Um dia, pelos idos anos de inícios da década de setenta,
sensivelmente por volta de 1971, jovem entusiasta do mundo portista, embora
como sempre muito reservado no meu mundo, fui apresentado pelo guarda-redes
Armando ao Carlos Duarte que fora jogador do FC Porto. Estando então com o meu
amigo sr. Armando Silva no café do largo do Araújo, para os lados de Leça, onde
morava Armando, quando voltou a jogar no FC Porto e por sinal também ali
vizinho de Carlos Duarte. Quando o vi a sorrir para mim e estender-me a mão
senti uma sensação indescritível, por estar diante desse grande jogador, que eu
não vi jogar mas conhecia pelas cadernetas dos meus irmãos mais velhos e de o
ver em gravuras nos jornais, além de ouvir seu nome nos relatos radiofónicos
que escutava junto à cama de minha avozinha, paralisada no leito como a conheci
sempre em minha infância e que me ajudou a crescer ouvindo-a contar-me
histórias. E Carlos Duarte era da minha história, não da dos contos infantis,
mas do que eu ia imaginando na cabeça de pequeno portista. E ali estava ele à
minha frente. Só que como nunca fui muito falador, nessa como em tantas
situações, guardei comigo essa sensação, além naturalmente de ainda ter ajudado
à conversa, mais como ouvinte. Como desta feita, ouvindo a entrevista que Rui
Cerqueira fez ao Carlos Duarte, estive com atenção redobrada, revendo idêntica
sensação, desta vez de sentido atento, preso ao ecrã, pois ali se exprimiu, nos
seus 85 anos de vida, esse grande extremo direito do FC Porto dos anos
cinquentas, cuja carreira apesar de lesões graves ainda durou a entrar pela
década dos anos sessentas.
Com a entrevista emitida pelo canal televisivo Porto Canal neste
início de setembro de 2018, na linha de entrevistas de retrospetiva de
carreiras de personagens desportivas de relevo, foi agora conseguido registar à
posteridade mais um belo documento memorial, tendo Rui Cerqueira conseguido puxar
memórias ainda possíveis para lá da idade do entrevistado. Louvo assim Rui
Cerqueira, pelo que concretizou com esta sua iniciativa, como anos atrás
conseguiu Bernardino Barros com atraente e ternurenta entrevista com o
guarda-redes Américo. Ficando ideia, para outras oportunidades do género, que
ficaria bem intercalar flashes ilustrativos entre as imagens da conversa (entrevista),
havendo fotografias e até ainda imagens históricas em filmes de arquivos.
= No Lar-Casa do Jogador do FCP, situado na Praça das Flores, para
os jogadores solteiros e estágios para todos antes dos jogos.
~~~*** ~~~
Carlos Duarte, aos olhos de afeiçoado portista nascido em
1954, também é associado como um dos marcadores dos golos com que o FC Porto, vencendo
o Benfica em pleno mês do Natal desse ano, em Lisboa, trouxe para o Porto o
troféu de vencedor do jogo da inauguração do estádio original do Benfica – ao
tempo ainda conhecido por estádio de Carnide e mais tarde chamado estádio da
Luz, o antigo, antes de ter desaparecido para dar lugar ao atual salão de
festas de algumas das boas vitórias azuis e brancas…
Sendo assim isso, então, no ano de nascimento do autor
destas linhas, tal facto é um dos fastos da folha de vida pessoal, qual cartão
marcador de livro vital. Em que Carlos Duarte teve interferência, ao ter
marcado um dos golos e por estar nas imagens que depois, passados anos, vi –
com Carlos Duarte presente no ato da entrega oficial do vistoso trofeu.
= Equipa do FC Porto da Época 1954/55, no jogo da
Inauguração do Estádio da Luz, a 01/12/1954: SLB, 1 - FC Porto, 3. Golos de
Jacinto (P.B.), Carlos Duarte e Perdigão. Em cima da esquerda para a direita - Barrigana, Virgílio Mendes,
José Maria Pedroto, Ângelo Carvalho, Joaquim Machado, José Valle e Pinho. Em
baixo, pela mesma ordem-Carlos Duarte, Hernâni Silva, António Teixeira,
Monteiro da Costa e José Maria.
= Carlos Duarte na ocasião da entrega do Troféu da vitória
da Inauguração (Taça Cosme Damião) – em imagem retirada de retransmissão televisiva,
muitos anos depois…
Carlos Duarte viera pouco tempo antes para o FC Porto,
chegado ainda no ano de 1952, depois de ter tido primeiro contacto com o FC
Porto aquando da célebre viagem da equipa principal do FC Porto a África, em
1949, durante a célebre “Caravana da saudade”. E, como disse na entrevista,
ficou apaixonado pelo FC Porto. Ele que em pequeno lá em Angola tinha certa
simpatia por Travassos e como tal era mais virado ao Sporting, em tempo do
Estado Novo cujo sistema também, com a lavagem cerebral que havia a favor de
Lisboa e arredores, fazia com que o Porto não tivesse tanta expansão pelas regiões
ultramarinas. Mas com aquela digressão pelas paragens africanas, muitos adeptos
se voltaram para as cores portistas. E com a vinda de alguns jogadores dessas
antigas províncias, mais se intensificou a simpatia pelo clube das Antas nos
naturais luso-africanos. Tanto que o antigo presidente angolano, José Eduardo
dos Santos, um dos portistas conhecidos por esses sítios, ficou a ser grande
admirador de Carlos Duarte desde que ele vestiu a camisola do FC Porto – como
mais tarde teve oportunidade de lhe demonstrar, em romagem de saudade que o
antigo futebolista fez à terra natal.
= 1952. Em tempo de entrada na equipa de Carlos Duarte e
Albasini. (Na foto, de cima para baixo e da esquerda para a direita: Américo, Virgílio, Carvalho, Barrigana, Valle, Del Pinto, Albasini, e Osvaldo Cambalacho; Hernâni, Porcel, Monteiro da Costa,
Pedroto, José Maria e Carlos Duarte.)
Atualmente com 85 anos de idade (em 2018, a caminho dos 86
em março próximo), o extremo direito nascido em Angola (segundo números que
constam) realizou um total de 228 jogos ao serviço do FC Porto, nos quais
marcou 98 golos, sendo assim na atualidade ainda o décimo goleador da história
do clube. Enquanto na Seleção Portuguesa em 8 jogos (7 pela A e 1 pela B) marcou também 1 golo. Apesar de não ter jogado em alta competição como avançado centro,
conforme na época se chamava, mas sim como extremo direito, formando asa desse
lado com Hernâni ao lado e Virgílio atrás, numa ala conhecida por trio
maravilha. Sendo que no formato tático do futebol desse tempo a linha avançada
era composta por extremo direito, interior direito, de um lado, e do outro
interior e extremo esquerdo, com o avançado centro ao meio, como o próprio nome
indicava. De modo, que como Virgílio era defesa direito e Hernâni interior,
jogavam entre eles quase de olhos fechados já e com combinações perfeitas. E
com Hernâni completava dupla famosa, de passes e remates, do que hoje se diz
assistências e conclusões.
= Equipa do FC Porto da Época 1952/53. Viagem ao Arquipélago
dos Açores em 1953, no final do Campeonato Nacional. Em cima e da esquerda para
a direta: Ângelo Carvalho, Albasini, Barrigana, Francisco Gonçalves (massagista),
Eleutério, Joaquim Machado, Zé Maria, Cândido de Oliveira (treinador principal),
Américo (meio encoberto), António Teixeira e Vítor Santos (jornalista); em
baixo pela mesma ordem, Artur Sousa Pinga (treinador adjunto), Carlos Duarte,
Correia, Pedroto, Pinto Vieira, Osvaldo Cambalacho e Monteiro da Costa.
Estava-se aí numa época de futebol algo romântico, jogado
mais em jeito, com os mais habilidosos a poderem mostrar-se. Carlos Duarte
imprimia e completava isso com velocidade e finta curta sempre em corrida,
deambulando e centrando o jogo para os colegas, sem perder a baliza de vista,
levando a ter marcado à sua conta muitos golos também.
Chegara Carlos Duarte ao Porto numa boa remessa de jovens esperanças,
num quarteto vindo de África, junto com Albasini, Perdigão e Miguel Arcanjo.
Como comprova uma interessante reportagem de apresentação, passado algum tempo,
da chegada desse lote de ouro negro, como se dizia perante os valores provindos
do filão da África portuguesa (e inclusive serviu de nome a um conhecido
conjunto musical, o famoso Duo Ouro Negro, composto por dois portistas,
também). Em cuja narrativa, à maneira da época, era referido que a dificuldade
maior tinha sido antes de vir, pelo receio do pai. Como era então contado no
jornal O Porto, em seu suplemento semanal O Porto Magazine de 16 de Junho de
1953.
= O Porto Magazine
O certo é que depois se confirmou aquilo que dele se
aguardava e muito mais. «Extremo velocíssimo, impunha-se pelo faro de golo,
próprio de quem em Angola tinha colado na testa o rótulo de avançado-centro. Estrela
do FC Porto na década de 50, foi um dos homens mais importantes no renascimento
que o clube ensaiou por essa altura. Os dragões impediram-no de sair para
Itália e, depois, uma lesão grave impediu-o de ir mais longe na carreira. Autor
do primeiro tento de uma equipa nacional em Wembley, foi nessa altura forçado a
tomar uma de duas estradas: o FC Porto não acedeu a possível transferência
milionária para o Milan e ele sofreu a primeira lesão grave, que após um ano de
paragem lhe tirou boa parte dos atributos físicos. Guardou para a história o
facto de ter sido uma das figuras mais importantes no primeiro renascimento do
FC Porto, na década de 50.»
Carlos Duarte, de nome completo Carlos Domingos Duarte,
nasceu em Angola a 25 de Março de 1933, em Calulo, Nova Lisboa, e por lá começou a
mostrar dotes de goleador. Jogando a avançado centro, por ter capacidade de
marcar golos. Era esguio e veloz, o que fazia dele um avançado perigosíssimo. Entretanto
recebeu convite e acabou por vir jogar para a metrópole, com destino ao Porto. A
necessidade de fortalecimento da equipa de honra do FC Porto levou a direção do
clube a procurar reforço da equipa, que se fez tanto no plano nacional (tais os
casos de Teixeira, Cambalacho, Pedroto, vindos de clubes do continente…) como
em África, de onde vieram, de uma assentada, Albasini, Perdigão, Arcanjo e
Carlos Duarte (das províncias ultramarinas). E a verdade é que essa nova vaga reforçou
a construção duma excelente equipa, em que Carlos Duarte foi entrando aos poucos,
assim como os colegas. O seu primeiro jogo com a camisola do FC Porto foi na Póvoa, em jogo de início de época, no âmbito da Associação de Futebol do Porto.
Depois, estreou-se também no Campeonato Nacional em Outubro de 1952, e ao segundo jogo a contar para o campeonato, a 7 de Dezembro, fez o primeiro golo na prova maior portuguesa, aproveitando um passe de Pedroto para abrir o marcador numa vitória por 4-0 sobre o Barreirense, nas Antas. Tendo Carlos Duarte acabado por marcar sete golos nesse primeiro campeonato, com destaque para um hat-trick ao Estoril (quando Hernâni, devido a estar ao tempo em serviço militar na zona de Lisboa, jogava pela equipa da linha estorilista, mas sem ter jogado contra o FC Porto, por sua vontade manifestada anteriormente na assinatura do contrato). Numa conta inicial de golos com marca Duarte, aos quais somou mais dois na Taça de Portugal, prova na qual a equipa não conseguiu vencer na final.
Depois, estreou-se também no Campeonato Nacional em Outubro de 1952, e ao segundo jogo a contar para o campeonato, a 7 de Dezembro, fez o primeiro golo na prova maior portuguesa, aproveitando um passe de Pedroto para abrir o marcador numa vitória por 4-0 sobre o Barreirense, nas Antas. Tendo Carlos Duarte acabado por marcar sete golos nesse primeiro campeonato, com destaque para um hat-trick ao Estoril (quando Hernâni, devido a estar ao tempo em serviço militar na zona de Lisboa, jogava pela equipa da linha estorilista, mas sem ter jogado contra o FC Porto, por sua vontade manifestada anteriormente na assinatura do contrato). Numa conta inicial de golos com marca Duarte, aos quais somou mais dois na Taça de Portugal, prova na qual a equipa não conseguiu vencer na final.
O regresso de Hernâni, em 1953, veio dar uma nova dimensão
ao futebol do FC Porto. Carlos Duarte, que com ele formava dupla de sucesso,
foi um dos que mais contabilizou isso para elevar o nível, terminando a época
com dez golos, entre eles mais um hat-trick, dessa vez ao Vitória de Guimarães,
em Dezembro. Por essa altura já o angolano Carlos Duarte fora aos trabalhos da seleção
nacional, embora duma primeira vez em que esteve escalado não chegou a jogar,
ficando a assistir junto à linha. Até que depois se estreou com a camisola de
Portugal, tendo o responsável Salvador do Carmo o colocado no lugar de
Hernâni a meio de um particular contra a África do Sul, a 22 de Novembro de
1953, jogo esse que os portugueses ganharam por 3-1.
= Recorte de jornal (“ O Porto”) publicado emAbril de 1955, aquando do
jogo FC Porto, 5-Real Madrid, 2 – que Carlos Duarte teve de ver da parte de fora
do campo, devido a lesão…
= Em recuperação. Depois de ter sido operado, andando de bicicleta às
voltas na pista de cinza do estádio das Antas, como era normal naqueles tempos.
Seguiram-se alguns tempos de menor utilização no FC Porto, com reflexo de acalmia na
sua carreira internacional, até que voltou a arrancar verdadeiramente em 1957,
quando Tavares da Silva o incluiu no lote de jogadores com que atacou a
qualificação para o Mundial da Suécia. Até lá, Carlos Duarte nunca se esquecera
de como marcar golos – jogava era menos vezes. Em 1955/56, contribuiu com sete
golos pelo FC Porto para o título de campeão, festejado com um 3-0 em casa frente à Académica. Mesmo
participando em apenas oito jogos, fez outro hat-trick da ordem (num 10-1 ao
Barreirense, em Março de 1956) e marcou pela primeira vez num clássico,
ajudando na vitória por 3-1 sobre o Sporting no dia de ano novo. Na Taça de
Portugal, só jogou a final, mas foi o suficiente para a erguer bem alto, depois
da vitória por 2-0 sobre o Torreense, numa partida em que assistiu o amigo
Hernâni com o passe para o primeiro golo.
= Equipa do ano da "dobradinha" de Campeonato e Taça de 1955/1956
= Equipa do FC Porto da Época 1957/58. Final da Taça de
Portugal, no Estádio Nacional, 15/06/1958. SLB, 0 - FC Porto, 1. Golo de Hernâni.
Em cima da esq. p/ dta. Virgílio Mendes, Barbosa, Miguel Arcanjo, Ângelo
Sarmento, Albano Sarmento e Manuel Pinho. Em baixo pela mesma ordem, Carlos
Duarte, Gastão, Osvaldo Silva, Hernâni e Perdigão. Treinador Otto Bumbel (orientador de que mais gostou, como conta na entrevista ao Porto Canal, por saber dar-lhe liberdade em campo, de modo a com ele ter jogado mais e melhor).
= Entrevista de Carlos Duarte ao Jornal O Porto de 11 de
Julho de 1956, após digressão da equipa do FCP ao Brasil.
De volta às escolhas habituais depois do Verão de 1956,
Carlos Duarte esteve no segundo jogo do FC Porto contra o Atlético de Bilbau,
na estreia da equipa na Taça dos Campeões Europeus, fazendo mais onze golos no
campeonato que o FC Porto perdeu, por um ponto, para o Benfica, depois de
diversos casos em que, como de costume, a equipa nortenha foi prejudicada…
= Titulares e suplentes do jogo com o Bilbau, na estreia do FC Porto em competições oficiais europeias - Em cima:
Barrigana, Carvalho, Porcel, Pedroto, Albasini, Miguel Arcanjo, Osvaldo, Pinho e
Virgílio. Em baixo; Romeu, Monteiro da Costa, Teixeira, Gastão, José Maria, Perdigão
e Hernâni. Não foram utilizados Albasini, Osvaldo e Pinho.
... E recordando essa eliminatória (em que Carlos Duarte participou no segundo jogo, da dupla jornada), numa conversa de evocação, passados 30 anos, em entrevista à revista DRAGÕES
Entretanto, voltou à seleção, ainda que para protagonizar um caso bizarro:
Tavares da Silva ia incluí-lo na equipa que, em Alvalade, corria Janeiro de 1957,
inaugurava frente à Irlanda do Norte os jogos noturnos da seleção nacional
quando foi avisado de que o angolano não estava na lista de futebolistas
inscritos pela FPF na FIFA. Assim sendo, só voltou mesmo à seleção na derrota
contra a Itália em Milão (0-3), em Dezembro, coisa que deixava Portugal fora do
Mundial de 1958. Carlos Duarte entrava então na melhor fase da sua carreira.
Foi preponderante no segundo lugar do FC Porto em 1957/58, com nove golos no
campeonato, bem como na conquista da Taça de Portugal, ganha na final contra o
Benfica com um golo de Hernâni (1-0), em cuja caminhada marcou por três vezes.
Em Março de 1958, fez o golo português na derrota contra a Inglaterra (2-1) em
Wembley, fazendo luzir sobre si os holofotes da poderosa imprensa britânica,
que o considerou melhor que Tom Finney. Quem não estava a dormir era o Milan,
que logo fez chegar ao Porto a intenção de pagar 600 contos pelo jogador, que
apesar da já longa carreira ainda só tinha 25 anos e muito para dar. Só que o
FC Porto, que já pensava vender Jaburu, não esteve pelos ajustes, deixando Carlos Duarte a
sonhar com maior fama e o dinheiro que podia ter ganho. Mas sem fazer birra, mantendo-se
a cem por cento no FC Porto.
= Campeões Nacionais em 1958/59
Assim sendo, Carlos Duarte não virou a cara à luta, partindo para
aquela que terá sido a sua melhor época de sempre. Fez 14 golos na vitória
portista no campeonato de 1958/59, só sendo superado por Teixeira e Hernâni. E somou-lhes
mais dez na Taça de Portugal, cuja final os portistas perderam para o Benfica,
com expulsão de Carlos Duarte e do benfiquista Mário João no início da segunda
parte, depois de ter ripostado a mais uma das muitas agressões de que foi
vítima por parte do benfiquista. “A cada vez que tocava na bola era agredido”,
lamentou-se depois o extremo angolano. Começava ali aquele que viria a ser o
pior período da carreira do futebolista, que já somara a sétima internacionalização em Junho de 1959, contra a RDA, nas Antas, jogando numa
vitória por 3-2 que permitia aos portugueses continuar no Europeu. De regresso
de férias, partiu uma perna num choque com um jogador do Espanhol de Barcelona,
em jogo particular, o que lhe roubou quase toda a época: só voltou à competição
em Junho de 1960, na segunda partida dos quartos-de-final da Taça de Portugal contra
o Barreirense. Dizia-se que a inatividade o tinha prejudicado, que já não era o
mesmo jogador. Ainda assim, Carlos Duarte voltou a ser selecionado, dessa vez para a Seleção Nacional B, em Dezembro de 1960 e completou mais quatro épocas no FC
Porto.
Assim, além dos 7 jogos que fez pela Seleção Nacional A, envergou ainda mais uma vez a camisola das quinas pela Seleção B em 1960.
Vestiu a camisola do FC Porto pela última vez a 19 de Abril
de 1964, no fecho do campeonato, que os dragões fizeram ganhando por 1-0 ao
Lusitano de Évora. Foi de férias para a Corunha e quis ficar a jogar por lá.
Tal não lhe foi permitido, o que levou a que voltasse a Portugal, em Outubro,
mas para jogar no Leixões, que era nesse ano treinado pelo seu amigo Pedroto.
Ainda representou os leixonenses na Europa – derrota por 3-0 em Glasgow com o
Celtic a 7 de Outubro, implicando a eliminação da Taça das Cidades com Feira –
e fez um campeonato muito regular, com mais quatro golos. O último, marcou-o ao
Sporting, a 28 de Março de 1965. Lançou a equipa para a recuperação de 1-3 para
3-3 mas, no ato, magoou-se no tendão de Aquiles e não voltou a poder jogar.
Acabava ali o futebolista Carlos Duarte, um dos maiores no renascimento que o
FC Porto ensaiou na década de 50.
Para a história em número, eis a sua ficha:
= Na equipa do FC Porto em 1964 (Na foto, a contar de cima e a partir da esquerda: Otto Glória (treinador), Rolando, Joaquim Jorge, Paula, Alberto Festa, Almeida e Américo; Carlos Duarte, Valdir, Azumir, Custódio Pinto e Hernâni.)
Carlos Duarte nasceu no dia 25 de Março de 1933 em Calulo, Nova
Lisboa, Angola.
Representou o Futebol Clube do Porto durante as épocas de
1952/53 até 1963/64.
A sua estreia com a camisola dos Dragões foi na Póvoa, em jogo de início de época (segundo o livro que lhe foi dedicado na coleção "Idolos do Desporto"), tendo marcado inclusive um golo; e para o Campeonato Nacional (conforme regista o blog "Estrelas do FCP") aconteceu no dia 12
de Outubro de 1952 no Campo dos Arcos em Setúbal, onde os portistas visitaram o
Vitória F.C., tendo os sadinos vencido por 3-0, num jogo a contar para a 3ª
jornada do Campeonato Nacional da época de 1952/53.
Em 1955/56 sob o comando técnico de Dorival Yustrich, venceu
pela primeira vez o Campeonato Nacional; e também a Taça de Portugal ao derrotar
o S.C. União Torreense por 2-0 na Final.
Na época de 1956/57 o F.C. Porto estreou-se nas competições
europeias ao defrontar o Athletic Club Bilbao na 1ª eliminatória da Taça dos
Clubes Campeões Europeus, com Carlos Duarte a ser um dos jogadores titulares
que alinharam no jogo da 2ª mão disputado no Estádio de San Mamés.
= Duas poses de grande significado: No dia da vitória da
primeira Taça de Portugal ganha pelo FC Porto, no final do jogo em que o Porto
venceu por 2-0 o Torriense, em 1956, festejando toda a equipa já com a taça; e também
no final da festa de consagração dos Campeões de 1959, mostrando Carlos Duarte satisfação
natural por ter recebido a faixa correspondente, junto com os colegas Hernâni e
Arcanjo.
Venceu ainda a segunda Taça de Portugal na época de 1957/58
com um triunfo sobre o S.L. Benfica por 1-0.
Na temporada de 1958/59 nova vitória no Campeonato Nacional
já com Bela Guttman como treinador.
Conquistou também a Taça Associação de Futebol do Porto por
8 ocasiões.
Carlos Duarte foi um extremo-direito veloz e de elevada
qualidade que possuía um drible curto mas sempre com os olhos postos na baliza.
Terminou a sua ligação aos Dragões no final da temporada de
1963/64, nas 12 épocas em que esteve nas Antas disputou 228 partidas oficiais,
marcou 98 golos e conquistou 12 Títulos.
Depois de deixar de jogar no F.C. Porto alinhou ainda no R.C. Deportivo
Coruña e depois no Leixões S.C. onde sofreu uma grave lesão.
Carlos Duarte representou também a Seleção Nacional por 8
ocasiões.
Em 2003 foi justamente homenageado pelo Futebol Clube do
Porto com o Dragão d´Ouro da categoria de Recordação, como homenagem respetiva
na atribuição dos galardões máximos do clube nesse ano.» Troféu que recebeu em sessão solene de 2004 (das mãos do dirigente Álvaro Pinto, presidente do Conselho Cultural do FCP)
Palmarés
2 Campeonatos Nacionais da 1ª Divisão (Portugal)
2 Taças de Portugal
8 Taças Associação de Futebol do Porto
- tudo pelo FC Porto.
- tudo pelo FC Porto.
Depois de ter acabado a carreira, por vezes aparecia pelas
Antas, sobretudo quando havia treinos no campo número dois, exterior ao antigo Estádio das
Antas, ocasião em que os habituais mirones e alguns dos adeptos fiéis
aproveitavam para falar com ele sobre o F.C. Porto.
O que era natural, sendo Carlos Duarte figura pública e uma
das Lendas do FC Porto. A pontos de em seu tempo, sabendo-se como perante a
imprensa e editoras lisboetas, quase só contarem atletas de Lisboa e arredores,
quer de futebol como de outras modalidades, Carlos Duarte ainda ter sido então dos poucos
valores do FC Porto (perante o volume de nomes de outros clubes) que foram incluídos na coleção Ídolos do Desporto, com o livro que em 1957 lhe foi dedicado:
"O extremo direito que Monteiro da Costa descobriu para o F. C. do
Porto". Assim intitulado, em sumário momentâneo, por na altura haver
vários avançados dentro do FC Porto para o mesmo lugar e ter havido uma boa
opção, a contento de todos e da história daí resultante. Tendo ficado na
memória da geração de seu tempo e na transmissão dos tempos a ala direita, qual
ala dos namorados da batalha de Aljubarrota, formada por Virgílio, Carlos
Duarte e Hernâni, assim como o grupo forte da equipa em que Carlos Duarte jogou
com Teixeira, Monteiro da Costa e Jaburu, mais o célebre quinteto avançado
composto por Carlos Duarte, Hernâni, Noé, Teixeira e Perdigão.
Carlos Duarte está na história do FC Porto e do futebol
português. Sabendo-se por isso muito a seu respeito, como ele até ficou
admirado por ainda acontecer, conforme deixou escapar na entrevista ao Porto Canal,
em modo engraçado e de ternura imensa. Com admiração do universo portista, sendo
uma honra ainda se poder ver grandes valores desses tempos heroicos, como felizmente restam Carlos Duarte e Américo, por exemplo. Com direito a constar na Memória
Portista.
Armando Pinto
((( Clicar sobre as imagens, para ampliar )))
O Rui Cerqueira, segundo facilmente se percebe, referiu a sugestão dada por este artigo na entrevista de final de ano dada hoje ao Porto canal.
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