Estava-se na época futebolística de 1964/1965, com equipa principal do FC Porto orientada pelo treinador brasileiro Otto Glória, que não estava a ter grandes resultados à frente da equipa portista, ao invés do que fizera nas equipas de Lisboa, naturalmente por falta da proteção tida lá na capital do império... Chegando assim a 22ª Jornada do Campeonato da 1ª Divisão Nacional dessa temporada, com a vinda às Antas do Benfica, a 21 de MARÇO de 1965.
Era eu já um adepto bem ciente do que gostava, como Portista consciente!
Pois esse foi pessoalmente, então, o primeiro “Clássico” inesquecível, como adepto Portista, o meu primeiro clássico de jogos entre o FC Porto e o Benfica. Cuja memória recua a março de 1965, quando o FC Porto derrotou o Benfica de Eusébio e C.ª por 1-0, nas Antas, com um golo de Naftal!
Nessa era, a meio da década dos anos sessenta, a distância de um concelho do interior do Distrito do Porto até à cidade Invicta era então mesmo algo longínqua, perante as estradas nacionais desse tempo e meios de transporte mais usuais, havendo ainda poucos automóveis e normalmente em mãos de famílias de melhores posses, etc. e tal… Restando ao povo comum as viagens em transportes públicos, ao tempo nas chamadas camionetas de carreira, e mesmo assim sabe Deus… Querendo com isto dizer que a uma criança numa terra um pouco distante do Porto, já a seguir atentamente tudo do FC Porto e especialmente o futebol (pois o ciclismo ainda ia vendo de vez em quando a passar perto ou mesmo à beira), restava seguir os jogos à distância, a ouvir os relatos pelo rádio. Mas de quando em vez o pessoal adulto resolvia ir mesmo aos jogos, fretando para o efeito uma camioneta, em modo de viagem conjunta para ficar mais barato a todos e todos terem transporte, indo então em excursão quantos pudessem pagar para ir. Sendo que então eu também fui, junto com meus irmãos mais velhos. Estava eu com 10 anos de idade, em idade escolar, precisamente no último ano do ensino primário, ou seja andava na 4.ª Classe, para daí a meses ir a exame final desse grau de ensino. E então, naquele domingo meio cinzento de março, assim no ambiente mas bem risonho dentro de mim, lá fomos de excursão para ver o Porto! Com a cabeça a imaginar tudo o que esperava, ia eu de olhos a ver tudo mas sempre com o sentido no Porto, embora com alguma tristeza por saber que não ia ver o Américo, o meu grande ídolo nesse tempo de infância, porque não poderia vê-lo a defender por ele estar aleijado, como dizíamos, visto ter-se lesionado precisamente no jogo da 1ª volta em casa do Benfica, quando os gajos daquele clube de camisolas de cor parola o aleijaram, de forma a poderem então ganhar à vontade… Depois, o que interessou foi ver o Porto ganhar, embora tivesse tido a surpresa de não ver entrar em campo o Pinto, outro meu ídolo, o “Cabecinha de Diamante” Custódio Pinto, que não jogou (falando-se que foi por estar na tropa...). Contudo, com os que jogaram, o Porto acabou por ganhar bem, como foi, naquela tarde chuvosa de domingo, pelo que fui podendo ver a espreitar entre guarda-chuvas abertos durante bátegas caídas, e mais à vontade sempre que havia alvazelhas e podia ver as lindas camisolas azuis e brancas, com aquelas duas listas azuis que me encantavam, a andar pelo terreno de jogo.
O Benfica ia de ter perdido em Espanha com o Real Madrid, ainda que tendo passado a eliminatória dessa fase da Taça dos Campeões, mas derrotado afinal no jogo antecedente da viagem às Antas. E isso contava na cabeça de muitos, como era tema das conversas. Enquanto o FC Porto no jogo anterior tinha ido vencer a Lisboa, derrotando no Restelo o Belenenses, estando assim a equipa animada e já acostumada a Rui na baliza, sendo à sua frente o setor defensivo usual com Festa, Almeida, Paula, Atraca e Rolando. Ao passo que lá para a frente pontificaram Carlos Manuel e Carlos Batista no miolo do campo. E, de permeio ficavam para sempre na retina as arrancadas de Jaime de um lado, e as fintas do Nóbrega do outro, em habilidade a ficarem com a bola para os tipos do outro lado nem verem o padeiro… Bem como, para dar que fazer ao guarda-redes adversário, estava Naftal como artilheiro, ele que marcara o golo no Restelo e também nesse Porto-Benfica foi quem atirou para o fundo das redes, como vi e mal vi saltei de contente…
De tudo isso depois registei em casa, no meu arquivo que já ia fazendo (em páginas de caderno escolar furadas para meter na pasta), uma resenha do encontro... em letra infantil, naturalmente, e em narrativa com olhos de pequeno mas apaixonado adepto. Mais ilustrações de imagens recortadas de jornais. Como se pode recordar, na recordação guardada.
Com memórias dessas e destas aos molhos, o melhor é recordar o jogo deitando olhos ao que à época foi publicado no jornal O Porto:
Armando Pinto
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