blogue tende a que tenha vida perene tudo o que eleva a alma portista. E ao recriar-se memórias procuramos fazer algo para que se não esqueça a história, procurando que seja reavivado o facto de terem existido valores memorávais dignos de registo; tal como se cumpra a finalidade de obtenção glorificadora, que levou a haver pessoas vencedoras, campeões conquistadores de justas vitórias, quais acontecimentos merecedores de evocação histórica.

A. P.

domingo, 4 de outubro de 2020

Gabriel Azevedo: Ciclista Campeão do FC Porto e... pai-treinador do Campeão internacional José Azevedo!

O ciclismo no território lusitano é um desporto que atinge ponto de rebuçado com a Volta a Portugal, assim como o futebol em Portugal alcança maior interesse na ponta final do Campeonato Nacional da 1ª Liga. Sendo que, num universo em que a paixão clubista é verdadeira, o ciclismo em Portugal ganhou foros desportivos de impacto com a aderência dos clubes maiores do futebol. Tanto que nos períodos em que os grandes clubes portugueses deixaram de ter equipas nas corridas de bicicletas essa vertente competitiva perdeu interesse popular e depois foi com a reentrada dos clubes grandes, à vez por assim dizer, que as próprias marcas patrocinadoras das equipas e as que dão nomes a equipas ganharam outra visibilidade, além que os ciclistas são muitíssimo mais conhecidos por essa envolvência, quer se queira ou não.

Ora, decorrendo na atualidade mais uma Volta a Portugal em período decisivo, é pois boa oportunidade de evocar um dos chamados ídolos do passado, um ciclista que não chegou a atingir ponto mais alto por se ter intrometido na sua carreira a ida para a guerra colonial, em seu tempo. Tendo andado a mando oficial pela Guiné a desenvencilhar-se da guerrilha africana. Num dos casos em que havia diferenciação de atletas do Porto perante os dos clubes de Lisboa, que desses os melhores não eram mobilizados… ou mandavam outros em seu nome.

Tal sucedeu com Gabriel Azevedo, então mancebo em idade militar, que antes disso era um jovem ciclista a avançar em cima da sua bicicleta para uma carreira prometedora. 


= Gabriel Azevedo com a camisola de Campeão Nacional !

Assim, na Volta de 1967 Gabriel Azevedo, depois de ter sido Campeão Nacional amador sénior, foi a grande revelação da Volta. 

E em 1968 ele ganhou o Grande Prémio Philips, tendo depois visto a tropa interromper-lhe a carreira, devido à intromissão do serviço militar, em tempo de guerra colonial, no então Ultramar português. 

Envergava pois e honrava a camisola do FC Porto o jovem Gabriel Azevedo, que entretanto fora ainda em júnior Campeão Nacional de Rampa em 1966 e de seguida em seniores Campeão Nacional de Fundo de 1967, além que na sua primeira participação na Volta a Portugal, em 1967, foi a revelação maior dessa edição das prova Grandíssima portuguesa. Para no ano seguinte ter sido vencedor duma das provas de maior renome nesse tempo, o Grande Prémio Philips, de várias etapas, terminado de forma apoteótica no estádio das Antas, em cuja pista de ciclismo deu a volta de honra como triunfador.

Sucedeu depois ter visto a tropa interromper-lhe a carreira, naquele tempo de guerra colonial (duradoura desde inícios dos anos 60 até meio da década de 70). Tendo, por fim, regressado para outras voltas, mas já sem o mesmo ritmo, com o interregno verificado a deixar mossas.

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Gabriel Azevedo, de nome completo Gabriel Moreira de Azevedo, nasceu a 11 de Dezembro de 1947, na freguesia de Macieira, concelho de Vila do Conde. Iniciara a carreira de ciclista em 1963 e retirou-se em 1974 (aquando da circunstância do FC Porto ter então deixado de ter equipa profissional, por algum tempo).

Gabriel Azevedo havia começado a correr em 1963, integrando a "extinta" categoria de populares. Inicialmente foi por uma equipa de Vila do Conde, designado Rio Ave, mas que na altura não tinha qualquer relação com o clube de futebol local. Fez ali apenas duas ou três corridas e na mesma temporada acabou por mudar para o FC Porto, através do seu amigo Albino Alves, que era um grande ciclista com nome no historial do ciclismo do FC Porto.

Então, Gabriel Azevedo apareceu em grande no ciclismo, primeiro como Campeão Nacional Amador Sénior (em juniores) e depois com estreia na Volta a Portugal em bom plano, em 1967, sendo considerado mesmo a grande revelação entre os novos participantes da Grandíssima portuguesa. 

Depois, de embalada, venceu em 1968 o Grande Prémio Philips, importante prova que ao tempo passou a ser considerada a segunda prova mais importante por etapas, a seguir à Volta. E em bom ritmo foi Campeão Nacional de Fundo, na categoria superior, já.

Assim, em 1968 ganhou o Grande Prémio Philips, uma prova por etapas com grande prestígio, suplantado Agostinho, Leonel Miranda, Américo Silva, Fernando Mendes e outros dos ciclistas adversários de renome.

= Gabriel Azevedo com a Camisola Amarela de vencedor do Grande Prémio Philips de 1968.

Essa pedalada forte foi interrompida, infelizmente, com a ida para o serviço militar obrigatório, em 1969, rumando para a guerra em África, mobilizado que foi para a Guiné. Não tendo assim já participado na Volta desse ano de 1969, que o FC Porto venceu por equipas (após reajustamento das classificações, perante a perda da Volta por Joaquim Agostinho, devido a análise à urina reveladora de doping). 


Gabriel Azevedo foi ciclista profissional de 1967 a 1974, com esse intervalo durado de 1969 a 1971 para cumprir a tropa na Guiné. Regressado por fim retomou a carreira ainda por alguns anos. Havendo na prática participado em meia dúzia de Voltas a Portugal, a última das quais teve de abandonar antes do fim por ter caído e fraturado uma clavícula. 

Como ciclista no FC Porto teve por colegas bons valores como Mário Silva, Joaquim Leão, Alberto Carvalho, Cosme de Oliveira, José Azevedo (não confundir com o filho de Gabriel, também José Azevedo, muitos anos depois naturalmente), Mário Sá, Sousa Vieira, Joaquim Freitas, Custódio Gomes, Joaquim Leite, José Luís Pacheco, Manuel de Sousa, Guilherme Rocha, Luciano Vale, Domingos Pereira, Manuel Petiz, Manuel Ribeiro, Manuel Soeiro, Joaquim Andrade, Manuel Gomes, Delfim Santos, Manuel Costa, etc.

Na soma total, de antes e depois, participou em 6 Voltas a Portugal, sempre com a camisola do Futebol Clube do Porto, equipa que ajudou com seu esforço de trabalhador profissional em prol do coletivo.

Como ele mesmo recordou, mais tarde, numa entrevista a um jornal desportivo lisboeta (Record, de 05/8/2002): «Uma carreira em crescendo, sempre no FC Porto, mas interrompida de forma súbita e prematura. "Em 1969, tinha 21 anos, fui para a Guiné, por causa do serviço militar, e estive lá até 1971... Antes disso era um corredor completo, trabalhava para a equipa. Mas, quando regressei, depois de dois anos no 'mato', não era o mesmo e passei a aguadeiro. A ida para o Ultramar 'matou' a minha carreira", concluiu».

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Depois de ter deixado de correr oficialmente, manteve-se ligado ao ciclismo, quer de competição como na formação, primeiro como treinador de diversas equipas, ao nível dos escalões jovens. Tempo em que treinou um seu filho, o mais tarde internacionalmente conhecido José Azevedo, no qual o pai descobriu qualidades e estimulou o filho a seguir a carreira onde se tornou figura de respeito no ciclismo mundial e de grande valor entre os portugueses que se destacaram no estrangeiro.

= Gabriel Azevedo, numa receção triunfante ao filho José, aquando da sua chegada ao aeroporto de Pedras Rubras,  após o 5º lugar na Volta a França obtido por José Azevedo em 2004 - na companhia da esposa e da nora e neta (esposa e filha de José Azevedo, respetivamente).

Entretanto, Gabriel Azevedo foi também mecânico e ainda condutor de vários carros de apoio de âmbito oficial, como neutro e do carro médico. Bem como, de permeio, acresceu em suas funções ainda serviço organizativo, tendo na dedicação ao ciclismo sido também Vice-Presidente da Associação de Ciclismo do Porto durante alguns anos e ainda Comissário Nacional.

Armando Pinto

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