Reconstituição Histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Reconstituição histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Criar é fazer existir, dar vida. Recriar é reconstituir. Como a criação e existência deste blogue tende a que tenha vida perene tudo o que eleva a alma portista. E ao recriar-se memórias procuramos fazer algo para que se não esqueça a história, procurando que seja reavivado o facto de terem existido valores memorávais dignos de registo; tal como se cumpra a finalidade de obtenção glorificadora, que levou a haver pessoas vencedoras, campeões conquistadores de justas vitórias, quais acontecimentos merecedores de evocação histórica.

A. P.

segunda-feira, 13 de março de 2023

António Teixeira – marcador do último e decisivo golo da vitória no Campeonato Nacional de futebol do caso-Calabote, ganho contra o "Sistema"... em 1959 !

Anónio Teixeira ( 1930-2003)

Março foi mês de decisão final do Campeonato Nacional de futebol em 1959. Quando nesse tempo ainda o Campeonato da 1.ª Divisão Nacional acabava ao início da Primavera, sendo que depois se passavam a desenrolar as eliminatórias da Taça de Portugal, então ainda assim e todas a duas mãos de seguida até à final, com a chamada festa já no verão (enquanto só à chegada dos anos 1960 passaram os jogos das eliminatórias da Taça a ser intercalados com os do Campeonato). Acontecendo então em Março do último ano dos anos 50 a decisão da prova mais importante do futebol português.

= António Teixeira em cromos - originais de coleção do autor destas lembranças...

Março marçagão, com manhãs de inverno e tardes de verão… e, tal como a figuração desse velho ditado, numa característica desta época do ano, também é assim na visão histórica perante certas ocorrências. Transpondo ao horizonte panorâmico da história do desporto português e do futebol em particular, como desporto-rei.


 Ora em 1959 (depois de em finais de Fevereiro o FC Porto ter ido empatar a casa do Benfica, onde até chegou a estar em vantagem com 1 golo de Teixeira, mas acabando por ficar 1-1, na Luz) o mês de Março começou logo, já na reta final das jornadas do campeonato, com o FC Porto no dia 1 a golear o Belenenses, nas Antas, por 7-0. Assistia-se então ao primeiro ‘hat-trick’ de Noé (a juntar aos 2 golos de Hernâni e 1 de Teixeira e Carlos Duarte) mais a uma aproximação ao então líder do Campeonato Nacional, o Benfica, que empatava em Setúbal (2-2) e ficava com apenas dois pontos de vantagem (sendo que as vitórias correspondiam nesse tempo a 2 pontos e os empates a 1). Duas rondas depois, a vitória do Sporting (2-1) sobre o Benfica deixava os Dragões no primeiro lugar, devido ao melhor saldo entre golos marcados e sofridos. Após vitórias do FC Porto, primeiro em casa do Barreirense por 1-2 (com 2 golos de Teixeira) e depois nas Antas diante do Braga por 3-2 (com golos de Carlos Duarte, Hernâni e Virgílio). A decisão do título ficou então reservada para a última jornada, já mais para o fim do mesmo mês, no dia 22, numa épica jornada final que faz parte da história: no dia em que o árbitro Calabote foi empurrando os lisboetas para a goleada (7-1), mas o 3-0 dos portistas em Torres Vedras permitiu-lhes festejar uma conquista tão sofrida quanto justíssima. Acontecendo isso assim porque o último golo do FC Porto diante do Torreense aconteceu mesmo ao minuto 90 e lá em Lisboa, no estádio da Luz, apesar do árbitro, além de só lhe ter faltado marcar ele os golos, ter prolongado o jogo por muitos minutos, fazendo com que o resto do país ficasse à espera, o certo é que, pensando que o FC Porto apenas tinha feito dois golos...


... o árbitro Inocêncio Calabote acabou por fim o jogo Benfica-Cuf com o resultado em 7-1, ficando o Benfica assim ironicamente a um golo de diferença abaixo do FC Porto, que fez toda a diferença... por esse mesmo último golo portista ter sido assim tardio, em tempo que as notícias chegavam mais pelos relatos radiofónicos. Tendo esse golo sido apontado pelo avançado do FC Porto António Teixeira, mesmo sobre a hora final.

O tema, do célebre “caso Calabote” (que é paradigma das manobras de bastidores que estão nos anais perpetrados pelos árbitros do sistema futebolístico luso), dá para evocar esse Título Nacional que ficará inesquecivelmente associado extensivamente a alguns acontecimentos relacionados. Como o facto de Teixeira ter marcado esse decisivo golo, a juntar aos anteriores dois, de Perdigão e Noé, obtidos em autêntica luta contra o ferrolho do adversário, que estava a ser treinado nesse jogo pelo treinador-adjunto do Benfica. Coisas do diabo... em Portugal, no Portugal centralista e centralissimamente diabólico!


= Livro "O CASO CALABOTE", de JOÃO QUEIROZ - Publicado pela editora QuidNovi em 2009.

Assim sendo, merece pois justo preito esse António Teixeira autor do 3º golo: António Dias Teixeira de seu nome completo, nascido em Lisboa a 16 de Setembro de 1930, depois residente na Maia, arredores da cidade do Porto, e por fim falecido no Porto a 17 de outubro de 2003. Teixeira que havia conquistado o seu primeiro Campeonato Nacional da 1ª Divisão na época de 1949/50 ao serviço do SL Benfica, onde estava mais como reservista, pois não passava ali de um mero suplente que apenas alinhou pela equipa principal em 3 partidas nessa temporada. Tendo depois rumado a Guimarães, onde alinhou uma época, seguindo-se as mais importantes conquistas já no FC Porto, onde conquistou dois títulos de Campeão Nacional: o primeiro na época de 1955/56 sob a batuta do técnico brasileiro Dorival Yustrich (tendo António Teixeira alinhado em 22 partidas e apontado 13 golos, consagrando-se como o segundo melhor marcador da formação azul e branca)...

... e o segundo conquistado com a camisola do FC Porto na longínqua época de 1958/59 sob o comando do treinador Bela Guttman, que substituiu a meio da temporada Otto Bumbel. 

Aí António Teixeira foi decisivo para a conquista deste título com os seus 25 golos apontados ao longo da prova, sagrando-se o melhor marcador do FC Porto e o segundo nas contas oficiais a nível nacional – apenas não declarado oficialmente o melhor do Campeonato por habilidade desonesta dos jornalistas responsáveis do jornal A Bola, porque como entidade gestora do troféu respetivo (Bola de Prata) os responsáveis desse jornal, conhecido por ser conotado com o Benfica, fizeram com que ficasse com maior número de golos o benfiquista José Aguas.

Porque a história se não pode apagar, cá é relembrado isso. 

= Bola de ouro entregue a António Teixeira... já que o jornal A Bola lhe não atribuiu a Bola de Prata. (Ao lado a coluna em bronze prateado, alusiva ao Titulo Nacional de 1958/59)!

Assim, vem ao caso o troféu Bola de Prata com que esse jornal desportivo lisboeta distingue anualmente os futebolistas com mais golos no campeonato de cada época, embora no caso segundo o que o pessoal desse jornal atribui como golos marcados aos jogadores. Ficando para a história, entre outros casos, alguns bem posteriores, o processo passado com a subtração de golos a António Teixeira, em 1959, tendo o troféu por conseguinte ido parar às mãos do benfiquista José Águas… tudo em águas idênticas, da mesma cor. De tal forma que no Porto, como protesto e reconhecimento particular, foi entregue publicamente depois, ao António Teixeira, uma outra bola mas de ouro, em cerimónia ocorrida no dia da entrega das faixas aos campeões de 1958/59, nas Antas.

= Jogo de imposição das faixas aos Campeões Nacionais de 1958/1959 e homenagem a José Maria Pedroto e a António Teixeira. Pose de conjunto, estando todos com as faixas de campeões nacionais e os dois homenageados com camisola de jogo. Antes do início do encontro de cartaz dessa jornada festiva no Estádio das Antas (FC Porto 4 - 1 Furth EV - da República Federal da Alemanha). Em cima da esquerda para a direita: Dr. Paulo Pombo (Presidente), Virgílio Mendes, Lito, Carlos Alberto, Américo, Carlos Duarte, Luís Roberto, Monteiro da Costa, Béla Guttmann (treinador), Mário Amaral (diretor), Sarmento e Osvaldo Silva. Em baixo, pela mesma ordem: Teixeira, Morais, Gastão, Noé, Acúrcio, Perdigão e Pedroto. Faltam na foto (por se encontrarem na ocasião em trabalhos de seleções militar e B), entre outros dos também campeões, Hernâni, Miguel Arcanjo, Osvaldo Cambalacho, Pinho e Barbosa.=

Faixa de Campeão Nacional 1958/1959 de António Teixeira

Ora, nesse dia festivo da entrega das faixas de campeões de 1959, a que se juntou uma festa de homenagem a José Maria Pedroto, houve acréscimo também de uma outra homenagem, essa de reconhecimento e desagravo a António Teixeira, sendo então também entregue ao Teixeira uma bola de ouro… com inscrição relativa ao facto, contendo referência aos golos, mais o resultado de todos os jogos do campeonato gravados; e, como foi entregue a todos, também uma coluna em bronze prateado com o nome de todo o plantel campeão. Além de um ramo de flores que era para ser entregue pela filha do Teixeira, mas (segundo conta a própria, D. Maria Manuela Santos), estando lá no estádio, bem pequenina de 6 anos, teve de ser substituída para o efeito, por ter tido medo aos foguetes deitados na ocasião e desatado a chorar.


Claro que isso não passou em branco na opinião pública por esse tempo, embora quase em surdina como era quase fatídico à época. Mas sem ficar esquecido, a pontos de até anos mais tarde ter levado que no jornal A Bola dessem desculpas de mau pagador – como se pode ler na caixa recortada do mesmo periódico afeto ao Benfica.

Ora, dentro deste ambiente, na oportunidade do mês da famosa ocorrência dos 3-0 conseguidos pelo FC Porto em Torres Vedras, autenticamente contra o sistema do desporto português, ou seja contra tudo e todos os que são contra-o-Porto e a favor dos clubes de Lisboa, é pois uma boa oportunidade de evocar António Teixeira, o autor do 3º golo desse jogo épico, que foi uma epopeia dramática e por fim efusiva, no resultado do bem ter conseguido vencer o mal.

Como tal, foi realizada e está patente durante o mês de março, até princípios de abril, neste ano de 2023, uma exposição dedicada a António Teixeira, na terra que o acolheu e a que se afeiçoou, onde ficou a residir e viveu com a sua família. Facto concretizado através dessa Exposição na Maia – com lugar na Galeria Comercial do Maia Jardim, a Exposição intitulada "António Teixeira - Futebol, Golos e a Maia". 

Em ideia que é explicada nas publicações oficiais do Município da Maia, assim justificadamente:

«No seguimento da divulgação de personalidades e factos da história maiata pelo Gabinete de História da Câmara Municipal da Maia, vamos conhecer António Dias Teixeira, através de uma exposição patente entre 6 de março e 2 de abril na Galeria Comercial do Maia Jardim.

António Teixeira foi um jogador de futebol que se destacou com as cores do Futebol Clube do Porto. Foi o autor do golo em Torres Vedras que tornou os azuis e brancos campeões no último minuto, no célebre campeonato do caso Calabote.

Em meados dos anos 50 passou a residir na Maia com a família e aí ganhou um gosto especial por esta terra.»

Nessa mesma exposição, como ilustração, estão imagens de galardões e fotografias. Na impossibilidade de exposição dos diversos troféus recebidos pelo homenageado futebolista, nomeadamente os que lhe foram outorgados aquando da entrega das faixas de campeões em 1959, aqui ficam as imagens desse reconhecimento.

Bem, como, além da parte visual, consta na mesma colocação também alguma informação, em jeito de reforço, com dados curriculares e frases explicativas de pormenores da sua carreira.

= Foto de António Teixeira a presenciar jogada e remate do colega de equipa Jaburu - conforme descreve a legenda escrita por trás da foto original. Vendo-se o goleador brasileiro a  marcar o 2.º golo portista no FC Porto, 3 - CUF, 1, nas Antas, em Janeiro de 1956.

Dessa mesma exposição, juntam-se assim alguns informes, por via de colaboração a este artigo prestada pelo amigo e historiador maiato Rui Teles de Menezes, Técnico Superior do Gabinete de História, curador da mesma exposição e que amavelmente facultou diverso material fotográfico, incluindo fotografias que a filha do António Teixeira partilhou com ele, mais texto narrativo escrito também pela filha de Teixeira, mais estatística completa dele, recolhida e corrigida pelo mesmo Rui Teles de Menezes (atendendo a que a da FPF está incompleta) – algo que se agradece e saúda, aqui.

= Revista/Livro de bolso da coleção "Ídolos do Desporto" dedicado em 1957 a  Teixeira 

~~~ ***** ~~~

Descrição biográfica de António Teixeira, escrita pela filha:

 « O Homem e a Terra (António Teixeira e a Maia)

O homem António Dias Teixeira, reconhecido jogador e treinador de futebol, nascido em Lisboa, no Bairro do Alto do Pina, em 16.09.1930.

A Terra a Maia, que adotou quando se transferiu para o Futebol Clube do Porto.

O seu percurso futebolístico, enquanto jogador de futebol, é bem conhecido por muitos. Iniciou-se no Benfica onde foi Campeão Nacional de Juniores por duas vezes e Campeão de Seniores; veio para o Vitória de Guimarães onde jogou um ano, tendo de seguida integrado a equipa do F.C. Porto durante 10 anos.

Foi internacional, jogando pelas Seleções Nacionais A e B.

Ainda quando jogador do F.C. Porto, colaborou na preparação da equipa de juniores do F.C. da Maia no ano de 1957, disputando a final do campeonato regional com o Leça F.C., empatando no primeiro jogo 2-2 e no jogo de desempate perdeu 6-1. Esta foi na realidade a sua primeira experiência como treinador.

Para acompanhar os jogos, que se disputavam aos domingos de manhã, e estando em estágio, pedia para sair para ir à missa.

A desilusão deste segundo jogo de desempate, contava ele, que veio a perceber algum tempo mais tarde quando encontrou num estabelecimento comercial na cidade do Porto, pertencente a Archer de Carvalho diretor do Leça F.C., o árbitro do mesmo (Justino Pinto), tendo exclamado: “Ah! Agora já percebo o que se passou naquele jogo”.

Face à sua excelente carreira como futebolista, enveredou naturalmente, pela carreira de treinador de futebol tendo treinado equipas como o Braga, o Beira-Mar, o Leixões (onde orientou os célebres bebés), o Tirsense, o Varzim, o F.C. Porto, o Boavista, o Marítimo, entre outras e também o F. C. da Maia na época de 1987.

Do seu espólio faz parte uma cigarreira em prata oferecida por portistas de Águas Santas.

A cidade da Maia foi, aliás, o seu local de eleição para viver a maior parte da sua vida.

A primeira habitação foi na Rua de S. Romão. No entanto, a residência à qual corresponde a maior parte do tempo vivido na cidade maiata era na Rua da Estação, 172. Casa construída de raiz por Joaquim Vicente e projetada por Santos Leite.

As minhas memórias passam mais pela lembrança de um pai. Um pai preocupado, amigo, cuidadoso que nos trazia, a mim, às minhas três irmãs e à minha mãe, lembranças bonitas dos países por onde o futebol o levava. Um Homem com valores, com princípios, com ética e também exigente e com regras que sempre nos ensinou.

A sua última morada é também na Maia onde repousa igualmente com a esposa D. Olga Teixeira e uma das filhas mais novas, Rosa Maria (conhecida por todos como Mimi).

São muitas as saudades pois em outubro próximo faz já 20 anos que partiu.

Como diz uma amiga minha escritora, “Só não tem saudades, quem nunca foi feliz”. (Piedade, S.,(2021). Três mulheres no Beiral).

Manuela Teixeira

(Fev. 2023)»

= Foto de António Teixeira com a filha, em pose conjunta com o colega de equipa Jaburú, em Arouca - conforme reporta a legenda escrita por trás da foto original.

E ainda, como reforço suplementar, « vindo desse "insuspeito jornal A Bola", a descrição de dois episódios relacionados com o Teixeira e o Calabote…»

«Polémica no castigo de Inocêncio para o inocente Teixeira

No início do ano de 1958, António Teixeira viu-se envolvido numa questão resolvida de forma, digamos peculiar, e também ela descrita no insuspeito jornal A Bola. Aqui ficam os relatos dos acontecimentos. Os leitores que tirem as suas conclusões.

Foram de emoção os minutos que antecederam na Luz, o Benfica – F.P. Porto. Mas (para variar…) Inocêncio Calabote pôs mascarra na tarde, ao expulsar o portista António Teixeira, num lance que suscitou dúvidas, muitas dúvidas. 

Espantado, com as lágrimas bailando-lhe nos olhos, ciciou: «Sinceramente, não sei porque fui expulso. A jogada foi viril, mas não bati em ninguém. O Serra cuspiu-me na cara e eu, nesse instante, empurrei-o, perguntando-lhe apenas se isso se fazia. Claro que fiquei indignado, mas não bati em ninguém, nem sequer esbocei essa intenção.» Replicaria Calabote: «Teixeira foi expulso porque bateu na cara do adversário.» Isso mesmo colocou no seu relatório, mas como fora falta que ninguém entrevira no campo…

Se injusta fora a expulsão de Teixeira, muito mais foi o seu castigo: três jogos de suspensão. Sentindo-se agravados, vítimas de uma endrómina qualquer, os dirigentes do F.C. Porto solicitaram à FPF a relevação da pena - ou, no mínimo, a sua suspensão até conclusão do inquérito. Debalde. Que não, que Teixeira teria de cumprir os três jogos. Sem mais. A DGD disse o mesmo. Demonstraram ambas, sem sequer cuidar de guardar as aparências, que agiam com dois pesos e duas medidas, até porque antes vários clubes lograram efeitos suspensivos em processos semelhantes de penalizações de atletas seus.

Em meados de março, com o Campeonato praticamente decidido, a FPF lançou, enfim, comunicado a propósito do «caso» Teixeira. Em vez de escalorar o pó da injustiça ou o lixo da artimanha, o documento fez pasmar muita gente – uns de assombro, outros de incredulidade. Que sim, Teixeira fora mesmo mal expulso durante o jogo com o Benfica, que, por isso, fora injusta e ilegalmente obrigado a um castigo de que os dirigentes do F.C. Porto logo recorreram, pedindo baldamente o efeito suspensivo que o regulamento da Federação estabelece e que tem sido concedido a todos os outros que o invocam, mas decidira passar uma esponja sobre tudo. Mais: ao fim de dois meses de inquérito (dois meses!) confirmava-se o que milhares de espectadores do Estádio da Luz já sabiam: que Teixeira nada fez que merecesse o castigo de expulsão – mas que o F.C. Porto tomasse tudo à conta de lamentável incidente ou partida do destino! «O F.C. Porto não ficará por aqui. Sente-se injustamente tratado e prejudicado – e irá até onde possa encontrar aquilo que procurou, neste caso, desde o início: justiça.» Isso se bradou através do jornal do clube, com o Campeonato à beira do fim.

…Como era natural naquele tempo, a FPF fez tábua rasa do requerimento do F.C. Porto e homologou o título ao Sporting*. Depois de ela própria ter admitido que Teixeira fora injustamente castigado.

Continuava a viver-se, assim, no reino dos Calabotes…

* Sporting e F.C. Porto terminaram o Campeonato em igualdade pontual com 43 pontos, sagrando-se campeã a equipa lisboeta.»

In Glória e Vida de três Gigantes, Texto de António Simões, 50 anos Jornal A Bola, 1995

«O mais dramático dos epílogos dos Campeonatos Nacionais

Foi um golo só e bastou para escrever o mais dramático dos epílogos de Campeonatos Nacionais e Futebol, depois de 90 minutos terríveis, sofridos a par, em Torres Vedras e na Luz, onde F.C. Porto e Benfica se mediam indirectamente.

Precisavam os benfiquistas de marcar mais quatro golos que os portistas marcassem se ambos vencessem os seus jogos perante a CUF e o Torreense. Ao intervalo o F.C. Porto vencia por 1-0, ganhava o Benfica por 3-0. A dois minutos do final do jogo no Campo das Covas fez o F.C. Porto o segundo golo, para euforia dos adeptos, que já descriam porque no outro lado, vencia o Benfica por 6-1. Marcaram os portistas e de rajada marcaram os benfiquistas: 7-1. E, a meio do minuto 90, Teixeira, com esse golo que haveria de ficar histórico, colocou o F.C. Porto a vencer por 3-0 e de novo em vantagem. Tremularam, de novo, bandeiras azuis e brancas nas Covas, na Luz pairou um silêncio de dúvida e de desolação.

O jogo de Torres acabara… Houve invasão de campo, gente que tentava abraçar os seus heróis, camisolas rasgadas na euforia e eles, os jogadores, desesperadamente à espera de um sinal, com o sonho suspenso, fugindo, suplicando que os deixassem ouvir o que se ia passando na Luz naqueles minutos que se arrastavam e pareciam séculos. Nas bancadas, uma mole de gente permanecia, quieta, de mãos enclavinhadas, olhos marejados de lágrimas, respiração opressa – na tortura da dúvida…

Em Lisboa ainda havia luta e havia sonho, por o jogo ter imoralmente começado oito minutos mais tarde que a hora prevista, com a complacência de… Inocêncio Calabote – que, depois de já ter marcado três penaltis a favor do Benfica, foi prolongando o tempo do jogo sem nada que o justificasse…

…Estranhamente Calabote não marcou o quarto penalti…

Doze minutos tiveram de esperar os portistas pelo desfecho. Os corações arfavam, as gotas de suor (ou de impaciência) perolavam pelos rostos dos jogadores, que se sentavam no chão nunca mais entreviam o tal sinal, as bandeiras esvoaçando ao vento, os gritos Porto! Porto! Porto! Ressoavam como tambores de vitória ainda por anunciar…

Enfim, a explosão de alegria, Teixeira, que marcara o golo que valeria o título, levantou-se e, como uma sombra densa que se empasta, como uma estátua de um herói acabado de sê-lo, ergueu os olhos para o céu e murmurou: «Deus encarregou-me da dar o Campeonato à melhor equipa.»

…Na Luz, um rodopio no posto médico! Com dois casos graves: o de uma senhora que sofreu congestão cerebral e o de um rapazito de 13 anos que desfaleceu, acusando sintomas de meningite, quando soube que o campeão fora o F.C. Porto. E revolta na cabine da CUF – Cândido Tavares, o seu treinador, que pelo Benfica até já fora campeão não se conformava: «Só estranhei que Inocêncio Calabote não tivesse arranjado uma quarta grande penalidade nos últimos minutos. Não foi árbitro, não foi nada…»

Em outubro, sem grandes explicações, a FPF decidiu irradiar Inocêncio Calabote.

= In "Glória e Vida de três Gigantes", Texto de António Simões, 50 anos Jornal A Bola, 1995

 ~~~ ***** ~~~

António Teixeira, depois de terminada a sua carreira de futebolista, enveredou pela carreira de treinador de futebol, também. Tendo inclusive chegado a estar à frente da equipa principal do FC Porto.

= Plantel do FC Porto, com António Teixeira como treinador-adjunto, em 1970/1971.

- Então como treinador adjunto, de Tommy Doc...

= Em baixo, da esquerda para a direita: Chico Gordo, Bené, Abel, Seninho, Manuel Duarte, Nóbrega, Custódio Pinto, Ricardo e Lemos; em cima, da esq. para a d.ta: Tommy Docherty, Rui, Armando Manhiça, Rolando, Valdemar, Vieira Nunes, Pavão, Albano, Gualter, Helder Ernesto, Eduardo Gomes, Armando Silva e António Teixeira. = 

E depois como treinador principal


= Em cima, da esquerda para a direita - Vitor Hugo (massagista), Rui, Vieira Nunes, Valdemar, Manhiça, Pavão, Gualter, Armando e António Teixeira (treinador); em baixo - Abel, Lemos, Custódio Pinto, Bené, Nóbrega e Chico Gordo. =

De todo esse percurso, como jogador e treinador, dão conta os números e dados de seu Curriculum Vitae: 


Registos do Currículo Desportivo de António Teixeira

Como jogador das Seleções Nacionais

Internacionalizações

Jogos

Minutos Jogados

Golos Marcados

Futebol Masc. Seleção A

7

498

1

Futebol Masc. Seleção B

2

180

1

 Jogos:

Data

Local

Jogo

Resultado

Golo

28 JUN 1959

Porto, Antas

Portugal-DDR

3-2

 

21 JUN 1959

Berlin, Ulbricht Stadion

DDR- Portugal

0-2

 

16 MAI 1959

Geneve, Les Charmilles

Suíça-Portugal

4-3

 

13 ABR 1958

Lisboa, Estádio Nacional

Portugal B-Espanha

0-0

 

22 DEZ 1957

Milão, Giuseppe Meazza

Itália-Portugal

0-3

 

16 JUN 1957

Pacaembu, S. Paulo

Brasil - Portugal

3-0

 

11 JUN 1957

Rio de Janeiro, Maracanã

Brasil-Portugal

2-1

 

26 MAI 1957

Lisboa, Estádio Nacional

Portugal-Itália

3-0

1

24 MAR 1957

Lisboa, Estádio Nacional

França-Portugal B

1-1

1


Como Jogador de clubes:

Época                Clube                   Jogos      Golos marcados

1964/65             SC Braga             19           10

1963/64             SC Braga             15           24

1961/62             FC Porto              2             0

1960/61             FC Porto              26           14

1959/60             FC Porto              28           10

1958/59             FC Porto              32           33

1957/58             FC Porto              22           15

1956/57             FC Porto              15           16

1955/56             FC Porto              27           22

1954/55             FC Porto              20           12

1953/54             FC Porto              20           27

1952/53             FC Porto              28           15

1951/52             Vitória SC            25           17

1950/51             Benfica                4              2

1949/50             Benfica                3             3

1948/49             Benfica  [Jun.A  / Sub 19]                       

Palmarés: Campeão Nacional 1949/50 (pelo SL Benfica); 1955/56 e 1958/59; Taça de Portugal 1955/56 e 1957/58 (pelo FC Porto)


Como Treinador:

Época    –   Clube – Jogos / Vitórias

1985/86 – Leixões – 2 /  0

1982/83 – Marítimo – 14 /  3

1981/82 – Varzim –  35  /  20

1980/81 –  Académico de Viseu –  - /   -

              – Boavista   – 19 /  6

1979/80 – Varzim – 39 / 13

1978/79 – Varzim – 31 /  11

1977/78 – Varzim – 36 / 14

1976/77 – Varzim –  32 /  11

1975/76 – Varzim – 1 /  1

1973/74 – Braga – 10 / 4

              – Leixões – 26 / 7

1972/73 – Leixões – 34 /13

1971/72 – Boavista –7 / 1

              – FC Porto – 9 /3

1970/71 – FC Porto – 29 /18

1969/70 – FC Porto  –   - /  -

              –  Leixões – 26 /7

1967/68 – Leixões – 28 / 11

1966/67 – Tirsense –  - / -

1964/65 – SC Braga – 36 /14

1963/64 – SC Braga – 12 /10

Conquistas: Campeão Nacional 2ª Divisão 1963-64 (com o Sp. Braga); Campeão da Zona Norte, 2ª Divisão 1966-67 (com o Tirsense)

 APÊNDICES

Publicações históricas sobre António Teixeira, de quando chegou ao FC Poto e depois quando era já era consagrado Campeão Nacional.

- Do livro “Colecção FIGURAS DO FUTEBOL NACIONAL”, referente à época de 1952/53 e publicado em 1953:


- E da revista "Cavaleiro Andante", Suplemento – DESPORTOS, de 1959:


Também ainda, já de trabalho posterior, obra de Rodrigues Teles, lavra de 1968, entre biografias acompanhantes dos quadros então colocados na chamada Galeria dos Internacionais do FC Porto, no Museu do FC Porto / Sala Afonso Pinto de Magalhães, onde esteve  na antiga sede do clube à Praça do Município (ao lado do edifício da Câmara Municipal, hoje Praça Humberto Delgado e o edifício transformado em hotel):

Armando Pinto

((( Clicar sobre as imagens )))

2 comentários:

  1. Um espetáculo de artigo! Super bem documentado e escrito. Todos nós portistas lhe devemos a si, Armando Pinto, toda a reverência e agradecimento... não há palavras para a sua diligência e amor ao Porto!... obrigada

    ResponderEliminar
  2. Viva. Agradeço os elogios e toda a apreciação. Apenas um pormenor; Não costumo publicar comentários anónimos, mas publiquei este por ver que é com boa intenção. Mas seria bom pelo menos no fim do comentário colocar o nome, para sabermos quem é. Pode ser? Abraço.

    ResponderEliminar