Passam agora 60 anos que Portugal foi pela primeira vez
campeão internacional em futebol. Antes havia sido no hóquei em patins que o ego
lusitano se ufanara já duma conquista de âmbito europeu e até mundial, mas no
futebol foi em 1958 que a nação portuguesa teve um título assim, obtido pela Seleção
Militar Portuguesa, a equipa representativa das forças armadas, de futebolistas
que estavam na tropa, como se dizia, em cumprimento do serviço militar.
Nesse tempo as seleções militares gozavam de grandes
atenções, na junção do serviço público que dava prestígio aos governos. E em
Portugal o Estado Novo aproveitava naturalmente toda essa envolvência para fins
políticos. Como se torna sintomático dessa realidade o facto de então os
próprios campeonatos pararem para a realização das fases finais dessas
competições, como ocorreu em 1958.
Antes disso já Portugal disputara jogos de apuramento,
mas nunca almejara chegar à fase final. Até que em 1958 conseguiu esse
desiderato. Tendo a fase final, em modo de disputa decisiva a quatro, ter-se
disputado em Portugal, decorrendo as meias-finais e a final em Lisboa. Havia
nesse tempo algum descontentamento dos clubes de fora de Lisboa porque os
futebolistas eram obrigados a ir a Lisboa treinar, com o desgaste inerente às viagens
(“coisa” que naquela altura demorava horas...), acrescido das deslocações dos seus
quarteis dumas zonas para outras entre os que estavam mais distantes, em plena
discussão do campeonato. Mas como havia a lei da rolha política, era comer e
calar, como se sabe historicamente.
Equipa da Seleção Militar de 1958 - Campeões Militares. Estádio José de Alvalade, 26/11/1958. Portugal, 2 - França, 1. Golos de Coluna (1-0) e Hernâni (2-1, de g. p.:) Em cima da esquerda para a direita - Raul Moreira, Vital, Fernando Mendes, Miguel Arcanjo, Vicente Lucas e António Barbosa; em baixo, pela mesma ordem - Hernâni, Coluna, Augusto Rocha, Fernando Casaca e António Mendes.
Ficou assim na memória esse feito pioneiro do
futebol português. Através da Seleção Militar nacional que ganhou o Torneio
Internacional Militar disputado em Lisboa, após bater na final a França por
2-1. Disputaram a prova nessa então “final four” 4 países pertencentes à NATO: Portugal,
França, Holanda e Bélgica. Tendo nas meias-finais Portugal derrotado a Holanda
por 4-3 e a França derrotado a Bélgica por 4-0. O selecionador era o Tenente-Coronel
Ribeiro dos Reis e o treinador Otto Glória, ambos ligados ao Benfica. Fazendo
parte da equipa campeã três jogadores do FC Porto: Hernâni, Miguel Arcanjo e
Barbosa. Enquanto a mesma seleção tinha na equipa oito titulares da Seleção A e todos eram dos melhores das equipas do Campeonato Nacional, incluindo futebolistas dos três grandes e ainda de Belenenses, Académica, Lusitano de Évora e Setúbal.
Houve então empolgante final, diante da apoteótica decisão do resultado surgida quase ao findar do prélio. Quão aconteceu, por meio do golo da vitória ter acontecido mesmo sobre o encerramento do jogo, graças a penalti convertido por Hernâni.
Houve então empolgante final, diante da apoteótica decisão do resultado surgida quase ao findar do prélio. Quão aconteceu, por meio do golo da vitória ter acontecido mesmo sobre o encerramento do jogo, graças a penalti convertido por Hernâni.
Para as cores azuis e brancas nortenhas, como quem
diz quanto ao sentimento portista, o caso foi de final glorioso, perante o facto
de Hernâni ter marcado o golo da vitória na final, além de ter sido o melhor
marcador da equipa, da qual era capitão. Tal qual por igualmente terem jogado e bem
os defesas Miguel Arcanjo e António Barbosa, também do FC Porto. Acrescida honra de unanimemente Hernâni Silva ter sido então considerado o melhor jogador
do torneio, tornando-se no herói maior de tão retumbante conquista.
Significativo da importância de Hernâni, nesse
tempo, foi que, apesar de ter feito a tropa em 1952/53 (época em que jogou no
Estoril ao abrigo da lei militar, havendo regressado ao Porto na temporada
seguinte), foi mantido em reserva-territorial militar para poder jogar pela
Seleção Militar, além da própria seleção A. Mantendo estatuto, acrescido à patente
oficial, praticamente para poder reforçar a equipa nacional nesses torneios da
categoria militar. Obviamente com alguma polémica em surdina, é claro, pois
naquela altura mandava quem podia e obedecia quem devia. Eram tempos do regime
de Salazar e político-desportivo do sistema BSB.
Hernâni, o grande senhor Hernâni do futebol, ficou
assim ligado sobremaneira a esse grande feito, afinal, do futebol português. E
o Futebol Clube do Porto, como compensação de tudo o que se passava, esteve ao
menos ligado a mais um marco do desporto lusitano.
*****
Curiosidades de enquadramento e relacionamento:
Portugal participara anteriormente e por diversas vezes na
fase de apuramento do Torneio Internacional Militar, vulgo Europeu de Seleções
Militares de futebol (porque eram por norma finalistas os países europeus),
havendo inclusive em 1956 ficado em 2º do seu grupo, mas não se apurando para a fase
final, e entretanto sem nunca ter atingido a final.
Assim como depois, tendo Portugal participado na mesma prova até meio da década dos anos sessentas, sempre com seleções formadas por jogadores de valor firmado (inclusive com Eusébio, António Simões, Custódio Pinto, Jaime Silva, Nóbrega, Rui, Pedro Gomes, Jaime Graça, José Carlos, Ribeiro, etc. conforme foi em 1963 e 1964, pelo menos), nunca mais foi atingido o 1º lugar.
Atualmente continua a haver provas do género, mas mais participadas por países de outros continentes, sendo os mais recentes vencedores da Ásia.
Assim como depois, tendo Portugal participado na mesma prova até meio da década dos anos sessentas, sempre com seleções formadas por jogadores de valor firmado (inclusive com Eusébio, António Simões, Custódio Pinto, Jaime Silva, Nóbrega, Rui, Pedro Gomes, Jaime Graça, José Carlos, Ribeiro, etc. conforme foi em 1963 e 1964, pelo menos), nunca mais foi atingido o 1º lugar.
Atualmente continua a haver provas do género, mas mais participadas por países de outros continentes, sendo os mais recentes vencedores da Ásia.
O Torneio Militar na Europa foi mais um caso das provas que
têm aparecido e desaparecido, por vezes, ou mesmo substituídas ou ainda que foram perdendo a importância anterior. Até ao presente
aspeto da nova competição surgida recentemente e ainda em aproximação da fase final,
como acontece com a atual Liga das Nações, cuja primeira edição já teve a fase
de apuramento e em Junho de 2019 terá a fase final em Portugal, com disputa das
meias-finais com jogos em Guimarães e no Porto e a final no estádio do Dragão.
Tal como no Campeonato Europeu de 2016 e também no Torneio
Internacional Militar de 1958, em ambos os casos foi a seleção da França a finalista vencida que Portugal defrontou na obtenção dos títulos
internacionais de futebol sénior entretanto conquistados.
Nota:
Como reforço, agora no plano descritivo memorando,
recorde-se de forma narrativa historiadora algo mais relacionado, com uma visão
mais vasta sobre…
“Representações marcantes do FC Porto no serviço
militar…pela Grei” - conf.
(clicando no link)
Armando Pinto
((( Clicar também sobre as imagens ))))
Bom exemplo de pensar no F. C. Porto de manhã até à noite e ter o clube acima de tudo. Admiro muito as pessoas que fazem trabalhos destes como o AP, porquanto não esperam nada em troca nem do clube ninguém lhes dá, ao contrário de diretores das casas do clube, claques e coisas afins que teem mordomias e regalias, mas os bons bloguistas azuis e brancos como o Armando Pinto e mais uns quantos fazem muito pelo Porto. Fico muito grato por haver isto que me dá MOMENTOS DE PAZER PORTISTA.
ResponderEliminaracl
Muito bem observado.
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