O ciclismo no território lusitano é um desporto que atinge ponto de rebuçado com a Volta a Portugal, assim como o futebol em Portugal alcança maior interesse na ponta final do Campeonato Nacional da 1ª Liga. Sendo que, num universo em que a paixão clubista é verdadeira, o ciclismo em Portugal ganhou foros desportivos de impacto com a aderência dos clubes maiores do futebol. Tanto que nos períodos em que os grandes clubes portugueses deixaram de ter equipas nas corridas de bicicletas essa vertente competitiva perdeu interesse popular e depois foi com a reentrada dos clubes grandes, à vez por assim dizer, que as próprias marcas patrocinadoras das equipas e as que dão nomes a equipas ganharam outra visibilidade, além que os ciclistas são muitíssimo mais conhecidos por essa envolvência, quer se queira ou não.
Ora, decorrendo na atualidade mais uma Volta a Portugal em
período decisivo, é pois boa oportunidade de evocar um dos chamados ídolos do
passado, um ciclista que não chegou a atingir ponto mais alto por se ter
intrometido na sua carreira a ida para a guerra colonial, em seu tempo. Tendo
andado a mando oficial pela Guiné a desenvencilhar-se da guerrilha africana. Num
dos casos em que havia diferenciação de atletas do Porto perante os dos clubes
de Lisboa, que desses os melhores não eram mobilizados… ou mandavam outros em
seu nome.
Tal sucedeu com Gabriel Azevedo, então mancebo em idade militar,
que antes disso era um jovem ciclista a avançar em cima da sua bicicleta para uma
carreira prometedora.
Envergava pois e honrava a camisola do FC Porto o jovem Gabriel
Azevedo, que entretanto fora ainda em júnior Campeão Nacional de Rampa em 1966
e de seguida em seniores Campeão Nacional de Fundo de 1967, além que na sua
primeira participação na Volta a Portugal, em 1967, foi a revelação maior dessa
edição das prova Grandíssima portuguesa. Para no ano seguinte ter sido vencedor
duma das provas de maior renome nesse tempo, o Grande Prémio Philips, de várias
etapas, terminado de forma apoteótica no estádio das Antas, em cuja pista de
ciclismo deu a volta de honra como triunfador.
Sucedeu depois ter visto a tropa interromper-lhe a carreira, naquele tempo de guerra colonial (duradoura desde inícios dos anos 60 até meio da década de 70). Tendo, por fim, regressado para outras voltas, mas já sem o mesmo ritmo, com o interregno verificado a deixar mossas.
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Gabriel Azevedo, de nome completo Gabriel Moreira de
Azevedo, nasceu a 11 de Dezembro de 1947, na freguesia de Macieira, concelho de
Vila do Conde. Iniciara a carreira de ciclista em 1963 e retirou-se em 1974
(aquando da circunstância do FC Porto ter então deixado de ter equipa
profissional, por algum tempo).
Gabriel Azevedo havia começado a correr em 1963, integrando
a "extinta" categoria de populares. Inicialmente foi por uma equipa
de Vila do Conde, designado Rio Ave, mas que na altura não tinha qualquer
relação com o clube de futebol local. Fez ali apenas duas ou três corridas e na
mesma temporada acabou por mudar para o FC Porto, através do seu amigo Albino
Alves, que era um grande ciclista com nome no historial do ciclismo do FC
Porto.
Então, Gabriel Azevedo apareceu em grande no ciclismo, primeiro como Campeão Nacional Amador Sénior (em juniores) e depois com estreia na Volta a Portugal em bom plano, em 1967, sendo considerado mesmo a grande revelação entre os novos participantes da Grandíssima portuguesa.
Depois, de embalada, venceu em 1968 o Grande Prémio Philips, importante prova que ao tempo passou a ser considerada a segunda prova mais importante por etapas, a seguir à Volta. E em bom ritmo foi Campeão Nacional de Fundo, na categoria superior, já.
Assim, em 1968
ganhou o Grande Prémio Philips, uma prova por etapas com grande prestígio,
suplantado Agostinho, Leonel Miranda, Américo Silva, Fernando Mendes e outros
dos ciclistas adversários de renome.
= Gabriel Azevedo com a Camisola Amarela de vencedor do Grande Prémio Philips de 1968.
Essa pedalada forte foi interrompida, infelizmente, com a ida para o serviço militar obrigatório, em 1969, rumando para a guerra em África, mobilizado que foi para a Guiné. Não tendo assim já participado na Volta desse ano de 1969, que o FC Porto venceu por equipas (após reajustamento das classificações, perante a perda da Volta por Joaquim Agostinho, devido a análise à urina reveladora de doping).
Como ele mesmo recordou, mais tarde, numa entrevista a um
jornal desportivo lisboeta (Record, de 05/8/2002): «Uma carreira em crescendo,
sempre no FC Porto, mas interrompida de forma súbita e prematura. "Em
1969, tinha 21 anos, fui para a Guiné, por causa do serviço militar, e estive
lá até 1971... Antes disso era um corredor completo, trabalhava para a equipa.
Mas, quando regressei, depois de dois anos no 'mato', não era o mesmo e passei
a aguadeiro. A ida para o Ultramar 'matou' a minha carreira", concluiu».
Depois de ter deixado de correr oficialmente, manteve-se
ligado ao ciclismo, quer de competição como na formação, primeiro como
treinador de diversas equipas, ao nível dos escalões jovens. Tempo em que treinou
um seu filho, o mais tarde internacionalmente conhecido José Azevedo, no qual o
pai descobriu qualidades e estimulou o filho a seguir a carreira onde se tornou
figura de respeito no ciclismo mundial e de grande valor entre os portugueses
que se destacaram no estrangeiro.
= Gabriel Azevedo, numa receção triunfante ao filho José, aquando da
sua chegada ao aeroporto de Pedras Rubras, após o 5º lugar na Volta a França obtido por José
Azevedo em 2004 - na companhia da esposa e da nora e neta (esposa e filha de
José Azevedo, respetivamente).
Entretanto, Gabriel Azevedo foi também mecânico e ainda
condutor de vários carros de apoio de âmbito oficial, como neutro e do carro
médico. Bem como, de permeio, acresceu em suas funções ainda serviço
organizativo, tendo na dedicação ao ciclismo sido também Vice-Presidente da
Associação de Ciclismo do Porto durante alguns anos e ainda Comissário
Nacional.
Armando Pinto
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