Reconstituição Histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Reconstituição histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Criar é fazer existir, dar vida. Recriar é reconstituir. Como a criação e existência deste blogue tende a que tenha vida perene tudo o que eleva a alma portista. E ao recriar-se memórias procuramos fazer algo para que se não esqueça a história, procurando que seja reavivado o facto de terem existido valores memorávais dignos de registo; tal como se cumpra a finalidade de obtenção glorificadora, que levou a haver pessoas vencedoras, campeões conquistadores de justas vitórias, quais acontecimentos merecedores de evocação histórica.

A. P.

sexta-feira, 5 de março de 2021

Evocação de Pedro Homem de Melo, Homem do "Aleluia" Portista – na efeméride de seu desaparecimento físico…

A 5 de março de 1984 falecia no Porto o grande poeta Pedro Homem de Melo, o Homem do poema Aleluia que eleva o FC Porto a alturas de incenso.


Pedro Homem de Melo, natural da cidade do Porto, embora com nome já feito na literatura portuguesa desde a década dos anos 30, por via de reconhecimento com alguns prémios a obras suas, tornara-se conhecido popularmente do cidadão comum por um programa televisivo que teve na Radiotelevisão Portuguesa, ainda nos primeiros tempos de transmissão da RTP, então com um só canal por muito tempo e a preto e branco igualmente por muitos anos a fio. Tendo esse programa, transmitido aos finais de tarde dos domingos, sido deveras apreciado por ser dedicado ao folclore, algo do agrado popular nesse tempo de simplicidade romântica e curiosamente em horas que antigamente o povo folgava, como foi hábito as danças de roda populares em tardes domingueiras. Havendo Pedro Homem de Melo, com sua voz pausada de entoação declamadora, através desse programa, dado a conhecer grupos e modas de danças e cantares do típico folclore português.

Após isso, conhecido por sua voz e fisionomia, passou a ser também conhecido por seus poemas em livros e sobretudo por algumas páginas literárias que era uso e costume haver em certos dias nos jornais diários nacionais. Acrescido do facto de alguns de seus versos servirem então de letras a alguns fados cantados por Amália. Até que, como cereja no topo do bolo, em finais dos anos 60, fez um poema dedicado ao Futebol Clube do Porto, sob título de Aleluia, poema épico esse que logo ganhou honras de figurar em espaço nobre do interior do estádio das Antas, num quadro de azulejos emoldurados, bem como a respetiva letra foi declamada em disco gravado, incluindo conjunto de gravação em vinil junto com o Hino do clube, no tempo da gerência do dinâmico Presidente de Afonso Pinto de Magalhães, em 1969/1970.

Desse labor literário, de apenas um poema que ficou a valer por milhares de letras, foi depois historiado algo sobre ele num artigo da autoria do Dr. Paulo Pombo publicado no jornal O Porto, na página de divulgação cultural que houve nos inícios da década de 70, ao tempo do mesmo Dr. Paulo Pombo a diretor daquele que era o jornal oficial do clube.  

= Quadro de azulejos pintados com o poema Aleluia, à entrada do átrio de entrada da área social do estádio das Antas. Antecendendo quadros com os elementos do departamento de futebol de cada época, junto com outros quadros dos ícones do clube até esse tempo (estando ali, em zona privilegiada, fotos de Artur Pinga, considerado o melhor de todos os tempos, até então; Valdemar Mota, o 1º Olímpico; Soares dos Reis I, o 1º guarda-redes internacional; Vital, marcador do 1º golo portista no estádio das Antas; Virgílio Mendes, o mais internacional, até esses dias).

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Ora então a 5 de Março de 1984 morreu, aos 79 anos, PEDRO HOMEM de MELO. De nome completo Pedro da Cunha Pimentel Homem de Melo, nascido a 6 de setembro de 1904, no Porto, faleceu também no Porto. Eternizado como poeta e ensaísta de obra literária reconhecida, de permeio dedicara-se ao mister de professor liceal, apesar de sua formação como advogado.

«Formado em Direito pela Universidade de Lisboa, foi diretor da escola Comercial Mouzinho da Silveira, no Porto. Com o livro “Segredo” (1939) obteve o “Prémio Antero de Quental” e menção especial da Academia das Ciências de Lisboa. P. H. M. é sem dúvida dos maiores representantes da nossa tradição lírica, na linha que, saindo de D. Dinis, passa por Bernardim, Rodrigues Lobo, Garrett, Antero, João de Deus e Carlos Queirós. Constrói o poema sobre requintes de sensibilidade ática e meio pagã, não apenas com a luz e mágicas sombras da paisagem da sua terra, mas com a pungência do seu próprio sentir e os ritmos e ansiedades do povo, com quem gosta de conviver. Daí também o seu interesse pelo folclore português, que estimulou quanto pôde, até através das câmaras de televisão, em programas dedicados aos cantares e danças populares. Especialmente do Minho, sua terra de adopção» - como consta na “Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura”.

É também descrito e com mais pormenor na página “Torre do Tombo e a história” como «um advogado que se consagrou como poeta e folclorista de nomeada, com um papel notável na sua divulgação em livros, bem como em programas radiofónicos e televisivos, na RTP, que se tornaram famosos e lhe mereceram uma assinalável popularidade e simpatia, permanecendo na memória coletiva até ao presente.

Pedro da Cunha Pimentel Homem de Melo nasceu e morreu no Porto. Formou-se em Direito, advogou, foi magistrado e professor liceal. Foi também autor premiado, vindo a tornar-se especialista do cantar e das danças populares, com reconhecimento enquanto dedicado folclorista.

Nasceu em 1904 e estreou-se em 1934 com o livro de versos 'Caravela ao Mar'. Pertence à geração de poetas presencistas e é autor de uma obra poética extensa, com cerca de 30 volumes de poesia.

Surpreende pela consistência de características métricas, temáticas e retóricas que mantém, quase da mesma forma, de livro para livro. Anda à volta do tema da revolta, do desafio da lei ou da repressão moral, mitificando assim a figura de Povo. Segundo Joaquim Manuel Magalhães, os poemas de Pedro Homem de Mello aglomeram-se em dois grandes grupos: aquele em que alguma realidade da paisagem humana e natural do norte minhoto ao centro litoral irrompe e se destaca e um outro em que a densidade conflituosa das paixões se regista numa manifestação lírica, quase confessional.

Paralelamente à obra poética, é notória a paixão pelo folclore português, temática que o interessou e sobre a qual escreveu vários ensaios e desenvolveu programas de rádio e de televisão.

Foi distinguido com o Prémio Antero de Quental (1940) e o Prémio Nacional de Poesia (1973). A sua obra poética encontra-se compilada em Poesias Escolhidas (1983). Como estudioso do folclore nacional, escreveu A Poesia na Dança e nos Cantares do Povo Português (1941) e Dança de Portugal (s/d).

[texto partilhado da série 'RTP ensina']

Na página oficial do ICS da universidade de Lisboa, pode ler-se:

"Pedro Homem de Melo (1904-1984) foi um poeta e folclorista português, pertencente à fidalguia de província, que trabalhou a maior parte da sua vida como professor do ensino técnico e comercial no Porto.

Entre 1934 e 1983 publicou 29 livros de poesia (incluindo duas antologias) e três obras sobre danças e cantares populares (principalmente do Noroeste de Portugal).

Alguns dos seus poemas foram adaptados para fados cantados por Amália Rodrigues.

Este facto, somado aos programas televisivos que conduziu entre finais dos anos 60 e inícios da década de 1970, fez com que o seu nome se tornasse bem conhecido em Portugal até à atualidade. Contudo, a sua vida e a sua obra foram ainda muito pouco estudados. O objetivo deste projeto consiste precisamente em realizar esse estudo, e considerou-se que a produção de uma monografia biográfica constitui a melhor forma de alcançar este objetivo.

O género biográfico dirige obrigatoriamente a pesquisa para a reconstrução de uma história de vida, mas simultaneamente requer um conhecimento aprofundado dos cenários sociais, culturais e institucionais que a envolveram e moldaram.

Com a produção de uma obra biográfica sobre Pedro Homem de Melo, esperamos dar voz e nova luz não só à sua vida e ao seu trabalho, mas igualmente a diversos traços da sociedade portuguesa no seu tempo".

Amália Rodrigues imortalizou alguns dos seus poemas, nomeadamente os títulos “Povo que lavas no rio”, “O rapaz da camisola verde”, “Havemos de ir a Viana” e “Fria Claridade”, hoje temas incontornáveis no Fado.

Chegou a criar e a patrocinar alguns ranchos folclóricos do Minho e colaborou com o Orfeão Universitário do Porto no âmbito de recolhas etnográficas para os seus grupos folclóricos.

Afife (Viana do Castelo) foi a sua terra de adoção. Ali viveu durante anos num local paradisíaco, no Convento de Cabanas, junto ao rio com o mesmo nome, onde escreveu parte da sua obra, "cantando" os costumes e as tradições de Afife e da Serra de Arga.

A Câmara Municipal de Lisboa homenageou o poeta dando o seu nome a uma rua em Chelas.

A 24 de Agosto de 1985, foi agraciado, a título póstumo, com o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.»

A sua letra de “Havemos de ir a Viana”, na musicalidade do popular fado de Amália, serviu de tema popular aquando da ida do FC Porto à final da Taça dos Campeões Europeus de futebol, em 1987, cantando-se como “havemos de ir a Viena”, na ida a Viena de Áustria.

O quadro de azulejo com seu poema Aleluia, retirado aquando da demolição do estádio das Antas e passagem da atividade do clube para o estádio do Dragão, está atualmente patente no Museu do FC Porto.

Eis assim Pedro Homem de Melo, Portista e grande poeta do enorme poema Aleluia. Que se evoca deste modo na passagem da data de seu passamento da vida física para a eternidade.

Armando Pinto

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